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quinta-feira, 28 de abril de 2011
terça-feira, 19 de abril de 2011
sexta-feira, 15 de abril de 2011
IGREJA PENTECOSTAL VARÕES DE GUERRA" CONGREGAÇÃO JOÃO GOMES CARDOSO" PASTOR CELSO SOARES NETO/ALIVIANDO A BAGAGEM
Aliviando a Bagagem
Max Lucado
Livre-se das cargas que você nunca deveria ter carregado
A Promessa do Salmo 23
Título original: Traveling Light
Tradução: Marta Doreto de Andrade
Casa Publicadora das Assembléias de Deus
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995, da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.
Digitalizador: desconhecido
Revisado e formatado por SusanaCap
Ao meu querido amigo Joey Paul,
celebrando os trinta anos de
palavras na Palavra,
partilhando a Palavra.
***
Sumário
Você os tem visto - com tudo o que eles próprios metem na bagagem - cambaleando pelos terminais e vestíbulos de hotéis, com malas abarrotadas, baús, mochilas e sacolas.
Dor nas costas. Pés ardendo. Pálpebras caídas.
Todos já vimos pessoas assim. As vezes, nós somos pessoas assim - se não com nossas bagagens físicas, ao menos com nossas cargas espirituais.
Todos arrastamos fardos para os quais não fomos feitos.
Medo. Preocupação. Descontentamento.
Não admira ficarmos tão cansados. Estamos exaustos de carregar excesso de bagagens. Não seria ótimo perder algumas destas malas? Este é o convite de Max Lucado.
Com o Salmo 23 como guia, larguemos alguns destes carregamentos para os quais não fomos feitos.
Eis aqui uns bem-merecidos tapinhas em algumas costas robustas:
Para Liz Heaney e Karen Hill - minhas editoras e minha assistente, parteiras do manuscrito. Sinto ter gemido tanto.
Para Steve e Cheryl Green - meus representantes e amigos.
Por causa de vocês, contratos são lidos e contas são pagas, e este garoto velho dorme bem à noite.
Para Greg Pruett - tradutor de Bíblia e estudioso do hebraico.
Obrigado por seus valiosos insights.
Para Eugene Peterson - tradutor de Bíblia, autor e, para muitos, herói. Obrigado por me deixar usar o título.
E, principalmente, obrigado por partilhar seu coração.
Para Steve Halliday - autor de guias de estudo por excelência.
Aos meus amigos do W Publishing Group. Mais uma vez, vocês são os melhores.
Para Laura Kendall e Carol Bartley - as grandes detetives da língua inglesa. Obrigado por me fazerem parecer talentoso.
Para Jenna, Andrea e Sara - minhas filhas adoráveis. Eu não poderia estar mais orgulhoso.
Para Denalyn - minha esposa de duas décadas. Antes de você nascer, onde os poetas buscavam inspiração?
A você, leitor. Possa o real Autor falar com você.
E, acima de tudo, a ti, Jesus. A única razão por que posso largar a carga é que o Senhor está lá para pegá-la.
Todos os aplausos são para ti.
Nunca viajei sem bagagem.
Tentei. Acredite-me, eu tentei. Porém, desde que levantei três dedos no ar e fiz o juramento do escoteiro, prometendo estar preparado, determinei-me a ser exatamente isto: preparado.
Preparado para um bar mitzvah, uma apresentação de bebê, ou uma festa a rigor. Preparado para saltar de pára-quedas atrás das linhas inimigas ou entrar numa competição de críquete. E, para o caso de o Dalai Lama estar em meu vôo e convidar-me a jantar no Tibete, carrego raquetes de neve. É preciso estar preparado.
Não sei como viajar sem bagagem.
Verdade seja dita, há um monte de coisas sobre viagens que eu não sei. Não sei como interpretar as restrições de um assento super econômico - metade do preço se você viaja na quarta-feira, durante a temporada de caça ao pato, e regressa na lua cheia, num ano sem eleição. Não sei porque não constroem o avião inteiro com o mesmo material que usam para a caixa preta. Não sei como escapar do banheiro de um avião sem sacrificar um dos meus membros às mandíbulas da porta de duas folhas. E não sei o que dizer a camaradas como o taxista do Rio, que percebendo ser eu americano, perguntou-me se eu conhecia o seu primo Eddie, que mora nos Estados Unidos.
Há muita coisa sobre viagem que eu não sei.
Não sei por que nós, homens, preferimos afagar um crocodilo a pedir informações sobre o caminho. Não sei por que slides de férias não são usados no tratamento de insônias, e não sei quando aprenderei a não comer alimentos cujos nomes sou incapaz de pronunciar.
Mas acima de tudo, não sei como viajar sem bagagem.
Não sei como viajar sem barras de granola, sodas, e equipamento de chuva. Não sei como viajar sem lanterna elétrica, um gerador, e um sistema de rastreamento global. Não sei como viajar sem uma caixa de isopor com salsichas vienenses. E se eu topar com um churrasco de fundo de quintal? Não levar nada para a festa seria indelicadeza.
Todos os catálogos de empresas de viagem do mundo inteiro possuem o número do meu cartão de crédito. Tenho um ferro de passar que se dobra como um peso de papel, um secador de cabelos do tamanho de um apito de treinador, uma faca do exército suíço que se expande numa tenda para filhotes, e uma calça que infla sob impacto (Em um vôo, minha esposa, Denalyn, deu-me um tapa na perna, e eu não pude sair do assento).
Não sei como viajar sem bagagem. Mas preciso aprender.
Denalyn recusa-se a dar à luz mais um filho, embora as companhias aéreas permitam a cada passageiro três malas e duas bolsas de mão.
Preciso aprender a viajar sem bagagem.
Você está se perguntando por que não posso. Liberte-se!, você está pensando. Não se pode aproveitar uma viagem carregando tantas coisas. Por que você simplesmente não larga toda essa bagagem?
Brincadeira? Você deve estar indagando. E eu gostaria de inquirir o mesmo de você. Você também não é conhecido por carregar alguma bagagem?
Possivelmente, você o fez esta manhã. Em algum lugar entre o primeiro passo ao sair da cama e o último passo ao sair pela porta, você agarrou alguma bagagem. Você caminhou até a esteira rolante e agarrou a carga. Não se lembra? É porque você fez sem pensar. Não se lembra de ter visto o terminal de bagagem? É porque a esteira não é aquela do aeroporto; é a da mente. E as malas que carregamos não são feitas de couro; são feitas de encargos.
A valise de culpa. Um saco de desgosto. Você acomoda a grossa sacola de fadiga sobre um ombro, e pendura a bolsa de aflição no outro. Adiciona uma mochila de dúvidas, mais a mala postal noturna de solidão, e um baú de temores. Logo você estará arrastando mais trastes que um carregador. Não admira que você esteja tão cansado ao final do dia. Puxar bagagem é exaustivo.
O que você estava dizendo a mim, Deus está dizendo a você: "Arrie a carga. Você está carregando pesos que não tem de suportar".
"Vinde a mim", Ele convida, "todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28).
Se nós lho permitirmos, Deus tornará mais leve o nosso fardo.
Porém, como permiti-lo? Posso convidar um velho amigo para nos mostrar? O Salmo 23.
O Senhor é o meu pastor;
nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos,
guia-me mansamente às águas tranqüilas.
Refrigera a minha alma;
guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte,
não temeria mal algum,
porque tu estás comigo;
a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus
inimigos,
unges a minha cabeça com óleo,
o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão
todos os dias da minha vida;
e habitarei na casa do Senhor por longos dias.
Existem palavras mais amadas? Emolduradas e penduradas em saguões de hospitais, rabiscadas em paredes de presídios, citadas pelos vigorosos e cochichadas pelos moribundos. Nestas linhas, marinheiros têm achado um porto, os amedrontados têm encontrado um pai, e os que lutam pela vida têm deparado com um amigo.
E por ser tão profundamente amada, a passagem é vastamente conhecida. Você pode apontar um ouvido onde estas palavras jamais caíram? Musicadas em centenas de canções, traduzidas em milhares de línguas, domiciliadas em milhões de corações.
Um desses corações pode ser o seu. Que afinidade você experimenta com estas palavras? Para onde estes versos transportam você? Ao pé de uma lareira? À beira de uma cama? Junto a um túmulo? Dificilmente se passa uma semana sem que eu volte a eles. Esta passagem é para o ministro o que o bálsamo é para o médico. Recentemente apliquei-as ao coração de um querido amigo. Chamado à sua casa com as palavras "Os médicos não lhe dão mais que alguns dias", olhei para ele e compreendi. Rosto pálido. Lábios esticados e ressecados. A pele pregueada entre os ossos como o pano de um guarda-chuva velho entre as varetas. O câncer havia tirado muito: seu apetite, sua força, seus dias.
Mas o câncer não tocara sua fé. Puxando uma cadeira para junto de sua cama, e apertando-lhe a mão, cochichei:
"Bil, O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele rolou a cabeça para mim como que dando boas-vindas às palavras.
"Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente as águas tranqüilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome".
Ao chegar ao quarto verso, receando que ele não me pudesse ouvir, inclinei-me até poucas polegadas de seus ouvidos e disse: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam".
Ele não abriu os olhos, mas arqueou as sobrancelhas.
Ele não falou, mas seus dedos magros encresparam-se em torno dos meus, e eu me perguntei se o Senhor o estava ajudando a depor alguma bagagem - o medo da morte.
Você tem alguma bagagem? Você acha que Deus pode usar o salmo de Davi para aliviar-lhe a carga? Viajar sem bagagem significa confiar a Deus as cargas para as quais você não foi destinado.
Por que você não tenta viajar sem peso? Tente-o por amor daqueles a quem você ama. Você já considerou o impacto que o excesso de bagagem tem sobre um relacionamento? Temos tratado disto em nossa igreja através de um drama. Encenamos um casamento no qual podemos ouvir os pensamentos do noivo e da noiva. O noivo entra, carregado de bagagens. Um saco pendurado em cada braço e perna. Em cada saco um letreiro: culpa, ira, arrogância, insegurança. Este companheiro está carregado.
Enquanto ele se posiciona no altar, o auditório ouve os seus pensamentos: Finalmente, uma mulher que me ajudará a carregar toda esta bagagem. Ela é tão estável, tão forte, tão...
Enquanto seus pensamentos continuam, os dela começam.
Ela entra usando um vestido de noiva, mas, assim como o noivo, coberta de bagagens. Puxando uma sacola, uma bolsa a tiracolo, um estojo de maquiagem, um saco de papel - tudo o que você puder imaginar, e cada coisa etiquetada.
Ela tem a sua própria bagagem: preconceito, solidão, desapontamentos... E sua expectação? Ouça o que ela está pensando: Mais alguns minutos e eu terei um homem. Nada mais de conselheiros. Nada mais de terapia em grupo.
Adeus desencorajamento e preocupações. Nunca mais os verei. Ele vai tratar de mim.
Finalmente eles se põem no altar, perdidos numa montanha de bagagem. Eles sorriem um para o outro durante a cerimônia, mas quando são convidados a se beijar, não podem fazê-lo. Como abraçar alguém se os seus braços se acham repletos de fardos?
Por aqueles que você ama, aprenda a depor a carga.
E por amor ao Deus que você serve, faça o mesmo. Você sabe, ele quer usar você. Porém, como poderá fazê-lo, se você está exausto? Esta verdade ocorreu-me ontem à tarde, numa corrida. Preparando-me para correr, eu não podia decidir o que usar. O sol estava de fora, mas o vento estava frio. O céu estava claro, mas havia previsão de chuva. Casaco ou moletom? O escoteiro dentro de mim prevaleceu. Vesti ambos.
