PASTOR CELSO E SUA ESPOSA MISSIONARIA VALERIA

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sexta-feira, 15 de abril de 2011

IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA" CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO" PASTOR CELSO SOARES NETO



A História do Avivamento Azusa
Frank Bartleman

Editora D'Sena / Worship
Série: Achados
Digitalizador desconhecido
Formatado por SusanaCap


A história do "Avivamento Azusa"

Este autêntico relato do derramamento do Espírito Santo sobre Los  Angeles,  em 1906, há de chocar o movimento  Pentecostal  atual  por  mostrar  que  eles  têm deixado seu primeiro amor, quase  na  mesma  medida  em  que  os  metodistas  se apartaram do ardor flamejante de John  Wesley.
Além disso, todo cristão sério se maravilhará ao descobrir o que Deus realmente operou no início deste século e como aquela tremenda obra do Espírito foi incompreendida e rejeitada.
Finalmente, este relato comovente  deverá  desafiar  todo  o  povo  de  Deus  a buscá-lo para a consumação daqueles propósitos, para o aperfeiçoamento da igreja de Cristo, que foram avançados de forma tão poderosa naquela época.
Este livro foi compilado a partir do diário e dos escritos de  Frank  Bartleman, sendo publicado originalmente por ele em 1925, com o título "Como o  Pentecostes chegou em Los Angeles". Muito mais do que um relato histórico, é  um  chamado  à Igreja para o arrependimento sob três aspectos: DIVISÕES  CARNAIS  do  CORPO  de CRISTO, LIDERANÇA e PROGRAMAÇÃO HUMANAS em SUBSTITUIÇÃO  ao  ESPÍRITO  SANTO,  e EXALTAÇÃO de CREDOS em VEZ de CRISTO. Esta  é  a  hora  para  o  povo  de  Deus, afligido pelos mesmos pecados hoje ouvir, mais uma vez, esta voz de  alerta  que tem estado silenciosa por tanto tempo.
Ao  autor,  talvez  mais  do  que  a  qualquer  outra  pessoa,  foi  confiada  a responsabilidade de orar pela profunda obra que o Espírito Santo realizou.  Para louvor e glória de Deus, o Avivamento Azusa não trouxe honra para  homem  algum.
Como testemunho disso o nome de nenhuma pessoa está ligado  à  ele.  Entretanto, pode-se dizer com segurança que não houve testemunha mais fiel do  que  ocorreu, que Frank Bartleman. Quem seria mais qualificado para  conhecer  e  registrar  o avivamento, senão alguém que sofreu intensas dores de parto no  seu  nascimento, zelou dele ternamente, e defendeu-o corajosamente no início de sua vida?
Será notado neste relato, que panfletos que contavam  a  visitação  do  Espírito Santo no País de Gales,  em  1904,  foram  a  centelha  inicial  para  o  grande Avivamento de Los Angeles em  1906.  Durante  o  ano  de  1905,  enquanto  Frank Bartleman se correspondia com Evan Roberts do País de Gales, e os dois se  uniam em oração, o Sr. Bartleman e outros, divulgavam em Los Angeles,  a  mensagem  do Avivamento de Gales exortando o povo a orar. Ora, à medida que o  povo  de  Deus recebia a visão e permanecia em oração, a pequena centelha  transformou-se  numa grande chama, a qual se espalhou, até se tornar  numa  conflagração  mundial:  o Avivamento Pentecostal na Igreja de Jesus Cristo.
Assim como o relato escrito do Avivamento de Gales levou o povo a orar em  1905, que também a verdadeira história do Avivamento Azusa em  1906,  há  muito  tempo esquecida e incompreendida, atinja o mesmo  propósito  hoje.  Povo  Pentecostal, volte! Corações famintos, fartem-se! Povo de Deus  em  todo  lugar,  ajoelhe-se!
Deus de Elias, MANDA FOGO!
John Walker, Los Angeles, Califórnia, Janeiro de 1962

A MINHA CHAMADA

O autor das páginas que se seguem chegou à Los  Angeles,  na Califórnia, com sua esposa e duas filhas, a mais velha de três anos e  meio,  no dia 22 de dezembro de 1904.  Nossa  filha  mais  velha,  Ester,  começou  a  ter convulsões e foi ficar com o Senhor Jesus, às 4 horas da  manhã,  do  dia  7  de janeiro. Nossa pequena "Rainha Ester" perecia ter nascido para "tal  tempo  como este" (Ester 4:14). Ao lado daquele pequeno caixão, com meu  coração  sangrando, dediquei minha vida novamente à obra de Deus. Na  presença  da  morte,  como  se tornam reais os assuntos eternos! Eu prometi que o resto  da  minha  vida  seria dedicado exclusivamente à Ele. E Ele fez uma nova aliança comigo. Supliquei-lhe, então, que logo me abrisse uma nova porta de serviço, para que  eu  não  tivesse tempo de sofrer com o que acontecera.
Apenas uma semana depois da partida de Ester, comecei a pregar duas vezes    por dia  na  pequena  Missão  Peniel, em  Pasadena    (Califórnia).  Muitas  pessoas foram salvas durante o encontro que durou um mês, mas  a  maior  vitória  foi  a descoberta de um grupo  de  jovens  que  assistiam  ao  encontro.  Alguns  foram chamados pelo Senhor para futuros trabalhos.
No dia 8 de abril ouvi pregar F. B. Mayer, de Londres. Ele  descreveu  o  grande avivamento que se desenrolava  no  País  de  Gales,  onde  acabara  de  estar  e conhecera Evan Roberts. Minha alma se comoveu profundamente, pois pouco antes eu também havia lido a respeito desse avivamento. Prometi ali mesmo a Deus  dar-lhe direito total sobre a minha vida, se fosse possível me usar. Distribuí  folhetos no prédio do correio, em bancos e edifícios públicos em Los  Angeles  e  visitei muitos bares. Depois visitei mais de trinta bares em Los Angeles. Os prostíbulos estavam abertos naquele tempo e distribuí muitos folhetos ali também.
A morte da pequena Ester havia quebrado meu coração e eu sentia que  só  poderia viver enquanto servisse ao Senhor. Ansiava conhecê-lo de uma forma mais  real  e ver a obra de Deus avançar com poder. Um grande peso e desejo  surgiram  no  meu coração para que houvesse grande avivamento. Ele estava me  preparando  para  um novo serviço Seu. Este, porém, só  poderia  acontecer  quando  houvesse  em  meu coração um anseio mais profundo por Deus e uma verdadeira dor de parto na  minha alma pela Sua obra. Isto Ele me deu. Muitos estavam sendo  preparados  de  forma semelhante nesta época em diferentes lugares do mundo.  Deus  estava  prestes  a visitar  e  libertar  seu  povo  mais  uma  vez.  Eram  precisos  intercessores.
"Maravilhou-se de que não houvesse  um  intercessor"  (Isaías  59:16).  "Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha  perante  mim  a favor desta terra,  para  que  eu  não  a  destruísse;  mas  a  ninguém  achei."
(Ezequiel 22:30)
Por volta de primeiro de maio, um poderoso  avivamento  irrompeu  no  templo  da igreja Metodista da Avenida Lake, em Pasadena. Quase todos os jovens que  haviam sido tocados por Deus nas reuniões da Missão Peniel freqüentavam esta  igreja  e estavam orando por um avivamento ali. Aliás estávamos orando por  um  avivamento que varresse toda a cidade de Pasadena. Deus estava respondendo nossas  orações.
Vi maravilhas feitas pelo Espírito Santo na Avenida Lake. O altar estava repleto de pessoas buscando a Deus, apesar de não haver ali nenhum grande  pregador.  Em uma única noite quase todos os presentes  que  não  estavam  salvos  tiveram  um encontro pessoal com Jesus Cristo. Foi uma vitória total para  Deus.  Havia  uma poderosa convicção de pecados sobre  todo  o  povo.  Em  duas  semanas  duzentas pessoas ajoelharam-se no altar, buscando ao Senhor. Os rapazes de Peniel estavam por trás de tudo, sendo grandemente usados por Deus. Começamos então a orar  por um derramamento do Espírito Santo em Los Angeles e todo o sul da Califórnia.
Naquela época escrevi em meu diário: "Algumas igrejas vão se surpreender  quando Deus as deixar para trás e usar outros canais que se renderam totalmente à  Ele.
É preciso humilhar-nos para que Ele venha. Estamos rogando 'Pasadena para Deus!'
Na sua grande maioria, os cristãos estão muito satisfeitos consigo mesmos, e têm pouca fé  e  pouco  interesse  pela  salvação  dos  outros.  Deus  os  humilhará deixando-os de lado. O Espírito  está  orando  através  de  nós  por  um  grande derramamento do Espírito em toda parte. Grandes coisas  vão  acontecer.  Estamos pedindo coisas tremendas para que o nosso  gozo  seja  completo.  Deus  está  se movendo. Estamos orando pelas igrejas e seus pastores. O Senhor visitará aqueles que quiserem se render totalmente à Ele."
O mesmo é verdade ainda hoje. É preciso que sejamos humildes aos nossos próprios olhos, pois, o fracasso ou o sucesso, em última análise, dependerá  disto.  Caso nos consideremos importantes, já estamos derrotados. A história sempre se repete neste particular. Deus sempre procurou um povo humilde. Ele não pode usar  outro tipo de pessoa. Martinho Lutero, o grande reformador, escreveu: "Quando o Senhor Jesus diz 'ARREPENDA-SE', Ele quer dizer que toda a vida do crente na terra deve ser um constante e permanente arrependimento.  Arrependimento  e  dor,  isto  é, verdadeiro arrependimento, são constantes enquanto o homem não  está  satisfeito consigo mesmo - ou  seja,  até  que  vá  para  a  eternidade.  O  desejo  de  se auto-justificar é a causa de todo o sofrimento do coração". Nosso coração sempre precisa de muita preparação, em humildade e separação, antes que Deus possa  vir de forma persistente. "A profundidade de qualquer  avivamento  será  determinada precisamente pela profundidade do espírito de arrependimento  que  o  produziu."
Aliás, esta é a chave de todo verdadeiro avivamento nascido de Deus.
No dia 12 de maio, Deus me disse que de  uma  vez  por  todas  eu  deixasse  meu emprego secular e me dedicasse exclusivamente à Ele.  O  Senhor  queria  que  eu confiasse a mim e a minha família exclusivamente à Ele. Eu acabara de receber  o pequeno livro intitulado: "O grande avivamento em Gales", escrito por S. B. Shaw e o estava lendo durante um pequeno passeio, antes do café da manhã. Há anos que o Senhor insistia comigo para tomar esta decisão. Agora fizemos um  novo  pacto, segundo o qual o resto de minha vida, em sua  totalidade,  lhe  pertenceria.  E, desde então, jamais ousei quebrar este pacto. Minha esposa me aguardava com  meu café, mas eu perdera a vontade  de  alimentar-me.  O  Espírito  Santo    através daquele pequeno livro incendiara meu coração. Visitei e orei com três pregadores e outros numerosos obreiros antes de voltar para casa, ao meio-dia. Eu  recebera um novo comissionamento e unção.  E  ansiava  profundamente  por  um  avivamento espiritual.
Depois disto passei muitos dias visitando e orando com outros irmãos e distribuí o folheto da G. Campbell Morgan "O Avivamento em Gales", que tocava  as  pessoas profundamente. Cada vez sentia mais necessidade de orar e  resolvi  ser  fiel  à visão celestial que tivera. A "questão do pão de cada dia"  há  muitos  anos  me preocupava, mas agora orei a Deus para poder confiar nEle totalmente: "Nem só de pão viverá o homem!" (Mateus 4:4)
Deus me abençoou além disso, com  o  poder  de  exortar  as  igrejas  quanto  ao avivamento e também com artigos que escrevi para  a  Editora  Holiness  sobre  o mesmo tema. Uma noite acordei gritando louvores a Deus. O Senhor cada  vez  mais se apossava de mim. Agora de dia, e mesmo durante a noite, eu os  exortava  para terem fé em Deus por coisas grandiosas. O peso pelo avivamento  me  consumia.  O dom de profecia também veio sobre mim  com  poder.  Parecia  haver  recebido  um especial "dom de fé" em favor do avivamento. Era óbvio que estávamos  no  início de dias maravilhosos e eu profetizava continuamente sobre o grande  derramamento que haveria de acontecer.
Eu tinha um ministério muito real junto com a imprensa  religiosa  e  comecei  a freqüentar reuniões de oração em diversas igrejas a fim de exortá-las. O pequeno folheto de G. Campbell Morgan inflamava a  todas  as  igrejas  maravilhosamente.
Também visitei muitos irmãos e comecei a vender nas igrejas o  livro  de  S.  B. Shaw: "O Grande Avivamento em Gales" Deus utilizou-o grandemente para incentivar a fé pelo avivamento. Meu trabalho de distribuir folhetos continuou em  bares  e em casas de negócios.
Em maio de 1905, escrevi num artigo: "Minha alma  fica  incendiada  quando  leio sobre o trabalho glorioso da graça do Senhor no País de Gales. Os "sete mil" que juntamente com os "que foram poupados"  (Ezequiel  9),  e  estão  "suspirando  e gemendo" por causa das  abominações  e  desolações  que  há  na  terra,  e  pela decadência da verdadeira piedade no corpo de Cristo,  podem  se  regozijar  numa hora como esta, em que se vê a perspectiva de Deus mais  uma  vez  se  mover  na terra. O nosso lema neste momento deve ser 'Califórnia para Cristo!'  Deus  está buscando obreiros, canais, vermes do pó. Lembre-se, Ele precisa  desses  simples vermes. Havia tanto peso na vida de Jesus que FLUIA ORAÇÃO de todos Seus  poros.
Isto é alto demais para a maioria das pessoas. Contudo, não seria esta a 'última chamada' do Senhor?"

NA IGREJA DO IRMÃO SMALE

No dia 17 de junho, fui a Los Angeles para assistir a uma  reunião  da  Primeira Igreja Batista. Eles, também, esperavam em Deus por um derramamento do  Espírito ali. Seu pastor, Joseph Smale, acabara de voltar do País de Gales onde  estivera em contato com o avivamento e com Evan Roberts, e estava na sua  própria  igreja em Los Angeles. Esse encontro parecia estar  em  perfeito  acordo  com  a  minha visão, tarefa e desejo, e passei duas horas na igreja orando, antes  da  reunião da noite. As reuniões estavam sendo realizadas ali dia e noite,  diariamente,  e Deus estava presente.
Uma tarde comecei  a  reunião  em  Los  Angeles,  enquanto  esperava  que  Smale aparecesse. Eu os exortei a não esperar pelos homens, mas  a  esperar  em  Deus.
Eles estavam esperando em alguma grande figura humana; era o mesmo  espírito  de idolatria que havia sido uma praga para igreja e que impedira  a  ação  de  Deus através dos séculos. Como os filhos de Israel, o povo precisava  ter  "um  outro Deus diante do Senhor." (Em algumas igrejas  oficiais  na  Europa,  o  pastor  é muitas vezes conhecido como "o pequeno deus!") Começamos o culto  da  noite  nos degraus do templo, do lado de fora, enquanto esperávamos que o Zelador  chagasse com a chave. Tivemos um período de oração em  favor  da  comunidade  vizinha.  A reunião foi uma marcha progressiva de vitória.
Depois fui para o Parque Lamanda, e após a  pregação  passei  a  noite  na  casa paroquial orando e dormindo alternadamente. Eu queria  uma  revelação  maior  de Jesus PARA MIM MESMO. Como a lua cheia que  fica  mais  e  mais  nítida  e  mais próxima à medida que a contemplamos incessantemente,  assim  também  Jesus  fica mais real às nossas  almas  à  medida  que  o  contemplamos.  Precisamos  de  um relacionamento mais íntimo, vivo, e  pessoal  com  Deus,  e  de  conhecimento  e comunhão maior com Ele. Só o homem que vive em comunhão com a  realidade  divina está habilitado a levar as pessoas à Deus.
Fui à igreja de Smale outra vez e novamente  encontrei  as  pessoas  sem  ânimo, esperando o pregador aparecer. Muitas pareciam nem ter idéia definida a respeito do que esperavam que acontecesse! Comecei a orar em voz  alta  e  a  reunião  se iniciou com poder. Estava já com força total quando o irmão Smale  chegou.  Deus queria que as pessoas olhassem apenas para Ele e não para algum  homem.  Aqueles que não colocavam  a  glória  do  Senhor  em  primeiro  lugar,  naturalmente  se ressentiam disto. Contudo este é o plano de Deus.
Verifiquei que a maioria dos cristãos não queriam aumentar sua carga de  oração. Era difícil demais para a carne! Eu carregava agora  uma  carga  cada  vez  mais volumosa, noite e dia. O ministério  era  intenso.  Era  a  "comunhão  dos  seus sofrimentos" (Filipenses 3:10), a angústia de alma "com  gemidos  inexprimíveis" (Romanos 8:26, 27). Muitos crentes acham mais fácil criticar do que orar...
Um dia eu estava sobre uma carga tremenda de oração. Fui à  casa  de  oração  do irmão Manley, caí no altar e ali aliviei minha alma. Um obreiro entrou  correndo e pediu que orasse por ele. Naquela noite fui a uma reunião e encontrei um outro jovem, Edward Boehmer, que havia sido tocado por Deus nas reuniões de Peniel, no outono, e que tinha o mesmo fardo de oração sobre si. Ele estava destinado a ser meu companheiro de oração no futuro. Fomos unidos no  Espírito  daquele  dia  em diante de forma maravilhosa. Oramos juntos na pequena Missão Peniel até às  duas horas da manhã. Deus encontrou-Se conosco e nos fortaleceu  maravilhosamente enquanto lutávamos com Ele por um derramamento do Espírito sobre o  povo.  Minha vida então estava totalmente consumida pela oração contínua. Estava orando dia e noite!
Escrevi mais artigos para a imprensa religiosa,  exortando  os  santos  a  orar.
Novamente fui a igreja de Smale em Los Angeles. Encontrei as pessoas esperando o pregador outra vez. Esta situação me oprimia muito e tentei mostrar-lhes que  só deviam  esperar  pelo  Senhor.  Algumas  se  ressentiram,  pois    eram    muito tradicionais, mas outras aceitaram. Afinal, estávamos orando por  um  avivamento como houvera no País de Gales, onde um dos pontos  principais  era  que  somente esperavam em Deus. As reuniões continuavam lá com ou sem pregador.  Eles  vinham se encontrar com Deus. E o Senhor vinha para estar com eles.
Eu havia escrito uma carta a Evan Roberts, pedindo que em Gales orassem por  nós na Califórnia. Recebi resposta de que eles estavam orando,  o  que  nos  ligava, então, ao avivamento de lá. A carta dizia:  "Meu  querido  irmão  na  fé,  muito agradecido por sua carta gentil. Fiquei  impressionado  com  sua  sinceridade  e honestidade de propósitos. Reúna o povo que está disposto a  fazer  uma  entrega total. Ore e espere. Creia nas promessas de Deus. Faça reuniões diárias. Deus  o abençoe, é a minha oração." Sentimo-nos muito encorajados ao saber  que  estavam orando por nós em Gales.
Escrevi mais artigos e  o  que  se  segue  são  extratos  deles:  "Um  trabalho maravilhoso do Espírito irrompeu em Los Angeles,  Califórnia,  precedido  de  um profundo trabalho preparatório de oração e  expectativa.  A  convicção  está  se espalhando entre o povo, e as pessoas estão  afluindo  de  todas  as  partes  da cidade para as reuniões da igreja do Pr. Smale. Estas reuniões realizaram-se por si mesmas. Pessoas estão sendo salvas por todo o auditório, enquanto  a  reunião continua sem ser guiada por mãos humanas. A maré está subindo rapidamente e  nós estamos antecipando coisas maravilhosas. A intercessão em angústia de alma  está se tornando em importante aspecto do trabalho,  e  estamos  sendo  transportados para além das barreiras denominacionais. O temor do Senhor está  vindo  sobre  o povo, um verdadeiro espírito de quebrantamento. A reunião que começou domingo  à noite durou até a madrugada do dia seguinte. O pastor  Smale  profetizou  coisas maravilhosas que irão acontecer. Ele profetizou que  os  dons  apostólicos logo voltarão à igreja. Los Angeles é uma verdadeira Jerusalém.  Justamente  o  lugar certo para uma grande obra de Deus começar.  É  exatamente    este    tipo    de demonstração  de  poder  divino  que  eu  tenho esperado há algum  tempo.  Tenho sentido que a qualquer momento ela surgirá. Sinto, também, que virá  onde  menos se espera para que Deus receba toda a glória. Ore por um Pentecostes!"

