PASTOR CELSO E SUA ESPOSA MISSIONARIA VALERIA

PASTOR CELSO E SUA ESPOSA MISSIONARIA VALERIA
PASTOR CELSO E SUA ESPOSA MISSIONARIA VALERIA- CONTATOS-(031)3395.2392 / 8617.8267

FILHOS

FILHOS
LETICIA ,EMANUEL , TIAGO

RADIO

quinta-feira, 3 de março de 2011

DIDACHÉ INSTRUÇÃO DOS DOZE APÓSTOLOS Instrução do Senhor para as nações, por meio dos doze apóstolos



DIDACHÉ

INSTRUÇÃO DOS DOZE APÓSTOLOS

Instrução do Senhor para as nações,
por meio dos doze apóstolos

a. OS DOIS CAMINHOS

1.       1Existem dois caminhos: um é o caminho da vida, e o outro, o da morte. A diferença entre os dois é grande.

Viver é amar

2O caminho da vida é este: Em primeiro lugar, ame a Deus, que criou você. Em segundo lugar, ame a seu próximo como a si mesmo. Não faça a outro nada daquilo que você não quer que façam a você.

3O ensinamento que deriva dessas palavras é o seguinte: Bendigam aqueles que os amaldiçoam e rezem por seus inimigos, e ainda jejuem por aqueles que os perseguem. Com efeito, se vocês amam aqueles que os amam, que graça vocês merecem? Os pagãos não fazem o mesmo? Quanto a vocês, amem aqueles que os odeiam, e vocês não terão nenhum inimigo.

A violência do amor

4Não se deixe levar pelos impulsos instintivos. Se alguém lhe dá uma bofetada na face direita, ofereça-lhe também a outra face, e você será perfeito. Se alguém o força a acompanhá-lo pelo espaço de um quilômetro, acompanhe-o por dois; se alguém tira o seu manto, entregue-lhe também a túnica. Se alguém toma alguma coisa que pertence a você, não a peça de volta, pois você não poderá fazer isso.

O amor de partilha

5Dê a quem pede a você e não peça para devolver, pois o Pai quer que os seus bens sejam dados a todos. Feliz aquele que dá conforme o mandamento, porque será considerado inocente. Ai de quem recebe: se recebe por estar necessitado, será considerado inocente; mas se recebe sem ter necessidade, deverá prestar contas do motivo e da finalidade pelos quais recebeu. Será posto na prisão e interrogado sobre o que fez; e dai não sairá até que tenha devolvido o último centavo.

6A esse respeito, também foi dito: Que a sua esmola fique suando nas mãos, até que você saiba para quem a está dando.

Exigências do amor ao próximo

2.       1O segundo mandamento da instrução é este:

2Não mate, não cometa adultério, não corrompa os jovens, não fornique, não roube, não pratique magia, nem feitiçaria. Não mate a criança no seio de sua mãe, nem depois que ela tenha nascido.

3Não cobice os bens do próximo, não jure falso, nem preste falso testemunho. Não seja maledicente, nem vingativo.

4Não seja duplo no pensar e no falar, porque a duplicidade é armadilha mortal.

5Que a sua palavra não seja falsa ou vazia, mas se comprove na prática.

6Não seja avarento, nem ladrão, nem fingido, nem malicioso, nem soberbo. Não planeje o mal contra o seu próximo.

7Não odeie a ninguém, mas corrija uns, reze por outros, e ainda ame os outros, mais do que a si mesmo.

As raízes do mal e do bem

3.       1Meu filho, procure evitar tudo o que é mau e tudo o que se pareça com o mal.

2Não seja colérico, porque a ira conduz para a morte. Também não seja ciumento, nem briguento ou violento, porque os homicídios nascem de todas essas coisas.

3Meu filho, não seja cobiçoso de mulheres, porque a cobiça leva à fornicação. Evite falar obscenidades e olhar com malícia, pois os adultérios surgem de todas essas coisas.

4Meu filho, não seja dado à adivinhação, pois a adivinhação leva à idolatria. Também não pratique encantamentos, astrologia ou purificações, nem queira ver ou ouvir sobre essas coisas, pois de todas essas coisas provém a idolatria.