Peguei meu walkman, mas não conseguia decidir que fita levar. Um sermão ou uma música? Adivinhou. Levei ambos.
Precisando estar em contato com minhas filhas, levei um celular. Para que ninguém roubasse meu carro, embolsei as chaves. Numa precaução contra a sede, levei comigo uma pochete com algum dinheiro para refrescos. Parecia mais um burro de carga que um corredor! Com menos de um quilômetro, eu estava tirando o casaco e escondendo-o num arbusto. Esse tipo de peso diminuirá a sua marcha.
O que é verdade em corrida é verdade na fé. Deus tem uma grande corrida para você participar. Sob o cuidado dele, você irá onde nunca esteve e servirá de maneiras que jamais imaginou. Porém terá de largar alguma coisa.
Como você pode partilhar graça, se está cheio de culpa?
Como pode oferecer conforto, se está desalentado?
Como levantar a carga de alguém, se os seus braços estão carregados com a sua própria?
Por aqueles a quem você ama, viaje sem bagagem.
Pelo Deus a quem você serve, viaje sem bagagem.
Para sua própria alegria, viaje sem bagagem.
Há certos pesos na vida que você simplesmente não pode carregar. Seu Senhor está lhe pedindo para largá-los e confiar nEle. Ele é o pai que reivindica a bagagem.
Quando um pai vê o filho de cinco anos tentando puxar da esteira rolante a mala da família, o que ele diz? O pai dirá ao filho o mesmo que Deus está dizendo a você.
"Largue isto filho. Eu a carregarei".
O que você acha de aceitarmos o oferecimento de Deus?
Poderíamos simplesmente achar-nos viajando um pouco mais leves.
De qualquer modo, posso ter exagerado sobre minha bagagem. (Geralmente não carrego raquetes de neve.) Mas não posso exagerar sobre a promessa de Deus: "Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1 Pe 5.7).
O Fardo de um Deus Menor
O SENHOR
Salmos 23.1
Estou a apenas cinco passos da águia. Suas asas estão abertas, e suas garras, levantadas acima do galho. Penas brancas cobrem-lhe a cabeça, e seus olhos pretos perscrutam-me de ambos os lados de um bico dourado. Está tão próxima que posso tocá-la. Tão perto que posso acariciá-la. Basta inclinar-me e esticar o braço direito, e posso cobrir com a mão a crista da águia.
Mas não o faço. Não me aproximo. Por que não? Estou com medo dela?
Dificilmente. Ela não tem se movido nos últimos dois anos. A princípio, quando abri a caixa, ela impressionou-me. Quando a pus na estante pela primeira vez, admirei-a.
Águias artificiais são bonitas por algum tempo, mas logo você se acostuma com elas. Davi está preocupado com o risco de você e eu cometermos o mesmo engano acerca de Deus. Sua pena mal tocou o papiro, e ele insiste conosco para evitarmos deuses de nossa própria fabricação. Logo com as primeiras palavras deste salmo, Davi dispõe-se a livrar-nos do peso de uma divindade menor.
Alguns podem argumentar que ele não buscou fazer nada mais. Embora ele falará de pastos verdes, sua proposta não é descanso. Ele descreverá o vale da sombra da morte, mas o seu poema não é uma ode à morte. Ele contará da casa eterna de Deus, mas o seu tema não é o céu. Por que Davi escreveu o Salmo 23? Para edificar nossa confiança em Deus... para recordar-nos quem Ele é.
Neste salmo, Davi devota cento e cinco palavras para explicar as duas primeiras:' "O Senhor". Na arena da bagagem desnecessária, o salmista começa com o mais pesado: o deus remodelado. Alguém que parece agradável, mas realiza pouco. Deuses como...
Um gênio na garrafa. Conveniente. genial. Precisa de um lugar no estacionamento, uma data, um gol marcado ou perdido? Tudo o que você faz é esfregar a garrafa e puf - é seu. E, o que é ainda melhor, este deus volta para dentro da garrafa depois de fazê-lo.
Um doce vovô. Tão coração-mole. Tão sábio. Tão bondoso. Porém muito, muito, muito velho. Vovôs são ótimos quando estão acordados, mas costumam dormitar involuntariamente quando se precisa deles.
Um pai ocupado. Parte na segunda, retorna no sábado. Um monte de viagens e reuniões de negócios. Contudo, ele aparecerá no domingo. Então ponha tudo em ordem e pareça espiritual. Na segunda-feira, seja você novamente. Ele nunca saberá.
Já teve estas concepções de Deus? Se já, você sabe os problemas que elas causam. Um pai ocupado não tem tempo para as suas perguntas. Um vovô bondoso é fraco demais para carregar as suas cargas. E se o seu deus é um gênio na garrafa, você é mais importante que ele. Ele vem e vai ao seu comando. Um deus que parece agradável, mas realiza pouco.
Lembro-me de uma pasta que possuí. Desejaria culpar o vendedor, mas não posso. A compra foi decisão minha.
Porém ele, com certeza, a fez facilmente. Eu não precisava de uma nova pasta. A que eu tinha estava ótima.
Manchada e arranhada, mas ótima. A tinta estava gasta no fecho, e os cantos esfolados, mas a maleta era ótima.
Oh, mas esta outra, a nova, para usar as palavras do jovem universitário na loja de artigos de couro, era "realmente ótima". Cheia de feitios: proteção de cobre nos cantos, couro macio da Espanha, e, acima de tudo, um nome italiano perto da alça. O vendedor mostrou-me sua lábia e entregou-me a pasta, e eu comprei ambas.
Deixei a loja com uma pasta que usei, talvez, duas vezes. O que eu estava pensando? Ela leva tão pouca coisa. Minha velha pasta não possuía cantos revestidos de cobre, mas tinha uma barriga de esturjão. Esta nova me lembra uma top-model: magra, esticada e de poucas palavras. Um livro e um jornal, e esta maleta italiana fica "cheíssima".
A pasta parece ótima, mas não faz nada.
É esta a espécie de Deus que você quer? É esta a espécie de Deus que temos?
A resposta de Davi é um não retumbante. "Você quer saber quem Deus é realmente?", pergunta ele. "Então leia isto". E ele escreve o nome Yahweh. "Yahweh é o meu pastor".
Embora estranho para nós, o nome era rico para Davi.
Tão rico, na verdade, que Davi escolheu Yahweh acima de El Shaddai (Deus Todo-poderoso), El Elyon (Deus Altíssimo), e El Olam (Deus, o Eterno). Estes e muitos outros títulos de Deus estavam à disposição de Davi. Não obstante, ao considerar todas as opções, ele escolheu Yahweh.
Por que Yahweh? Porque Yahweh é o nome de Deus. Você pode chamar-me de pregador, escritor, ou golfista inexperiente - estas são descrições exatas, mas não são nomes meus. Posso chamar você de papai, mamãe, doutor ou estudante, e estes termos podem descrever você, mas não são o seu nome. Se você quer chamar-me pelo nome, diga Max. Se eu quero chamar você pelo seu nome, eu o pronuncio. E se você quer chamar Deus pelo nome dEle, diga Yahweh.
Deus nos contou o seu nome. (Quanto Ele deve almejar estar perto de nós!)
Moisés foi o primeiro a aprender o nome de Deus. Sete séculos antes de Davi, o pastor de oitenta anos estava cuidando das ovelhas, quando o arbusto começou a arder, e a sua vida, a mudar.
Moisés recebeu ordens de voltar ao Egito e resgatar os hebreus escravizados. Ele apresentou mais desculpas que um garoto na hora de ir para a cama, porém Deus superou cada uma delas. Finalmente, Moisés indagou:
Eis que quando vier aos filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós'; e eles me disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?
Então Deus disse a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós (Êx 3.13,14).
Mais tarde Deus lembraria a Moisés: "Eu sou Yahweh. Eu apareci a Abraão, e a Isaque, e a Jacó, como El Shaddai; mas pelo meu nome Yahweh, não lhes fui perfeitamente conhecido" (Êx 6.2,3).
Os israelitas consideravam o nome sagrado demais para ser pronunciado por lábios humanos. Sempre que precisavam dizer Yahweh, substituíam-no pela palavra Adonai, que significa "Senhor". Se o nome precisava ser escrito, os escribas tomavam um banho antes de escrevê-lo e destruíam a pena depois de o haverem feito.
Deus nunca deu uma definição da palavra Yahweh, e Moisés nunca a pediu. Muitos estudiosos gostariam que ele o tivesse feito, pois o estudo do nome tem suscitado algumas discussões saudáveis.
O nome EU SOU soa notavelmente próximo do verbo hebraico ser - havah. É possivelmente uma combinação da forma verbal presente (Eu sou) e do causativo (Eu causo o existir). Yahweh, então, parece significar "Eu sou" e "Eu causo". Deus é "Aquele que é" e "Aquele que causa".
Por que isto é importante? Porque precisamos de um Deus grande. E se Deus é "Aquele que é", Ele é um Deus imutável.
Pense a respeito. Você conhece alguém que anda dizendo "Eu sou"? Nem eu. Quando dizemos "Eu sou", sempre acrescentamos outra palavra. "Eu sou feliz "Eu sou triste "Eu sou forte. "Eu sou Max". Deus, no entanto, declara perfeitamente, "EU SOU" e não acrescenta nada mais.
"Tu és o que?", desejamos perguntar. "EU SOU", replica Ele. Deus não precisa de nenhuma palavra descritiva, porque Ele nunca muda. Deus é o que é. Ele é o que sempre foi. Sua imutabilidade motivou o salmista a declarar: "Mas tu és o mesmo" (Sl 102.27). O escritor está dizendo:
"Tu és Aquele que é. Tu nunca mudas". Yahweh é um Deus imutável.
Ele é também um Deus incausado.
Embora Deus crie, Ele nunca foi criado. Embora faça, Ele nunca foi feito. Embora cause, Ele nunca foi causado.
Daí a proclamação do salmista: "Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus" (Sl 90.2).
Deus é Yahweh - um Deus imutável, um Deus incausado, e um Deus ingovernado.
Você e eu somos governados. O clima decreta o que vestimos.
O terreno diz-nos como viajar. A gravidade dita a nossa velocidade, e a saúde determina o nosso vigor. Podemos desafiar estas forças e alterá-las levemente, mas nunca podemos remove-las.
Deus - nosso Pastor - não verifica o clima; Ele o faz.
Não afia a gravidade; Ele a criou. Não é afetado por problemas dele; Ele não tem corpo. Jesus afirmou, "Deus é Espírito" (Jo 4.24). Uma vez que Ele não possui corpo, não tem limitações – do mesmo modo que Ele está no Camboja, está em Connecticut.
Para onde me irei do teu Espírito?", Indagou Davi. "Para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também" (Sl 139.7,8).
Imutável. Incausado. Ingovernado. Estas são apenas uma fração das qualidades de Deus, mas não são o suficiente para dar-lhe um vislumbre de seu Pai? Não precisamos deste tipo de pastor? Não carecemos de um pastor imutável?
Quando Lloyd Douglas, autor de The Robe (O Manto) e outros antes, estava na faculdade, ele morava num alojamento. Um professor de música aposentado, preso a uma cadeira de rodas, residia no primeiro andar. A cada manhã, Douglas punha a cabeça na porta do apartamento do professor e fazia a mesma pergunta, “Bem qual é a boa notícia?" O velho apanhava seu diapasão, batia ele no lado da cadeira de rodas e dizia, "Esse é o Dó! Foi o Dó ontem; será o Dó amanhã, e será o Dó daqui a mil anos.
O tenor do andar de cima canta abemolado. O piano do outro lado do saguão está desafinado, mas, meu amigo, esse é o Dó.
Você e eu precisamos de um Dó. Você já teve mudanças suficientes em sua vida?