UM ENCONTRO COM JESUS

Uma noite, 3 de julho, senti fortemente que  deveria  ir  ao  pequeno  auditório Peniel em Pasadena para orar. Encontrei ali o  irmão  Boehmer.  Ele  havia  sido guiado por Deus ao mesmo lugar. Oramos por um avivamento em Pasadena até  que  o fardo de oração se tornou insuportável. Eu chorava  como  se  fosse  uma  mulher dando à luz. O Espírito intercedia através de nós e finalmente o  peso  se  foi.
Depois de uma pequena espera em silêncio, uma  grande  calma  nos  sobreveio,  e então, sem que o antecipássemos, o Senhor Jesus  se  nos  revelou.  Ele  parecia estar em pé entre nós, tão perto que poderíamos estender nossas mãos e  tocá-lo.
Não ousamos entretanto mexer-nos. Eu não podia nem olhar. Na  realidade  parecia que eu era totalmente espírito. Sua presença foi mais real, se possível, do  que se eu o pudesse ter visto e tocado fisicamente. Esqueci-me que possuía  olhos  e ouvidos. Meu espírito o reconheceu. Um céu de amor divino me  encheu  e  excitou minha alma. Uma chama ardente percorreu meu corpo. Aliás todo meu corpo  parecia derreter-se diante dEle, como cera diante do fogo.  Perdi  toda  consciência  de tempo e espaço, ficando apenas consciente de sua maravilhosa presença. Fiquei  a seus pés em adoração. Era um verdadeiro "Monte da Transfiguração".  Perdi-me dentro do puro Espírito!
Por algum tempo Ele permaneceu conosco. Depois  devagar  Ele  se  retirou.  Nós ainda estaríamos lá se Ele não  tivesse  se  retirado.  Nunca  mais  eu  poderia duvidar da sua realidade após esta experiência.  O irmão Boehmer sentiu quase  o mesmo que eu. Havíamos perdido totalmente a consciência da presença um do  outro enquanto Ele ficou conosco. Tínhamos quase medo  de  falar  ou  respirar  quando voltamos ao ambiente que nos rodeava. O Senhor não dissera nada  para  nós,  mas havia arrebatado  nosso  espírito  pela  sua  presença.  Ele  havia  vindo  para fortalecer-nos  e  encorajar-nos  para  o  Seu  serviço. Sabíamos agora que trabalhávamos com Ele e éramos companheiros de Seu sofrimento no  ministério de intercessão com angústia de alma. A verdadeira intercessão com angústia de  alma é tão nítida no espírito quanto as dores de um parto  natural.  A  semelhança é quase perfeita.  Nenhuma  alma  jamais  renasce  sem  esse  processo.  Todos  os avivamentos de salvação vêm desta maneira.
Já alvorecia na manhã seguinte quando deixamos o  auditório.  Aquela  noite  no entanto parecia-nos haver durado apenas meia hora. A presença  de  Deus  elimina toda sensação de tempo. Com Ele tudo é eterno: É vida eterna. Deus não conhece o tempo, este elemento se perde no céu. Este é o segredo do tempo  parecer  passar tão depressa durante uma noite de verdadeira oração.  O  tempo  é  colocado  num ponto inferior. O  elemento  eterno  está  ali.  Durante  dias  aquela  presença maravilhosa parecia andar ao meu lado. O Senhor Jesus era tão real para mim  que eu mal podia conversar com as outras  pessoas  de  novo.  Isto  me  parecia  tão rudimentar e vazio. Os espíritos humanos pareciam tão rudes e  o  companheirismo humano um tormento. Quão distante nós estamos atualmente do  espírito  manso  de Jesus!
Passei o dia seguinte em oração, indo de noite à igreja de Smale onde passei um tempo em intercessão. A paz e a alegria do céu enchiam meu  coração.  Jesus  era tão real! Dúvidas e temores não podem sobreviver na Sua presença.

O INTERESSE PELO AVIVAMENTO SE ALASTRA

Escrevi vários artigos descrevendo o que Deus estava operando em nosso  meio  e exortando os santos em todos os lugares a terem fé e orarem por um avivamento. O Senhor usou grandemente estes artigos para despertar fé e  convicção  em  muitos locais. Logo comecei a receber grande quantidade de  correspondência  de  muitos lugares. Escrevi no meu diário naquele tempo a seguinte observação: "É  possível nos desligarmos de Deus por causa da nossa vaidade espiritual enquanto Ele  leva os mais fracos ao arrependimento e, a partir daí, à vitória. A operação de  Deus em nossos  corações  deve  ser  mais  profunda  do  que  jamais  experimentamos, suficientemente para destruir as barreiras denominacionais, de partido, etc., em todos os lados. Deus pode aperfeiçoar aqueles que escolher."
O espírito de avivamento que havia  na  igreja  do  irmão  Smale  se  alastrou, despertando logo os mais espirituais em toda a cidade. Obreiros vinham de  todas as partes, de diversas instituições, unindo-se à nós em oração contínua para que houvesse o derramamento do Espírito por toda a parte. O círculo de  interessados aumentou rapidamente. Estávamos agora  orando  pela  Califórnia,  pela  nação  e também por um avivamento universal. As profecias começaram a aparecer  em  larga escala a respeito de grandes coisas que aconteceriam. Alguém me mandou cinco mil folhetos a respeito do "Avivamento no País  de  Gales".  Distribuí-os  entre  as igrejas. Tiveram um efeito maravilhoso e vivificante.
Visitei outra vez a igreja de Smale e iniciei a reunião,  pois  ele  ainda  não havia chegado.  As  reuniões  agora  eram  caracterizadas  por  uma  maravilhosa espontaneidade. Nosso pequeno grupo  Gideão  estava  marchando  para  a  Vitória certa, guiado pelo Capitão da sua salvação, Jesus. Fui levado a orar nessa época especialmente por fé, discernimento de espíritos , cura e  profecia.  Senti  que precisava de mais sabedoria e também de amor. Parecia ter recebido o "dom de fé" pelo avivamento naquela época e também o dom de profecia para  o  mesmo  fim,  e comecei a profetizar a respeito das grandes coisas que estavam para vir.
Quando começamos a orar na primavera de 1905, ninguém parecia ter muita fé  por nada fora do habitual. O pessimismo entre os santos era  total  com  relação  às condições então existentes. Mas tudo havia mudado! Deus mesmo nos havia dado  fé em coisas melhores. Não havia nada á vista que nos estimulasse a ter fé. Veio do nada. Não poderá Ele hoje fazer a mesma coisa?
Escrevi naquela época um artigo para  o  jornal  "Daily  News"    de  Pasadena, descrevendo o  que  havia  na  igreja  do  irmão  Smale.  Foi  publicado  e o administrador do jornal pouco  depois  veio  ver  por si mesmo o que estava acontecendo. Ficou totalmente convencido e veio ao altar para buscar a Deus  com sinceridade. O artigo foi reimpresso em muitos periódicos das igrejas "Holiness" através do país. Era  intitulado:  "O  que  vi  numa  igreja  em  Los  Angeles".
Seguem-se abaixo alguns trechos.
"Há diversas semanas têm se  realizado  cultos  especiais  na  Primeira  Igreja Batista de Los Angeles. O Pastor Smale que voltou do País de Gales, onde  esteve em contato com Evan Roberts e com o Avivamento, está convicto  que  Los  Angeles será em breve sacudida também pelo grande poder do Senhor."
"A reunião que desejo descrever começou de forma inesperada e espontânea  algum tempo antes do pastor chegar. Um pequeno grupo havia se reunido antes da hora, o que parecia ser suficiente para o Espírito  operar.  A  reunião  começou. Sua expectativa  estava  em Deus. Deus estava lá, o  povo  estava  lá,  e  quando  o pastor chegou a reunião se realizava com força total. O Pastor  Smale  sentou-se no seu lugar, mas ninguém parecia prestar atenção especial  a  ele.  Sua  mentes estavam  ligadas  a  Deus.  Ninguém  parecia  atrapalhar  o  vizinho,  embora  a congregação representasse muitas denominações. A harmonia  parecia  perfeita.  O Espírito guiava."
"O pastor se levantou e leu um trecho das Escrituras; fez  algumas  observações cheias de esperança, e que serviram de  inspiração  para  aquela  ocasião,  e  a reunião novamente tomou o  seu  próprio  rumo.  O  povo  continuou  como  antes.
Testemunhos, orações e louvor se intercalavam  durante  a  reunião  que  parecia guiar-se por si mesma, sem orientação humana. O pastor era igual a  todo  mundo.
Qualquer pessoa com a menos sensibilidade espiritual  possível  sentia  logo  no ambiente que algo maravilhoso estava prestes a ocorrer. Um misterioso e poderoso transtorno no mundo espiritual está às portas. A reunião dá a sensação  de  "céu aqui na terra" com a certeza que o sobrenatural existe e  em  um  sentido  muito real."

DEPOIS DA MISERICÓRDIA, O JUÍZO

Nessa mesma época escrevi um artigo para o jornal "Wesleyan Methodist", do qual extraí o que se segue: "A misericórdia rejeitada significa juízo,  e  isto  numa escala proporcional. Em toda a história deste mundo de  Deus  houve  sempre  uma oferta de misericórdia, seguida de juízo divino. Primeiro vem Cristo num  cavalo branco da misericórdia. Depois vêm os  cavalos  vermelho,  preto  e  amarelo  da guerra, fome, e da morte. Os profetas não paravam de avisar Israel noite e  dia, mas suas  lágrimas  e  advertências,  na  maioria,  foram  em  vão.  A  terrível destruição de  Jerusalém  em  70  A.D.,  que  resultou no extermínio de um milhão de Judeus, e a prisão de multidão de outros,  fora  precedida  da  oferta divina de misericórdia nas mãos do próprio Filho de Deus.
"Em 1859, uma grande onda de Avivamento visitou nosso país, levando um,  milhão de pessoas a serem salvas. Imediatamente após veio a  carnificina  de  1861-1865 (Guerra de Secessão). E agora que antecipamos o grande Avivamento que está  para chegar e já está assumindo proporções mundiais, pergunto se o juízo não  seguirá a misericórdia como das outras vezes. E será o julgamento na mesma proporção  da misericórdia oferecida! A presente atitude  belicosa  e  a  angústia  de  tantas nações fazem-nos questionar se o juízo que se  seguirá  não  nos  mergulhará  na grande tribulação." (Nota do Redator: E  realmente  veio  o  juízo  esperado  na Primeira Guerra Mundial, 1914-1918.)
Para o jornal "O Avivalista de Deus" eu escrevi: "A incredulidade sob todas  as formas está vindo sobre nós como grande inundação. Mas  eis  que  o  nosso  Deus também vem! Um estandarte se levanta contra o inimigo. O Senhor está  escolhendo os Seus obreiros. É chegada a hora de perceber a visão da obra a  ser  feita."
Fala o Poderoso, o Senhor Deus, e convoca a terra desde o nascer do  sol  até  o seu ocaso. O nosso Deus vem, e não guarda silêncio... Congregai os meus  santos, os que comigo fizeram aliança por meio de sacrifícios. (Salmos 50:1, 3, 5)
Naquele tempo eu costumava declarar que eu preferia viver seis meses  em  1905, do que 50 anos noutra época. Grandes coisas se iniciavam para o  grão  de  trigo que estava disposto "a cair na  terra  e  morrer",  Havia  promessa  de  grandes colheitas. Mas  para  os  insensatos  espirituais,  tudo  isso  não  passava  de bobagens.
Escrevi outra carta para Evan Roberts, pedindo  orações  incessantes pela Califórnia.  Assim  continuávamos  ligados  em  oração  com  Gales  por  um Avivamento. Naquele tempo a verdadeira oração ainda não  era  bem  compreendida. Era difícil achar um lugar quieto onde não se fosse incomodado. Ter  experiência de Getsêmani com Jesus era raro entre os santos daqueles dias.

A INTERCESSÃO CONTINUA

Um dia, na igreja de Smale, eu estava gemendo em oração no altar. O espírito de intercessão estava sobre mim, mas um irmão veio e me repreendeu severamente. Ele não compreendia o que estava acontecendo. A carne naturalmente reluta diante  de tão árduo sacrifício. Os gemidos não são  muito  populares  em  algumas  igrejas assim como não são agradáveis os brados de uma mulher dando à luz. A angústia na intercessão não é companhia agradável para os que querem  uma  vida  egoísta  no mundo. Mas as almas não são ganhas  sem  esta  experiência.  Dar  à  luz  não  é considerado um exercício agradável hoje em dia. O mesmo acontece num  verdadeiro avivamento que gera novas vidas nas igrejas. A sociedade não  se  importa  muito com uma mãe que está para dar à luz. Prefere  a  alegria  superficial.  O  mesmo acontece nas igrejas com relação a angústia da intercessão. Há pouca preocupação com os pecadores. Os homens fogem dos gemidos de uma mulher que está para dar  à luz. E as igrejas não querem ouvir os gemidos da intercessão. Estão  muito  mais preocupados em se divertirem.
Estávamos com problemas financeiros, mas o Senhor supriu-nos. Jamais dissemos a alguém nossas necessidades, a não ser para Deus; jamais  imploramos  ou  pedimos dinheiro emprestado, por maior que fosse  nossa necessidade. Acreditávamos que,  se  os  santos,  estivessem suficientemente próximos de  Deus,  Ele  mesmo falaria com eles. Confiávamos inteiramente nEle e ficaríamos sem nada se Ele não enviasse ajuda. Nesta época escrevi meu primeiro folheto. Intitulava-se "O  Amor Nunca Falha". Foi  este  o  início  do  meu  ministério  de  folhetos,  que  era sustentado pela fé. Eu precisava confiar no Senhor par o suprimento  financeiro.
E Ele nunca falhou.
Um amigo pagou nossas despesas num acampamento em Arroyo  por  alguns  dias,  e assim fomos para lá armar nossa barraca.  Apreciamos  a  mudança  e  as  férias.
Estávamos no meio do verão. Passei quase todo o tempo prostrado orando  no  meio da floresta. Durante as noites de luar, derramei meu coração diante  de  Deus  e Ele veio estar comigo. Havia muito "ruído de corações vazios" no acampamento.  A maioria buscava  bênçãos  egoístas;  estavam  ali  como  grandes  esponjas  para absorverem o maior número de bênçãos possível. Alguém precisava pisar neles!
Encontrei-me clamando a Deus muito além das aspirações do  resto  do  povo.  Eu queria algo mais profundo do que esta esfera puramente  emocional;  queria  algo mais substancial e duradouro que colocasse um rochedo no meu coração. Eu  estava cansado de tanta espuma passageira, de tanta religião enfática e  bombástica.  O Senhor não me deixou esperando por muito tempo.
A comissão de  organização  do  acampamento  me  repreendeu  porque  eu  estava distribuindo folhetos  no  acampamento.  Achavam  que  eu  estava  criticando  o movimento a que pertenciam. Eu estava apenas exortando-os  a  um  relacionamento mais profundo com Deus! Eles precisavam de mais humildade e  amor.  Meu  folheto sobre as seitas, intitulado "Que Todos Possam  Ser  Um"  comoveu  a  todos.  Sem dúvida os movimentos feitos por homens precisam ser sacudidos. Deus  tem  um  só "corpo", um só "movimento". Esta era a mensagem na Missão Azusa no início.
Recebi uma Segunda carta de Evan Roberts que dizia: "País de Gales, 8 de  julho de 1905. Querido irmão: Sou  muito  grato  a  você  por  sua  gentileza.  Fiquei muitíssimo  satisfeito  com  as  boas  notícias  que  vocês  estão  começando  a experimentar coisas maravilhosas. Estou orando para que Deus continue a abençoar você; mais uma vez agradeço os seus bons votos. Sinceramente seu no  serviço  do Senhor, Evan Roberts."

O INÍCIO DA IGREJA DO NOVO TESTAMENTO

"Eu fui à igreja de Smale uma noite, e ele havia se demitido. As reuniões haviam prosseguido diariamente na Primeira Igreja Batista por quinze semanas. Estávamos em setembro. Os oficiais da igreja haviam se  cansado  de  inovações  e  queriam retornar ao antiga estilo.  Foi-lhe  dito  que  parasse  com  o  Avivamento,  ou deixasse a igreja. Sabiamente  ele  escolheu  a  segunda  alternativa.  Mas  que posição horrível para uma igreja assumir:  colocar  Deus  para  fora!  Da  mesma maneira, também puseram, mais tarde, o Espírito do Senhor para fora das  igrejas do País de Gales! Cansaram-se de Sua presença,  desejando  retornar  aos  velhos padrões frios e eclesiásticos. Como os homens são cegos! É claro que os  membros mais espirituais seguiram o pastor Smale e ajuntaram-se ao núcleo de obreiros de outras  procedências  que  haviam  se  unido  à  ele  durante   o    avivamento.
Imediatamente estes propuseram a formação de uma igreja do Novo  Testamento.  Eu senti que o Senhor estava liderando o  irmão  Smale  para  usá-lo  no  campo  de evangelismo, para leva o fogo à outros lugares. Mas ele não sentia o mesmo. Tive um encontro com ele com este objetivo  em  mente,    e    consegui    que    ele pregasse  na Igreja Metodista da Avenida Lake em Pasadena, para o Pastor  Brink.
Este era o  centro nevrálgico do Avivamento naquela cidade.
Na noite anterior à pregação do irmão Smale na igreja da Avenida Lake, dois de nós ficamos até meia-noite em  oração.  O  irmão  Smale  pregou  duas  vezes  no Domingo. Foi ungido de forma grandiosa pelo Senhor naquela ocasião.  Passamos  o período entre os  dois  cultos  em  oração.  Sua  mensagem  foi  a  respeito  do Avivamento no País de Gales. O povo ficou muito comovido.  O  irmão  Smale  logo depois organizou uma igreja do Novo Testamento, e eu  me  tornei  membro  porque senti que deveria ficar com eles, apesar de não gostar muito da organização.
O irmão Smale alugou o auditório Burbank para fazer reuniões ali, e eu consegui outro auditório até que o  primeiro  estivesse  concluído.  Deus  me  deu  outro folheto: intitulava-se "Ore! Ore! Ore!" Mandei para o  impressor  pela  fé  e  o Senhor me mandou o dinheiro a tempo. Era uma forte exortação para que orássemos.
Como os profetas de antigamente, precisamos orar por aqueles que não oram por si mesmos. Precisamos confessar os pecados do povo no seu lugar.

MAIS INTERCESSÃO

Certa ocasião enquanto eu e o irmão  Boehmer  orávamos,  o  Espírito  Santo  foi derramado de forma maravilhosa sobre diversas  reuniões  pelas  quais  orávamos.
Sentimos que havíamos alcançado a Deus em favor deles. Os acontecimentos que  se seguiram provaram nossa convicção. As orações mudam  as  coisas.  Há  um  grande poder no tipo certo de orações. Veja o exemplo de Elias  no  Monte  Carmelo,  um homem "sujeito às mesmas paixões do justo" (Tiago 5:16). O arrependimento também se  faz  necessário  neste  contexto  para  que   tudo    funcione.  "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros."
Quase todos os  dias  em  Los  Angeles  encontrava-me  ocupado  em  evangelismo pessoas, distribuição de folhetos, oração ou pregação em alguma reunião.  Estava escrevendo artigos para a imprensa religiosa sem parar. Orei e jejuei  antes  de ir, numa tarde, a uma reunião na lona em Pasadena.. O Senhor me ungiu  de  forma maravilhosa e vinte pessoas aceitaram a cristo. A  essa  altura  o  espírito  de intercessão se apossara de mim de tal maneira que eu orava noite e dia;  jejuava tanto, que minha esposa de vez em quando achava que eu iria morrer. As tristezas do meu Senhor estavam sobre mim. Eu estava no jardim do Getsêmani  com  Ele.  "O penoso trabalho da sua alma" também estava sobre mim. Comecei a temer, como  Ele temera, que não viveria para ver às respostas às minhas orações e lágrimas  pelo Avivamento. Ma ele me consolava, mandando mais de um anjo para me  fortalecer  e eu ficava satisfeito. Senti que estava experimentando  um  pouco  do  que  Paulo queria dizer quando escreveu: "preencho o que resta das aflições de Cristo", por um mundo perdido. Alguns temiam que eu  estivesse  ficando  desequilibrado.  Não conseguiam entender minha tremenda incumbência. Até hoje  muitos  não  conseguem compreender. "O homem carnal não aceita as coisas do Espírito  de  Deus,  porque lhe são loucura". Os homens egoístas não podem entender  tal  sacrifício.  "Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á." "Se o grão de trigo caindo na terra,  não morrer...." Nosso Senhor era um "Homem de dores".
Muitas vezes fui a Pasadena confiando que Deus me daria a passagem para  voltar para casa. Numa ocasião o irmão Boehmer teve a  impressão  que  eu  estava  para chegar. Ele foi à pequena Missão Peniel e me encontrou lá. Passamos várias horas em oração. Depois ele pagou minha passagem para a volta à casa.  Muitas    vezes passamos a noite inteira  em oração.  Naquela  ocasião  parecia  um  grande privilégio passar uma noite inteira com o Senhor. Ele ficava tão perto  de  nós.
Parecia-nos que nem nos cansávamos nessas horas. Boehmer era jardineiro e jamais lhe pedi um centavo, mas ele sempre me dava alguma coisa. Depois de certo tempo, Deus usou não apenas seu dinheiro, mas sua própria vida em seu serviço.  Boehmer foi um grande homem de oração. Deus nos ensinou o que significa não conhecer  os outros na carne. Ele nos levou a um  relacionamento  tão  intenso  que  o  nosso companheirismo parecia ser só no Espírito. Além disso nosso "eu"  parecia  haver morrido com relação um ao outro.