5Meu filho, não seja mentiroso, porque a mentira leva ao roubo. Não seja ávido de dinheiro, nem cobice a fama, porque os roubos nascem de todas essas coisas.

6Meu filho, não seja murmurador, porque a murmuração leva à blasfêmia. Não seja insolente, nem tenha mente perversa, pois as blasfêmias nascem de todas essas coisas.

7Seja manso, porque os mansos receberão a terra como herança.

8Seja paciente, misericordioso, sem maldade, tranqüilo e bom, respeitando sempre as palavras que você tiver ouvido.

9Não se engrandeça a si mesmo, nem se entregue à insolência. Não se junte com os “grandes,” mas converse com os justos e pobres.

10Aceite como boas as coisas que lhe acontecem, sabendo que nada acontece sem o consentimento de Deus.

A pessoa inserida na comunidade

4.       1Meu filho, lembre-se dia e noite daquele que anuncia a palavra de Deus para você e honre-o como se fosse o próprio Senhor, pois o Senhor está presente onde é anunciada a soberania do Senhor.

2Procure estar todos os dias na companhia dos fiéis, para encontrar apoio nas palavras deles.

3Não provoque divisão. Pelo contrário, reconcilie aqueles que brigam entre si. Julgue de modo justo, corrigindo as culpas sem fazer diferença entre as pessoas.

4Não fique hesitando sobre o que vai ou não acontecer.

5Não seja como os que estendem a mão na hora de receber e a retiram na hora de dar.

6Se você ganha alguma coisa com o trabalho de suas mãos, ofereça-o como reparação por seus pecados.

7Não hesite em dar, nem dê reclamando, pois você sabe quem é o verdadeiro remunerador da sua recompensa.

8Não rejeite o necessitado. Divida tudo com o seu irmão, e não diga que são coisas suas. Se vocês estão unidos nas coisas que não morrem, tanto mais nas coisas perecíveis.

9Não se descuide de seu filho ou de sua filha; pelo contrário, instrua-os desde a infância no temor de Deus.

10Não dê ordens com rudeza ao seu servo ou à sua serva, pois eles esperam no mesmo Deus que você, para que não percam o temor de Deus, que está acima de uns e outros. Com efeito, ele não virá chamar a pessoa pela aparência, mas aqueles que o Espírito preparou.

11Quanto a vocês, servos, sejam submissos aos seus senhores, com respeito e reverência, como à imagem de Deus.

12Deteste toda hipocrisia e tudo o que não seja agradável ao Senhor.

13Não viole os mandamentos do Senhor. Guarde o que você recebeu, sem nada acrescentar ou tirar.

14Confesse as suas faltas na reunião dos fiéis, e não comece a sua oração com má consciência.

Este é o caminho da vida.

O caminho da morte

5.       1O caminho da morte é este: Em primeiro lugar, é mau e cheio de maldições: homicídios, adultérios, paixões, fornicações, roubos, idolatrias, práticas mágicas, feitiçarias, rapinas, falsos testemunhos, hipocrisias, duplicidade de coração, fraude, orgulho, maldade, arrogância, avareza, conversa obscena, ciúme, insolência, altivez, ostentação e ausência de temor de Deus.

2Por esse caminho andam os perseguidores dos bons, os inimigos da verdade, os amantes da mentira, os que ignoram a recompensa da justiça, os que não desejam o bem nem o julgamento justo, os que não ficam atentos para o bem, mas para o mal. Deles está longe a calma e a paciência; são amantes das coisas vãs, ávidos de recompensas, não se compadecem do pobre, não se importam com os atribulados, não reconhecem o seu Criador. São ainda assassinos de crianças, corruptores da imagem de Deus, desprezam o necessitado, oprimem o aflito, defendem os ricos, são juízes injustos com os pobres e, por fim, são pecadores consumados.

Filhos, afastem-se de tudo isso.

Perfeição é servir ao Senhor

6.       1Fique atento para que ninguém o afaste deste caminho da instrução, pois aquele ensinaria a você coisas que não pertencem a Deus.