Relacionamentos mudam. A saúde muda. O tempo muda. Contudo, o Yahweh que governou a na noite passada é o mesmo Yahwaeh que a governa hoje. As mesmas convicções. O mesmo plano. O mesmo humor. O mesmo amor. Ele nunca muda. Você não pode alterar Deus que um seixo pode alterar o ritmo do Pacífico. Yahweh é o nosso Dó. Um ponto quieto num mundo em rotação.
Não precisamos de um ponto quieto? Não necessitamos de um pastor imutável?
Carecemos igualmente de um pastor incausado. Ninguém soprou vida para dentro de Yahweh. Ninguém o gerou.
Ninguém o deu à luz. Ninguém o causou. Nenhum ato o fez nascer.
E, desde que nenhum ato o fez nascer, nenhum ato pode tirá-lo. Ele teme um terremoto? Ele treme diante de um tornado? Dificilmente. Yahweh dorme durante as tempestades e acalma o vento com uma palavra. Câncer não o preocupa, e cemitérios não o perturbam. Ele estava aqui antes que eles surgissem. Ele estará aqui depois que eles houverem passado. Ele é incausado.
E Ele é ingovernado. Conselheiros podem confortar você na tempestade, mas você precisa de um Deus que possa acalmar a tempestade. Amigos podem segurar-lhe a mão em seu leito de morte, mas você precisa de um Yahweh que venceu a sepultura. Filósofos podem debater o significado da vida, mas você precisa de um Senhor que possa declarar o sentido da vida.
Você precisa de um Yahweh.
Você não precisa do que Doroti descobriu. Lembra-se da sua descoberta em O Mágico de Oz? Ela e o seu trio seguiram a estrada amarela apenas para descobrir que o mágico era um fraco! Somente fumaça, espelhos e ruídos. É esta a espécie de deus que você precisa?
Você não tem de carregar a carga de um deus inferior... um deus sobre uma estante, um deus numa caixa, ou um deus numa garrafa. Não, você precisa de um Deus que possa colocar 100 bilhões de estrelas em nossa galáxia, e 100 bilhões de galáxias no universo. Você precisa de um Deus que possa moldar dois punhados de carne em 75 a 100 milhões de células nervosas, cada uma com 10.000 conexões com outras células nervosas, colocar isto em um crânio, e chamá-lo de cérebro.
E você precisa de um Deus que, enquanto você está adormecido, possa vir na quietude da noite e tocar você com a ternura de uma nevada em abril.
Você precisa de um Yahweh.
E, de acordo com Davi, você tem um. Ele é o seu pastor.
O Fardo da Autoconfiança
O SENHOR é o meu pastor
Salmos 23.1
Você acha que pode freqüentar um clube como o Tiger Woods? Isso é falar demais. Você espera fazer tantos gols quanto Joe Montaria? Você terá de trabalhar duro.
E você, moça? Aspira ser a próxima Mia Hamm? Bom para você.
Quanto a mim? Bem, na verdade há um companheiro que me prendeu a atenção. Ele me faz lembrar de mim.
Provavelmente você nunca ouviu falar dele. Você viu o Aberto Britânico em 1999? Sim, aquele em Carnoustie, Escócia? Lembra-se do jogador que teve sete tacadas para o último buraco?
Isto mesmo, o francês, Jean Van de Velde. Ele estava a seis tacadas e 480 jardas do campeonato, de um maço de dinheiro e de um lugar na história. Tudo o que ele precisava fazer era marcar um seis numa média de quatro.
Eu podia acertar um seis. Minha mãe podia fazer um seis. Esse rapaz podia marcar um seis com um pé nas costas. Diga para o gravador de troféu aquecer a pena e praticar seus Vs. Ele precisará de dois para escrever "Jean Van de Velde".
Admito que o buraco não era fácil. Separado três vezes por uma "wee burn", termo escocês para enseada pantanosa.
Sem problemas. Faça três pequenos lances... três tacadas, se for preciso.
Apenas faça um seis, alcance o buraco, e sorria para as câmeras. A não ser que esteja ventando e a "wee burn" seja um bocado profunda. Não flerte com a jogada.
Oh, mas o francês adora flertar. Van de Velde tira seu driver, em algum lugar de Des Moines, um desportista de poltrona, que fora atraído pelo sono perto da sétima tacada, abre um olho. Ele está pegando um driver?
O rapaz que levava os tacos de Van de Velde era um parisiense de trinta e seis anos, chamado Christopher, com um inglês desordenado, uma barbicha no queixo e cabelos descorados sob o chapéu. "Penso que ele e eu", confessou este mais tarde, "queremos espetáculo demais".
Van de Velde impulsionou sua tacada meio caminho para a Eiffel. Agora ele tinha 240 jardas para o green vazio, mas um gramado espesso e angústia no meio. Certamente ele ama tacada curta de volta, na parte lisa do campo, entre os buracos.
A lógica diz: "Não vá para o green".
O Golf 101 fala: "Não vá para o green".
Cada escocês na platéia alerta: "Hei, rapaz, não vá para o green".
Van de Velde teima: "Eu vou para o green".
Ele puxa uma dupla de "ferros", e o "golfista de poltrona" em Moines abre o outro olho. Unia dupla de ferros? Só se você estiver no tee na praia, e for bater a bola tentando alcançar o Mar dos Caaríbas! Os espectadores estão em silêncio. Total respeito. Alguns em oração. O par de ferros de Van de Velde torna-se um FORE!
Pam. Zuum. Ploft. A bola falseia longe dos espectadores parece no pântano, alto o suficiente para ocultar um anão.
Sua mentira teria feito crescer o nariz de Pinóquio. A próxima tacada na água, e a seguinte na areia. Registre o prejuízo, e você tem quatro tacadas mais um pênalti. Ele está mentindo cinco e não no green. Tanto para acertar o buraco. Agora ele está orando por um sete e um empate. Para grande alívio do mundo civilizado, Van de Velde faz o sete. Você deve estar se perguntando se ele se recobrou do "wee burn". Ele perdeu o lance decisivo.
Golfe, como shorts de náilon para correr, revela muito de uma pessoa. O que o décimo oitavo buraco revelou de Van de Velde faz-me lembrar de mim mesmo.
Eu fiz a mesma coisa. A mesma coisa detestável. Tudo o que ele precisava era de um ferro, mas tinha de pegar o driver. Ou, em meu caso:
Tudo o que eu precisava era desculpar-me, mas tinha de discutir.
Tudo o que eu precisava fazer era ouvir, mas tinha de abrir minha boca grande.
Tudo o que eu precisava fazer era ser paciente, mas tinha de tomar o controle.
Tudo o que eu tinha de fazer era entregar a Deus, mas tentei consertar eu mesmo.
Por que não deixei o driver na sacola? Sei como Christopher, o carregador, responderia: "Acho que ele, eu e Max queremos espetáculo demais".
Cabeçudos demais. Independência demais. Autoconfiança demais.
Não preciso de conselhos - Pam.
Posso me virar sozinho - Zum.
Não preciso de um pastor - Ploft.
Você pode relacionar? Será que Jean e eu somos os únicos a fazer coro com a letra da canção de Sinatra "Fiz do meu jeito"? Somos os únicos com o peito de ferro da autoconfiança? Penso que não.
Nós humanos gostamos de fazer as coisas do nosso modo.
Esqueça o modo fácil. Esqueça o modo comum. Esqueça o modo melhor. Esqueça o modo de Deus. Queremos fazer as coisas do nosso jeito.
E, de acordo com a Bíblia, é exatamente este o nosso problema. "Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu próprio caminho" (Is 53.6).
Você não pensaria que ovelhas são obstinadas. De todos os animais de Deus, a ovelha é a menos capaz de cuidar de si própria.
Ovelhas são tolas! Você já conheceu um treinador de ovelhas?
Já viu ovelhas fazerem truques? Conhece alguém que ensinou sua ovelha a dar cambalhotas? Já assistiu a um show de circo apresentando "Mazadon e sua ovelha saltadora"? Não. Ovelhas são simplesmente tolas demais.
E indefesas. Elas não possuem presas ou garras. Elas não podem mordê-lo nem correr mais que você. É por isto que você nunca vê ovelhas como mascotes de time. Já ouvi falar do St. Louis Rams (Aries de St. Louis), do Chicago Bulls (Touros de Chicago), e Seattle Seahawks (Falcões Marinhos de Seattle), porém Ovelhas de Nova York? Quem quer ser uma ovelha? Você não poderia nem mesmo inventar um grito decente para as líderes de torcida.
Nós somos as ovelhas.
Não damos um pio.
É problema seu a vitória conseguir.
Mas conte conosco se você quiser dormir.
Além do mais, as ovelhas são sujas. Um gato pode limpar-se. Um cachorro também. Vemos pássaros no banho e ursos no rio.
Mas ovelhas? Elas se sujam e ficam assim mesmo.
Davi não poderia ter pensado numa metáfora melhor?
Claro que podia. Afinal, ele superou Saul e venceu Golias. Por que ele não escolheu outra coisa que não ovelha?
Como, por exemplo:
"O Senhor é o meu comandante-em-chefe, e eu sou o seu soldado". Viu só? Preferimos isto. Um soldado ganha um uniforme e uma arma, talvez até uma medalha.
Ou, "O Senhor é a minha inspiração, e eu sou o seu cantor".
Estamos no coral de Deus; que atribuição lisonjeira.
Ou, "O Senhor é o meu rei, e eu sou o seu embaixador".
Quem não gostaria de ser um porta-voz de Deus?
Todos param quando o embaixador fala. Todos escutam quando o menestrel de Deus canta. Todos aplaudem quando o soldado de Deus passa.
Entretanto, quem percebe quando a ovelha de Deus aparece? Quem nota quando a ovelha canta, fala, ou atua?
Apenas uma pessoa percebe. O pastor. E para Davi, é precisamente este o ponto principal.
Quando Davi, que era um soldado, um menestrel e um embaixador de Deus, buscou uma ilustração de Deus, veio-lhe à mente os seus dias como pastor. Recordou-se de como dispensava atenção às ovelhas dia e noite. Ele dormia com elas e por elas velava.
E o modo como ele cuidava das ovelhas lembrou-lhe o modo como Deus cuida de nós. Davi regozijou-se ao dizer:
"O Senhor é o meu Pastor", e ao fazê-lo, orgulhosamente deu a entender, "Eu sou sua ovelha".
Ainda se sente desconfortável em ser uma ovelha? Você condescenderia comigo e faria um teste oral simples? Veja se você possui autoconfiança. Levante a mão se alguma das seguintes declarações descrevem você.
Você pode controlar o seu ânimo. Você nunca fica amuado ou mau-humorado. Você não pode relacionar-se com o Sr. Pessimista e a Deprimida. Você está sempre otimista e aprumado. Isto descreve você? Não? Bem, vamos tentar novamente.
Você vive em paz com todos. Todos os relacionamentos são doces e saudáveis. Até seu antigo namorado (namorada) fala bem de você. Você ama a todos e é amado por todos.
Este é você? Se não, que tal esta descrição?
Você não tem temores. Você é chamado de Teflon valente.
Wall Street afundou - não tem problema. A saúde precária do coração é descoberta - bocejo. Começa a terceira guerra mundial - o que tem para o jantar? Isto descreve você?
Você não precisa de perdão. Nunca fez nada errado. É totalmente honesto. Tão limpo quanto a cozinha da vovó.
Nunca trapaceou, nunca mentiu, nunca mentiu sobre trapacear.
Este é você? Não?
Vamos avaliar isto. Você não pode controlar o seu ânimo. Alguns de seus relacionamentos são instáveis. Você tem temores e faltas. Hmmm. Você quer realmente estufar o peito de autoconfiança? Parece-me que você poderia utilizar um pastor. Caso contrário, você poderá terminar com um Salmo 23 como este:
Eu sou o meu próprio pastor; estou sempre em necessidade.