SINAIS DE PERIGO NA IGREJA DO NOVO TESTAMENTO

Escrevi pela terceira vez a Evan Roberts para que continuasse a orar  por  nós.
Naquele tempo, depois que acabava de pregar, eu  geralmente  chamava  os  santos para ajoelharem-se e  orávamos  durante  muitas  horas  antes  de  nos  podermos levantar. O Senhor me levou a escrever a muitos líderes em todo o país para  que orassem pelo Avivamento. O espírito de oração crescia continuamente. A igreja do Novo Testamento parecia perder seu espírito de oração à medida que aumentava sua organização. Agora queria passar esse ministério para alguns de  nós.  Eu  sabia que Deus não se agradava disso  e  fiquei  muito  preocupado  por  eles.  Tinham interesses secundários demais. Parecia que Deus precisava arranjar outro  corpo.
Eu tivera muita esperança com relação a esse grupo de pessoas. O inimigo, porém, parecia os estar tirando do caminho, desviando-os do que Deus  tinha  de  melhor para eles naquela época. É sempre mais fácil escolher o que  é  secundário.  Uma vida de oração é muito mais importante do que os prédios e organizações.  Muitas vezes esses últimos interesses parecem  substituir  a  oração.    Mas  as  almas entram para o reino só através de orações.
A igreja do Novo Testamento parecia estar indo para o lado do  intelectualismo.
Fiquei muito preocupado. Durante uma reunião gemi alto em oração.  Era  horrível depois das reuniões que tivéramos antes. Um dos anciãos da igreja me  repreendeu severamente por isso. "Como caíram os valentes...",  eu  parecia  ouvir  a  toda hora. Alguns dos mais espirituais sentiram a mesma preocupação.
As orações começaram a melhorar um pouco. Depois  de  algum  tempo  tivemos  uma grande reunião na igreja e cem pessoas  foram  ao  altar  numa  única  noite  de Domingo. Encontrei-me outra vez com os rapazes da Missão Peniel e  sentimos  que em breve o Senhor realizaria uma grande obra. Na lona do irmão Brownley, em  Los Angeles,  tivemos  profundo  espírito  de  oração  e  poderosas   reuniões    de intercessão. Prevíamos que  em  breve  Deus  faria  algo  de  extraordinário.  O espírito de oração vinha sobre nós cada vez com mais poder. Em  Pasadena,  antes de mudar para Los Angeles, eu ficava  deitado  de  dia,  virando-me  na  cama  e gemendo sob o enorme peso. À noite, eu  mal  podia  dormir  de  tanto  sentir  a necessidade de orar. Jejuava muito, pois sob esta carga não  sentia  necessidade de alimento. Em certa época fiquei em angustiosa intercessão por vinte e  quatro horas seguidas sem interrupção. Fiquei muito esgotado. As  orações  praticamente me consumiam. Comecei a gemer até quando dormia.
As orações não eram formais naquele tempo. Eram sopradas por Deus. Vinha  sobre nós  e  nos  dominavam  inteiramente.  Não  fazíamos  força    para    que    se intensificassem. Éramos possuídos por verdadeira angústia no  Espírito  que  não podia ser cortada. Assim como é impossível  uma  mulher  em  trabalho  de  parto evitar suas dores, não se pode fugir  da  angústia  na intercessão  sem  cometer grande violência ao  Espírito  Santo.  Era  verdadeira  intercessão  feita  pelo Espírito Santo.

NOTÍCIAS DO PAÍS DE GALES

Durante alguns dias tive a impressão  de  que  outra  carta  chegaria  de  Evan Roberts. Logo chegou e dizia o seguinte: "País de Gales, 14 de novembro de 1905.
Meu caro companheiro: O que posso lhe dizer que o encoraje  nesta  grande  luta?
Vejo que é uma luta terrível: o reino do mal está  sendo  atacado  de  todos  os lados. Oh! São milhares de orações - não só orações formais - mas a própria alma chegando diretamente ao Trono Branco! O povo de Gales tem aprendido a orar neste último ano. Que o Senhor os abençoe com um grande derramamento. Em Gales  parece que o Senhor está sobre a congregação, esperando que os corações dos  seguidores de Cristo se abram. Tivemos um grande derramamento do Espírito Santo  na  última noite de sábado. Antes disto o conceito que o povo tinha  do  verdadeiro  louvor foi corrigido. Vimos que devemos:
1. Dar a Deus, e não receber.
2. Agradar a Deus , e não a nós mesmos.
Oramos, então, olhando para Deus e não para o  inimigo,  nem  para  o  medo  dos homens, e o Espírito do Senhor se fez presente. Tenho pedido a  Deus  em  oração para manter você forte na sua fé e para salvar a Califórnia. Permaneço seu irmão na luta - de Evan Roberts." Era a terceira carta que recebíamos de Evan Roberts, de Gales, e percebi que sua oração tivera muito a ver com a nossa vitória  final na Califórnia.
Evan Roberts nos conta a respeito de sua  própria  experiência  com  Deus:  "Uma Sexta-feira à noite, no último outono, enquanto orava  ao  lado de  minha  cama, antes de dormir, fui elevado a uma grande expansão, fora do tempo ou espaço. Era comunhão com Deus! Antes disso, eu conhecera um Deus distante. Fiquei  apavorado naquela noite, mas depois disso nunca mais. Tremia tanto que a  cama  chegava  a balançar e meu irmão que acordada me segurava, pensando que eu estava enfermo."
Esta experiência se repetiu todos os dias durante três meses, da uma  às  cinco da madrugada . Ele escreveu este recado ao  mundo  durante  aquele  período:  "O Avivamento no País de Gales não vem dos  homens,  é  de  Deus.  Ele  está  muito próximo de nós; não há problemas de  crenças  ou  dogmas  neste  movimento.  Não estamos ensinando nenhuma doutrina sectária, só a maravilha e a beleza  do  amor de Cristo. Perguntaram-me sobre meus métodos, mas eu não os tenho. Nunca preparo o que vou dizer, mas deixo tudo para Ele. Eu não sou a fonte  deste  Avivamento, mas apenas um agente  entre  tantos  outros  que  estão  se  transformando  numa multidão. Não espero que as pessoas me sigam, mas quero o mundo para Cristo.  Eu creio que o mundo está às portas de grande Avivamento espiritual e oro todos  os dias para que eu  possa  ajudar  na  sua  realização.  Coisas  maravilhosas  tem acontecido em Gales nestas últimas semanas, mas elas são apenas o  princípio.  O mundo será varrido pelo Espírito Santo, como por  um  vento  forte  e  poderoso.
Muitos que agora são cristãos  silenciosos  liderarão  o  movimento.  Verão  uma grande luz e refletirão essa luz sobre milhares que estão nas  trevas.  Milhares se levantarão e farão mais do que nós jamais conseguimos realizar, à medida  que Deus lhes der poder." Que humildade maravilhosa! Este  é  sempre  o  segredo  do poder.
Uma testemunha inglesa do Avivamento em  Gales  escreveu:  "Tanta  angústia  na intercessão pelas almas dos não-salvos nunca antes presenciei. Vi o  jovem  Evan Roberts transtornado pela dor, e convidando  o auditório a orar.  "Não  cantem", ele suplicava, "é terrível demais para cantar!"" (A convicção do  pecado  muitas vezes é perdida pelo povo, quando se canta demais.)
Outro escritor declarou que não era a eloqüência de Evan Roberts que comovia  o povo; eram suas lágrimas. Ele os quebrantava, chorando amargamente para que Deus os dobrasse em tal agonia que as lágrimas escorriam pelo seu rosto e todo o  seu corpo tremia. Homens fortes eram  quebrantados  e  choravam  como  crianças.  As mulheres gritavam de medo. O barulho do choro e dos gritos enchia o  ar.  Quando sua agonia se tornava maior, Evan Roberts Chegava  a  cair  diante  do  púlpito, enquanto muitos dentre o povo chegavam a desmaiar.

OPOSIÇÃO

Dia e  noite  eu  ia  a  Missões  diferentes  exortando  as  pessoas  a  orarem continuamente e a terem fé pelo  Avivamento.  Passeia  mais  uma  noite  inteira orando com o irmão Boehmer. Uma noite, na  Igreja  do  Novo  Testamento,  quando sobre toda a congregação havia um profundo espírito  de  oração,  de  repente  o Senhor veio tão próximo de nós, que podíamos sentir a sua presença nos cercando, como se quisesse nos fechar ao redor. Dois terços das pessoas presentes  ficaram tão alarmadas que ficaram de pé, e algumas saíram dali  correndo,  esquecendo-se até dos seus chapéus, no seu grande apavoramento. Não  houve  nada  visível  que causasse medo. Era a manifestação sobrenatural da  proximidade  do  Senhor.  Que será que fariam se vissem o Senhor?
Comecei uma pequena reunião num lar onde tínhamos  mais  liberdade  de  orar  e esperar no Senhor. O espírito de oração estava sendo impedido   nas    reuniões.
Os  mais  espirituais  estavam  famintos  por   tal  oportunidade.  Os  líderes, porém, não compreenderam e fizeram oposição a mim. Depois a dona da  minha  casa alugada ficou possessa por Satanás e queria nos expulsar da casa, pois  ela  não andava com Deus. Nosso aluguel estava pago, mas o inimigo tentou usá-la. A  luta se iniciara. Começou a haver oposição contra o meu ministério na Igreja do  Novo Testamento. Uma irmã me tentou convencer a parar as reuniões de  oração  que  eu começara. Pedi ao Senhor que me mostrasse qual era sua  vontade  neste  assunto.
Ele veio e encheu com uma nuvem de glória a casa onde estávamos, a tal ponto que eu mal podia suportar a sua presença. Para mim esta experiência  tirou  qualquer dúvida. "Antes importa obedecer a Deus do que aos homens." Sofri muitas críticas naquela época; penso que estavam com medo que eu começaria outra igreja. Eu, no entanto, não tinha tal pensamento naquela época. Só queria  ter  liberdade  para orar. Muitas Missões e Igrejas têm acabado mal por se oporem a Deus.

A ESPERANÇA DO PENTECOSTES

Escrevi mais artigos para a imprensa religiosa, dos quais seguem-se alguns trechos:
"Devagar, mas cada vez mais, há maior convicção entre os santos do  sul da Califórnia de que Deus vai derramar o Seu Espírito como o fez no País de Gales. Temos fé em coisas que antes nem sonhávamos existir e  que  ocorrerão  no futuro próximo. Estamos certos de que haverá nada menos do que um  "Pentecostes" para todo o país. Jamais haverá, entretanto, resultados pentecostais sem o poder pentecostal. Isso significa manifestações pentecostais. Poucos querem ver Deus face a face!"
"Carne e sangue não podem herdar o reino de Deus."
Outra vez escrevi: "O Avivamento atual está passando por nossa porta.
Havemos de lançar-nos no seu poderoso seio  a  fim  de  sermos  transportados  à gloriosa vitória? Um ano de vida agora, com todas as maravilhosas  oportunidades de servir a Deus, vale mais que cem anos de vida habitual. "O Pentecostes"  está batendo às nossas portas. O Avivamento de nosso país  não  é  mais  uma  dúvida.
Devagar, mas visivelmente, a maré está crescendo, até que em breve  teremos  uma enchente de salvação que tocará a todos que estão diante de nós. O País de Gales não ficará mais só neste grande triunfo para  o  nosso  Cristo.  O  espírito  de Avivamento está vindo sobre nós, impulsionado pelo sopro  de  Deus,  o  Espírito Santo. As nuvens estão chegando rapidamente, carregadas de grande chuva  que  em breve cairá."
"Heróis surgirão do pó de circunstâncias escuras e odiosas, e seus nomes  serão alardeados nas páginas da fama eterna no  céu.  O  Espírito  paira  sobre  nossa pátria como no alvorecer da criação, e a ordem de Deus  é  ouvida:  "Haja  luz!"
"Irmãos e irmãs, se todos cressem, o que poderia acontecer? Muitos  de  nós  aqui vivemos só para isso. Um grande volume de orações dos que crêem está subindo  ao trono noite e dia. Los Angeles,  o  sul  da  Califórnia,  e  todo  o  continente encontrar-se-á dentro em breve num poderoso  Avivamento  pelo  Espírito  e  pelo poder de Deus."

A bastante tempo oramos por um Pentecostes, e ele parecia prestes a começar.  É óbvio que não sabíamos o que era um verdadeiro Pentecostes. O  Espírito,  porém, sabia e nos guiava adiante para pedir o que era correto. Uma  tarde,  depois  de uma reunião na Igreja do Novo Testamento, sete de nós fomos dirigidos a  dar  as mãos e concordar em oração para o Senhor derramar  logo  o  seu  Espírito,  "com sinais a o seguir" (Marcos 16:17,  20).  De  onde  tiramos  esta  idéia  naquele momento não sei. O Senhor mesmo deve ter sugerido isto a nós. Não pensávamos  em falar em línguas.  Nenhum  de  nós  jamais  havia  ouvido  falar  em  tal  coisa (estávamos em fevereiro de 1906).
Enquanto permanecia de joelhos numa reunião de oração, o Senhor disse-me que me levantasse e fosse à lona do irmão Brownley. Deu-me uma mensagem para  eles.  Eu estava com grande peso no espírito, mas depois de falar, sentimo-nos  totalmente quebrantados e choramos muito diante  do  Senhor.  Depois,  escrevi  um  folheto comovedor, intitulado "A Angústia da Intercessão". O Senhor também  me  revelava muito sobre o "sangue". Passei mais uma noite orando com o Senhor Boehmer,  e  o Senhor me deu um ministério muito abençoado em Pasadena em diferentes  reuniões.
Numa reunião fiquei prostrado duas horas sob a carga pelas almas perdidas.
A batalha ficava cada vez mais renhida. No dia 26 de março fui a uma reunião na casa da Rua Bonnie Brae. Tanto irmãos brancos quanto negros estavam  unidos  ali em oração. Eu fora a uma reunião de oração  numa  casa,  um  pouco  antes,  onde encontrei o irmão Seymour. Ele acabara de vir do Texas. Era  um  negro  simples, espiritual e humilde, cego de um olho. Ele freqüentava as reuniões na Rua Bonnie Brae.
No final de março de 1906, o Senhor me havia dado um outro  folheto  intitulado "A Última Chamada". Foi grandemente usado para despertar as  pessoas.  Seguem-se alguns trechos:
"E agora mais uma vez no final desta  era,  Deus  faz  a  última chamada; a chamada da meia-noite está sobre nós, ressoando claramente em  nossos ouvidos. Deus dará mais uma oportunidade, a última chamada, um Avivamento mundial. Depois virá o julgamento de todo o  mundo.  Um  acontecimento  tremendo está para acontecer!"

O PRIMEIRO APARECIMENTO DAS LÍNGUAS

Fui à Igreja do Novo Testamento, no auditório Burbank, domingo de manhã, dia 15 de abril. Uma irmã de cor falou em línguas. Isto produziu um grande  impacto  no povo,  que  depois  se  reuniu  em  grupinhos  na  calçada,  perguntando  o  que significava isso. Pareciam sinais de  um  Pentecostes.  Depois  soubemos  que  o Espírito se fizera presente algumas noites antes, dia 9  de  abril,  na  pequena casa da Rua Bonnie Brae. Há muito que buscavam ansiosamente por um  derramamento do Espírito.  Um  grupo  de  irmãos  negros  e  brancos  estavam  esperando  ali diariamente para que algo acontecesse. E agora era a época da Páscoa  outra  vez (um ano depois que o clamor por Avivamento começou). Não sei qual o motivo,  mas não tive o privilégio de estar ali naquela reunião  em  que  pela  primeira  vez diversas pessoas falaram em línguas.
À tarde, estive numa reunião na  Rua  Bonnie  Brae  e  senti  que  Deus  estava operando  poderosamente.  Há  muito  que  orávamos  por  uma  vitória.  E  agora Jesus estava novamente "se apresentando vivo" (Atos 1:3) a  muitas  pessoas.  Os pioneiros haviam preparado o  caminho  para  que  as  multidões  pudessem  agora entrar.
Era notável na reunião a humildade que se manifestava nas pessoas. Todas estavam absorvidas pela presença de Deus. Era evidente que afinal o Senhor encontrara  o pequeno grupo através do qual podia atuar. Não havia outra Missão no país onde a mesma ação pudesse ser realizada. Todas eram controladas por homens, por isso  o Espírito não podia operar. Outras obras bem mais pretensiosas"  haviam  falhado.
Tudo o que os homens estimam havia sido rejeitado e o Espírito,  mais  uma  vez, nascia  numa  humilde  estrebaria,   fora    dos    pomposos    estabelecimentos eclesiásticos.

OS HUMILDES COMEÇOS

É indispensável que o corpo  seja  preparado  através  do  arrependimento  e da humildade para que haja o  derramamento  do  Espírito  Santo.  As  pregações  da Reforma foram começadas por Martinho Lutero num prédio em decadência no meio  da praça pública em Wittenburg. D'Aubigné o descreve desta  maneira:  "No  meio  da praça de Wittenburg estava uma velha  capela  de  madeira,  com  dez  metros  de comprimento e seis metros e meio de largura, cujas paredes estaqueadas de  todos os lados estavam prestes a cair. Um velho púlpito feito de tábuas de um metro de altura recebia o pregador. Foi neste lugar desprezível que a pregação da Reforma começou. Foi da vontade de Deus que  o  movimento  que  restauraria  Sua  glória começasse num ambiente o mais humilde possível. Foi aí neste lugar desditoso que Deus ordenou, de forma figurada, que  Seu  Filho  amado  nascesse  pela segunda vez... Entre as milhares de catedrais e paróquias que enchiam  a terra, não houve  uma sequer naquela época que Deus escolhesse para a pregação  gloriosa  a respeito da vida eterna." No Avivamento  em  Gales,  os  grandes  pregadores  da Inglaterra tiveram de vir e sentar-se aos pés de mineiros trabalhadores e  rudes para ver as obras maravilhosas de Deus. Escrevi para o  jornal  "Way  of  Faith" naquela ocasião: "A coisa genuína está aparecendo entre nós;  o  Altíssimo  mais uma vez lutará contra  os  mágicos  de  Faraó.  Porém,  muitos  o  rejeitarão  e blasfemarão. Muitos não o reconhecerão, mesmo entre aqueles  que  se  consideram seus seguidores. Temos orado e crido num Pentecostes. Será que o  reconheceremos quando chegar?"