2Se puder carregar todo o jugo do Senhor, você será perfeito. Se isso não for possível, faça o que puder.

3Quanto à comida, observe o que você puder. Não coma nada do que é sacrificado aos ídolos, porque esse é um culto a deuses mortos.

b. CELEBRAÇÃO DA VIDA

O batismo

7.       1Quanto ao batismo, procedam assim: Depois de ditas todas essas coisas, batizem em água corrente, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

2Se você não tem água corrente, batize em outra água; se não puder batizar em água fria, faça-o em água quente.

3Na falta de uma e outra, derrame três vezes água sobre a cabeça, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

4Antes do batismo, tanto aquele que batiza como aquele que vai ser batizado, e se outros puderem também, observem o jejum. Aquele que vai ser batizado, você deverá ordenar jejum de um ou dois dias.

O jejum e a oração

8.       1Que os jejuns de vocês não coincidam com os dos hipócritas. Eles jejuam no segundo e no quinto dia da semana. Vocês, porém, jejuem no quarto dia e no dia da preparação.

2Não rezem como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou no seu Evangelho. Rezem assim: “Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia, perdoa a nossa dívida, assim como também nós perdoamos aos nossos devedores, e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o poder e a glória para sempre.”

3Rezem assim três vezes por dia.

A celebração eucarística

9.       1Celebrem a Eucaristia deste modo:

2Digam primeiro sobre o cálice: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre.”

3Depois digam sobre o pão partido: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre.

4Do mesmo modo como este pão partido tinha sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para se tornar um, assim também a tua Igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino, porque tua é a glória e o poder, por meio de Jesus Cristo, para sempre.”

5Ninguém coma nem beba da Eucaristia, se não tiver sido batizado em nome do Senhor, porque sobre isso o Senhor disse: “Não dêem as coisas santas aos cães.”

Agradecimento depois da eucaristia

10.     1Depois de saciados, agradeçam deste modo:

2Nós te agradecemos, Pai santo, por teu santo Nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelaste por meio do teu servo Jesus. A ti a glória para sempre.

3Tu, Senhor Todo-poderoso, criaste todas as coisas por causa do teu Nome, e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma bebida espirituais, e uma vida eterna por meio do teu servo.

4Antes de tudo, nós te agradecemos porque és poderoso. A ti a glória para sempre.

5Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu reino que lhe preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre.

6Que a tua graça venha, e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Quem é fiel, venha; quem não é fiel, converta-se. Maran atá. Amém.”

7Deixem os profetas agradecer à vontade.

c. VIDA COMUNITÁRIA

Verdadeiros e falsos pregadores

11.     1Se alguém vier até vocês ensinando tudo o que foi dito antes, deve ser acolhido.

2Mas se aquele que ensina for perverso e expuser outra doutrina para destruir, não lhe dêem atenção. Contudo, se ele ensina para estabelecer a justiça e o conhecimento do Senhor, vocês devem acolhê-lo como se fosse o Senhor.

3Quanto aos apóstolos e profetas, procedam conforme o princípio do Evangelho.

4Todo apóstolo que vem até vocês seja recebido como o Senhor.

5Ele não deverá ficar mais que um dia ou, se for necessário, mais outro. Se ficar por três dias, é um falso profeta.

6Ao partir, o apóstolo não deve levar nada, a não ser o pão necessário até o lugar em que for parar. Se pedir dinheiro, é um falso profeta.

7Não coloquem à prova nem julguem um profeta que em tudo fala sob inspiração, pois todo pecado será perdoado, mas esse não será perdoado.

8Nem todo aquele que fala inspirado é profeta, a não ser que viva como o Senhor. É assim que vocês reconhecerão o falso e o verdadeiro profeta.

9Todo profeta que, sob inspiração, manda preparar a mesa, não deve comer dela. Caso contrário, trata-se de um falso profeta.

10Todo profeta que ensina a verdade, mas não pratica o que ensina, é um falso profeta.

11Todo profeta comprovado e verdadeiro, que age pelo mistério terreno da Igreja, mas não ensina a fazer como ele faz, não será julgado por vocês. Ele será julgado por Deus. Assim também fizeram os antigos profetas.