Eu cambaleio de shopping em shopping, de psiquiatra em psiquiatria, buscando alívio mas nunca o encontro.
Eu me arrasto pelo vale da sombra da morte e caio em pedaços.
Eu temo qualquer coisa, desde pesticidas a fio elétrico, e estou começando a agir como a minha mãe.
Vou às reuniões semanais do grupo e acho-me cercado de inimigos.
Vou para casa, e até peixe-dourado me faz carranca.
Unjo a minha cabeça com uma dose extra de Tilenol.
E o aquário do meu peixinho transborda.
Certamente que a miséria e o infortúnio me seguirão, e eu viverei em autodesconfiança pelo resto de minha vida solitária.
Por que será que aquele que mais precisa de um pastor, mais o resiste? Ah, eis uma questão para os Van de Veldes da vida. As Escrituras dizem, "Faça do modo de Deus". A experiência aconselha, "Faça do modo de Deus". Cada escocês no céu suplica,"Hei, rapaz, faça do modo de Deus".
E de vez em quando nós fazemos. E quando o fazemos, quando seguimos o guia de Notre Dieu, e deixamos o driver na sacola, de algum modo a bola fica na parte lisa do campo.
Bem, Van de Veldes faz-me lembrar de mim.
Após perder o lance decisivo, ele manteve a compostura diante da multidão. Contudo, assim que se sentou na tenda, enterrou o rosto nas mãos. "Na próxima vez, baterei com o taco de cunha", soluçou ele. "Você dirá que sou um covarde, mas da próxima vez, baterei com o taco de cunha".
Você e eu, Jean.
Nota da Tradutora:
Driver - no golfe, dentre os tacos de madeira, empregados para lançamentos altos e longos, o driver é o mais característico.
Greeti - pequena área sem obstáculo, onde ficam os buracos.
Ferros - Tacos de ferro usados para o jogo intermediário e de aproximação.
Tee - ponto de partida.
Fore - Expressão de alerta ao golfista a caminho de uma bola.
O Fardo do Descontentamento
O Senhor é meu pastor; nada me faltará
Salmos 23.1
Venha comigo à prisão mais populosa do mundo. A instituição tem mais ocupantes que beliches. Mais prisioneiros que pratos. Mais residentes que recursos.
Venha comigo à prisão mais opressiva do mundo. Apenas pergunte aos ocupantes; eles lhe dirão. Eles estão extenuados e subnutridos. Suas paredes são nuas, e as beliches, duras.
Nenhuma prisão é tão populosa, nenhuma é tão opressiva, e, além disso, nenhuma é tão permanente. A maioria dos ocupantes nunca sai. Eles nunca escapam. Nunca são soltos. Eles cumprem uma sentença de vida nesta abarrotada e mal-provida instituição.
O nome da prisão? Você o verá na entrada. Em forma de arco-íris, acima do portão, seis letras em ferro fundido expressam-lhe o nome:
QUERER
A prisão do querer. Você tem visto seus prisioneiros.
Eles estão "em querer". Eles querem alguma coisa. Querem algo maior. Mais bonito. Mais rápido. Mais magro. Eles querem.
Eles não querem muito, objeta você. Querem apenas uma coisa. Um novo emprego. Uni novo carro. Uma nova casa. Um novo cônjuge. Eles não querem muito. Querem apenas um.
E quando eles tiverem "um", serão felizes. E eles estão certos - eles serão felizes. Quando eles tiverem "um", sairão da prisão. Então acontece. O cheiro de carro novo passa. O novo emprego fica velho. O vizinho compra uma televisão maior. O novo cônjuge possui maus hábitos. As expectativas goram, e antes que se perceba, outro ex-condenado quebra a liberdade condicional e retorna à Cadeia.
Você está na prisão? Está se você se sente melhor quando tem mais, e pior, quando tem menos. Se o contentamento é uma libertação remota, uma transferência distante, um prêmio ao longe, uma renovação afastada. Se a sua felicidade vem de algo que você deposita, dirige, bebe ou digere, encare os fatos - você está numa prisão, a prisão do querer.
Esta é a má notícia. A boa é: você tem uma visita. E a sua visita tem uma mensagem que pode pô-lo em liberdade.
Percorra o caminho até a recepção. Sente-se em sua cadeira, e olhe através da asa para o salmista Davi. Ele acena para que você se incline à frente. "Tenho um segredo para você", cochicha ele, "o segredo da satisfação". "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará" (Sl 23.1). Davi encontrou a pastagem onde os descontentes vão morrer. É como se ele estivesse dizendo: "O que tenho em Deus é maior e o que não tenho na vida".
Acha que você e eu poderíamos aprender a dizer o mesmo?
Pense por um momento nas coisas que você possui. Pense na casa que você tem, no carro que você dirige, no dinheiro que você guardou. Pense nas jóias que você herdou, nas ações que você negociou e nas roupas que você comprou.
Visualize todos os seus bens, e deixe-me dizer-lhe duas verdades bíblicas.
Seus bens não são seus. Pergunte a qualquer juiz investigador de artes suspeitas. Pergunte a qualquer embalsamador. Pergunte a qualquer diretor de casa funerária. Ninguém leva nada consigo.
Quando John D. Rockefeller, um dos homens mais ricos da história, morreu, seu contador foi interrogado:"Quanto John D. deixou?" A resposta do contador: "Tudo!"'
"Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho que possa levar na sua mão" (Ec 5.15).
De todos estes bens, nada é seu. E sabe o que mais sobre estes bens? Eles não são você. Quem você é não tem nada a ver com as roupas que você usa ou com o carro que você dirige. Jesus avisou: "A vida de qualquer não consiste na abundância do que possui" (Lc 12.15). Deus não conhece você como o companheiro com o terno elegante, ou a mulher com a casa grande, ou a criança com a bicicleta nova. Deus conhece o seu coração. "O Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração" (1 Sm 16.7). Quando Deus considera sobre você, Ele pode ver sua compaixão, sua devoção, sua brandura, ou agudeza mental, mas não pensa em suas coisas.
E quando você reflete sobre si, deveria fazer o mesmo.
Defina a si mesmo pelo que possui, e se sentirá bem quando tiver muito, e mal, quando não tiver. O contentamento vem quando podemos, honestamente, dizer como Paulo: "Já aprendi a contentar-me com o que tenho... Estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância quanto a padecer necessidade" (Fp 4.11,12).
Doug McKnight podia dizer estas palavras. Aos trinta e dois anos, ele recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. Pelos próximos dezesseis anos, isto lhe custaria a sua carreira, a sua mobilidade, e eventualmente a sua vida. Por causa da doença, ele não podia alimentar-se sozinho ou andar; ele combateu a depressão e o medo.
Contudo, do começo ao fim, Doug nunca perdeu o seu senso de gratidão. A evidência disto via-se em sua lista de oração. Amigos a congregação pediram-lhe para compilar uma lista de pedidos, e assim poderem orar por ele. Sua resposta incluía dezoito bênçãos pelas quais agradecer, e seis assuntos pelos quais orar. Suas bênçãos excediam três vezes as suas necessidades. Doug McKnight tinha aprendido a estar contente.
De igual modo aprendera a leprosa da ilha de Tobago. Um missionário conheceu-a numa de suas viagens. No final do dia, estava liderando a adoração numa colônia de leprosos, e indagou se alguém tinha urna canção favorita. Foi então que uma mulher se voltou e ele viu a face mais desfigurada que jamais vira. Ela não tinha orelhas nem nariz. Seus lábios já não existiam. Contudo, ela levantou uma das mãos sem dedos e pediu: "Poderíamos cantar Conta as bênçãos?"
O missionário começou a canção, mas não pôde terminá-la. Mais tarde, alguém comentou: "Suponho que você nunca mais será capaz de cantar este hino novamente". Ao que ele respondeu: Não, eu o cantarei novamente. Mas nunca mais da mesma forma.
Você está esperando que uma mudança nas circunstâncias traga mudança à sua atitude? Se assim é, você está na prisão, e precisa conhecer um segredo sobre viajar sem bagagem. O que você tem no seu pastor é maior do que o que você não tem na vida.
Posso intrometer-me por um instante? Qual é a única coisa que separa você da alegria? Como você completaria a frase: “Serei feliz quando"? Quando eu for curado. Quando eu for promovido. Quando me casar. Quando eu ficar solteiro. Quando eu for rico. Como você completaria esta declaração?
Agora, com a sua resposta firme na mente, responda esta: Se você nunca tirar a sorte grande, se o seu sonho nunca se tornar realidade, se a situação nunca mudar, poderá você ser feliz? Se não, você está dormindo na fria cela do descontentamento. Você está na prisão. E você precisa saber o que você tem no seu Pastor.
Você tem um Deus que o escuta; tem o poder do amor atrás de você, o Espírito Santo dentro de você, e todo o céu dentro de você. Se você tem o Pastor, você possui graça para cada pecado, direção para cada curva, luz para cada canto, e uma âncora para cada tempestade. Você tem tudo o que precisa.
E quem pode tirá-lo de você? Pode a leucemia infectar a sua salvação? Pode a bancarrota empobrecer suas orações? Um tornado pode levar-lhe a casa terrena, mas tocaria ele o seu lar celestial?
E olhe para a sua posição. Por que o clamor por prestígio e poder? Você já não se sente privilegiado por ser parte do maior trabalho da história?
De acordo com Russ Blowers, nós somos. Ele é um ministro em Indianápolis. Sabendo que seria interrogado na reunião do Rotary Club acerca de sua profissão, resolveu dizer mais que "Eu sou um pregador".
Em vez disso, ele explicou: "Oi, sou Russ Blowers.
Estou num empreendimento global. Temos ramificações em cada país do mundo. Temos representantes em quase todos os parlamentos da terra, bem como nas salas de reunião de diretoria. Somos pela motivação e alteração de comportamento. Movimentamos hospitais, postos de alimentação, centros de gravidez de risco, universidades, editoras e casas de saúde. Cuidamos de nossos clientes do nascimento à morte. Gostamos de seguro de vida e seguro contra incêndio. Realizamos transplante espiritual de coração. Nossa Organização original possui todos os bens imóveis da terra mais um sortimento de galáxias e constelações. Ele conhece todas e vive em toda parte. Nosso produto é gratuito (Não existe dinheiro suficiente para comprá-lo). Nosso Comandante nasceu numa cidade rústica, trabalhou como carpinteiro, não tinha uma casa, era mal-compreendido por sua família e odiado por seus inimigos, andou sobre as águas, foi condenado à morte sem julgamento, e ressuscitou da morte. Eu falo com Ele todos os dias".
Se você pode dizer o mesmo, não tem razão para estar contente?
Certa vez um homem foi pedir conselho a um pastor. Ele achava-se no meio de um colapso financeiro. "Perdi tudo", lamentou ele.
“Oh, estou tão triste por você ter perdido a sua fé".
“Não, corrigiu o homem, "não perdi a minha fé".
“Bem, então sinto muito por você ter perdido o seu caráter".
“Eu não disse isto", tornou a corrigir ele. "Ainda tenho o meu caráter”.
“Que pena você ter perdido a sua salvação".
“Não foi isto o que eu disse", objetou o homem. "Não perdi a salvação".
“Você tem a sua fé, o seu caráter, a sua salvação.
“Parece-me", falou o ministro, "que você não perdeu nenhuma das coisas que realmente importam".
Nem nós as perdemos. Você e eu poderíamos orar como o puritano. Ele sentava-se para uma refeição de pão e água, curvava a cabeça e dizia: "Tudo isto e Jesus também!"