OS EXTREMOS E MISTURAS NOS  AVIVAMENTOS

A presente manifestação Pentecostal não irrompeu num instante como se fosse  um imenso incêndio de pradaria para  pôr  fogo  no  mundo  inteiro.  Na  realidade, nenhuma obra divina aparece desta maneira. É preciso tempo para a  preparação  O produto final não é reconhecido em seu período inicial.  Os homens indagarão  de onde veio tudo aquilo, pois não tomaram conhecimento da preparação; no  entanto, esta preparação é sempre uma condição essencial.
Cada movimento do Espírito  de  Deus  também  tem  de  passar  pelas  poderosas investidas das forças de Satanás. "O dragão se deteve em frente  da  mulher  que estava para dar à luz, a fim de lhe devorar o filho quando nascesse" (Apocalipse 12:4). Foi assim também com o princípio desta obra Pentecostal.  O  inimigo  fez muitas falsificações, mas Deus manteve a criancinha bem  escondida  dos  Herodes por uma estação, até que pôde adquirir força e discernimento para resistir-lhes. A chama foi preservada com ciúmes pela mão do Senhor  dos  ventos das críticas, dos ciúmes, da incredulidade, etc. Passou por  mais  ou  menos  as mesma experiências de todos os Avivamentos. Havia  inimigos  dentro  e  fora  da obra. Tanto Lutero, quanto  Wesley,  tiveram  as  mesmas  dificuldades  nos seus tempos. Temos este tesouro em "vasos de barro". Todo nascimento normal é cercado de circunstâncias não totalmente agradáveis.  O  trabalho  perfeito  de  Deus  é realizado dentro da imperfeição humana. Somos  criaturas da "queda".
Por que esperar uma manifestação perfeita neste caso? Estamos voltando para Deus.
John Wesley descreve assim o Avivamento em sua época: "Assim que parti, dois ou três começaram a crer que o que  imaginavam  eram  impressões  vindas  de  Deus.
Enquanto isso uma enxurrada de críticas vinha de todas as partes. Não se  admire que Satanás semeio o joio  no  meio  do  trigo  de  Cristo.  Foi  sempre  assim, principalmente quando houve um grande derramamento do Espírito,  e  sempre  será assim até o diabo ser preso por mil anos. Até então, ele  tentará  imitar  e  se opor ao trabalho do Espírito de Cristo."
D'Aubigné disse: "Um movimento religioso quase sempre excede a justa  moderação.
A fim de que a natureza humana possa dar um passo para  frente,  seus  pioneiros devem estar muitos passos na vanguarda." Outro escritor disse:  "Lembrem-se  que grandes extravagâncias e fanatismos acompanharam a doutrina da justificação pela fé quando foi trazida de volta por  Lutero.  A  maravilha  não  foi  que  Lutero tivesse a coragem de enfrentar o papa e os  cardeais,  mas  que  ele  tivesse  a coragem de suportar o desprezo que sua própria doutrina trouxe  sobre  ele  pela maneira como foi interpretada e alardeada    por    adeptos.    Lembrem-se    do escândalo e ofensas que se fizeram presentes com o ressurgimento  da  piedade  e devoção sob a influência de Wesley. O que nós consideramos hoje como errado pode ser a luz refratada de uma grande verdade que ainda está abaixo do horizonte."
John Wesley mesmo orou assim quando o Avivamento  parecia  estar  desfalecendo:
"Senhor, manda-nos o antigo  Avivamento  sem  seus  defeitos;  mas  se  não  for possível, manda-o de  volta  com  todos  os  seus  defeitos.  Precisamos  de  um Avivamento!"
Adam Clark disse: "A natureza (como também  Satanás)  sempre  se  mescla  tanto quanto possível com o verdadeiro trabalho do Espírito  de  forma  a  levá-lo  ao descrédito e a destruí-lo. Assim, em todos os grandes Avivamentos  religiosos  é quase impossível impedir que o fogo estranho se misture com o verdadeiro fogo."
O Dr. Seiss disse: "Nunca houve uma semeadura de Deus na terra  que  não  fosse super-semeada por Satanás; nem houve crescimento vindo  de  Cristo  sem  que  as ervas do maligno se misturassem para impedir o crescimento. Aquele que pretender achar uma igreja perfeita em que não haja elementos indignos  nem  imperfeições, pretende tarefa impossível."
Ainda outro escritor diz: "Nas diversas crises que  ocorreram  na  história  da igreja,  têm  surgido  homens  com  um  destemor  santo  que  assombrava    seus companheiros.  Quando  Lutero  afixou  suas  teses  na  porta  da  catedral   de Wittenburg, os homens cautelosos se impressionaram com sua audácia. Quando  John Wesley ignorou todas as restrições eclesiásticas e normas religiosas e pregou no campo e pelas ruas, os homens consideraram sua reputação arruinada. Em todas  as épocas tem sido assim. Quando  as  condições  religiosas  de uma época exigiam a chamada de homens que estavam dispostos a sacrificar tudo por Cristo, "a demanda criou a oferta" e  sempre  acharam-se  alguns  que  estavam  dispostos  a  serem considerados loucos pela causa  de  Deus.  Um  total  desprezo  com  relação  às opiniões dos homens e outras conseqüências é a única atitude  que  pode  vir  de encontro às exigências do tempo presente."
Deus achou seu Moisés na pessoa do irmão Smale para nos guiar até  a  travessia do Jordão. Escolheu, entretanto, ao irmão Seymour para ser nosso Josué para  nos levar ao outro lado.
Domingo, dia 15 de  abril,  o  Senhor  me  chamou  para  dez  dias de orações especiais... Eu me sentia como se carregasse um grande fardo, mas não sabia o que Ele estava pensando. Ele tinha algo para eu fazer e queria que eu me  preparasse para isto. Quarta-feira, dia 18 de abril, o grande terremoto  de  São  Francisco ocorreu e devastou a cidade e os arredores. Não menos do que quinhentas  pessoas perderam a vida só em São Francisco. Eu senti que o  Senhor  estava  respondendo nossas orações concernentes a um Avivamento à sua própria  maneira.  "Quando  os teus juízos reinam na terra, os moradores do  mundo  aprendem  justiça"  (Isaías 26:9). Um enorme fardo de oração veio sobre mim; orei para que  as  pessoas  não fossem indiferentes à voz de Deus.

O INÍCIO DA MISSÃO AZUSA

Quinta-feira, dia 19 de  abril,  enquanto  estávamos  sentados  na  reunião  do meio-dia no auditório Peniel, Rua South Main, 227, de repente o chão  começou  a mexer-se. Uma sensação horrorosa tomou conta de todos. Ficamos  sentados,  muito espantados. Muitas  pessoas  começaram  correr  para  o  meio  da  rua,  olhando ansiosamente para os edifícios com medo que caíssem. Foi uma hora  muito  séria.
Eu fui para casa e depois de um período de  oração,  o  Senhor  me  mostrou  que deveria voltar para reunião que havia sido transferida da Rua Bonnie Brae para a Rua Azusa, 312. Haviam alugado uma velha casa de  madeira  que  fora  antes  uma igreja metodista, no centro da cidade, e que durante muito tempo não fora  usada para reuniões. Tornara-se um depósito de madeira  velha  e  cimento,  mas  agora limparam a sujeira e o entulho o suficiente para colocar no meio umas tábuas, em cima de barris velhos. Desta forma, dava lugar para cerca de trinta pessoas,  se é que me lembro corretamente. Sentavam-se formando um quadrado, olhando uns para os outros.
Senti tremenda pressão interior para ir à  reunião  daquela  noite.  Era  minha primeira visita a Missão  Azusa.  Mamãe  Wheaton,  que  estava  vivendo  conosco naquela época,  iria  junto.  Ela  andava  tão  devagar  que  eu  mal  conseguia esperá-la. Chegamos lá finalmente  e  encontrei  cerca  de  doze  irmão,  alguns brancos e alguns negros. O Irmão Seymour estava lá dirigindo. A "arca do Senhor" começou a se mover vagarosamente, mas com firmeza em  Azusa.  No  princípio  era carregada nos ombros de sacerdotes indicados por Ele mesmo. Não tínhamos nenhuma "carroça nova" naqueles  dias  para  agradar  as  multidões  mistas  e  carnais.
Tínhamos de combater contra Satanás, mas  a  "arca"  não  era  puxada  por  bois (bestas ignorantes). Os sacerdotes estavam "vivos para Deus", através  de  muita preparação e oração. O discernimento não era perfeito, e o inimigo  tirou  algum proveito disto, e trouxe algumas  críticas  ao  trabalho,  mas  os  irmãos  logo aprenderam a "apartar o precioso do vil".
Todas as forças do inferno estavam combinadas contra nós no princípio. Nem tudo era benção. Na realidade, a  luta  foi  tremenda.  Satanás  procurava  espíritos imperfeitos, como sempre, para destruir a obra,  se  possível.  Mas    o    fogo não  podia  ser  apagado.  Irmãos fortes  haviam  se  reunido  com  a  ajuda  do Senhor. Aos poucos levantou-se uma onda de vitória. Mas tudo  isto  veio  de  um pequeno começo, uma pequenina chama.
Preguei uma mensagem na minha primeira reunião em Azusa. Dois irmãos falaram em línguas. Muitas benção parecia acompanhar estas manifestações. Em  breve  muitos já sabiam que o Senhor estava operando na  Rua  Azusa  e  pessoas  de  todas  as classes começaram a vir às  reuniões.  Muitos  estavam  apenas  curiosos  e  não acreditavam, mas outros tinham fome da presença de Deus. Os jornais começaram  a ridicularizar e a debochar das  reuniões,  oferecendo-nos  desta  maneira  muita publicidade gratuita. Isto trouxe as multidões. O diabo superou-se  a  si  mesmo outra vez. Perseguições externas  nunca  fazem  mal  à  obra.  Tínhamos  de  nos preocupar mais com os espíritos malignos que trabalhavam  dentro  da  obra.  Até espíritas e hipnotizadores  vieram  investigar  o  que  fazíamos  e  tentar  nos influenciar. Apareceram então todos  os  descontentes  religiosos  e  charlatães procurando um lugar para  trabalhar.  Estes  é  que  nos  causavam  mais  temor, porquanto constituem sempre perigo para  todos  os  trabalhos  que  estão  sendo iniciados, e não encontram guarida em outros lugares. Esta situação  lançou  tal medo sobre muitas pessoas que foi quase insuperável e impediu muito  a  ação  do Espírito. Várias temiam buscar a Deus por pensar que o diabo poderia pegá-las.
Descobrimos logo no início que quando tentávamos segurar a "arca" (I Crônicas 13:9), o Senhor parava de trabalhar. Não ousávamos chamar  muita  a  atenção  do povo para o que o maligno tentava realizar, pois  medo  seria  o  resultado.  Só podíamos orar. Então Deus deu-nos a vitória. Havia a presença de Deus conosco através da oração; nós podíamos  contar com ela. Os líderes tinham  uma experiência bastante limitada, e a grande  maravilha  é  que  o  trabalho tenha sobrevivido contra seus poderosos adversários. Mas era de Deus.  E  era  este  o segredo.
Um certo escritor disse bem: "No dia de Pentecostes, o cristianismo  enfrentou o mundo; era uma nova religião sem universidade, povo ou  patrocinador.  Tudo  o que era antigo e venerável se levantou em oposição maciça contra ele, e ele  não bajulou ou procurou conciliar-se com nenhum deles. Foi de encontro  a  todos  os sistemas existentes e todos os maus costumes, queimando  à  medida  que  passava todas as inumeráveis formas de oposição. Isto realizou  só  com  sua  língua  de fogo."
Outro escritor disse: "A apostasia da igreja primitiva veio porque os  cristãos queriam ver seu poder e governo se espalhar, mais do que a transformação e  vida de cada um dos seus membros. No momento em que nos regozijamos com as  multidões que se aderiram à nossa versão ou conceito da verdade,  em  lugar  de  buscar  a transformação de vidas individuais de acordo com  o  plano  divino,  já  estamos andando na estrada da apostasia que leva à Roma e às sua filhas."

OS EFEITOS ESPIRITUAIS DO TERREMOTO

Verifiquei  que  o  terremoto  havia  aberto  muitos  corações.  Eu  distribuía especialmente meu último folheto, "A Última Chamada". Parecia  muito  apropriado depois do terremoto. Domingo , dia 22 de abril, levei 10.000 destes à Igreja do Novo Testamento. Os obreiros os aceitaram alegremente e logo os distribuíram por toda a cidade.
Quase todos os pregadores do país estavam trabalhando a valer para  provar  que Deus nada tinha a ver com o terremoto e desta forma aliviar  o  medo  do   povo. O  Espírito  procurava   tocar    os    corações  com  convicção  através  deste julgamento. Sentia-me indignado que os pregadores fossem usados por Satanás para abafar a voz do Senhor. Da mesma forma  eles  foram  usados  depois,  durante  a guerra. Até as professoras nos colégios trabalhavam com afinco para convencer as crianças que o terremoto não era obra de Deus. O  diabo  fez  muita  publicidade nesta área.
Depois do terremoto passei muito tempo em oração e dormi  pouco.  O  Senhor  me mostrou definitivamente que Ele tinha  uma  mensagem  para  o  povo.  No  Sábado seguinte deu-me parte dela. Na segunda-feira, deu-me o resto. Quando  acabei  de escrever era meia-noite e meia. Já estava pronta para ser levada  ao  impressor.
Ajoelhei-me diante do senhor e senti Sua presença de uma forma muito forte  como grande prova de que a mensagem era mesmo Sua. Devia mandar imprimi-la  na  manhã seguinte. Daquela hora até às quatro da manhã,  fui  maravilhosamente  absorvido pela intercessão. Sentia a ira de Deus contra o povo e lutei muito contra ela em oração. Ele me mostrou que estava muito triste com a obstinação do povo mesmo em face do seu juízo sobre o pecado. São Francisco  era  uma  cidade  terrivelmente pervertida.
Mostrou-me o Senhor que todo o inferno operava para, se  possível,  abafar  Sua voz através do terremoto. A mensagem que Ele me deu era para contra atacar  esta influência. Os homens negavam Sua presença no  terremoto,  mas  agora  Ele  iria falar. Era uma mensagem terrível a que Ele me  dera.  Eu  não  deveria  discutir sobre ela com ninguém, simplesmente entregá-la. Eles teriam de prestar contas ao Senhor. Senti todo o inferno contra mim  nesta  situação,  o  que  depois  ficou comprovado. Fui dormir às quatro horas,  levantei-me  às  sete  e  corri  com  a mensagem para o impressor.
A pergunta que havia em quase todos os corações era: "Foi Deus que  fez  isso?"
Instintivamente sabiam que era assim. Até os ímpios  estavam  conscientes  deste fato. O folheto foi logo composto, no mesmo dia já estava sendo  impresso  e  na próxima tarde eu já tinha os primeiros exemplares. Senti  que  deveria  levá-los logo ao povo o mais depressa possível. Lembrei-me que os dez dias que  o  Senhor me chamara para orar terminavam no dia em que  recebi  os  primeiros  exemplares desta folheto. Compreendia tudo agora claramente.
Distribuí a mensagem rapidamente nas missões, igrejas,  bares,  empresas  e  na realidade em todos os lugares, tanto em Los  Angeles,  como  em  Pasadena.  Além disso enviei pelo correio alguns milhares a obreiros nas cidades  vizinhas  para serem distribuídos. Todo o processo foi uma  obra  de  fé.  Comecei  sem  nenhum dólar. Mas o Senhor me supriu com os recursos necessários. Trabalhei muito todos os dias. O irmão e irmã Otterman os distribuíram em São Diego. Era preciso muita coragem. Muitos clamavam contra a mensagem. Por causa deste folheto passei  toda espécie de experiência em Los Angeles. Todo o inferno se acometia contra mim.
Deus enviou o irmão Boehmer de Pasadena para me ajudar. Ele ficava do  lado  de fora dos bares, orando enquanto eu entregava e os distribuía. Em alguns  lugares ficavam tão furiosos que queriam me matar. As  empresas  estavam  todas  paradas depois do que ocorrera em São Francisco. O povo estava paralisado de medo.  Este fator foi responsável por parte da influência que o folheto  surtiu.  A  pressão contra mim foi tremenda. Todo o inferno se levantava para impedir que a mensagem fosse distribuída.  Mas  nunca  vacilei. Senti sempre sobre mim a mão de Deus. O povo ficava abismado quando soube o que Deus tinha  para  falar  a  respeito  de terremotos. O Senhor mandou-me a diversas reuniões com uma exortação solene para que todos se arrependessem e o buscassem. Na Missão Azusa tivemos  um  tempo  de grande poder. Os irmão se humilhavam.  Uma  irmão  de  cor  falava  e  orava  em línguas. A atmosfera própria do céu estava ali.
Domingo, dia 11 de maio, eu havia terminado a distribuição do  meu  folheto  "O Terremoto". O peso que sentira desapareceu repentinamente. Meu  trabalho  estava concluído. Setenta e cinco mil folhetos haviam sido publicados e distribuídos em Los Angeles e no sul da Califórnia em menos de três semanas. Em Oakland, o irmão Manley, por sua própria vontade, havia impresso e distribuído mais cinqüenta mil nas cidades em volta da Baía de São Francisco e arredores  no  mesmo  espaço  de tempo.
O terremoto de São Francisco fora verdadeiramente a voz de Deus para  seu  povo na costa do Pacífico. Foi usado de forma poderosa para convencer os incrédulos e preparar para a graciosa visitação que  viria  depois.  Nos  primeiros  dias  da Missão Azusa, tanto o céu como o inferno  pareciam  ter  chegado  à  cidade.  Os homens estavam a ponto de estourar e havia uma poderosa convicção sobre  o  povo em geral. As pessoas  pareciam  cair  aos  pedaços  mesmo  na  rua  sem  nenhuma provocação. Havia como que uma  cerca  em  volta  da  Missão  Azusa  feita  pelo Espírito. Quando o povo a atravessava, a dois ou três quarteirões de  distância, era tomado pela convicção dos seus pecados.

EXPERIÊNCIAS COM O ESPÍRITO EM AZUSA

A  obra  era  cada vez mais clara e forte em Azusa. Deus operava poderosamente.
Parecia que todos tinham de ir a Azusa. Havia  missionários  vindos  da  África, Índia e ilhas oceânicas. Pregadores e  obreiros  atravessavam  o  continente,  e vinham de ilhas  distantes,  motivados  por  uma  tração  irresistível  por  Los Angeles. "Congregai os meus santos" (Salmos 50:1-7). Haviam sido  chamados  para assistir o Pentecostes, embora não soubessem. Era a chamada  de  Deus.  Reuniões independentes, em Lonas e Missões, começaram a fechar por falta de  gente.  Seus membros estavam todos em Azusa. O irmão e irmão Garr fecharam o auditório "Sarça Ardente" e vieram para Azusa para serem batizados no Espírito, e logo foram para a Índia para espalhar a chama. Até o irmão Smale veio  para  Azusa  procurar  os membros de sua igreja. Convidou-os  a  voltar  para  casa,  prometendo  dar-lhes liberdade no Espírito, e durante algum tempo Deus operou poderosamente na Igreja do Novo Testamento também.
Houve muita perseguição, principalmente por parte da imprensa. Escreviam coisas incríveis, mas isso só  fazia  com  que  mais  gente  viesse.  Muitos  deram  ao movimento seis meses de vida. Em pouco tempo havia  reuniões  noite  e  dia  sem interrupção. Todas as noites a casa estava lotada.  Todo  o  prédio  em  cima  e embaixo havia sido esvaziado e estava sendo utilizado. Havia muito mais  brancos do que pessoas de cor freqüentando as reuniões. A segregação racial foi  apagada pelo sangue de Jesus. A. S. Worrel, tradutor do Novo Testamento, declarou que  o trabalho de Azusa havia redescoberto o sangue de Jesus  para  a  igreja  naquela época. Dava-se grande ênfase ao sangue como elemento  purificador.  Colocavam-se padrões morais elevados para quem queria ter uma vida limpa.  "Vindo  o  inimigo como uma corrente de águas, o Espírito do  senhor  arvorará  contra  ele  a  sua bandeira" (Isaías 59:19)
O amor divino se manifestava maravilhosamente nestas reuniões. Não se permitia nem sequer uma palavra indelicada contra os  inimigos  ou  outras  igrejas  .  A mensagem era o amor de Deus. Era como se o primeiro  amor  da  igreja  primitiva houvesse retornado. O batismo como recebíamos  no  princípio  não  permitia  que pensássemos, falássemos ou ouvíssemos o mal contra nenhuma criatura. O  Espírito era muito sensível como uma pomba  delicada.  A  pomba  não  tem  fel.  Sabíamos imediatamente quando magoávamos o Espírito através de um pensamento  ou  de  uma palavra. Parecíamos viver num mar de puro amor divino. O Senhor lutava  por  nós naqueles dias. Nós nos submetíamos ao seu julgamento em todos os assunto,  nunca buscando defender nosso trabalho ou a nossa pessoa. Vivíamos em sua  maravilhosa e atual presença. E nada contrário ao seu puro Espírito era permitido.
O falso era separado do real pelo Espírito de Deus. A própria Palavra  de  Deus era que resolvia todos os assuntos. O coração do povo, tanto  em  ação  como  em motivação, era descoberto até o cerne mais profundo. Não era nenhuma brincadeira tornar-se parte do grupo. "Ninguém ousava ajuntar-se a eles" (Atos 5:13)  a  não ser que levasse as coisas a sério, e quisesse ir até o fim. Naquele tempo,  para receber o batismo era necessário passar  pela  "morte"  e  por  um  processo  de purificação. Tínhamos uma sala especial em cima para aqueles  que  buscavam  com mais ardor o batismo embora muitos fossem batizados  também  em  plena  reunião.
Muitas vezes eram  batizados  enquanto  estavam  sentados.  Na  parede  da  sala especial estava escrito: "É proibido falar alto; sussurre apenas".  Não sabíamos nada a respeito de "conquistar pelo barulho" naquela época!
O Espírito operava profundamente. Uma pessoa inquieta ou que falasse sem pensar era logo repreendida pelo Espírito. Estávamos em terra santa. Esta atmosfera era insuportável para os carnais. Geralmente passavam bem longe daquela sala  a  não ser que já houvesse sido subjugados e esvaziados pelo Espírito. Só iam  para  lá os que verdadeiramente buscavam a Deus, os que estavam sérios com Ele. Este  não era um lugar para manifestações emocionais nem para ter ataques ou dar  vazão  a sentimentos negativos. Os homens não gritavam naquele  tempo.  Eles  buscavam  a misericórdia do Senhor, diante do Seu trono. Sua atitude era de quem  tirava  os sapatos por estar em terra santa. "Os tolos  entram  correndo,  onde  anjos  não ousam pisar..."