12Se alguém disser sob inspiração: “Dê-me dinheiro” ou qualquer outra coisa, não o escutem. Contudo, se ele pedir para dar a outros necessitados, então ninguém o julgue.

Hospitalidade com discernimento

12.     1Acolham todo aquele que vier em nome do Senhor. Depois, examinem para conhecê-lo, pois vocês têm juízo para distinguir a esquerda da direita.

2Se o hóspede estiver de passagem, dêem-lhe ajuda no que puderem; entretanto, ele não permanecerá com vocês, a não ser por dois dias, ou três, se for necessário.

3Se quiser estabelecer-se com vocês e tiver uma profissão, então trabalhe para se sustentar.

4Se ele, porém, não tiver profissão, procedam conforme a prudência, para que um cristão não viva ociosamente entre vocês.

5Se ele não quiser aceitar isso, é um comerciante de Cristo. Tenham cuidado com essa gente.

Sustentação do profeta

13.     1Todo verdadeiro profeta que queira estabelecer-se entre vocês é digno do seu alimento.

2Da mesma forma, também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como todo operário.

3Por isso, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê para os profetas, pois eles são os sumos sacerdotes de vocês.

4Se, porém, vocês não têm nenhum profeta, dêem aos pobres.

5Se você fizer pão, tome os primeiros e os dê conforme o preceito.

6Da mesma forma, ao abrir uma vasilha de vinho ou de óleo, tome a primeira parte e a dê aos profetas.

7Tome uma parte do seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, conforme lhe parecer oportuno, e os dê conforme o preceito.

A celebração dominical

14.     1Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro.

2Aquele que está de briga com seu companheiro não poderá juntar-se a vocês antes de se ter reconciliado, para que o sacrifício que vocês oferecem não seja profanado.

3Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro, porque eu sou um grande rei, diz o Senhor, e o meu Nome é admirável entre as nações.”

A vivência comunitária

15.     1Escolham para vocês bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados, porque eles também exercem para vocês o ministério dos profetas e dos mestres.

2Não os desprezem, porque entre vocês eles têm a mesma dignidade que os profetas e mestres.

3Corrijam-se mutuamente, não com ódio, mas com paz, como vocês têm no Evangelho. E ninguém fale com nenhuma pessoa que tenha ofendido o próximo; que essa pessoa não escute nenhuma palavra de vocês, até que se tenha arrependido.

4Façam suas orações, esmolas e todas as ações da forma que vocês têm no Evangelho de nosso Senhor.

d. PERSEVERAR ATÉ O FIM

16.     1Vigiem sobre a vida de vocês. Não deixem que suas lâmpadas se apaguem, nem soltem o cinto dos rins. Fiquem preparados, porque vocês não sabem a que hora o Senhor nosso vai chegar.

2Reúnam-se com freqüência para procurar o que convém a vocês. Porque de nada lhes servirá todo o tempo que vocês viveram a fé, se no último momento vocês não estiverem perfeitos.

3De fato, nos últimos dias, os falsos profetas e os corruptores se multiplicarão, as ovelhas se transformarão em lobos e o amor se transformará em ódio.

4Crescendo a injustiça, os homens se odiarão, se perseguirão e se trairão mutuamente. Então aparecerá o sedutor do mundo, como se fosse o Filho de Deus, e fará sinais e prodígios. A terra será entregue em suas mãos e cometerá crimes como jamais foram cometidos desde o começo do mundo.

5Então toda criatura humana passará pela prova de fogo, e muitos ficarão escandalizados e perecerão. Contudo, aqueles que permanecerem firmes na fé serão salvos por aquele que os outros amaldiçoam.

6Então aparecerão os sinais da verdade. Primeiro, o sinal da abertura no céu; depois, o sinal do toque da trombeta e, em terceiro lugar, a ressurreição dos mortos.

7Ressurreição sim, mas não de todos, conforme foi dito: “O Senhor virá, e todos os santos estarão com ele.”

8Então o mundo verá o Senhor vindo sobre as nuvens do céu.