Não podemos estar igualmente satisfeitos? Paulo declarou que “ é grande ganho a piedade com contentamento" (1 Tm 6.6). Quando entregamos a Deus o incômodo fardo do descontentamento, não apenas desistimos de algo, mas ganhamos alguma coisa.
Deus o substitui por um que seja leve, feito sob medida, à prova de tristeza e adicto da gratidão.
O que você ganhará com o contentamento? Poderá ganhar o seu casamento. Poderá ganhar horas preciosas com os seus filhos. Poderá ganhar o seu auto-respeito. Poderá ganhar alegria. Poderá ganhar a fé para dizer: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará".
Tente dizê-lo bem devagar: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará".
Novamente: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará".
De novo: "O Senhor é o meu pastor; nada me faltará".
Shhhhh. Ouviu alguma coisa? Acho que ouvi. Não tenho certeza... mas acho que ouvi a porta de uma prisão se abrindo.
O Fardo do Cansaço
Deitar-me faz em verdes pastos
Salmos 23.2
Darei a você as conseqüências da carga; você adivinha a causa.
Ela aflige 70 milhões de americanos e é culpada de 38.000 mortes por ano.
A condição custa, anualmente, os U.S. $70 bilhões equivalente a produtividade.
Adolescentes sofrem deste mal. Os estudos revelam que 64% dos adolescentes responsabilizam-na pelo baixo rendimento escolar.
Pessoas de meia-idade a enfrentam. Os pesquisadores afirmam que os casos mais severos ocorrem entre trinta e quarenta anos.
Cidadãos mais velhos são afligidos por ela. Um estudo sugere que a condição atinge 50% da população com mais de sessenta e cinco anos.
Os tratamentos envolvem desde vigilantes do peso a chás de ervas.
Alguma idéia do que está sendo descrito?
Abuso de substância química? Divórcio? Sermões longos?
Nenhuma destas respostas está correta, embora a última seja uma boa intuição. A resposta pode surpreender você. Insônia.
A América não pode dormir.
Durante a maior parte da minha vida, eu secretamente ri da idéia de se ter dificuldade para dormir. Meu problema era não cair no sono. Minha dificuldade era permanecer acordado. Há alguns anos, porém, fui para a cama uma noite, fechei os olhos, e nada aconteceu. Não peguei no sono. Em vez de reduzir a marcha e entrar em descanso, minha mente engrenou. Mil e uma obrigações vieram-me à cabeça. A meia-noite passou e eu ainda estava acordado. Tomei um pouco de leite e voltei à cama.
Continuei desperto. Acordei Denalyn, usando a mais premiada das perguntas tolas: "Você está acordada? "Ela disse-me para deixar de pensar nas coisas. Eu o fiz. Parei de pensar nas coisas e comecei a pensar nas pessoas. Não obstante, enquanto pensava nas pessoas, pensava no que elas estavam fazendo. Elas estavam dormindo. Aquilo me deixou bravo e me manteve acordado.
Finalmente, lá pelas tantas da madrugada, havendo sido introduzido na associação de 70 milhões de americanos insones, adormeci.
Nunca mais ri à idéia de se ter dificuldade em dormir.
Nem mais questionei a inclusão do versículo sobre descanso no Salmo 23.
Pessoas com trabalho demais e sono de menos apressam-se para a bagagem da vida e agarram o fardo do cansaço. Este você não carrega. Este você não levanta sobre os ombros e caminha pelas ruas. Você o arrasta como um obstinado são-bernardo.
Cansaço e fadiga.
Por que estamos tão cansados? Você tem lido o jornal ultimamente? Ambicionarmos ter a vida de Huckleberry Finn e Tom Sawyer no Mississipi, mas olhe para nós sobre as águas brancas do rio Grande. Bifurcações no rio. Rochas na água. Ataques cardíacos, traições, débitos no cartão de crédito, batalhas por custódia.
Huck e Tom não têm de enfrentar este tipo de coisa. Nós temos, e elas mantêm-nos acordados. E já que não podemos dormir, temos um segundo problema.
Nossos corpos estão cansados. Pense a respeito. Se setenta milhões de americanos não estão dormindo o suficiente, o que isto significa? Que um terço de nosso país está dormitando no trabalho, cochilando durante a aula, ou dormindo ao volante (1.500 mortes na estrada, por ano, são causadas por motoristas sonolentos). Alguns modorram até enquanto lêem os livros de Lucado (Difícil penetrar, eu sei). Trinta toneladas de aspirinas, tranqüilizantes e pílulas para dormir são consumidas a cada dia! O medidor de energia no painel de nossa testa anuncia: vazio.
Convidássemos um alienígena para resolver nossos problemas, e ele sugeriria uma solução simples: vá todo mundo dormir. Nós riríamos dele. Ele não entende o modo como trabalhamos. Trabalhamos duro. Há dinheiro a ser ganho. Degraus a serem conquistados. Escadas a serem galgadas. Em nossa cartilha, ocupação está ligada a religiosidade. Idolatramos Thomas Edson, que alegava poder viver com quinze minutos de sono. De qualquer modo, esquecemos de mencionar Albert Einstein, que tirava, em média, onze horas de sono por dia. Em 1910, os americanos dormiam nove horas por dia; hoje, dormimos sete, e sentimo-nos orgulhosos disto. E estamos cansados por causa disto. Nossas mentes estão cansadas. Nossos corpos estão cansados. Porém muito mais importante, nossas almas estão cansadas.
Somos criaturas eternas, e fazemos perguntas eternas:
De onde vim? Para onde vou? Qual o significado da vida? O que é certo? O que é errado? Há vida após a morte? Estas são as indagações primordiais da alma. E, deixadas sem respostas, tais questões roubar-nos-ão o descanso.
Apenas uma outra criatura tem tantos problemas quanto nós, sobre o descanso. Não os cachorros. Eles cochilam. Não os ursos. Eles hibernam. Os gatos inventaram a soneca, e o bicho preguiça descansa vinte horas por dia (Então é isto o que eu era em meu segundo ano de faculdade). A maioria dos animais sabe como descansar.
Existe apenas uma exceção. Estas criaturas são lanosas, simplórias e vagarosas. Não, não são maridos em dias de sábado. Ovelhas! Ovelhas não podem dormir.
Para uma ovelha dormir, tudo precisa estar muito bem.
Nada de predadores. Nenhuma tensão no rebanho. Nenhum inseto no ar. Nenhuma fome no estômago. Tudo tem de estar perfeito.
Infelizmente, ovelhas não conseguem achar pastos seguros. Nem podem passar inseticida, lidar com os atritos, ou encontrar comida. Elas precisam de ajuda.
Precisam de um pastor que "as guie" e as ajude a "deitar-se em pastos verdes". Sem um pastor, elas não podem descansar.
Sem um pastor, nem nós podemos.
No segundo verso do Salmo 23, Davi, o poeta, torna-se Davi, o artista. Sua pena torna-se um pincel, seu pergaminho, uma tela, e as suas palavras pintam um quadro. Um rebanho de ovelhas deitadas sobre as patas, rodeando um pastor. Os ventres aninhados na grama alta.
Uma lagoa quieta de um lado, o pastor vigilante do outro.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranqüilas" (Sl 23.2).
Atente para os dois pronomes ocultos antes do verbo.
Ele deitar-me faz... Ele guia-me...
Quem é o ativo? Quem está no comando? O pastor. O pastor escolhe a trilha e prepara a pastagem. O trabalho da ovelha - nosso trabalho - é olhar para o pastor. Com os olhos em nosso Pastor, seremos capazes de tirar uma soneca.
"Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti" (Is 26.3).
Posso mostrar-lhe algo? Corra ao final deste livro e olhe para uma página vazia. Enquanto olha para ela, o que você vê? Você vê um pedaço de papel branco. Agora faça um ponto no centro da folha. Olhe novamente. O que você vê agora? Você vê o ponto, não é? E não é este o nosso problema? Nós deixamos as marcas escuras eclipsar o espaço branco.
Nós vemos as ondas da água em vez de ver o Salvador andando sobre elas. Focalizamos nossa irrisória provisão, em vez de olhar para aquele que pode alimentar cinco mil pessoas famintas. Concentramo-nos na escura sexta-feira da crucificação, e perdemos o brilhante domingo da ressurreição.
Mude sua focagem e relaxe.
E enquanto relaxa, mude sua agenda e descanse!
Outro dia minha esposa encontrou uma amiga num restaurante para um café. Ambas entraram no estacionamento ao mesmo tempo. Quando Denalyn desceu do carro, viu sua amiga acenando. Denalyn achou que ela estivesse falando alguma coisa, mas não podia ouvir uma palavra. Uma britadeira estava triturando o pavimento a apenas alguns passos dali. Ela caminhou até sua amiga, que, pelo jeito, estava somente dizendo oi, e ambas entraram no restaurante.
Na hora de sair, minha esposa não conseguia encontrar as chaves. Ela procurou na bolsa, no chão e no carro da amiga. Finalmente, ao entrar no próprio carro, lá estavam elas. Não apenas as chaves estavam na ignição, mas o carro estava ligado. Ele estivera ligado o tempo todo em que elas permaneceram no café.
Denalyn culpou o barulho pelo descuido. "Estava tudo tão barulhento, que me esqueci de desligá-lo".
O mundo faz assim. A vida pode ser tão barulhenta, que nos esquecemos de fechá-la. Talvez seja por isso que Deus tratou de forma tão enfática o descanso, nos Dez Mandamentos.
Já que você foi tão bem no exercício do ponto, deixe-me passar-lhe outro. Das dez declarações entalhadas nas tábuas, qual ocupa mais espaço? Assassinato? Adultério?
Roubo? Você achará que sim. Certamente, cada uma é merecedora de ampla cobertura. Porém, curiosamente, estes comandos são tributos à brevidade. Deus precisou apenas de duas palavras, no português, para condenar o adultério, bem como para denunciar o furto e o assassinato.
Mas quando chegou ao tópico do descanso, uma sentença não seria suficiente.
Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado e o santificou (Êx 20.8-11).
Deus nos conhece bem. Ele pode ver o dono do armazém lendo este versículo e pensando, "Alguém precisa trabalhar nesse dia. Se eu não posso, meu filho o fará".
Então Deus diz, Nem o teu filho. Então minha filha o fará". Nem a tua filha. "Bem, talvez um empregado. Nem eles. "Aposto como terei de mandar minha vaca cuidar da loja, ou talvez eu arranje algum estrangeiro para ajudar-me". Não, proíbe Deus. Um dia da semana você dirá não ao trabalho e sim à adoração. Você reduzirá o ritmo, sentar-se-á, e deitar-se-á, e descansará.
Ainda objetamos. "Mas... mas... mas... quem ficará na loja?" "E quanto às minhas notas?" "Tenho a minha cota de vendas". Apresentamos uma razão após a outra, porém Deus silencia todas elas com uma pujante lembrança: "Em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há, e ao sétimo dia descansou". A mensagem de Deus é clara: "Se a criação não se espatifou quando eu descansei, não se espatifará quando você o fizer".
Repita comigo estas palavras: Não é minha ocupação cuidar do mundo.
Cerca de dois séculos atrás, Charles Spurgeon deu este conselho aos seus aprendizes de pregador:
Até os burros de carga devem se virar para a grama ocasionalmente; o próprio mar faz uma pausa no fluxo e refluxo; a terra guarda o sábado dos meses de inverno; e o homem, mesmo quando elevado a embaixador de Deus, deve descansar ou desfalecer, deve atiçar o lume de sua lâmpada ou deixá-la apagar; deve recuperar seu vigor ou envelhecer prematuramente... Na longa caminhada, devemos nos empenhar para de vez em quando fazer menos.