A AÇÃO DO ESPÍRITO NA MÚSICA

Sexta-feira, 15 de junho, em Azusa, o Espírito derramou o coro celestial dentro de minha alma. Encontrei-me de repente,  unindo-me  aos  demais  que  já  haviam recebido este dom  sobrenatural.  Era  uma  manifestação  espontânea  e  de  tal arrebatamento que nenhuma  língua  humana  poderia  descrever.  No  início  esta manifestação era maravilhosa,  pura  e  poderosa.  Temíamos  reproduzi-la,  como também com as línguas estranhas. Hoje em dia,  muitos  parecem  não  ter  nenhum constrangimento de imitar todos os dons. É por isso  que  eles  perderam  grande parte do seu poder e influência. Ninguém podia compreender esse dom de  cânticos espirituais além daqueles através dos quais se  manifestava.  Era  realmente  um novo cântico no Espírito. Quando o ouvi  pela  primeira  vez  numa  reunião,  um grande desejo entrou na minha alma de recebê-lo. Achava  que  expressaria  muito bem todos os meus sentimentos reprimidos. Eu ainda não falara em línguas. A nova canção, no entanto, me conquistou. Era um dom de Deus de alto nível  e  apareceu entre nós logo que começou o trabalho em  Azusa.  Ninguém  havia  pregado  sobre isso. O Senhor o havia derramado  soberanamente  junto  com  o  derramamento  do "restante  do  azeite",  o  batismo    no    Espírito    da    chuva    serôdia.
Manifestava-se  à  medida  que o Espírito impulsionava as pessoas que  tinham  o Dom, individualmente ou em grupo. Às vezes era  sem  palavras,  outra  vezes  em línguas. O efeito sobre o povo era maravilhoso. Havia  uma  atmosfera  celestial como se os anjos mesmos  estivessem  presentes  e  houvessem  se  unido  a  nós.
Provavelmente isto  ocorria  mesmo.  Parecia  fazer  cessar  toda  a  crítica  e oposição, e era difícil até para os ímpios negá-los ou ridicularizá-los.
Alguns condenam estes cânticos novos sem palavras. Mas não foi o som dado antes da linguagem? E não há  inteligência  sem  linguagem?  Quem  compôs  a  primeira música? Temos sempre de seguir a composição de um algum homem que veio antes  de nós? Somos adoradores demais da tradição. O falar em línguas não está de  acordo com a sabedoria ou com o conhecimento humano. E por que não um dom  de  cânticos espirituais? De fato, estes são um desafio  aos  cânticos  religiosos  de  ritmo moderno que usamos  hoje.  E  provavelmente  foram  dados  com  este  propósito.
Entretanto alguns dos velhos hinos são muito bons de cantar também, e não  devem ser desprezados.  Alguém  disse  que  cada  novo  Avivamento  traz  sua  própria hinologia. E isto realmente aconteceu conosco.
No princípio em Azusa, não tínhamos instrumentos musicais.  Na  realidade,  não sentimos necessidade deles. Não havia lugar para eles no nosso louvor. Tudo  era espontâneo. Não cantávamos nem com hinários. Todo os hinos antigos eram cantados de  memória,  vivificados  pelo  Espírito  de  Deus.  "Veio  o  Consolador"  era provavelmente o mais cantado. Cantávamos com corações cheios  dessa  experiência nova e poderosa. Oh, como o poder de Deus nos enchia e  nos  comovia!  Os  hinos sobre o "sangue" também eram muito  populares.  "A  vida  está  no  sangue."  As experiências de Sinai,  Calvário  e  Pentecostes  todas    tinham  seus  lugares certos no trabalho de Azusa, Contudo as novas canções era totalmente diferentes, pois não eram de composição humana, e não podiam ser falsificadas com sucesso. O corvo não pode imitar a pomba.
Mais tarde  começaram  a  desprezar  este  Dom  quando  o  espírito  humano  se reivindicou outra vez. Colocaram-no para fora com  o  uso  do  hinário  e  hinos selecionados pelos líderes. Era como assassinar o Espírito  e  isto  entristecia muito a alguns de nós; porém a corrente contrária era forte demais. Os  hinários hoje em dia são em grande parte uma produção comercial e não  perderíamos  muito se não os tivéssemos. Os velhos hinos são violados pelas  mudanças,  e  procuram produzir novos estilos todos os anos para que haja mais lucro.  Há  muito  pouco espírito de adoração neles. Mexem com os  pés,  mas  não  com  os  corações  dos homens! Os cânticos espirituais dados por Deus, no início,  eram  semelhantes  a uma harpa eólica por sua espontaneidade e doçura. Na realidade,  era  o  próprio sopro de Deus tocando nas cordas dos  corações  humanos  ou  nas  cordas  vocais humanas. As notas eram maravilhosamente doces tanto no volume quanto na duração.
Eram às vezes impossíveis humanamente. Era o cantar no Espírito.

A LIDERANÇA DAS REUNIÕES EM AZUSA

O irmão Seymour foi aceito  como  o  líder  nominal.  Mas  não  havia  papa  ou hierarquia. Éramos todos irmãos. Não tínhamos programas humanos. O Senhor  mesmo liderava. Não havia uma classe sacerdotal, nem ações sacerdotais.  Estas  coisas surgiram depois à medida que o movimento apostatou. No  princípio  não  tínhamos nem plataforma, nem púlpito. Todos estavam no mesmo  nível.  Os  ministros  eram servos na verdadeira  concepção da palavra.  Não  homenageavam  os  homens  pelo que possuíam a mais de recursos ou de instrução, mas pelos  dons  que  Deus  lhe dera. Ele colocava os  membros  no  lugar  certo  do  Seu  corpo.  Agora  "coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e  é  o  que  deseja  meu  povo.
Porém, que fareis quando estas coisas chegarem ao seu  fim?"  (Jeremias  5:30,31). E também: "Os opressores do meu povo são crianças e mulheres estão à  testa do seu governo" (Isaías 3:12).
O irmão Seymour geralmente ficava sentado atrás de duas caixas  vazias,  uma  em cima da outra. Usualmente mantinha a cabeça  dentro  de  uma  delas,  durante  o culto, em oração. Não havia orgulho aqui. Os serviços religiosos eram quase  que contínuos. Almas sequiosas podiam ser encontradas sob o poder de  Deus  quase  a qualquer hora, de dia ou de noite. Nunca o local estava fechado ou vazio. O povo vinha se encontrar com Deus. Ele estava ali. Por isso a reunião era  contínua  e não carecia de liderança humana. A presença  de  Deus  tornava-se  mais  e  mais maravilhosa. Naquele velho prédio de teto baixo e piso descoberto Deus fazia  em pedaços homens e mulheres fortes e  tornava  a  juntá-los  outra  vez  para  Sua glória. Era um tremendo processo de desmontagem e revisão geral. O orgulho  e  a auto-afirmação, a auto-importância e a auto-estima, não podiam sobreviver  aqui.
O ego religioso pregava rapidamente seu próprio sermão de enterro.
Nenhum assunto ou pregação era anunciado de antemão e nenhum  pregador  especial havia para essa hora. Ninguém sabia o que iria acontecer e nem o que Deus faria.
Tudo era espontâneo, comandado pelo Espírito. Queríamos ouvir  Deus  através  de quem Ele falasse. Não fazíamos acepção de pessoas. Os ricos e cultos eram iguais aos pobres e ignorantes  e  era  muito  mais  difícil  para  aqueles   morrerem.
Só reconhecíamos a Deus. Todos eram iguais. Nenhuma carne podia  se  gloriar  na Sua presença, e Ele não podia usar quem tivesse opiniões próprias. Era  reuniões do Espírito Santo, guiadas pelo  Senhor.  O  Avivamento  tinha  de  começar  num ambiente humilde para que o elemento egoísta e humano não entrasse. Todos  caíam juntos aos seus pés, com humildade. Todos  se  assemelhavam  e  tinham  tudo  em comum, neste sentido pelo menos. O teto era baixo e por isso  as  pessoas  altas deviam dobrar-se. Ao  chegarem  a  Azusa  já  tinham  se  humilhado,  e  estavam preparadas para as bênçãos. A forragem estava preparada para  ovelhas,  não  ara girafas.
Fomos libertos ali mesmo das  hierarquias  eclesiásticas  e  dos  seus  abusos.
Queríamos Deus.  Quando  chegávamos  à  reunião  evitávamos  o  máximo  possível cumprimentar e conversar uns com os outros. Queríamos primeiro  chegar  a  Deus.
Colocávamos a cabeça em baixo de algum banco em oração e entrávamos  em  contato com os homens só no Espírito; não os conhecíamos  mais  na  carne.  As  reuniões começam espontaneamente com testemunhos, louvor e adoração. Os testemunhos nunca eram apressados pela agitação do homem. Não tínhamos um programa preestabelecido que tinha de ser empurrado de qualquer maneira. Nosso tempo  pertencia  a  Deus.
Tínhamos verdadeiros testemunhos vindos diretamente de corações vibrantes com as experiências. Se não for assim, quanto menores forem os  testemunhos  melhor  é.
Uma dúzia de pessoas às vezes estavam de pé tremendo sob o poder  de  Deus.  Não precisávamos que um líder nos indicasse  o  que  fazer,  mas  também  não  havia desordem. Estávamos absorvidos em Deus nas reuniões, através da  oração.  Nossas mentes estavam voltadas exclusivamente para  Ele,  e  todos  Lhe  obedeciam  com mansidão e humildade. Em honra nós preferíamos uns aos outros (Romanos 12:10). O Senhor podia irromper através   de    qualquer    um.    Orávamos    por    isso continuamente.  Alguém finalmente ficava de pé, ungido  com  a  mensagem.  Todos reconheciam isso e permitiam que acontecesse. Podia ser uma criança, um homem ou uma mulher. Podia ser do banco de trás ou do da  frente.  Não  fazia  diferença.
Regozijávamos na obra do Senhor. Ninguém  queria  aparecer.  Só  pensávamos  em obedecer ao Senhor. Na verdade, havia uma tal atmosfera divina que só um tolo se colocaria de pé sem verdadeira unção. E mesmo assim  ,  não  duraria  muito.  As reuniões  eram  controladas  pelo  Espírito  diretamente  do  trono  da   graça.
Verdadeiramente foram dias maravilhosos. Eu muitas disse que preferia viver seis meses naquela época do que cinqüenta anos de uma vida normal. Mas Deus ainda é o mesmo hoje. Só nós é que mudamos.
Alguém podia estar falando.  Repentinamente,  o  Espírito  caía  sobre  toda  a congregação. Deus mesmo fazia os apelos. Homens  caíam  por  toda  a  casa  como mortos numa batalha, ou corriam ao altar em massa buscando a Deus. A cena muitas vezes parecia uma floresta cheia de árvores caídas. Uma cena assim não podia ser imitada. Não me lembro de Ter visto um apelo sequer naqueles dias. Deus mesmo os chamava. E o pregador sabia quando parar. Quando Deus falava todos  obedecíamos.
Parecia algo temerário impedir a atuação do Espírito ou entristecê-lo.  O  local todo estava cheio de orações. Deus estava no  Seu  santo  templo.  À  humanidade cabia ficar em silêncio. A glória do Shekinah[1] estava ali. Aliás alguns  diziam ter visto a glória do senhor envolvendo o prédio durante a noite. Eu não duvido.
Mais de uma vez parei quando se aproximava deste local  e  orei  pedindo  forças antes de ousar continuar. A presença do Senhor era muito real.

DEUS TRATA COM A CARNE PELO BATISMO

Homens presunçosos às vezes apareciam no nosso meio.  Especialmente  pregadores que tentavam espalhar suas próprias idéias e se  auto-promover.  Seus  esforços, porém, duravam pouco. Ficavam sem fôlego.  Suas  mentes  vagavam  seus  cérebros pareciam girar. Tudo ficava escuro diante de seus olhos. Não  podiam  continuar.
Nunca vi alguém que tivesse tido sucesso naqueles dias; estavam lutando contra o próprio Deus. Ninguém  precisava  interrompê-los.  Simplesmente  orávamos  e  o Espírito Santo fazia o resto. Queríamos que o Espírito controlasse tudo. Ele  os confundia logo. Eram  carregados  para  fora  mortos,  espiritualmente  falando.
Geralmente se humilhavam até o pó, passando pelo mesmo processo que  passáramos.
Em outras palavras, eram esvaziados de si mesmos; depois se viam com todas  suas fraquezas, e com humildade de criança confessavam tudo; Deus os pegava  então  e transformava-os poderosamente através do batismo no  Espírito.  "O  velho  homem morria" com todo seu orgulho, arrogância e boas obras. No meu  caso,  passeia  a não me suportar. Supliquei que Deus  colocasse  uma  cortina  entre  mim  e  meu passado de tal forma que apagasse até  mesmo  as  minhas  derradeiras  ações.  O Senhor me disse que esquecesse cada boa ação como  se  nunca  tivesse  ocorrido, assim que fosse realizada; e que prosseguisse  adiante  como  se  nunca  tivesse feito nada para Ele , para que minhas boas obras não se tornassem numa armadilha voltada contra mim mesmo.
Víamos coisas maravilhosas naqueles dias. Mesmo homens muito bons   vieram a se desprezar quando se viam na luz mais clara de Deus.  Os  pregadores  é  que custavam a se entregar. Tinham muito para entregar à morte. Tanta  fama  e  boas obras! Quando, entretanto, Deus finalizava sua obra neles, com  alegria  viravam uma nova página e começavam outro capítulo. Portanto, havia uma razão para  eles lutarem tanto. A morte não é uma  experiência  agradável,  e  os  homens  fortes custam a morrer!
O irmão Ansel Post, um pregador batista, estava sentado numa cadeira no meio da sala numa reunião à noite. De repente veio sobre ele o Espírito. Deu um salto  e começou a louvar a Deus em línguas e a correr de um lado para o outro, abraçando todos os irmãos possível. Estava cheio do amor de Deus. Mais tarde  foi  para  o Egito como missionário. Vejamos seu próprio testemunho a respeito  do  ocorrido:
"Subitamente, como no dia de Pentecostes, enquanto eu estava sentado a uns quatro metros do pregador, o Espírito Santo veio sobre  mim  e  literalmente  me encheu. Parecia que eu fora suspenso,  pois  no  mesmo  instante  estava  de  pé gritando "louvado seja Deus". Imediatamente comecei a falar  noutra  língua.  Eu não teria ficado mais surpreso se no mesmo momento alguém  tivesse  me  dado  um milhão de dólares."
Depois que o irmão Smale convidou sua congregação de volta e prometeu-lhes liberdade no Espírito, escrevi o seguinte no "Way of Faith": "A Igreja  do  Novo Testamento recebeu seu "Pentecostes" ontem. Foi maravilhoso. Homens  e  mulheres ficaram prostrados diante da  quantidade  de  poder  que  havia  no  local.  Uma atmosfera celestial invadiu todo  o  ambiente.  Eu  nunca  antes  ouvira  cantar daquela maneira. Era uma melodia que parecia vir direto do trono de Deus."
No "Christian Harvester", escrevi na mesma data: "Na Igreja do Novo Testamento, uma jovem  muito  requintada  ficou  durante  horas prostrada no chão.  De  vez em quando, os mais belos cantos celestiais saíam de sua boca. Subiam até o trono de Deus e depois morriam numa melodia que não  era  terrena.  Cantava:  "Louvado seja Deus! Louvado seja Deus!" Na casa inteira homens e  mulheres  choravam.  Um pregador estava deitado com o rosto no chão,  "morrendo".  O  Pentecostes  havia chegado."
Tivemos diversas noites de orações na Igreja do Novo Testamento. Mas o pastor Smale nunca recebeu o batismo com o Dom de falar em  línguas.  Era  uma  posição difícil para ele. Tudo era novo. Então o diabo  fez  o  máximo  para  difamar  e destruir a obra. Mandou espíritos malignos para assustar o pastor  e  levá-lo  a rejeitar a obra.
Mas o irmão Smale era o Moisés de Deus para levar o povo até o  Jordão,  apesar dele mesmo nunca  ter  atravessado.  O  irmão  Seymour  foi  quem  os  levou  na travessia. No entanto, por estranho que pareça,  Seymour  também  não  falou  em línguas até depois da Missão Azusa Ter sido aberta já havia algum tempo.  Muitos irmãos entraram antes dele. Todos  quantos  recebiam  este  batismo  falavam  em línguas.

CARACTERÍSTICAS DO AVIVAMENTO: IMPERFEIÇÃO, OPOSIÇÃO E DOMÍNIO DO ESPÍRITO

Muitos se atrapalharam  no  princípio  de  Azusa  por  causa  da  natureza  dos instrumentos que Deus usava. Escrevi no "Way of Faith" como  se  segue:  "Alguém disse que não é quem pode preparar a maior fogueira,  mas  quem  pode  acendê-la primeiro que vai iluminar todo o país. Deus nunca pode  esperar  um  instrumento perfeito surgir. Neste caso, estaria esperando até agora. Lutero mesmo  declarou que era um rude lenhador com o papel  de  cortar  árvores.  Os  pioneiros    são homens  assim. Deus também tem  homens  refinados  como  Melancthon,  que  virão depois para cortar e arrumar a madeira de forma simétrica. Uma carga de dinamite não produz o produto final. Mas ajuda  a  soltar  as  pedras  que  depois  serão transformadas em monumentos pelas mãos  talentosas  do  escultor.  Muitos  altos dignitários da Igreja Católica Romana no tempo de Lutero estavam convencidos  de que seriam necessária uma reforma e  consideravam  que  ele  estava  no  caminho certo. Mas declararam em resumo não  poderem  aceitar  que  essa  nova  doutrina viesse de origem tão insignificante. "Que fosse um monge, um simples monge,  que presumiu nos reformar a todos", disseram eles, "é o que  não  podemos  tolerar!"
"De Nazaré pode sair alguma coisa boa?"
"mesmo na  melhor  forma  possível,  a  humanidade  caída  é  algo  extremamente peculiar, despedaçado e imperfeito. "Temos este tesouro em vasos de  barro."  Na fase embrionária de todas as novas experiências temos de admitir  muitas  falhas humanas. Há sempre muitos espíritos rudes, impulsivos e mal  equilibrados  entre os primeiros a serem atingidos por um Avivamento. Além disso  nossa  compreensão do Espírito de Deus nesta fase é tão limitada  que  ficamos  propensos  a  errar ocasionalmente por não reconhecermos tudo que realmente veio de Deus. Só podemos compreender tudo  à  medida  que  nós  mesmos  somos  possuídos  pelo  Espírito.
Julgamentos precipitados são sempre perigosos. "nada julgueis antes do tempo" (I Coríntios 4:5). O grupo usado na Missão Azusa para quebrar a cerca foi o  "bando de Gideão" que abriu o caminho da vitória para os que vieram depois."
Escrevo ainda em "Way of Faith" , em primeiro de agosto de 1906: "O Pentecostes chegou a Los Angeles, a  Jerusalém  americano.  Toda  seita,  credo  e  doutrina debaixo do céu é encontrado em Los Angeles,  assim  como  todas  as  nações  são representadas aqui. Muitas  vezes  fui  tentado  a  duvidar  que  minhas  forças resistissem até o final. O peso de oração tem sido muito  grande.  Mas  desde  a primavera de 1905, quando tive a primeira visão e recebi o fardo para  sustentar em oração, nunca tive dúvida quanto ao resultado final. Os homens  em  todos  os lugares estão com suas almas perturbadas  e  o  avivamento  com  seus  fenômenos sobrenaturais é o assunto do  dia.  Grande  oposição  também  se  manifesta.  Os jornais são muito venenosos, injustos e inverídicos nos seus pronunciamentos. Os pseudo-sistemas religiosos também  estão  lutando  fortemente,  mas  "a  saraiva varrerá o refúgio da mentira" (Isaías  28:17).  Seus  esconderijos  estão  sendo descobertos. Um riacho purificador está passando pelo meio da cidade. A  Palavra de Deus prevalece.
"A perseguição está forte. A polícia chegou a ser chamada para  acabar  com  as reuniões. E obra  foi  atacada  também  pelos  espíritos  fanáticos,  facilmente encontrados nesta cidade. Deus e Satanás se encontram num tremendo embate. Pouco podemos fazer além de orar e observar. O Espírito Santo  mesmo  está  tomando  a liderança, deixando toda liderança humana de lado. Ai dos homens  que  ficam  no caminho, procurando egoisticamente mandar ou controlar. O  Espírito  não  aceita interferências deste tipo. Os instrumentos humanos se perdem  de  vista  na  sua maioria. Nossas mentes e corações estão voltados para Deus.  As  reuniões  estão repletas. Há grande excitação entre aqueles que não são espirituais ou  que  não são salvos.
"Todas as falsas religiões debaixo do céu encontram-se  representadas  aqui.  A não ser a Velha Jerusalém, não há nada igual no mundo. (Fica do lado  oposto  do mundo  com  condições  naturais  muito  semelhantes.)  Todas  as   nações    são representadas como em Jerusalém. Milhares vindo de toda parte  do  país e de muitos lugares do mundo, mandados por Deus para estar no Pentecostes, levarão  o fogo ao redor do mundo. O zelo missionário  está  atingindo  sua  temperatura máxima. Os dons do  Espírito  estão  sendo  derramados, a armadura da igreja restaurada. Verdadeiramente estamos nos dias da restauração, os "últimos  dias"; são dias maravilhosos, dias gloriosos, mas dias horríveis para os que  continuam resistindo. São dias de privilégio, responsabilidade e perigo.
"Os demônios estão sendo expulsos, os doentes curados,  muitos  abençoados  com salvação, restaurados e batizados com o Espírito Santo  e  poder.  Heróis  estão sendo desenvolvidos, os fracos se fortalecendo no Senhor.  Os  corações  humanos estão sendo revistos como por uma vela acesa. É uma época de  grande  peneiração não só de ações, como de motivos interiores  secretos.  Nada  pode  escapar  dos olhos do Senhor que a tudo perscrutam. Jesus está sendo  levantado,  o  "sangue" magnificado, e o Espírito Santo homenageado  mais  uma  vez.  Muito  poder  para prostrar as pessoas se manifesta. É esta a principal causa  de  resistência  por parte daqueles que se recusam a obedecer. A obra é para valer. Deus está conosco com grande autenticidade. Não ousamos pensar em ninharias. Homens  fortes  ficam durante horas prostrados sob o poder de Deus, cortados como grama. O  Avivamento será mundial sem dúvida."