NOTAS

1-5 Catequese fundamental para aqueles que desejam viver e se comportar de modo cristão. O caminho da vida é apresentado nos capítulos I-IV; o da morte, no capítulo V; o capítulo VI traz a exortação final desta parte.

1 1O cristão deve fazer uma escolha fundamental, que definirá toda a sua vida e destino. Não é possível andar com os pés em duas canoas. Só há um caminho que produz vida e realização. Os outros caminhos levam inevitavelmente para a morte em diversos sentidos e níveis.

2-3O ponto de partida da vida cristã é o amor a Deus, a si mesmo e ao próximo. A medida do amor ao próximo é a mesma do amor que se tem para consigo mesmo. E todas as pessoas, até mesmo os inimigos, são indistintamente o próximo. O amor aos inimigos mostra a originalidade, a radicalidade e gratuidade do amor cristão. Isso não significa que os cristãos não têm inimigos, e sim que eles não são inimigos de ninguém.

4O cristão não age por simples impulso instintivo. Diante da violência, ele não responde com outra semelhante, mas com a violência maior do amor, que é capaz de desarmar o violento. A proibição no final do versículo se refere ao empréstimo ao pobre, que poderia passar necessidade se tivesse de devolver (cf. Dt 24.10-13).

5Deus dá os bens da vida para serem repartidos entre todos. Por isso, o cristão é capaz de partilhar seus bens com aqueles que não têm. Quem recebe deve ter discernimento, pois o espírito de partilha não deve ser usado como pretexto para acumular ou desperdiçar. Toda contribuição social deve reverter em beneficio do bem comum e não em privilégio daqueles que manipulam a máquina social.

6Não basta ajudar materialmente o necessitado para desencargo de consciência. É preciso entrar em comunhão, participando de toda a situação do pobre, porque nem sempre a ajuda material é o aspecto mais importante. O grande desafio é acabar com a pobreza, e não simplesmente conservar os pobres como ocasião de fazer caridade.

2 1-7É uma espécie de recapitulação e ampliação das conseqüências do Decálogo, retomando o mandamento do amor ao próximo (I, 2). O relacionamento interpessoal é enfocado a partir da integridade e veracidade em relação aos outros. As diversas normas podem ser resumidas em três grandes linhas: o respeito à vida, aos bens e à fama do próximo. Tais normas não devem ser compreendidas apenas em si mesmas; elas pressupõem o clima fundamental da vida cristã, que exige fraternidade e partilha (cf. I, 5). O que se requer em primeiro lugar não é a bondade, mas a justiça.

3 1Principio geral: evitar o mal que, a seguir, é apresentado como conseqüência do egoísmo, da falta de autocontrole e da ambição.

2-3Homicídio e adultério têm suas respectivas raízes na falta de autocontrole e na cobiça. Cobiçar não é simplesmente desejar, mas fazer planos e armadilhas para se apropriar daquilo que se deseja.

4Idolatria é a manipulação do sagrado ou de alguma coisa que é apresentada como sagrada, em vista dos próprios interesses. Essa é a magia que as pessoas usam para conseguir poder e dominação sobre os outros. A pessoa que tem poder acaba acreditando e fazendo os outros acreditarem que ela é absoluta e divina. Essa é a raiz de todo o processo de dominação e opressão religiosa ou política.

5A mentira oculta uma verdade, à qual o próximo tem direito. Essa ocultação visa os interesses de alguém: dinheiro, prestígio, fama. Ao lado do poder, a riqueza é o outro grande ídolo. Se o poder-dominação é roubo da liberdade, a riqueza é roubo dos bens a que todos têm direito.

6Blasfêmia é dizer que o projeto de Deus é mau. A murmuração, a insolência e a mente perversa levam à dúvida, à reclamação e, por fim, à blasfêmia. Cf. Êx 16.1-3.

7-9Desde o inicio de sua existência, a comunidade cristã é convidada a optar pelos pobres, pois são eles que buscam e podem realizar a justiça que Deus quer. Todas as qualidades aqui apresentadas pertencem aos pobres e justos que acreditam no anúncio do Evangelho e lutam pelo reino da justiça. Sua força não vem das armas, mas da violência do amor que persevera, certos da promessa de que os mansos receberão a terra como herança.