O arco não pode estar sempre tenso sem temer quebrar.
Para um campo produzir frutos, ele deve ocasionalmente descansar sem cultivo. E para que você seja saudável, deve descansar. Diminua o ritmo, e Deus curará você. Ele trará descanso à sua mente, ao seu corpo, e, acima de tudo, à sua alma. Ele conduzirá você por verdes pastos.
Pastagens verdes não eram o relevo natural da Judéia.
Os montes à volta de Belém, onde Davi guardava o seu rebanho, não eram verdes e viçosos. Ainda hoje, eles são pálidos e tostados. Qualquer pasto verde na Judéia é trabalho de algum pastor. Ele limpou o terreno tosco e rochoso. Os tocos foram arrastados, e os galhos, queimados. Irrigação. Cultivo. Assim é o trabalho de um pastor.
Portanto, quando Davi diz: "Deitar-me faz em verdes pastos", está dizendo: "Meu pastor me faz deitar em seu trabalho terminado". Com suas próprias mãos furadas, Jesus criou um pasto para a alma. Ele arrancou a espinhosa vegetação rasteira da condenação. Desprendeu o imenso seixo de pecado. Em seu lugar, Ele plantou sementes de graça e cavou tanques de misericórdia.
E Ele nos convida a descansar lá. Pode você imaginar a satisfação no coração do pastor quando, com o trabalho terminado, vê suas ovelhas descansar no gramado tenro?
Pode você imaginar a satisfação no coração de Deus quando fazemos o mesmo? Suas pastagens são presentes dEle para nós. Não é um pasto que você tenha feito. Nem é um pasto que você mereça. É uma dádiva de Deus. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus" (Ef 2.8).
Em um mundo pedregoso, com uma humanidade falha, há uma terra viçosa com mercê divina. Seu Pastor o convida para lá. Ele quer que você se deite. Aninhe-se profundamente, até ficar escondido, enterrado, nos altos brotos do seu amor, e lá você achará descanso.
O Fardo da Preocupação
Guia-me mansamente a águas tranqüilas.
Salmos 23.2
Seu filho de dez anos está preocupado. Tão ansioso que não pode comer. Tão preocupado que não consegue dormir.
"O que há de errado?", pergunta você. Ele balança a cabeça e geme: "Eu ainda não tenho um plano de pensão".
Ou o seu filho de quatro anos está chorando na cama. "O que há de errado, querido?" Ele choraminga: "Eu nunca vou passar na faculdade de química".
O semblante de seu filho de oito anos está carregado de estresse. "Eu serei um pai imprestável. E se eu for um exemplo ineficiente para os meus filhos?"
Como você responderia a tais declarações? Além de chamar um psicólogo infantil, sua resposta seria enfática: "Você é jovem demais para se preocupar com estas coisas. Quando chegar a hora, você saberá o que fazer".
Felizmente, a maioria das crianças não tem estes pensamentos.
Infelizmente, nós adultos temos mais que a nossa parte. A preocupação é o fardo de aniagem da carga. Ele transborda com "E se" e "Como posso". "E se chover em meu casamento?" "Como posso saber quando disciplinar meus filhos?" "E se eu me casar com um sujeito que ronca?" "Como poderemos bancar a educação de nosso bebê?" "E se depois de toda a minha dieta, eles descobrirem que alface é engordativa, e chocolate não?"
O saco de estopa da preocupação. Incômodo. Grosso. Sem atrativos. Rangente. Difícil de manusear. Irritante de se carregar e impossível de se largar. Ninguém quer as suas preocupações.
Verdade seja dita, nem você as quer. Ninguém tem de lembrar-lhe o alto custo da ansiedade (Mas o farei de qualquer modo). A preocupação divide a mente. O termo bíblico para preocupação (merimnas) é um composto de duas palavras gregas: merizo, "divide", e nous, "a mente". A ansiedade reparte a nossa energia entre prioridades de hoje e problemas de amanhã. Parte de nossa mente está no agora; o restante está no ainda não. O resultado é meia mente vivendo.
E esta não é a única conseqüência. Preocupação não é uma doença, mas causa enfermidades. Ela tem sido associada à pressão alta, problemas cardíacos, cegueira, enxaquecas, mau funcionamento da tireóide, e inúmeras perturbações estomacais.
Ansiedade é um hábito dispendioso. Claro, poderia valer o custo, se funcionasse. Mas não funciona. Nossas inquietações são vãs. Jesus indagou: "E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?" (Mt 6.27). A preocupação nunca clareou um dia, nunca resolveu um problema, ou curou uma enfermidade.
Como pode alguém lidar com a ansiedade? Você pode experimentar o que fez um companheiro. Ele se preocupava tanto, que decidiu alugar alguém para preocupar-se por ele. Encontrou um homem que concordou em ser o seu empregado preocupador, por um salário de duzentos mil dólares por ano. Depois que o homem aceitou o trabalho, sua primeira pergunta ao patrão foi: "Onde você vai arranjar duzentos mil dólares por ano?" Ao que o homem respondeu: "Esta preocupação é sua".
Lamentavelmente, preocupação não é uma tarefa que você pode repassar a outrem. Contudo, você pode superá-la. E não há lugar melhor para começar que no verso dois do salmo do pastor.
"Guia-me mansamente a águas tranqüilas", declara Davi.
E, caso percamos o ponto, ele repete a frase no versículo seguinte: "guia-me pelas veredas da justiça".
"Guia-me". Deus não está atrás de mim gritando, "Vai!".
Ele está adiante de mim convidando, "Venha!". Ele está na frente, roçando o pasto, cortando o mato, mostrando o caminho. Chegando na curva, Ele dirige: "Vire aqui".
Antes da elevação, Ele gesticula: "Suba aqui". Parando perto das pedras, Ele adverte: "Cuidado para pisar aqui".
Ele nos guia. Ele nos diz o que precisamos saber, quando precisamos sabê-lo. Como afirmaria um escritor do Novo Testamento, "Encontraremos graça sempre que precisarmos de ajuda" (Hb 4.16, NTLH ênfase minha).
Ouça uma versão diferente: "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hb 4.16, ênfase minha).
A ajuda de Deus é oportuna. Ele nos ajuda do mesmo modo que um pai dá passagens de avião a sua família. Quando viajo com minhas filhas, carrego todas as nossas passagens em minha mochila. Na hora de embarcar, ponho-me entre o atendente e as meninas. A medida que cada uma passa, coloco a passagem em sua mão. Ela, por sua vez, a entrega ao atendente. Cada uma recebe a passagem no momento exato.
O que eu faço por minhas filhas Deus faz por você. Ele interpõe-se entre você e a necessidade. E na hora certa, dá-lhe a passagem. Não foi esta a promessa que Ele fez aos seus discípulos?
“Quando, pois, vos conduzirem para vos entregarem, não estejais solícitos de antemão pelo que haveis de dizer; mas o que vos for dado naquela hora, isso falai; porque não sois vós os que falais, mas o Espírito Santo” (Mc 13.11, ênfase minha).
Não é esta a mensagem dada por Deus aos filhos de Israel? Ele prometeu supri-los de maná a cada dia.
Aqueles que desobedeceram e colheram maná a cada dia.
Aqueles que desobedeceram e colheram maná para dois dias, acharam-se depois com maná apodrecido. A única exceção à regra era a véspera do sábado. Na sexta-feira, eles podiam colher o dobro. Por outro lado, Deus lhes daria o que eles necessitassem, na hora de sua necessidade.
Deus nos guia. Deus fará a coisa certa na hora certa. E que diferença isto faz.
Desde que sei que a sua provisão é oportuna, posso desfrutar o presente.
“Dê sua total atenção ao que Deus está fazendo agora, e não se preocupe com o que poderá ou não acontecer amanhã.
Deus ajudará você a lidar com qualquer dificuldade que surgir, quando chegar a hora” (Mt 6.34, traduzido da versão inglesa MSG).
Esta última frase é digna de seu marcador de texto:
“quando chegar a hora”.
Eu não sei o que faria se o meu marido morresse. Você saberá quando chegar a hora.
“Quando os meus filhos saírem de casa, penso que não suportarei”. Não será fácil, mas a força virá quando chegar a hora.
“Eu nunca poderia dirigir uma igreja. Há muita coisa que eu não sei”. Você pode estar certo. Ou você pode estar querendo saber tudo cedo demais. Não seria o caso de Deus lhe dar as respostas quando chegar a hora?
A chave é esta: Encontre os problemas de hoje com a força de hoje. Não comece a atacar os problemas de amanhã, até amanhã.
Você ainda não tem a força de amanhã. Você só tem o suficiente para hoje.
Mais de oitenta anos atrás, um grande canadense da medicina, Sir Willian Osler, pronunciou um discurso aos alunos da Universidade de Yale, intitulado “Um Modo de Vida”. Na mensagem ele relatou um acontecimento ocorrido quando ele se achava a bordo de um vapor.
Certo dia, quando estava conversando com o capitão do navio, ele ouviu soar um alarma agudo e estridente, seguido por sons estrepitosos e rangentes, abaixo do tombadilho. “São os nossos compartimentos à prova d’água se fechando”, explicou o capitão. “É uma parte importante de nossas manobras de segurança. Em caso de problema real, a água que flui para um compartimento não afetará o restante do navio. Mesmo se colidirmos com um iceberg, como fez o Titanic, a água que entrar encherá apenas aquele compartimento rompido. O navio, no entanto, continuará flutuando”.
Quando falou aos alunos de Yale, Osler recordou a descrição do navio feita pelo capitão:
Cada um de vocês é, certamente, uma organização muito mais maravilhosa que aquele grande vapor, e com destino a uma longa e distante viagem. Meu desejo é que você aprenda a dominar a sua vida, vivendo cada dia em um compartimento a prova de tempo, e isto certamente garantirá a sua segurança através de toda a jornada da vida. Toque um botão e ouça, em cada nível de sua vida, as portas de ferro se fechando sobre o Passado – os ontens mortos. Toque outro e feche, com uma cortina de metal, o Futuro – os amanhãs por nascer. Então você estará seguro – seguro por hoje.
Não pense no monte de coisas a serem feitas, nas dificuldades a serem vencidas, mas concentrem-se na pequena tarefa ao alcance de seu braço, deixando que ela seja suficiente para o dia; obviamente, o nosso dever não é cuidar do que está vagamente à distância, mas fazer o que está claramente à mão.
Jesus tratou da mesma coisa com menos palavras: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal" (Mt 6.34).
Fácil falar. Nem sempre é fácil fazer, certo? Somos demasiadamente propensos a nos preocupar. Justamente na noite passada estava me preocupando em meu sono. Sonhei que fora diagnosticado com ALS, uma doença degenerativa dos músculos, que levou a vida de meu pai. Despertei do sono e, bem no meio da noite, comecei a me preocupar.
Então as palavras de Jesus vieram-me à mente. "Não se preocupe com o amanhã". E por uma vez decidi não me preocupar. Arriei o saco de estopa. Afinal, por que deixar que os problemas imaginários do amanhã me roubassem o descanso da noite? Poderia eu prevenir a doença permanecendo acordado? Iria eu adiar a aflição por ficar pensando nela? Claro que não. Então fiz a coisa mais espiritual que poderia ter feito. Voltei a dormir.
Por que você não faz o mesmo? Deus está conduzindo você. Deixe até amanhã os problemas de amanhã.
Arthur Hays Sulzberger foi o editor do New York Times durante a Segunda Guerra Mundial. Por causa do conflito mundial, ele achava quase impossível dormir. Ele não foi capaz de banir de sua mente a preocupação, até adotar como lema estas cinco palavras: "Um passo basta a mim", tiradas do hino "Lead Kindly Light":
Guia, Luz amável...