O INÍCIO DA OBRA NA RUA EIGHTH COM A MAPLE

Oito de agosto de 1906, aluguei o auditório de uma igreja na esquina  das  Ruas Eighth e Maple para instalar uma Missão Pentecostal. Fui guiado por Deus a  esta igreja em fevereiro. Era então ocupada pelo povo do  "Pilar  de  Fogo"  liderado pela Sra. Alma White, de Denver. Senti que devia orar  por  um  local  para  nos reunirmos depois que verifiquei que a Igreja do Novo Testamento não estava  indo bem. Eu, no entanto, nem sabia da existência daquele  prédio  até  que,  sem  eu esperar, o Senhor um dia o mostrou. Estava passando por lá e o vi pela  primeira vez. Verifiquei que não estava sendo usado regularmente. Fora uma igreja  alemã.
Por curiosidade abri a porta, que não estava trancada, e entrei. Verifiquei  que pertencia ao grupo "Pilar de Fogo". Ajoelhei-me em frente ao altar para orar  um pouco: o Senhor falou comigo, e senti então a presença  do  Espírito.  No  mesmo instante eu estava andando entre  os  bancos,  tomando  posse  de  tudo  para  o "Pentecostes". Em cima da porta estava escrito  "Gott ist  die  Liebe"  (Deus  é Amor). dois meses antes de começar o trabalho na Rua Azusa.
Não procurei mais por nenhum prédio, sabendo que Deus já falara, e aguardei com paciência Sua hora. Uma noite, seis meses depois,  quando  passava  por  ali  ao voltar para casa de  uma  reunião,  vi  no  edifício  uma  tabuleta  anunciando: "Aluga-se". O prédio estava vazio, e o Senhor me falou: "Esta é a sua igreja". O "Pilar de Fogo" havia virado fumaça, incapaz de pagar o  aluguel.  Seus  membros haviam sido os opositores mais ferrenhos do trabalho  na  Rua  Azusa.  O  Senhor esvaziara o local para nós. No dia  seguinte,  fui  levado  a  falar  com  nosso senhorio, irmão Fred Shepard, a respeito do que  acontecera.  Não  pedi  que  me ajudasse, mas foi Deus que me enviara à ele. Perguntou-me quanto era o  aluguel, foi à sala próxima e voltou rapidamente com um cheque de cinqüenta dólares  para o primeiro aluguel. Aluguei imediatamente o local.
A verdade deve ser dita; a Missão Azusa começou a falhar com relação ao Senhor desde o princípio de sua história. Deus me  mostrou  um  dia  que  eles  iam  se organizar, apesar de não ter ouvido nenhuma palavra a este respeito. O  Espírito revelou-me isto, e fez-me levantar e avisá-los contra o "espírito partidário" no trabalho Pentecostal. Os santos "batizados" deviam formar um  único  corpo,  pois para isso foram chamados, e deviam ser livres como é livre o Espírito do  Senhor para "não se submeterem de novo a jugo de escravidão (eclesiástico)". Os  santos da Igreja do Novo Testamento já haviam tolhido seu progresso desta mesma  forma.
Deus queria um grupo renovado, um canal através do qual Ele pudesse  evangelizar o mundo, abençoando a todos os povos e a todos os crentes. É óbvio que não podia alcançar isso através de um partido sectário. Essa atitude tem sido a praga  que causou a morte de todos os grupos avivados, mais cedo ou mais tarde. A  história se repete nesse aspecto.
Logo no dia seguinte ao que dei este aviso na reunião,  encontrei  do  lado  de fora de "Azusa", um cartaz onde se lia  "Missão  Fé  Apostólica".  O  Senhor  me falou: "Isto foi o que Eu lhe disse". Haviam  enveredado  por  esse  caminho.  É claro que uma atitude partidária  não  pode  ser  Pentecostal.  Não  pode  haver divisões  num  verdadeiro  Pentecostes.  Formar  um  corpo  separado  é    fazer publicidade de que falhamos como povo de  Deus,  provando  ao  mundo  que  somos incapazes de viver juntos, em vez de levar os  povos  a  crer  na  salvação  que anunciamos. "...a fim de que todos, sejam um, para que o mundo creia que  tu  me enviaste" (João 17:21). A partir daí começaram os problemas e as  divisões.  Não era mais um Espírito livre para todos, como fora antes. A obra  se  transformara em mais um partido e corpo rival, como as outras igrejas e seita da cidade.  Não é de admirar que oposição feita pelas outras igrejas fosse  crescendo.  Havíamos sido chamados para  abençoar  todo  o  "corpo  de  Cristo",  onde  quer  que  se encontrasse. Cristo é um só, e Seu corpo só pode ser um. Dividi-lo é destruí-lo, como ocorre com um corpo natural. "Pois, em um  só  espírito,  todos  nós  fomos batizados em um corpo" (I Coríntios 12:13). A igreja é  um  organismo,  não  uma organização humana.
Domingo, dia 12 de agosto, começou o trabalho na Rua  Eighth  com  a  Maple.  O Espírito se manifestou grandemente desde a primeira reunião, pois  foi-lhe  dado controle total. O ambiente era terrível  para  os  pecadores  e  desviados.  Uma pessoa tinha de acertar totalmente a  sua  vida  para  conseguir  permanecer.  O tremor realmente "se apoderou dos ímpios" (Isaías 33:14). Por alguns dias  pouco fizemos além de nos prostrarmos em oração diante do Senhor.
O ambiente era santo e sagrado demais para  que  alguém    tentasse  ministrar.
Como os sacerdotes no antigo tabernáculo, a glória era tamanha que não se  podia ministrar. Tivemos grandes batalhas com pretendentes carnais e  com  impostores.
Mas Deus dava-nos a  vitória.  O  Espírito  ficava  muito  entristecido  com  os espíritos  contestadores.  Por  algum  tempo  a  atmosfera  aqui  era  de  maior espiritualidade do que em Azusa. Deus estava conosco de  forma  tão  maravilhosa que a própria atmosfera do céu parecia nos envolver. O peso da  glória  era  tal que só podíamos ficar prostrados com o rosto  em  terra.  Por  muito  tempo  nem podíamos ficar sentados. Todos ficavam com o rosto no  chão,  alguns  durante  o culto inteiro. Eu raramente conseguia sair desta posição, prostrado inteiramente com o rosto no chão. Havia  no  salão  uma  pequena  plataforma  de  uns  trinta centímetros de altura quando alugamos a igreja. Eu costumava ficar prostrado ali enquanto Deus comandava as reuniões. E as reuniões eram dEle. Todas as noites  o poder de Deus se manifestava com força total. Era  tão  glorioso;  o  Senhor  se tornava quase  visível  de  tão  real  que  era.  Tínhamos  muito  trabalho  com pregadores estranhos que queriam pregar. De todos, parecia que eram eles os  que tinham menos juízo. Não sabiam o bastante para ficarem quietos  na  presença  de Deus. Gostavam de ouvir a si mesmos. Mas  muitos  pregadores  pareciam  "morrer" nessas reuniões. A cidade estava cheia deles com é até hoje. Faziam  um  barulho vazio, como o pisar sobre vagens do ano passado. Ajuntamos um verdadeiro quintal de "ossos secos". Sempre reconhecemos Azusa como a matriz, e nunca houve  atrito ou ciúme entre nós. Visitávamos uns aos outros. O irmão Seymour muitas vezes  se reunia conosco.
Escrevi no "Christian Harvester" naquela época o seguinte: "As  reuniões  estão maravilhosas. Ontem foi a melhor que eu já assisti. O poder de   Deus    dominou ambiente  durante  o dia inteiro.  A  igreja    estava  cheia.  Total  convicção tomou conta do povo. O Espírito dirigiu a reunião do princípio ao fim. Não havia programa, e quase não houve oportunidade para fazer os avisos  necessários.  Não houve nem sequer uma alternativa para pregar. Algumas mensagens foram dadas pelo Espírito. Todos estavam livres para obedecer a Deus. O  altar  estava  cheio  de almas sequiosas o dia inteiro. A esposa  de  um  pastor  Metodista  Independente recebeu poderoso batismo e falou numa língua que parecia chinês.  Todos  os  que eram batizados falavam em línguas. Havia pelo menos  seis  pastores  "Holiness", alguns de cabelos brancos, que buscavam o batismo com intensidade.  Eram  homens respeitáveis que inspiravam confiança por causa dos seus muitos anos de serviços frutíferos. Simplesmente levantavam suas mãos diante dessa revelação do Senhor e buscavam seu Pentecostes. O presidente da igreja "Holiness" do sul da Califórnia foi um dos primeiros a chegar ao altar buscando com toda a sinceridade."
De outra feita, escrevi n0 mesmo jornal: "O Espírito não permite  interferência humana nas reuniões; às vezes passa por cima dos erros como se não  os  visse  e outras vezes tira os erros,  Ele  mesmo,  do  caminho.  Coisas  que  normalmente pensamos em corrigir são deixadas de lado, evitando assim  calamidades  maiores.
Chamar a atenção sobre certos erros apavora os irmãos, que  param  de  buscar  o Senhor, e assim o Espírito fica impedido de operar. Por isso,  Ele  simplesmente tira os erros do caminho, pois há questões mais importantes para serem  cuidadas no momento. Tentamos não valorizar o poder de Satanás. Estamos,  em  vez  disto, pregando a respeito de um grande Cristo.  Deus  está  usando  os  pequeninos.  O inimigo está fazendo tudo para  quebrar  nossa  união  através  de  divergências doutrinárias; temos de preservar a união do Espírito de qualquer forma.  Algumas coisas podem ser ajustadas depois. São menos importantes.  Deus  nunca  colocará esta obra nas mãos de homens. Se um dia ficar sob o controle de  homens,  estará liquidado. Muitos se uniriam a nós se não tivessem de se humilhar, e abandonar a exaltação da mente natural."

MINHA EXPERIÊNCIA COM LÍNGUAS

No dia 16 de agosto à tarde,  o  Espírito  se  manifestou  através  de  mim  em línguas. Estávamos em sete naquela ocasião. Era um  dia  de  semana;  depois  de alguns testemunhos e louvor, tudo ficou quieto, e eu andava  silenciosamente  de um lado para o outro louvando ao Senhor no  meu  espírito.  De  repente,  pensei ouvir na minha alma (não com meus ouvidos naturais), uma voz forte falando  numa língua que eu não conhecia. Mais tarde, ouvi sobre uma experiência semelhante na Índia. Parecia arrebatar-me e totalmente satisfazer toda a tendência  ao  louvor que estava presa dentro de mim. Em poucos instantes encontrei-me, como algo  que independesse da minha vontade própria, enunciando com minhas  cordas  vocais  os mesmos sons que antes ouvira dentro de mim. Era a continuação exata  do  que  eu ouvira em minha alma há alguns minutos. Parecia uma língua perfeita  e  senti-me como espectador.  Entreguei-me  inteiramente  à  Deus  e  fui  com  simplicidade carregado por sua vontade, como por um riacho divino. Eu poderia ter  me  calado se quisesse, mas não o faria por nada deste mundo. Uma sensação  de  consciência celestial se seguiu. É impossível descrever a experiência com precisão. Deve ser experimentada para ser apreciada. Não houve esforço da minha parte para falar, e nem a menor luta contra este fluir espontâneo.  A  experiência  era  sagrada;  o Espírito Santo tocava nas minhas cordas vocais como uma harpa eólica. Tudo o que foi dito foi completa surpresa para mim, pois nunca me esforçara para  falar  em línguas. Pelo contrário, porque eu não podia  compreendê-las  com  minha   mente natural,  tinha  até  medo  da experiência.
Não tive nenhum desejo naquela época de entender o que eu  dizia.  Parecia  uma expressão pura da alma, fora dos limites da  mente  natural  ou  da  compreensão humana. Parecia que estava sendo selado na minha fronte e que cessavam todas  as obras da minha mente humana. Publiquei sobre minha experiência  o  seguinte:  "O Espírito havia me preparado gradualmente para este ponto'  culminante  da  minha experiência através de rações feitas por mim mesmo e  por  outros.  Aproximei-me portanto de Deus, com um espírito muito submisso, pois eu  havia  chegado  a  um ponto de total abandono de minha vontade própria,  e  de  plena  consciência  de minha incapacidade. Fora um processo cumulativo de purificação de toda atividade do homem natural. A presença no meu interior do Espírito tinha sido tão sensível como a água no medidor de uma turbina a vapor. Minha mente, a  última  fortaleza do homem a ceder a Deus, fora  possuída  pelo  Espírito.  As  águas  que  haviam vagarosamente se acumulado passaram por sobre minha cabeça. Fiquei  inteiramente mergulhado nEle. Os sons em línguas  eram  completamente  destituídos  de  toque humano, "segundo o Espírito me concedia que falasse" (Atos 2:4)."
Oh! Que sensação maravilhosa de estar totalmente dominado por Deus! Minha mente sempre fora muito ativa. Sua atividade carnal  causava  todos  os  problemas  de minha experiência cristã. "Levando  cativo  todo  pensamento..."  (II Coríntios 10:5). Nada impede tanto a fé e a operação do Espírito como  a  auto-suficiência da mente humana. Isto precisa ser crucificado e aí  começa  a  luta.  Precisamos ficar  totalmente  desfeitos,  insuficientes,  incapazes  em    nossa    própria consciência,  totalmente  humilhados,  antes  de  podermos  ser  possuídos  pelo Espírito Santo. Queremos possuir o Espírito Santo, mas a verdade é que  Ele  nos quer possuir primeiro. Com a experiência de falar em línguas, cheguei a  entrega total. Foi aberto então  em  mim  canal  para  novo  ministério  de  serviço  no Espírito. A partir daí, o Espírito passou a fluir através de  mim  de  uma  nova maneira. Mensagens  vinham  com  uma  unção  que  eu  nunca  tivera  antes,  com inspiração e iluminação espontâneas, e com verdadeiro poder  de  convicção.  Era realmente maravilhoso. O batismo Pentecostal significa entrega total, a posse de todo ser pelo Espírito Santo, e  uma  disposição  de  obedecer  prontamente.  Eu conhecia a muitos anos o poder de Deus para o ministério, mas  agora  notava  em mim uma sensibilidade nova com relação  ao  Espírito  e  uma  entrega  maior.  O resultado era que Deus me podia possuir e trabalhar de maneira nova  através  de novos canais com  resultados  muito  mais  diretos  e  poderosos.  Recebi  novas revelações de sua soberania,  tanto  em  propósito  como  em  ação,  como  nunca conhecera antes. Descobri que muitas vezes acusei Deus de falta de interesse  ou de ter demorado a agir, quando eu deveria ter me entregue a Ele  pela  fé;  para que Ele pudesse fazer operar através de mim a Sua poderosa e  soberana  vontade.
Humilhei-me a Seus pés com esta revelação de minha própria ignorância, e de  Seu cuidado e desejo soberanos. Verifiquei que meu  pouco  desej0  de  servi-lo  era apenas o que Ele conseguira transmitir a mim de Sua grande vontade, interesse  e propósito. Sua palavra declara isso.  Tudo  o  que  havia  de  bom  em  mim,  em pensamentos ou ações, vinha dEle. Como Hudson Taylor, eu agora  sentia  que  Ele simplesmente me pedia para acompanhá-lo e ajudar naquilo que só Ele tem proposto e desejado. Sentia-me muito pequeno diante desta revelação e  da  minha  maneira errada de compreendê-lo anteriormente. Ele existia  e  cumpria  Seus  propósitos esternos muito antes que alguém soubesse  da  minha  existência,  e  continuaria muito depois que eu tivesse ido embora.
Não havia distorções ou contorções.  Não  fiz nenhum  esforço  para  tentar receber o batismo. Comigo foi só uma questão  de  ceder.  Na  realidade,  foi  o oposto da luta. Minha garganta não inchou, não foi preciso fazer nenhum  esforço  no meu aparelho vocal. Não tive a menor dificuldade para falar  em  línguas. No entanto, posso compreender que alguns tenham  dificuldades.  Não  se  submeteram completamente a Deus. Comigo a luta tinha sido prolongada por muito tempo. Eu já estava exausto e completamente submisso. Deus não lida com  dois  indivíduos  da mesma forma. Eu nem estava buscando o batismo quando o  recebi.  Aliás  nunca  o buscara como experiência definitiva. Eu queria me submeter inteiramente a  Deus.
Eu só queria uma coisa: receber mais dele.
Não havia ninguém gritando ao meu  redor  para  me  confundir  ou  me  excitar.
Ninguém me sugeria "línguas" naquela hora por argumentação ou imitação. Graças a Deus que Ele é capaz de realizar sua obra sem esse tipo de auxílio, e  aliás  de maneira muito melhor. Eu não acredito que seja necessário  usar  "fórceps"  para dar à luz espiritualmente. Creio em orações equilibradas e sinceras para  ajudar no Espírito. Contudo, muitas almas são tiradas a força do ventre da convicção, e têm que ficar na incubadora para sempre. Como ocorre na natureza, assim também é na vida espiritual. É melhor dispensar o máximo possível os médicos e as  velhas parteiras. A criança, às vezes, quase morre por causa da violência desnatural da interferência humana. Um bando de chacais lutando por um apresa talvez não fosse mais feroz do que aquilo que vimos em  certas  ocasiões.  Num  parto  normal,  o melhor é deixar a mãe em paz  enquanto  for  possível.  Podemos  ficar  ao  lado encorajando, mas não forçando o trabalho do parto. Os  partos  naturais  são  os melhores.
Antes  disto, Deus me limitou principalmente ao ministério e intercessão e profecia, até que eu chegasse a este estado de  total  entrega  ao Espírito. Agora chegou a hora de sair novamente num ministério ativo. Meu dia de Pentecostes se cumprira, o canal foi desentupido e as águas vivas  jorraram.  As portas ao meu ministério abriram-se de par em par com apenas  um  toque  da  mão soberana de Deus. O Espírito começou a operar em mim de forma poderosa  e  nova.
Era diferente, um novo clímax, uma experiência inédita para mim.
Era para isto que Deus havia separado todo o grupo que estava conosco. No mundo inteiro os escolhidos de Deus estavam sendo preparados. Os resultados  disso  já fazem parte da história. Na realidade isso se tornou um  marco  na  história  da igreja tão definido e diferente como a ação do espírito Santo no tempo de Lutero e Wesley, e com muito maior portento. E ainda não  vimos  a  história  completa.
Pouco tempo tivemos até agora para entender ou  apreciar  estes  acontecimentos.
Galgamos  mais  um  passo  para  a  restauração  da  igreja  primitiva.  Estamos completando o círculo. Jesus voltará para uma igreja perfeita, "sem mácula,  nem ruga". Ele está voltando para "um corpo", não para uma dúzia de corpos. Ele é  o cabeça, e como tal não é uma monstruosidade com mais de cem corpos.  "A  fim  de que todos seja um... para que o mundo creia" Afinal de contas  esse  é  o  maior sinal para o mundo. "Ainda que falemos as línguas dos homens e dos anjos, se não tivermos  amor,  nada  seremos"  (I  Coríntios  13).  Eu  senti  que  depois  da experiência de falar em línguas, outras línguas viriam  com  facilidade.  E  tem sido assim. Também aprendi a cantar no Espírito, embora eu não seja cantor e não conheça música.