10O cristão sabe que a vida e a história obedecem em primeiro lugar ao projeto de Deus, que quer a vida para todos. Por isso, ele é sempre levado a buscar o significado profundo dos acontecimentos, para além de seus caprichos e interesses imediatos.

4 1-14Centralizada no amor a Deus e ao próximo, a vida cristã é essencialmente uma realização comunitária, onde tudo é partilhado fraternalmente.

1As comunidades ainda não conhecem os Evangelhos escritos. O Evangelho é uma palavra viva, preservada e anunciada por pregadores itinerantes, que servem as comunidades e, ao mesmo tempo, dependem delas.

2-3A comunidade é o ambiente vital dos cristãos, onde eles partilham a vida e encontram apoio para perseverar. Sendo ela mesma o valor máximo, a comunidade deve ser preservada de qualquer divisão, que provém principalmente da competição pelo poder, da busca de privilégios e de sectarismos. A preocupação com a reconciliação é um dever de todos, e supõe imparcialidade quando aparecem conflitos.

4-8A comunidade cristã reconhece que tudo o que ela é e possui é dom de Deus. Ao mesmo tempo, desde a sua origem, ela se voltou para acolher os pobres e marginalizados. Ora, estes dependem estritamente do espírito de dom e partilha. O importante é que na comunidade o espírito de posse é totalmente superado pelo conceito de necessidade do uso e partilha: Deus dá tudo, para que todos repartam tudo, segundo as necessidades de cada um. Viver em comunidade, portanto, supõe que cada um confie plenamente no dom de Deus, libertando-se da preocupação individual e calculista com o amanhã (v. 4).

9Viver em comunidade supõe educação para isso. E o ponto fundamental é a instrução no temor de Deus. Não se trata de ter medo de Deus, mas de reconhecer que Deus é o Senhor e doador da vida, e seu projeto é que todos repartam a vida entre todos. A educação cristã começa por aqui, mostrando para as pessoas que elas não são auto-suficientes e independentes, mas interdependentes, complementando-se mutuamente na partilha do que cada um é e tem.

10-11O projeto de Deus é a fraternidade, que desfaz toda e qualquer desigualdade entre as pessoas, para formar a grande família humana. Isso não quer dizer que as pessoas se tornem idênticas; cada um é original e tem sua função própria dentro da sociedade, em proveito do bem comum. Função diferente não quer dizer que uma pessoa seja mais que a outra ou que tenha mais direitos e privilégios em vista do que é, do que faz ou produz. Todos são necessários e todos têm direito ao necessário para viver dignamente. O v. 11 mostra que as comunidades nascentes ainda não tinham consciência de que o Evangelho exige transformações estruturais para acabar com a desigualdade e a exploração. Todos devem ser respeitados, porque todos são imagem de Deus.

12-13Defender uma doutrina sem se preocupar com a prática é hipocrisia, um dos grandes males que ameaçam a comunidade. Por outro lado, guardar os mandamentos não é simplesmente repeti-los de cor, mas fazer o que eles ordenam. Trata-se certamente do mandamento de amar a Deus e ao próximo.

14A confissão aqui não aparece como sacramento juridicamente estruturado. Provavelmente, os cristãos declaravam seus pecados em comunidade, e esta era responsável pelo perdão. Para que a comunidade esteja viva são necessários a confissão e o perdão, que abrem sempre a possibilidade de se converter ao projeto de Deus. A oração autêntica é feita dentro do projeto de Deus e em vista da sua realização (Cf. 1Jo 5.14).

5 1-2Se o caminho da vida é temer a Deus e amar a Deus e ao próximo, o caminho da morte é o contrário: começa com a ausência do temor de Deus. Sem esse temor, o homem se coloca no lugar de Deus e passa a se julgar como centro e senhor da vida, dispondo de tudo e de todos sem a menor consideração pela vida e liberdade de seus semelhantes. Quando o homem usurpa o lugar de Deus, cria automaticamente o projeto da escravidão e da morte. A lista de vícios e pecados testemunha a monstruosidade da auto-suficiência.