Dirige Tu os meus pés
Não peço para ver a cena distante
Um passo basta a mim.
Nem Deus deixará você ver a cena distante. Então pode desistir de procurar por ela. Ele prometeu uma lâmpada para os nossos pés, não uma bola de cristal para o futuro.; Não precisamos saber o que acontecerá amanhã.
Precisamos saber apenas que Ele nos guia e que "acharemos graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno" (Hb 4.16).
O Fardo do Desespero
Refrigera a minha alma.
Salmos 23.3
Pergunto-me se você pode imaginar a si mesmo numa selva.
Uma densa selva. Uma selva escura. Seus amigos o convenceram de que era tempo para uma daquelas raras viagens da vida, e aqui está você. Você pagou a passagem.
Você cruzou o oceano. Você alugou o guia e juntou-se ao grupo. E você aventurou-se onde nunca antes se aventurara - no profundo e estranho mundo de uma selva.
Parece interessante? Vamos dar um passo adiante.
Imagine que você está na selva, perdido e sozinho. Você parou a fim de amarrar os cordões da bota, e quando levantou os olhos, não havia ninguém por perto. Você arriscou e foi para a direita; agora está se perguntando se os outros não foram para a esquerda (Ou você foi à esquerda, e eles à direita?).
De qualquer modo, você está sozinho. E você tem estado sozinho por... bem, você não sabe quanto tempo se passou.
Seu relógio estava na sua mochila, e a sua mochila estava nos ombros do gentil rapaz de Nova Jersey, que voluntariamente a segurou enquanto você amarrava as botas. Você não pretendia que ele a carregasse, mas ele o fez. E aqui está você, emperrado no meio de lugar nenhum.
Você tem um problema. Primeiro, você não foi feito para este lugar. Deixassem você num centro de avenidas e edifícios, e você poderia farejar o caminho de casa. Mas aqui, nestes altos blocos de folhagem? Aqui nestas trilhas escondidas por entre o mato? Você está fora de seu elemento. Você não foi feito para esta selva.
E o que é pior: você não está equipado. Você não tem facão. Não tem faca. Não tem fósforo. Não tem luz. Não tem comida. Você não está equipado, mas acha-se numa armadilha - e não tem a menor idéia de como sair.
Parece-lhe divertido? Nem para mim. Antes de prosseguir, façamos uma pausa e indaguemos como você se sentiria. Em tais circunstâncias, que emoções viriam à tona? Com que pensamentos você lutaria?
Medo? Claro que sim.
Ansiedade? No mínimo.
Raiva? Posso entender isto (Você gostaria de pôr as mãos naquela gente que o convenceu a fazer esta viagem).
Porém, acima de tudo, e quanto ao desespero? Nenhuma idéia de para onde se voltar. Nenhuma intuição do que fazer. Quem poderia culpar você por sentar-se num toco (melhor checar primeiro se não há cobras), enterrar o rosto nas mãos e pensar, Nunca sairei daqui? Você não possui direção, nem equipamento, nem esperança.
Você pode congelar esta emoção por um momento? Você pode perceber, por um segundo apenas, como é sentir-se fora de seu elemento? Sem soluções? Sem idéias ou energia? Você pode imaginar, apenas por um momento, como é se sentir sem esperanças?
Se você pode, poderá relacionar-se com muitas pessoas neste mundo.
Para muita gente, a vida é... bem, a vida é igual a uma selva. Não uma selva de árvores e feras. Fosse assim seria simples. Fosse assim, nossas selvas poderiam ser cortadas com um facão, e nossos adversários, capturados numa gaiola. No entanto, as nossas selvas compreendem as mais densas moitas de saúde enfraquecida, corações partidos, e carteiras vazias.
Nossas florestas são constituídas de paredes de hospital e tribunais de divórcio. Não escutamos o gorjear dos pássaros ou o rosnar dos leões, mas ouvimos as reclamações dos vizinhos e as exigências dos patrões.
Nossos predadores são os nossos credores, e os ramos que nos cercam são as agitações que nos exaurem.
Lá fora é uma selva.
E para alguns, mesmo para muitos, o suprimento de esperança é pequeno. O desespero é um fardo excedente. Ao contrário dos outros, ele não é cheio. É vazio, e a sua vacuidade produz o peso.
Abra o zíper e examine todos os bolsos. Vire de ponta cabeça e sacuda bem. O saco do desespero é dolorosamente vazio.
Não é um quadro muito bonito, é? Vamos ver se podemos clareá-lo mais. Já imaginamos as emoções de alguém perdido; acha que podemos fazer o mesmo com alguém resgatado? O que seria necessário para restaurar-lhe a esperança? O que você precisaria para reenergizar a sua jornada?
Embora as respostas sejam abundantes, três chegam rápido à mente.
A primeira seria uma pessoa. Não qualquer pessoa. Você não precisa de alguém igualmente confuso. Você precisa de alguém que conheça o caminho para fora. E dele você precisa de alguma visão. Você precisa de alguém que levante o seu ânimo. Você precisa de alguém que olhe nos seus olhos e diga: "Isto não é o fim. Não desista. Há um lugar melhor que este. E eu o conduzirei para lá".
E, talvez o mais importante, você precisa de direção.
Se você tem apenas uma pessoa, mas não uma visão renovada, tudo o que você tem é companhia. Se ele tem uma visão, mas não direção, você tem um sonhador por companhia. Porém se você tem uma pessoa com direção - que possa tirá-lo deste lugar para o lugar - ah, então você tem alguém que pode restaurar-lhe a esperança.
Ou, para usar as palavras de Davi, "Ele refrigera a minha alma".
Nosso Pastor é especialista em restaurar a esperança da alma. Seja você uma ovelha perdida na borda de um penhasco, ou um no atrapalhado, sozinho na selva espessa, tudo muda quando aparece o seu Salvador.
Sua solidão diminui, porque você tem companhia.
Seu desespero decresce, porque você tem visão.
Sua confusão começa a dissipar-se, porque você tem direção.
Note, por favor: você não deixou a selva. As árvores ainda eclipsam o céu, e os espinhos ainda arranham a pele. Os animais espreitam e os roedores correm. A selva ainda é uma selva. Ela não mudou, mas você sim. Você mudou porque você tem esperança. E você tem esperança porque encontrou alguém que pode guiá-lo para fora.
Seu Pastor sabe que você não foi feito para este lugar.
Então Ele veio a fim de conduzi-lo para fora.
Ele veio para refrigerar-lhe a alma. Ele é a pessoa perfeita para fazê-lo.
Ele tem a visão correta. Ele o lembra de que você é "como peregrinos e forasteiros neste mundo" (1 Pe 2.11).
E Ele insiste para que você levante os olhos da selva à sua volta para o céu de você."Não prossiga arrastando-se com os olhos no chão, absorvido com as coisas à sua frente. Olhe para cima, e esteja alerto às coisas à roda de Cristo... Veja as coisas da perspectiva dele (Cl 3.2, traduzido da MSG).
Davi disse o mesmo deste modo:"Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do senhor, que fez o céu e a terra. Não deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não tosquenejará. Eis que não tosquenejará nem dormirá o guarda de Israel. O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia, nem a lua, de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; ele guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre" (Sl 121.1-8).
Deus, o nosso libertador, tem a visão correta. Ele possui também a direção certa. Ele fez a mais audaciosa reivindicação da história do homem quando declarou: "Eu sou o caminho" (Jo 14.6). As pessoas se perguntam se a reivindicação é exata. Ele responde a indagação abrindo um caminho através da vegetação rasteira do pecado e da morte, e... escapando vivo. Ele é o único que já fez isto. E é o único que pode ajudar você e eu a fazermos o mesmo.
Ele tem a visão correta: Ele avistou a pátria. Ele possui a direção certa: Ele abriu o caminho. Porém, acima de tudo, Ele é a pessoa certa, porque Ele é o nosso Deus.
Quem melhor conhece a selva senão aquEle que a criou? E quem conhece as armadilhas do caminho melhor que aquEle que já o trilhou?
Conta-se a história de um homem num safari, na densa selva africana. O guia adiante dele possuía um facão e ia cortando a vegetação alta e espessa. O viajante, cansado e bravo, perguntou frustrado: "Onde estamos? Você sabe aonde está me levando? Cadê o caminho?" O experimentado guia parou, olhou para trás e respondeu: "Eu sou o caminho".
Indagamos a mesma coisa, não? Perguntamos para Deus:"Para onde estás me levando? Cadê o caminho?" E Ele, como o guia, não nos conta. Oh, Ele pode dar-nos uma sugestão ou duas, mas tudo. Se Ele o fizesse, entenderíamos?
Compreenderíamos situação? Não, assim como o viajante, somos alheios à selva. Então, em vez de dar-nos uma resposta, Jesus nos dá uma dádiva muito maior. Dá-nos a si mesmo.
Ele remove a selva? Não, a vegetação ainda é cerrada.
Ele elimina os predadores? Não, o perigo ainda espreita.
Jesus não dá esperança mudando a selva; Ele restaura nossa esperança dando-nos a si próprio. E Ele prometeu estar conosco até o fim. "Eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28.20).
Precisamos deste lembrete. Todos precisamos. Pois todos carecemos de esperança.
Alguns de vocês não precisam dela exatamente agora. Sua selva tornou-se uma campina, e sua viagem, um deleite. Se este é o seu caso, parabéns. Mas lembre-se: não sabemos o que o amanhã retém. Não sabemos aonde vai dar esta estrada. Você pode estar à curva de um cemitério, do leito de um hospital, de uma casa vazia. Você pode estar na curva da estrada para uma selva.
E embora você não necessite ter a sua esperança restaurada hoje, poderá necessitar amanhã. E você precisa saber para quem se voltar.
Ou talvez você precise hoje mesmo. Você sabe que não foi feito para este lugar. Você sabe que não está equipado. Você quer alguém que o tire daí.
Se assim é, chame por seu Pastor. Ele conhece a sua voz, e está apenas esperando por seu pedido.
O Fardo da Culpa
Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
Salmos 23.3
Um amigo organizou uma troca de biscoitos de natal para o staff de nossa igreja. O plano era simples. O preço da admissão era uma bandeja de biscoitos. Sua bandeja autorizava você a pegar biscoitos de outras bandejas.
Você podia sair com tantos biscoitos quanto houvesse trazido.
Parece simples, se você sabe cozinhar. Mas e se você não sabe? E se, igual a mim, você é culinariamente desafiado? E se você se sente tão à vontade num avental quanto um fisiculturista numa roupa de bailarina? Se este é o caso, você tem um problema.
Este era o caso, e eu tinha um problema. Não tinha biscoitos para trazer; conseqüentemente, não teria lugar na festa. Seria deixado de fora, mandado embora, evitado, afastado, rejeitado. (Você sente por mim?)
Esta era a minha condição.
E, perdoe-me trazer isto à tona, mas a sua situação é até pior.
Deus está planejando uma festa - uma festa para festa nenhuma botar defeito. Não uma festinha de biscoitos, mas um banquete. Não risadinhas e bate-papo na sala de conferências, mas olhos arregalados de admiração na sala do trono de Deus.
Sim, a lista de convidados é impressionante. Sua pergunta para Jonas, sobre como é sofrer nas entranhas de um peixe?Você poderá interrogá-lo. Porém mais impressionante que os nomes dos convidados é a natureza deles. Nada de egos, nada de poderio.
Culpa, vergonha e tristeza serão detidas no portão.
Doenças, morte e depressão serão a Peste Negra de um passado distante. O que hoje vemos diariamente, lá, nunca mais veremos.
E o que hoje enxergamos de modo vago, lá, enxergaremos claramente. Veremos a Deus. Não pela fé. Não através dos olhos de Moisés, ou de Abraão, ou de Davi. Não por meio das Escrituras, ou do pôr-do-sol, ou das chuvas de verão.