ENTREGA TOTAL: CONDIÇÃO PARA O BATISMO

Nunca procurei falar em línguas. Minha mente natural fazia resistência a tal idéia.  Este  fenômeno  necessariamente  viola    a    razão  humana.  Significa abandono desta faculdade por algum tempo.  Isto  é  "loucura"  e  uma  pedra  de tropeço para a razão humana. É sobrenatural. Não precisamos esperar  que  alguém que chegou que não chegou a  esta  profundidade  do  abandono  no  seu  espírito humano, e a esta morte a sua própria razão, aceite-o ou  compreenda-o.  A  razão carnal tem que ceder nesta questão. Há um abismo para ser  atravessado  entre  a razão e a revelação. Mas a experiência deste princípio é exatamente que leva  ao batismo "Pentecostal", como em Atos 2:4.  É  o  princípio  mais  fundamental  do batismo. E é por isto que as pessoas simples entram primeiro, embora  não  sejam sempre bem equilibradas ou capazes em outros sentidos. São como meninos que  vão nadar, para usar uma ilustração simples. Entram antes  porque  têm  pouca  roupa para  tirar.  Todos  precisam  "despir-se"  espiritualmente para Ter esta experiência. O egoísmo tem de morrer.
Esta era a atmosfera normal na igreja primitiva. Eis a razão de sua submissão à operação do Espírito, seus dons sobrenaturais, seu poder. Nossos intelectuais de hoje não podem alcançar isto. Oh, que nos tornássemos tolos que nãos soubéssemos nada de nós mesmos a fim de recebermos em plenitude a mente de cristo, e que  só o Espírito Santo nos ensinasse e nos guiasse a todo o momento. Não estou dizendo que devemos falar em línguas continuamente. O batismo não é só falar em línguas.
Pode-se viver neste lugar de submissão e iluminação e só falar a  nossa  própria língua. A Bíblia não  foi  escrita  em  línguas.  Podemos  certamente  viver  no Espírito em todo o tempo, mas poucos o conseguem.
Oh, que profundidade há numa entrega total, quando todo o egoísmo se  foi!  Ter consciência de não saber nada, de não ter nada, a não ser  o  que  o    Espírito nos  ensina  e  inspira.  Este  é  o  verdadeiro  centro do  poder,  do    poder de  Deus,  no  ministério  de  um  homem.  É  quando não sobra nada além da vida  pura do Espírito. Toda esperança ou sensação de capacidade natural  desapareceu.
Vivemos pelo Seu sopro apenas. O "som como de um  vento  impetuoso"  do  dia  de "Pentecostes" era como o sopro de Deus (Atos 2:2). Que mais poderemos  dizer?  É preciso ser vivido para ser compreendido. Não pode ser  explicado.  Já  tínhamos certamente uma porção do Espírito antes desta experiência. A história  testifica este fato. A igreja tem vivido em  estado  anormal  desde  sua  queda.  Mas  não podemos ter o batismo "Pentecostal" sem a experiência  que  a  igreja  primitiva possuía. Os apóstolos a receberam de repente e em plenitude. Só a fé simples e a entrega total podem recebê-la. A razão humana encontra todo tipo de  defeitos  e tolices aparentes como desculpa para rejeitá-la.
Falei em línguas possivelmente por quinze minutos na primeira ocasião. Depois a inspiração imediata passou e desapareceu por algum tempo. Já falei outras  vezes desde então. Mas nunca tentei reproduzi-las. Esse ato deve estar sob a soberania de Deus. Seria tolice e sacrilégio tentar imitá-las. A experiência deixou em mim a consciência de um estado de total entrega ao Senhor, uma sensação de  descanso perfeito dos meus trabalhos e atividade mental.  Deixou-me  uma  consciência  do controle total de  Deus  sobre  mim  e  da  Sua  presença  em  mim  numa  medida equivalente. Foi uma experiência muito profunda e temerosa. Algumas pessoas  têm menosprezado  totalmente  esse  princípio  e  essa  possessão    do    Espírito.
Recusaram-se a permanecer no Espírito, e levaram muitos a tropeçarem.  Isto  tem trazido grande mal. Mas a experiência persiste como fato tanto na história  como na realidade atual. Desde que a igreja primitiva perdeu o Espírito, grande parte do conhecimento dos cristãos  a  respeito  de  Deus  tem  sido  um  conhecimento intelectual. Seu conhecimento da palavra  de  Deus  e  dos  Seus  princípios,  é intelectual, na maior parte, fruto da razão  e da compreensão humana.  Há  pouca revelação, iluminação ou inspiração vindas  diretamente  do  Espírito  Santo  de Deus.
Citarei trechos de autores bastante conhecidos sobre o falar em línguas. O  Dr. Philip Schaff, no seu livro "História da Igreja Cristã", volume 1,  página  116, diz: "Falar em línguas é um salmo involuntário, como uma  oração  ou  um  canto, dito em estado de  elevação  espiritual,  num  língua  peculiar  inspirada  pelo Espírito Santo. A alma fica quase passiva, como instrumento no qual  o  Espírito Santo toca suas melodias celestiais."
Os comentaristas Conybeare e Howson escrevem: "Este Dom (falar em línguas) é  o resultado de repentino influxo do sobrenatural nos crentes. Sob sua influência o exercício da razão é suspenso, enquanto o Espírito é  envolvido  num  estado  de êxtase pela comunicação direta do Espírito de Deus. Neste estado  de  união  com Deus o crente é  impelido  por  uma  força  irresistível  a  dar  vazão  a  seus sentimentos de louvor em palavras que lhe não são próprias. Geralmente  ele  nem sabe qual o significado destas palavras."
Stalker, no seu livro "A Vida de Paulo", página  102,  diz  o  seguinte:  "(O falar em língua) parece ter sido uma espécie de  seqüência  de  sons  em  que  a pessoa dá vazão a uma rapsódia apaixonada, através da qual expressa e  exalta  a sua fé. Alguns não são capazes de dizer aos outros o significado do  que  dizem, enquanto outros recebem este poder adicional; e há outros ainda que não falam em línguas mas são capazes de interpretar os  que  os  locutores  inspirados  estão dizendo. Em todos os casos parece haver uma espécie de inspiração  imediata,  de forma que não fazem nada premeditado ou preparado, mas tudo é resultado de forte impulso  do  momento.  Estes  fenômenos  são    tão  incríveis,  que  se  fossem narrados na história, desafiariam fortemente a nossa  capacidade  de  acreditar.
Mostram com que grande poder o cristianismo que primeiro surgiu no mundo  tomava conta dos espíritos que tocava.  Porém,  os  próprios  dons  do  Espírito  foram transformados em instrumentos de pecado, pois aqueles que possuíam os dons  mais visíveis (como o de  milagres  ou  de  línguas)  gostavam  de  exibi-los,  e  os transformavam em motivos de  envaidecimento."  Há  sempre  perigos,  grandes  ou pequenos, ligados aos privilégios. Crianças  frequentemente  se  cortam  com  as facas afiadas. Mas sem dúvida é mais perigoso ficar estagnado, onde estamos,  do que se prosseguirmos confiando em Deus.
Descrevi da seguinte  forma  algumas  das  minhas  experiências  anteriores  ao batismo no "Christian Harvester" . "Meu próprio coração foi tocado por Deus  até ao ponto em que chorei, devido à luz adicional: "Deus, tira a minha  preocupação religiosa comigo mesmo". Dificilmente sofri tanta humilhação, vergonha e  culpa, como agora quando vi o meu melhor do ponto de vista  de  Deus.  Minha  formosura religiosa se transformou em corrupção. Senti que não suportaria ouvir falar, nem mesmo pensar nisso de novo. Ficaria feliz em esquecer até o meu próprio  nome  e identidade. Destruí com grande satisfação os registros do que eu realizara antes para Deus, cuja leitura antes me proporcionava muito prazer. Eu agora os  odiava como tentação do diabo para exaltar meu "eu".  As  cartas  de  apreciação  sobre serviços religiosos realizados, trabalhos literários que me pareciam de valor, e sermões que me pareciam maravilhosos por sua profundidade e apresentação,  agora me davam enjôo por detectar neles sinais de vaidade.
Senti  que  confiava  neles para receber preferência e recompensas divinas. "Só o sangue de Jesus" eu tinha, pelo  menos  em  parte,  deixado  de  lado.  Dependia  de  outras  coisas   para recomendar-me a  Deus.  Isto  é  uma  fonte  de  grande  perigo.  Destruí  estes documentos  muito  estimados,  estas  falsas  evidências,  como  destruiria   um escorpião para que não tornassem  a  me  tentar  e  a  me  afastar  da  eficácia exclusiva dos méritos do Senhor. Mas para isto foi preciso  passar  por  grandes lutas em meu coração.
"Trabalhos realizados no passado se  apagaram  da  minha  memória,  com  grande alívio de minha parte. Comecei nova  vida  para  Deus  como  se  nunca  houvesse realizado nada. Senti que estava de mãos vazias diante dEle.  A  prova  de  fogo parecia Ter acabado com todas as minhas obras religiosas. Deus  não  queria  que repousasse sobre isso. No futuro deveria esquecer tudo o que fizesse para  Deus, assim que fosse realizado,  para  que  não  servisse  de  tropeço  para  mim,  e continuar como se nunca houvesse feito  nada  para  Deus.  Seria  esta  a  minha segurança." Sem dúvida até a menor satisfação  que  dermos  ao  nosso  "eu"  com relação a obra religiosa se constitui no maior impedimento às benção e ao  favor de Deus. Isso deve ser evitado como se evita uma serpente.

COMO DEUS TRATAVA COM INTERFERÊNCIAS

Continuávamos a ter reuniões maravilhas na Rua Eighth  com  a  Maple.  Deus  me mostrou que queria uma obra mais profunda ainda do que  havíamos  alcançado  até então. Ele não estava satisfeito com o trabalho da Rua Azusa, apesar de ser  uma obra bem profunda. Ainda havia muita religiosidade e manifestações do nosso "eu" entre nós. isto implicava, naturalmente, em guerra aberta e implacável da  parte do inimigo. Esta obra teria a função de um hospital militar improvisado onde  se trataria com os problemas  de  ações  carnais,  manifestações  falsas  e  o  ego religioso  em  geral.  Estávamos  buscando  uma  experiência  que  fosse   real, permanente e bem fundamentada,  que produzisse o caráter  de  Deus,  e  que  não sofresse contínuas recaídas.
Eu estava sendo provado financeiramente, de novo. Um dia tive de andar vinte e cinco quarteirões até o centro, pois não tinha  dinheiro  para  a  passagem.  Um irmão quase tão pobre quanto eu me deu a  passagem  de  volta.  Ao  mesmo  tempo tínhamos reuniões maravilhosas. Muitos ficavam prostrados sob o poder. Um dia  o diabo enviou dois indivíduos muito  fortes  para  desviar  a  obra.  Uma  mulher espírita colocou-se diante  da  congregação,  como  se  fosse  tambor-mor,  para liderar os cânticos. Orei até que saiu da igreja. O outro, um pregador  fanático com uma voz que quase sacudia as janelas, tive de rebatê-lo abertamente, pois se apropriara de toda a reunião. A presunção  estava  estampada  nele.  O  Espírito ficou terrivelmente triste. Deus não podia trabalhar. Eu  havia  sofrido  demais pela obra para entregá-la com tanta facilidade ao diabo. Além  do  mais  eu  era responsável pelas almas e pelo aluguel. Tive de mandá-lo sair.
Tivemos lutas ferozes com esses espíritos. Teriam estragado tudo. O  diabo  não tem consciência e a "carne" não tem juízo. Logo no primeiro dia  quando  abri  a igreja para as reuniões, achei nos degraus sentado, me esperando, um dos  piores e mais fanáticos crápulas religiosos. Era um pregador que queria mandar em tudo.
Expulsei-o dali, como Neemias fizera com o  filho  de  Joiada  (Neemias  13:28); nunca imaginei que houvesse tanto do diabo em  tanta  gente.  A  cidade  parecia cheia deles. Isso tentava os santos a brigar e impediu a ação do Espírito. Esses charlatães e trapaceiros eram os primeiros a chegar  nas  reuniões.  Tivemos  de fazer muita limpeza, principalmente no caso  dos  velhos  crentes.  Havia  muito charlatanismo profissional e religioso, e o juízo deveria começar pela  casa  do Senhor. Lutero no seu  tempo  sofreu  muito   com    os    teimosos    fanáticos religiosos. De Wartburg, onde estava se escondendo naquele tempo, ele  enviou  a Melancthon em Wittenberg, um teste  para  estes  fanáticos:  "Pergunta  a  esses profetas se já sentiram as tormentas espirituais que vêm de Deus; se conhecem  o inferno e a morte que  acompanham  a  verdadeira  santificação".  Quando  Lutero voltou a Wittenberg, tentaram usar suas magias contra ele, mas ele respondeu com essas palavras rudes: "Eu esmurro o seu espírito no focinho!" Pareciam  demônios quando desafiados dessa maneira,  mas  foi  quebrado  o  poder  maligno  que  os dominava.
Tivemos de ser firmes com os  casos  extremos,  mas  na  maioria  dos  casos  o Espírito passava por cima e retirava o que havia de  irregular  sem  fazer  mais propagandas deles. Muitos dizem que hoje não se pode deixar as reuniões  abertas a todos. Então não podemos deixar Deus entrar também. Ele não pode ser  privado; custe o que custar, precisamos sobretudo da presença de Deus numa dimensão maior para dirigir as reuniões. Os irmãos em geral estão contaminados por  revolta  ou confusão. Mas através de oração e humilhação de  si  mesmo,  Deus  intervirá  no controle da reunião. Nosso segredo no princípio era união através  da  oração  e amor; nenhum poder podia quebrar isto. O "eu"  tinha  de  ser  queimado,  e  uma atmosfera espiritual tinha de ser criada através da humildade e da oração  aonde Satanás não pudesse habitar. O controle das reuniões tinha de vir  do  trono  da graça. Isto vimos desde o princípio. Era o oposto do zelo carnal, e  da  ambição religiosa. Não sabíamos nada dos métodos animadores e  apressados de  hoje.  Todo este sistema é um produto bastardo no que se refere ao Pentecostes.  Leva  tempo para sermos santos. O mundo está com pressa, mas isto não nos leva a  Deus.  Uma das  razões  da  obra  em  Azusa  ter  sido  tão  profunda  é  que  os  obreiros não  eram  iniciantes.    Foram    chamados    e  preparados  durante  anos  nas organizações "Holiness", e na obra  missionária,  etc.  Suas  vidas  tinha  sido queimadas, provadas, e preparadas. Eram na maior parte veteranos experimentados.
Andavam com Deus e  aprenderam  profundas  verdades  sobre  Seu  Espírito.  Eram pioneiros, "tropas de choque", como os trezentos  de  Gideão,  para  espalhar  a chama pelo mundo, assim como os discípulos foram preparados  por  Cristo.  Agora temos uma  multidão  mista.  As  sementes  da  apostasia  já  tiveram  tempo  de trabalhar. "O primeiro amor" já se perdeu, o cão "já voltou ao  seu  vômito"  em muitos casos, à doutrina e à prática babilônicas. Uma mãe enfraquecida não  pode dar à luz filhos fortes.
No princípio, o Espírito operava tão profundamente e o povo  era  tão  faminto, que o espírito humano e carnal que tentasse se levantar nas  reuniões  raramente conseguia atrapalhar a operação do Espírito  Santo.  Era  como  se  um  estranho entrasse num grupo muito fechado e selecionado; sua presença se tornava  e  fora  do contexto. Os homens buscavam a Deus. Ele estava no  Seu  santo  templo,  e  o mundo (a humanidade) tinha que ficar em silêncio diante  dEle.  Nossas  reuniões para buscar a Deus em oração hoje são simples imitações do que havia no passado; muitas vezes servem apenas para dar vazão aos excessos de entusiasmo ou para  se ficar intoxicado  mentalmente;  supostamente  tudo  isso  tendo  como  origem  o Espírito de Deus. Não devia ser assim. Havia também muito fanatismo no movimento "Holiness".         Nos primeiros tempos uma sala separada para oração mais intensa era a primeira preocupação de  uma  Missão  Pentecostal.  Era  considerada  sagrada, "terra santa". Havia  também  consideração  mútua.  As  pessoas  tentavam  ficar quietas, deixando em paz suas  mentes  e  espíritos    excessivamente    ativos, escapando  do  mundo por algum tempo  e  ficando  a  sós  com  Deus.  Não  havia manifestações barulhentas emotivas ou incontroláveis ali, isto podia  ser  feito em noutros lugares. As reclamações e a confusão de um  mundo  exigente  ali  não entravam. Era uma espécie de refúgio, um lugar de descanso onde se podia ouvir a voz de Deus a falar dentro da  alma.  As  pessoas  passavam  oras  em  silêncio, sondando seus corações e querendo saber qual era a mente do Senhor  com  relação às ações futuras. Esta espécie de atitude parece praticamente impossível hoje em dia devido a falta de ambiente. O nosso "eu" morre  através  de  entrar  na  Sua presença. Para  isso  é  preciso  muita  quietude  de  espírito.  Precisamos  do santíssimo lugar. Os judeus de antigamente ousariam agir  como  agimos  hoje  em nosso templos? Não, porque tal coisa significaria a morte para eles.  Mas  agora todos estão cheios de tolices e de uma auto-afirmação  fanática.  Os  católicos, embora formais, são muito mais reverentes do que nós.

O PASTOR PENDLETON ASSUME A LIDERANÇA

Domingo, 26 de agosto, o Pastor Pendleton com mais ou menos quarenta pessoas de sua congregação entraram na Missão  da  rua  Eighth  com  a  Maple  para  adorar conosco. Haviam recebido o batismo e falavam em línguas na sua própria igreja, e a "Igreja Holiness" os havia expulsado por causa deste crime imperdoável. Quando soube que a igreja julgá-los por heresia, convidei-os para se unirem a  nós,  se fossem expulsos. Dois dias depois foram expulsos e aceitaram meu convite. Vieram todos. O irmão Pendleton  declarou  que  depois  desta  experiência  nunca  mais colocaria outro telhado de doutrinas sobre  sua  cabeça.  Estava  determinado  a prosseguir com Deus. Milhares estão presos em sistemas eclesiásticos, dentro  de barreiras sectárias, enquanto a grande pastagem de  Deus  está    aberta    para todos,  cercada apenas pela Palavra de Deus.  "Então  haverá  um  rebanho  e  um pastor" (João 10:16). A teologia tradicional, as verdades e revelações parciais, logo se transformam em leis. A consciência é  totalmente  amarrada  como  faziam antigamente com os pés das meninas na China, e fechada contra qualquer progresso futuro.
Domingo, nove de setembro, foi um dia maravilhoso.  Diversas  pessoas  ficaram prostradas durante horas sob o poder de Deus. O altar estava repleto o dia todo, sem praticamente interrupção  alguma  entre  as  reuniões.  Vários  receberam  o batismo. Naqueles dias pregávamos muito pouco. As pessoas ficavam arrebatadas em Deus. O irmão Pendleton e eu  geralmente  podíamos  ser  encontrados  totalmente prostrados na pequena elevação na frente, de rostos no chão em  oração,  durante as reuniões. Era quase impossível sair dessa posição naqueles dias.  A  presença do Senhor era tão real. Esta condição durou por longo tempo. Nós pouco  fazíamos para dirigir as  reuniões.  Todos  estavam  olhando  somente  para  Deus.  Quase sentíamos necessidade de pedir desculpas quando chamávamos  a  atenção  do  povo para fazer os anúncios. Era uma marcha crescente de vitória. Deus  conseguira  a atenção  do  povo.  A  congregação  às  vezes    ficava    convulsionada    pelo arrependimento. Deus tratava profundamente com o pecado naqueles dias. O  pecado não podia permanecer no arraial.
Logo depois deixei a Missão da Rua Eighth com a Maple para o  irmão  Pendleton, pois estava cansado demais  para  continuar  trabalhando  ininterruptamente  nas reuniões. Eu estava desgastado pela oração e pelas reuniões, e  precisava  muito de uma mudança e um período de descanso.

O ESPÍRITO EXALTA A JESUS

No início do trabalho Pentecostal meu espírito foi muito  exercitado  para  que Jesus não fosse deixado de lado, "perdido no tempo", por  exaltarmos  demais  ao Espírito Santo ou algum dos dons do Espírito. Parecia haver muito perigo  de  se perder de vista o fato de que Jesus é tudo em todos. Procurei mantê-lo como tema e figura central diante do povo. Jesus deve ser o centro da nossa pregação. Tudo vem através dEle. O Espírito Santo é dado para mostrar "o que é de Cristo" (João 16:14, 15). A obra do Calvário e a expiação pelos nossos  pecados  devem  ser  o centro de nossas considerações. O Espírito  Santo  nunca  desvia  a  atenção  de Cristo para si mesmo, mas revela Cristo de maneira  mais  completa.  Corremos  o mesmo perigo hoje. Não há nada mais profundo ou mais  alto  do  que  conhecer  a Cristo. Deus nos dá tudo para este fim. O "único Espírito" (Efésios 4:4) é  dado para este fim. Cristo é a  nossa  salvação,  nosso  tudo,  "a  fim  de  poderdes conhecer... qual seja a largura, e o comprimento, e a  altura, e a  profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo o  entendimento..."  (Efésios  3:18,19), tendo "o espírito de sabedoria e de revelação no pleno  conhecimento  dEle" (Efésios 1:17). Era para conhecer a  Cristo  (Filipenses  3:10),  que  Paulo  se esforçava.
Certa noite fui levado de repente a apresentar Cristo para a congregação da Rua Eighth com a Maple. Estávamos nos esquecendo dEle através da exaltação excessiva do Espírito Santo e dos dons. Agora submeti Cristo à sua  consideração.  Ficaram surpresos e se sentiram culpados imediatamente. Deus me levou a  fazer  isto.  O povo viu seu erro e o perigo de tudo isso.  Uma  noite  nesta  época  quando  eu estava pregando sobre Cristo, colocando-o diante do povo no seu devido lugar,  o Espírito testificou de tal forma o seu agrado que fui tomado pela sua presença e caí  inerte  no  chão sob uma poderosa  revelação  de Jesus na minha alma. Caí a seus pés como João na ilha de Patmos.
Escrevi um folheto nesta ocasião, do qual se seguem os seguintes  trechos:  "Não podemos Ter uma doutrina, nem buscar uma  experiência,  a  não  ser  em  Cristo.
Muitos querem buscar poder de qualquer fonte  disponível,  de  maneira  a  fazer milagres, atrair a atenção e a adoração do povo para si, tirando de Cristo  toda a glória, e ostentando-se na carne. A maior necessidade religiosa de nossos dias é de verdadeiros seguidores do manso e humilde  Jesus.  O  entusiasmo  religioso acaba logo. O espírito humano é tão predominante e este espírito  religioso  que quer se mostrar. Mas precisamos nos apegar ao nosso texto que é Cristo.  Só  Ele Salva. A atenção do povo deve estar, antes de mais nada e sempre, ligada a  Ele.
Um verdadeiro Pentecostes produz poderosa convicção do pecado e uma  volta  para Deus. As manifestações falsas produzem apenas excitação e  admiração.  Pecado  e egoísmo não sofrerão nenhum  perigo  substancial  deste  tipo  de  manifestação.
Devemos receber o que a nossa convicção nos impõe. Acredite no que lhe disser  a fome do seu coração e prossiga com Deus. Não permita que Satanás lhe roube o seu verdadeiro "Pentecostes". Qualquer trabalho que exalte mais ao Espírito Santo  e aos dons do que a Jesus, acabará em fanatismo. Tudo o que nos leva a  exaltar  e amar a Jesus é bom e seguro. O inverso estragará tudo. O Espírito  Santo  é  uma grande luz que só focaliza em  Jesus  a  fim  de  que  Ele  seja  revelado.