6 1-3É a conclusão da primeira parte, exortando ao discernimento para não desfigurar o caminho da vida cristã. O jugo do Senhor é, provavelmente, o Evangelho vivo, que está representado nesta primeira parte. Não se trata, porém, de imposição, mas de proposta e convite a serem aceitos na medida da possibilidade de cada um. A perfeição deve ser entendida aqui como integridade. O v. 3 se refere às disposições tomadas no Concílio de Jerusalém (Cf. At 15.29).

7-10 É um antigo ritual litúrgico, com instruções para administração do batismo (VII), sobre o jejum e a oração (VIII) e sobre a celebração eucarística (IX e X).

7 1-4Nesse tempo, a administração do batismo era feita depois de uma etapa de catequese (“depois de ditas todas essas coisas”), representada certamente pelos capítulos I a VI. Antes da cerimônia, fazia-se um jejum, do qual participavam o batizando, aquele que batizava e outras pessoas que pudessem. A cerimônia propriamente dita era realizada em comunidade. O ritual é simples e se reduz ao batismo com a água e à invocação da Trindade.

A menção de diversas possibilidades (vv. 1-3) faz supor que o mais usual era a imersão em água corrente (rio), ou em outra água (piscina, reservatório). Na impossibilidade disso, bastava derramar três vezes água na cabeça do batizando.

A instrução e o jejum mostram que o batismo era administrado somente para as pessoas adultas. A administração do batismo parece não estar restrita a um ministro especial.

8 1-2Oração e jejum são duas práticas intimamente ligadas. O jejum lembra à pessoa que existe uma fome maior que só a vinda do Reino de Deus pode satisfazer. A oração mantém a pessoa aberta para o projeto de Deus e consciente dos pedidos essenciais, para que esse projeto se realize.

O povo desnutrido que passa fome está fazendo jejum contra a sua vontade e, ao mesmo tempo e por causa disso, erguendo o seu clamor para que venha o Reino, a fim de que este, com sua justiça, o liberte de todas as fomes.

9-10 A Eucaristia aqui mencionada diverge bastante do rito eucarístico que hoje conhecemos. Talvez não existisse uma fórmula fixa de celebração. O texto deixa claro que a Eucaristia era celebrada dentro de uma refeição comum, que podia ser participada unicamente pelos batizados, isto é, por aqueles que, após a instrução, se haviam comprometido com o projeto de Jesus. Destaca-se também o aspecto da Eucaristia como sacramento de unidade da Igreja (IX, 4 e V, 5). A observação de X, 7 mostra o ritmo da celebração, que era bastante livre e participativo.

11-15 Disposições sobre a vida comunitária, com especial atenção para com a hospitalidade e o discernimento dos verdadeiros pregadores (XI-XIII), o culto (XIV) e a organização (XV).

11 1-12Segundo a Didaqué, as comunidades da Igreja primitiva conheciam os apóstolos, os profetas e os mestres. Difícil saber a diferença entre eles, pois parece que a função dos três era anunciar o Evangelho e ensinar. Por outro lado, a insistência na hospitalidade para esses três tipos de pessoas indica talvez que eles exerciam seu ministério de maneira itinerante, visitando as diversas comunidades. Uma das principais dificuldades era distinguir o verdadeiro do falso pregador. Para isso, a comunidade chegou a diversos critérios para reconhecer o verdadeiro pregador: ensinar a justiça e o conhecimento do Senhor (v. 2), falar sob inspiração (v. 7), viver como o Senhor (v. 8), praticar o que ensina (v. 10). O falso pregador é aquele que explora a comunidade (vv. 5-6.9) e não pratica o que ensina (v. 10).

O respeito pelos pregadores é muito grande, pois nesse tempo a comunidade dependia deles para conhecer o Evangelho. De certa forma, podemos dizer que o pregador, através de sua palavra e vida, era a personificação viva do Evangelho. Porque os Evangelhos que hoje conhecemos eram escritos que circulavam somente em algumas comunidades.

12 1-5A comunidade cristã vive o clima da fraternidade e da partilha e, por isso, está sempre aberta para acolher aqueles que necessitam de ajuda. Isso, porém, pode tornar-se ocasião para que aproveitadores explorem a boa vontade da comunidade. O discernimento deve atingir também outras áreas de exploração, para que a comunidade não seja manipulada em favor de interesses alheios ao projeto de Jesus. Não basta ser bom: é preciso ser justo e ter muito bom-senso.

13 1-7O pregador ou agente de pastoral, que emprega todo o seu tempo na evangelização, fica por isso mesmo dependendo das comunidades para sobreviver. Sua situação equivale à dos pobres. Toda comunidade deve preocupar-se não só em sustentar seus agentes, mas também dar-lhes possibilidade para que, de fato, possam prover às necessidades da evangelização.

14 1-3A Eucaristia é a celebração da fraternidade. Para que ela não seja profanada no seu significado profundo, exige-se reconciliação, não só no momento do culto, mas na vida concreta. Sem isso, o culto não tem sentido.

15 1-2A Igreja nascente viu-se logo diante de dois modelos de comunidade. O primeiro era a comunidade palestinense, mais ligada à tradição, e onde estavam presentes os apóstolos e presbíteros. Na Didaqué, as figuras dos apóstolos, profetas e mestres parecem lembrar esse tipo de Igreja, de modelo judaico, onde também encontramos os sacerdotes, profetas e mestres de sabedoria. O outro modelo nasceu fora da Palestina, e era muito mais voltado para a missão e as necessidades que daí surgiam. Esse segundo tipo de Igreja logo teve necessidade de servidores para a comunidade (diáconos) e de supervisores para as diversas comunidades (bispos), escolhidos em clima democrático.

Toda comunidade vive na tensão entre a tradição e a missão. Tradição significa ser fiel ao compromisso com o projeto de Jesus, e a missão significa encarnar esse projeto, respondendo aos desafios de cada tempo e lugar. Essa tensão se resolve quando mantemos um olho no Evangelho e o outro na vida.

3O cimento da vida comunitária é a correção mútua, feita com espírito fraterno. Perdoar-se e reconciliar-se mutuamente é o sacramento básico, porque não é bom viver sozinho, como não é fácil viver junto. De tal modo isso é importante que a comunidade deve ser implacável: isolar completamente quem ofendeu o próximo, até que ele aprenda na própria pele a necessidade da reconciliação.

4A vida cristã tem na sua frente o Evangelho e se exprime como oração (ligação com Deus), esmola (socorro imediato ao próximo necessitado) e ação (transformação da sociedade pecadora na comunidade fraterna que Deus quer).

16 1-8Os cristãos vivem continuamente à espera que se manifestem Jesus e o seu projeto. Isso se realizará totalmente no fim da história. Contudo, é através do momento presente que esse final vai sendo pouco a pouco construído. É essa a esperança que produz perseverança.

1-2Jesus chega no momento em que a comunidade está colocando em prática o projeto dele. Por isso, a comunidade se reúne para discernir o modo como irá realizar o projeto de Jesus, respondendo aos problemas e desafios do ambiente em que ela vive.

3-5A comunidade vive na história em constante prova de fogo, porque deve enfrentar projetos contrários ao de Jesus. Muito se apresentam semeando a injustiça, a desigualdade e o ódio, com todas as conseqüências que daí provêm. Por isso, o testemunho cristão se faz em meio a conflitos e lutas, e a comunidade deve estar sempre discernindo, para fazer a coisa certa no momento certo. A união e a solidariedade são necessárias para evitar o desespero e o desânimo.

6-8É através do testemunho cristão que, pouco a pouco, aparecem os sinais da verdade. A abertura no céu permite que os cristãos compreendam o que acontece na história, porque são capazes de ver com os olhos de Deus. Então compreendem que o julgamento (toque da trombeta) se realiza através do testemunho. E quem testemunhar até o fim terá o mesmo destino que Jesus: a ressurreição. Fica então claro que a ressurreição é para os justos, isto é, para aqueles que se comprometem com Jesus e seu projeto. É desse modo que Jesus aparecerá vitorioso, e o projeto de Deus estará completamente realizado: liberdade e vida para todos através da fraternidade e partilha.


Nenhum comentário:

Postar um comentário