RELATÓRIO DE TESTEMUNHAS DE FORA

A. S. Worrel, tradutor do Novo Testamento, era um ardente amigo do "Pentecostes", e buscava o batismo. Escreveu o seguinte no  "Way  of  Faith":  O sangue  de  Jesus  é exaltado nestas reuniões  como  raramente  tenho  visto  em outros lugares. Há grande poder manifestado no testemunho de Jesus,  com  grande amor pelas almas perdidas. Há também  derramamento  dos  dons  do  Espírito.  As reuniões são na Rua Azusa, na Igreja do Novo Testamento onde Joseph  Smale  é  o pastor; algumas pessoas desta igreja foram as primeiras a falar em línguas,  mas muitos se retiram pois sentiam-se tolhidos em sua igreja, e também na Rua Eighth com a Maple, onde os pastores Bartleman e Pendleton são os principais líderes."
Em setembro de 1906, a seguinte carta apareceu no "Way of Faith"  escrita  pelo Dr. W. C. Dumble, de Toronto, Canadá, que estava visitando Los  Angeles  naquela época: "Talvez alguns dos seus leitores se interessem  pelas  impressões  de  um estranho em Los Angeles. Uma obra graciosa do Espírito, similar a que  houve  em Gales, está se processando aqui. enquanto aquela se processou principalmente nas igrejas, esta se processa fora delas. As igrejas não a querem, ou até o presente momento mantiveram-se distantes, críticas e com espírito condenatório. Tal  como a obra em Gales, este é um Avivamento feito por  leigos  guiados  pelo  Espírito Santo, e realizado em  auditórios,  prédios  velhos  e  semi-destruídos,  ou  em qualquer lugar que consigam para realizar a obra.
"É  um  movimento  extraordinário  que  pode  ser  considerado  singular   pelo aparecimento do Dom de falar em línguas. Há três missões diferentes onde se pode ouvir "línguas estranhas". Tive o raro prazer  e  passar  ontem  na  reunião  do Pastor Bartleman, ou para ser mais exato, onde ele e o Pastor Pendleton  são  os líderes nominais, mas onde o Espírito dirige tudo. Jesus é proclamado o  cabeça, e o Espírito Santo seu executivo. Não há pregação, coral, órgão ou coleta, a não ser o que é voluntariamente  colocado   numa  mesa  ou  na  caixa  pendurada  na parede. Deus estava presente de forma poderosa na noite passada. Alguém começa a cantar, talvez cantem três ou quatro hinos,  salpicados  de  aleluias  e  améns.
Depois, uma pessoa com a alma  sobrecarregada  levanta-se  e  grita:  "Glória  a Jesus!" E entre soluços e  lágrimas  conta  uma  grande  batalha  e  uma  grande libertação. Depois com os rostos brilhando três ou quatro ficam de pé. Um começa a louvar o Senhor e depois com as mãos levantadas irrompe em uma nova língua.  O Pastor Pendleton agora conta como sentiu necessidade e buscou o batismo, e  como Deus o batizou com uma experiência de presença divina, amor e ousadia, que nunca antes conhecera. Os oficiais de sua igreja  quiseram  que  ele  se  retirasse  e muitos saíram com ele e uniram-se ao Pastor Bartleman. Depois uma senhora  idosa de doces feições, uma Luterana  alemã,  testemunhou  que  quando  ouviu  o  povo louvando a Deus em línguas, orou para  ser  batizada  no  Espírito.  Depois  que estava já deitada começou a falar em línguas e louvou ao Senhor a noite inteira, para espanto de seus filhos. "Depois uma exortação em línguas, muito suave, veio do Pastor Bartleman, e uma pessoa após a outra chegou ao altar, até que este  se encheu de adoradores. Qualquer que seja a crítica que possa  ser  feita  a  este trabalho, ele é endossado divinamente, e o Senhor acrescenta-lhes dia a dia,  os que vão sendo salvos. Crê-se que este Avivamento ainda está na  sua  infância  e garantem que um  grande  derramamento  é  iminente.  Estamos  na  véspera  desta dispensação. A mensagem que vem pelas "línguas" é: "Jesus está voltando"."
O Dr. Dumble escreveu outra vez para o mesmo  jornal:  "Na  igreja  do    Pastor Bartleman  as  reuniões  se  realizam  todas  as  noites,  todo   o    dia    de domingo,  e  toda  a  noite  de  Sexta  para  Sábado.  Não  há  uma    seqüência fixa  para  as reuniões que devem seguir a direção divina.  O  bendito  Espírito Santo é o dirigente responsável. Os líderes e pastores  ficam  prostrados  quase todo o tempo com o rosto no pó,  ou  ajoelhados  no  lugar  onde  geralmente  se encontra o púlpito; más não há púlpito, coral, e  nem  órgão.  Uma  jovem  nessa reunião pela primeira vez foi visitada pelo Espírito e ficou  meia  hora  com  o rosto brilhando, deitada no chão, sem perceber os  que  estavam  ao  seu  redor, tendo visões indescritíveis. Logo começou a dizer: "Glória! Glória a  Jesus!"  E falou fluentemente numa língua estranha. No Domingo passado  a  reunião  foi  de manhã até à meia-noite. Não houve pregação,  só  oração,  testemunho,  louvor  e exortação."
Na realidade, no princípio tiraram-se, no máximo possível, as plataformas  e  os púlpitos.  Não  havia  necessidade  para  eles.  Classes  sacerdotais  e   abuso eclesiástico deixaram de existir. Todos eram irmãos. Todos estavam  livres  para obedecer a Deus, que podia falar através de quem quisesse. Ele  havia  derramado Seu Espírito sobre toda carne, até nos seus servos e servas (Atos 2:17, 18).  Só homenageávamos os homens por seus dons e ministérios dados por  Deus.  Quando  o movimento foi se apostatando, começou a se  fazer  plataformas  mais  altas,  as roupas ficaram mais solenes, os corais foram  organizados  e  as  orquestras  de instrumentos de cordas apareceram para deslumbrar o povo.  Os  reis  voltaram  a seus tronos; não eram mais irmãos, e por  isto  as  divisões  se  multiplicaram.
Enquanto o irmão Seymour manteve sua cabeça na  velha  caixa  de  madeira,  tudo correu bem em Azusa. Depois fizeram um trono para ele também. Agora não temos só uma hierarquia, mas muitas.

O FUTURO DESTE AVIVAMENTO

Escrevi para outro jornal religioso o seguinte, em 1906: "Aflitos com a maldita  incredulidade,  prosseguimos  para  cima  com  a    maior  dificuldade, lutando pela restauração da gloriosa luz e poder da igreja, antes derramados com tanta abundância, mas agora há muito, perdidos. Temos estado por tanto tempo  na escuridão da descrença causada pela queda  da  igreja,  que  nossa  tendência  é resistir à luz, pois nossos olhos estão fracos. A igreja caiu tanto  que  quando Lutero tentou restaurar a verdade de justificação pela fé a igreja de seu  tempo resistiu e lutou contra ela como a pior heresia. Alguns  pagaram  por  isso  com suas próprias vidas. Ocorreu o mesmo na época  de  Wesley.  Mas  agora  temos  a própria restauração da experiência de Pentecostes com as  chuvas  serôdias,  uma restauração do poder, e de maior  glória,  a  fim  de  acabar  a  obra  que  foi iniciada. Seremos elevados ao nível primitivo da igreja para terminarmos  o  seu trabalho, partindo do ponto onde nossos antecessores pararam quando  o  fracasso os conquistou, e rapidamente cumprindo a última grande  comissão  para  abrir  o caminho para a volta de Cristo.
"Devemos interromper os séculos de fracassos da  igreja  e  a  longa,  sombria idade escura, e apressando o tempo,  ser  totalmente  restaurados  ao  poder,  à vitória e à glória primitivos.  Procuremos  sair  pela  graça  de  Deus,  de  um cristianismo  corrupto,  retrógrado  e  espúrio.  As  sinagogas  de  uma  igreja orgulhosa e hipócrita  estão  voltadas  contra  nós  para  desacreditar-nos.  Os mercenários  clamam  por  nosso  sangue.  Os  escribas  e  os    fariseus,    os sumo-sacerdotes , os principais das sinagogas estão todos contra  nós  e  contra Cristo.
"Los Angeles parece ser o lugar e esta a ocasião, no  plano  de  Deus,  para  a restauração da igreja ao seu lugar, favor e poder primitivos. Chegou a hora para a completa restauração da igreja. Deus falou com seus  servos  em    todas    as partes  do  mundo,  e  todas  as  nações,  como    antigamente,  vieram  para  o Pentecostes, para depois sair e levar as boas  novas  de  salvação.  A  base  de operação para o  último  Pentecostes  mudou-se  da  antiga  Jerusalém  para  Los Angeles. Por toda parte Deus tem criado um tremendo anseio por essa experiência.
O País de Gales foi designado apenas como o berço para esta restauração do poder de Deus."
De novo escrevi nesse jornal: "Se  algum  dia  os  homens  tentarem  controlar, enquadrar ou se apropriar desta obra de Deus para sua própria glória ou a da sua organização, descobriremos que o Espírito se  recusará  a  agir.  A  glória  nos deixará. Se neste trabalho se der a Deus seu devido lugar, então, tornar-se-á um trabalho tal qual os homens jamais sonharam ver. Quão horrendo seria se o Senhor fosse forçado a retirar seu bendito Espírito de nós, ou privar-nos dele numa ora como esta por causa das nossas tentativas de limitá-lo. Alguns  dos  "gafanhotos devoradores" foram o espírito partidário,  diferenças  sectárias,  preconceitos, etc., todos carnais e contrários à lei do amor, do corpo único de Cristo. " Pois em um só Espírito, todos nós fomos batizados, em um só  corpo..."  (I Coríntios 12:13). A satisfação conosco mesmo nos levará a derrota. Oh! Irmão! Pare de  dar voltas incessantes neste caminho batido, onde toda erva já parou de  crescer,  e busque pastos verdejantes, próximos às águas correntes."
No "Way of Faith", escrevi o seguinte: "Estamos voltando da "idade escura",  da decadência e queda da igreja. Estamos vivendo os momentos mais decisivos de toda a história. O Espírito Santo está pondo de  lado  os  nossos  planos,  esquemas, tentativas, e  teorias,  e  está  agindo,  Ele  mesmo,  novamente.  Aqueles  que acolchoaram  muito  bem  seus  ninhos  estão  lutando  ferozmente.  Não podem sacrificar-se para alcançar estas condições."
O minério precioso da verdade, que trouxe a emancipação da igreja da escravidão do domínio humano, veio à luz numa forma necessariamente rude no princípio, como metal bruto. Como na natureza, ele estava cercado por toda espécie  de  elemento desprezível  e  prejudicial.  Pessoas  extravagantes  e  violentas  tentaram  se identificar com o trabalho. Uma verdade  gigantesca  está  lutando  no  seio  da terra, soterrada pela avalanche de males retrógrados que apareceram  através  da história da igreja. Mas ela em  breve  irromperá,  sacudindo  todo  este  refugo indesejável que ainda se  prende  inevitavelmente  a  ela.  Cristo  afinal  será proclamado o cabeça. O Espírito Santo é a vida. Os membros são em  princípio  um só corpo."
Outros  trechos  de  "Way  of  Faith":  "Percebemos  atualmente    entre    nós manifestações de uma nova ordem que  está  saindo  do  caos  e  do  fracasso  do passado.  A  atmosfera  está  carregada  de  expectativa  pelo  ideal.  Mas a incredulidade atrasa nosso progresso.  Nossas  idéias  preconcebidas  nos  traem diante das oportunidades, e nos levam a perda  e  a  ruína.  Mas  o  mundo  está acordado hoje, espantado do seu culpável sono  de  indolência  e  morte.  Cartas estão  nos  inundando  de  todos  os  lados,  do  mundo  inteiro,    perguntando ansiosamente: "Que quer dizer isto?" Ah! Temos  visto  o  pulso  da  humanidade, especialmente da igreja  de  hoje.  Há  grande  expectativa.  E  essas  crianças ansiosas  e  famintas  estão  clamando  por  alimento. A especulação fria e intelectual só lhes tem oferecido negativas. O reino do Espírito  não  pode  ser alcançado pelo intelecto sozinho. O sobrenatural tem nos despertado novamente ao reconhecimento do fato de que Deus ainda vive e opera entre nós.
"As maneiras antigas de agir estão desaparecendo. O sino funerário anuncia  sua morte. Novas formas, uma nova ordem e vida, estão aparecendo."
"Naturalmente está havendo uma tremenda batalha. Satanás move suas  hostes  para impedir que isso se realize. Nós, porém, venceremos. O minério precioso  precisa ser refinado depois de ser extraído. O  preciosos  deve  ser  separado  do  vil.
Pioneiros rudes abriram o caminho para que nós avançássemos  pelo  mato  errado.
Espírito positivos e heróicos são necessários para  este  trabalho,  mas  depois formas mais puras surgirão."
Desde a queda do homem Deus tem tido um único  propósito  e  interesse  para  a humanidade: trazer o homem de volta para si. Toda a velha dispensação, com  seus divinos tratamentos, era para este fim. Deus reconhecia só um povo,  o  povo  de Israel. Ele tinha um propósito nesta nação. Todas as sua  funções  e  atividades eram para um objetivo. Toda sua adoração apontava para este fim: trazer de volta a raça humana, as nações, para o verdadeiro conhecimento  de  Deus  e  trazer o Messias para o mundo, "então virá o fim" e a maldição será  retirada.  A  igreja está trabalhando hoje com todos os seus recursos  para  este  fim  e  para  este propósito? Se estiver, certamente não caberá o acúmulo egoístico de propriedades e riquezas além do que realmente precisamos. Não poderemos mais ajuntar tudo que queremos para nós mesmos e depois jogar para o Senhor algumas moedas  das  quais na verdade não precisamos. Invertemos totalmente a  ordem  depois  da  queda  da igreja primitiva. Deus requer exatamente a mesma consagração de todos. E é aqui que entra o caso de Ananias e Safira. Não  é  um  décimo  que  Deus  quer  nesta dispensação, mas tudo. Nossos corpos são templo  do  Espírito  Santo  e  devemos pertencer-lhe cem por cento em todo o tempo. Pertencemos a  Ele. Ele  nos  criou e  nos  resgatou  de  volta,  nos  redimiu  depois  que  havíamos  hipotecado  a propriedade dele, não a nossa, para o diabo. Em nenhum sentido  somos  donos  de nós mesmos. Fomos redimidos de volta pelo sangue. Quanto tempo levará, ou  teria levado, para evangelizar o mundo  sob  este  princípio  de  vida?  Pense  nestas coisas! A igreja está agindo normalmente, de  acordo  com  o  padrão  divino?  O sistema político-religioso, desde a igreja primitiva até hoje, é na maior  parte uma instituição  híbrida,  mestiça.  Está  cheio  de  egoísmo,  desobediência  e corrupção. Seu reino se tornou "deste mundo", ao invés  de  ser  um  chamada  de cidadania celestial com armas espirituais.

OS HOMENS QUE DEUS USA

A questão doutrinária também tem sido uma grande batalha. Muitos eram dogmáticos demais na Missão Azusa. Afinal, doutrina é apenas o esqueleto da estrutura.  São os ossos do corpo, mas precisamos de carne para cobrir os ossos,  precisamos  do Espírito no interior para dar vida. As pessoas precisam do Cristo Vivo,  não  de contendas dogmáticas sobre doutrina. A obra foi muito prejudicada  no  princípio por zelo sem  sabedoria.  A  causa  sofreu  o  maior'  dano,  como  sempre,  por intermédio de pessoas que vinha das  suas  próprias  fileiras.  Mas  Deus  tinha verdadeiros heróis dos quais Ele podia  depender.  A  maioria  deste  surgiu  da obscuridade  total  para  proeminência  e  poder  repentinos,  e   em    seguida desapareceram com a mesma rapidez, depois de concluída  a  sua  obra.  Alguém  o expressou bem: "homens, como estrelas, aparecem no horizonte segundo a ordem  de Deus". Esta é uma verdadeira evidência de uma genuína obra de  Deus.  Os  homens não fazem os tempos, como alguém também disse acertadamente, mas os tempos fazem o homem. Até chegar o tempo, nenhum homem pode produzir um  avivamento.  O  povo precisa estar preparado e o instrumento também. O  historiador  D'Aubigné  disse bem: "Deus tira do mais extremo retraimento, os instrumentos fracos, através dos quais ele se propõe  a  realizar  grandes  coisas,  e  depois  de  permitir  que resplandeçam por um tempo com fulgor deslumbrante  num  palco  ilustre,  Ele  os despede novamente para a mais profunda obscuridade". Em outro  lugar,  ele  diz: "Deus normalmente retira  os  seus  servos  do  campo  de  batalha  apenas  para mandá-los de volta, ainda mais  fortes  e  mais  bem  armados".  Foi  assim  que aconteceu com Lutero, preso em Wartburg depois do seu triunfo brilhante sobre os grandiosos da terra em Worms.
D'Aubigné ainda escreve: "Há momentos, na história do mundo,  como  na  vida  de Carlos II (da Inglaterra) ou de Napoleão, que decidem a carreira e a fama de  um homem. É o momento em que  a  sua  força  e  potencial,  de  repente,  lhes  são revelados. Há um momento idêntico na vida dos heróis  de  Deus,  porém,  é  numa direção oposta.  É  o  momento  em  que  reconhecem  pela  primeira  vez  a  sua incapacidade e insignificância. Daquela hora em diante recebem força de Deus  lá do alto. Uma grande obra de Deus nunca é realizada pela força natural do  homem.
É entre os ossos secos, na escuridão e secura da morte,  que  Deu  se  apraz  em selecionar os instrumentos pelos quais Ele se propõe a irradiar através da terra sua luz, regeneração e vida. Zwínglio era um homem de  constituição,  caráter  e talentos fortes, mas seu defeito era justamente ser esta a sua força. E para que fosse um instrumento  do  agrado  de  Deus,  sua  força  natural  teria  de  ser prostrada, e ele teria de passar por um  batismo  de  adversidade,  enfermidade, fraqueza e dor. Lutero passou por isto naquela sua hora de angústia  quando  sua cela e os longos corredores  do  convento  Erfurth  ressoavam  com  seus  gritos lancinantes.  Zwínglio  o  experimentou  através  de  entrar  em  contato    com enfermidade e morte."
Os homens precisam conhecer suas próprias fraquezas antes que haja esperança  de conhecer a força de Deus. A força natural e a habilidade humana são  as  maiores barreiras à obra e a operação do Espírito de Deus. Foi por isto  que  as  mortes espirituais eram tão profundas, especialmente na vida dos obreiros e pregadores, nos primeiros dias da Missão Azusa, pois Deus estava  preparando  seus  obreiros para a missão deles.

A CAMINHO DA UNIDADE

O Espírito Santo está trabalhando para que haja unidade entre os crentes,  para que haja apenas "um corpo", e que a oração de Cristo seja respondida: "a fim  de que todos sejam um, para que o mundo creia" (João 17:21). Mas  os  santos  estão sempre dispostos demais para servir um sistema ou  partido,  e  para  lutar  por interesses religiosos, egoístas ou partidários. O povo de  Deus  está  preso  em gaiolas denominacionais.  O  erro  sempre  leva  ao  exclusivismo  militante,  a verdade, porém, está sempre pronta para abaixar e lavar os pés dos santos.
Pertencemos ao corpo de Cristo completo, tanto no céu como na terra.  A  igreja de Deus é uma só. É uma coisa horrível ir por aí desmembrando o corpo de Cristo.
Como parecerão ridículas  e  perversas  as  insignificantes  divergências  entre cristãos à luz da eternidade. A questão é Cristo,  não  alguma  doutrina  a  seu respeito. O evangelho leva à Cristo, e exalta a  ele,  não  a  alguma  doutrina.
Conhecer a Cristo é o alfa e o ômega da fé e prática  cristã.
"A  igreja  no princípio era uma comunidade de irmãos, guiados por alguns irmãos"  (D'Aubigné).
"Porque um só é vosso Mestre, e vós todos  sois  irmãos"  (Mateus  23:8).  Temos excesso do espírito de liderança. Este espírito  divide  o  corpo  e  separa  os santos.
Estamos completando o círculo da queda da igreja primitiva de volta ao  primeiro amor e unidade, ao único corpo de Cristo. É para esta igreja  "sem  mácula,  nem ruga, nem qualquer coisa semelhante" (Efésios 5:27) que Cristo voltará!
***


[1] Shekinah - Palavra hebraica que significa "habitação de Deus", e  foi  usada  por  alguns escritores para referir-se à  manifestação  sensível  da  presença  de  Deus  no tabernáculo e no templo, geralmente numa nuvem: Êxodos 40:34; I Reis 8:10,11; II Crônicas 5:14; Apocalipse 15:8.

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