Veremos não o trabalho ou as palavras de Deus, mas Ele mesmo! Ele não é o anfitrião da festa; Ele é a própria festa. A sua bondade é o banquete. A sua voz, a música. O seu resplendor é a luz, e o seu amor, o tema infinito da discussão.
Há apenas um empecilho. O preço da admissão é um tanto alto. Para comparecer à festa, você precisa ser justo.
Não bom. Não decente. Não um contribuinte ou um devoto.
Os cidadãos do céu são justos. R-e-t-o-s.
Todos nós, ocasionalmente, fazemos o que é certo. Uns poucos fazem, predominantemente, o que é certo. Mas, algum de nós faz sempre o que é certo? De acordo com Paulo, não. "Não há um justo, nem um sequer" (Rm 3.10). Paulo é duro quanto a isto. Ele continua dizendo, "Não há quem faça o bem, não há nem um só" (Rm 3.12).
Alguém pode discordar. "Não sou perfeito, Max, mas sou melhor que a maioria.Tenho me portado bem. Não quebro as regras. Não parto corações. Ajudo as pessoas. Gosto das pessoas. Comparado a outros, acho que posso dizer que sou uma pessoa justa".
Eu costumava tentar isto com minha mãe. Ela me dizia que o meu quarto não estava limpo, e eu lhe pedia para vir comigo ao quarto do meu irmão. O dele estava sempre mais bagunçado que o meu. "Veja, meu quarto está limpo; dê uma olhada neste".
Nunca funcionava. Ela me levava para o quarto dela. Em se tratando de arrumar aposentos, minha mãe era justa.
Seu armário era perfeito. Sua cama era perfeita. Seu banheiro era perfeito. Comparado ao dela, meu quarto era... bem, totalmente errado. Ela me mostrava seus aposentos e dizia: "E isto o que eu chamo de limpo".
Deus faz o mesmo. Ele aponta para si mesmo e diz: "É isto o que eu chamo de retidão".
Retidão é o que Deus é.
"...pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo" 2 Pe 1.1).
"Deus é um juiz justo" (Sl 7.11).
"O Senhor é justo e ama a justiça" (Sl 11.7).
A justiça de Deus "permanece para sempre" (Sl 112.3) e
"está muito alta" (Sl 71.19).
Isaías descreve Deus como "Deus justo e Salvador" (Is 45.21).
Na véspera de sua morte, Jesus começou sua oração com as palavras: "Pai justo" (Jo 17.25).
Chegou ao ponto? Deus é justo. Seus decretos são justos Rm 2.5). Suas exigências são justas (Rm 8.4). Seus atos são justos (Dn 9.16). Daniel declarou: "Justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as suas obras, que fez" (Dn 9.14).
Deus nunca é injusto. Ele nunca se entregou a uma decisão errada, experimentou a atitude errada, deu o passo errado, disse a coisa errada, ou agiu do modo errado. Ele nunca está atrasado ou adiantado demais, nunca é demasiadamente barulhento ou suave, rápido ou lento. Ele sempre esteve e sempre estará certo. Ele é reto.
Quando se trata de retidão, Deus percorre a mesa como um lance de tabela. E quando se trata de retidão, não sabemos qual extremidade do taco segurar. Daí, a nossa condição.
Iria Deus, que é justo, passar a eternidade com aqueles que não o são? Iria Harvard admitir um desistente da terceira série? Se o fizesse, o gesto poderia ser benevolente, mas não seria justo. Se Deus aceitasse o injusto, o convite seria ainda mais amável, mas estaria Ele sendo correto? Seria Ele justo por deixar passar nossos pecados? Baixar o seu padrão? Não. Ele não seria justo. E uma coisa que Deus é: justo.
Ele afirmou a Isaías que a justiça seria o seu prumo, o padrão pelo qual a sua casa seria medida (Is 28.17). Se somos injustos, então seremos deixados na entrada, sem biscoitos. Ou, para usar a analogia de Paulo, "e todo o mundo seja condenável diante de Deus" (Rm 3.19). Então, o que vamos fazer?
Carregar um fardo de culpa? Muitos o fazem. Muitos mesmo.
E se a nossa bagagem espiritual fosse visível? Suponha que a bagagem de nosso coração fosse literalmente vista pelas ruas. Sabe o que mais veríamos? Malas de culpas.
Bolsas estufadas com bebedeiras, explosões, e compromissos. Olhe à sua volta. O camarada com o terno de lã cinza? Está arrastando uma década de pesares.
O menino de calça jeans e argola no nariz? Daria qualquer coisa para retirar as palavras que disse à mãe. Mas não pode. Então ele as reboca adiante. A mulher num tailleur executivo? Parece que ela poderia concorrer para senadora. Ela preferiria correr por socorro, mas não pode correr por nada. Não arrastando aquela mala de remorso onde quer que vá.
Ouça. O peso do cansaço abate você. A autoconfiança desencaminha você. Os desapontamentos desencorajam você.
A ansiedade contamina você. A culpa? A culpa consome você.
Então, o que fazemos? Nosso Deus é correto, e nós somos errados. Sua festa é para os inocentes, e estamos longe disso. O que fazemos?
Posso contar-lhe o que fiz. Confessei minha necessidade. Lembra-se do meu dilema sobre os biscoitos? Veja o e-mail que enviei a todo o staff: "Não sei cozinhar, por isso não poderei estar na festa".
Alguma das assistentes teve piedade de mim? Não.
Alguém do staff teve pena de mim? Não.
Alguém da Suprema Corte da justiça teve misericórdia de mim? Não.
Porém, uma piedosa irmã da igreja teve compaixão de mim.
Como ela soube do meu problema, eu não sei.Talvez meu nome achou seu caminho numa lista de oração. O que sei é que momentos antes da celebração, estavam me entregando um presente, um prato de biscoitos, doze círculos de bondade.
E em virtude daquele presente, fui privilegiado com um lugar na festa.
Se eu fui? Pode apostar seus biscoitos que sim. Como um príncipe carregando uma coroa numa almofada, carreguei o meu presente para dentro da sala, coloquei-o na mesa e fiquei de cabeça erguida. Porque uma boa alma ouviu o meu apelo, foi-me dado um lugar à mesa.
E porque Deus ouve o seu apelo, ser-lhe-á dado o mesmo.
Só que Ele faz mais - oh, muito mais - que assar biscoitos para você.
Foi, ao mesmo tempo, o momento mais belo e o mais horrível da história. Jesus de pé, no tribunal do céu.
Passando a mão sobre toda a criação, Ele defendeu:
"Puna a mim pelos seus erros. Vê o assassino? Dê-me a sua pena. A adúltera? Eu levarei a sua vergonha. O fanático, o mentiroso, o ladrão? Faça a mim o que farias a eles. Trate-me como tratarias um pecador".
E Deus o fez. "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (1 Pe 3.18).
Sim, reto é o que Deus é, e, sim, reto é o que nós não somos, e, sim, retidão é o que Deus requer. Mas,"agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus" (Rm 3.21).
Davi disse o mesmo desta forma: "Guia-me pelas veredas da justiça" (Sl 23.3).
A vereda da justiça é uma trilha estreita, sinuosa, subindo um monte íngreme. No cume do monte há uma cruz.
Ao pé da cruz estão os fardos. Incontáveis fardos cheios de inumeráveis pecados. O calvário é um monte composto de culpas. Gostaria de levar a sua para lá também?
Um último pensamento sobre a festa do biscoito natalina. Todos sabiam que eu não fazia biscoitos? Se não sabiam, eu lhes contei. Contei-lhes que estava presente em virtude do trabalho de outra pessoa. Minha única contribuição foi a minha própria confissão.
Estaremos dizendo o mesmo por toda a eternidade.
O Fardo da Arrogância
Por amor do seu nome...
Salmos 23.3
A humildade é de certo modo uma virtude enganosa. Às vezes você pensa que a possui, e não possui, ou acha que não a tem, e tem. Já ouviu a história do menino que recebeu o distintivo de "O Mais Humilde", e este lhe foi tirado porque ele o usou?
Algo semelhante aconteceu-me outro dia mesmo. Eu me retirara para uma cidade próxima a fim de trabalhar neste livro. O povoado era um perfeito refúgio: singular, sossegado, e tinha excelente comida.
Eu tinha ido a um bar para tomar o café da manhã, quando percebi que as pessoas estavam me fitando.
Enquanto estacionava, dois camaradas se voltaram e olharam em minha direção. Uma mulher fez uma tomada dupla quando entrei, e vários clientes levantaram a cabeça à minha passagem. Quando tomei assento, a garçonete entregou-me um menu, mas não sem antes estudar-me demoradamente.
Por que a atenção? Após algumas cogitações, tomei uma posição madura e admiti que eles me haviam reconhecido das capas de meus livros. Ora, esta deve ser uma cidade de leitores. E, dei de ombros, eles conhecem um bom autor quando vêem um. Minha apreciação pelo local apenas aumentou.
Dando um sorriso para as pessoas das outras mesas, preparei-me para tomar minha refeição. Quando me encaminhei para o caixa, as cabeças se voltaram novamente. Estou certo de que Steinbeck tinha o mesmo problema. A mulher que recebeu o meu dinheiro começou a dizer algo, mas então parou. Encabulada, conjeturei.
Foi apenas quando parei no banheiro que vi o real motivo de tanta atenção - a risca de sangue seco em meu queixo. Meu curativo para corte de barbeador não funcionara, e eu saíra com a minha barbela de peru. Tanto mais por me sentir famoso.
Eles provavelmente acharam que eu era um foragido de uma prisão do Texas.
Oh, as coisas que Deus faz para manter-nos humildes...
Ele o faz para o nosso bem, você sabe. Você poria uma sela nas costas de seu filho de cinco anos? Iria Deus sobrecarregar você com arrogância? De jeito nenhum.
Esta é uma peça da bagagem que Deus odeia. Ele não antipatiza com a arrogância. Ele não desaprova a arrogância. Ele não é desfavorável à arrogância. Deus odeia a arrogância. O que uma refeição de larvas causa ao nosso estômago, o orgulho humano causa ao de Deus.
"A soberba e a arrogância aborreço" (Pv 8.13).
"Abominação é para o Senhor todo altivo de coração" (Pv 16.5).
Deus ordena: "Nada façais por vanglória" (Fp 2.3).
E, "Não multipliqueis palavras de altíssima altivez" (1 Sm 2.3). E do mesmo modo que concede graça ao humilde, "Deus resiste aos soberbos" (1 Pe 5.5). Enquanto a humildade vai adiante da honra,"a soberba precede a ruína" (Pv 16.18).
Indagamo-nos todos por que as igrejas são cheias de poder em uma geração, e vazias na outra. Talvez a resposta se encontre em Provérbios 15.25: "O Senhor arrancará a casa dos soberbos".
Deus odeia a arrogância. Ele odeia a arrogância porque não temos feito coisa alguma pela qual sermos arrogantes.
O crítico de artes confere prêmios à tela? Há um Pulitzer para a tinta? Você pode imaginar um bisturi se tornando presunçoso após um bem sucedido transplante de coração? Claro que não. Eles são apenas ferramentas, por isso não recebem crédito pelas realizações.
E a mensagem do Salmo 23 é que também não temos nada pelo que nos orgulhar. Temos descanso, salvação, bênçãos, e um lar no céu - e não fizemos nada para merecer qualquer uma destas coisas. Quem fez? Quem fez o trabalho? A resposta enfileira-se pelo Salmo 23 como um fio de seda através das pérolas.
"Ele me faz..."
"Ele me guia..."
"Ele refrigera a minha alma..."
"Tu estás comigo..."
"A tua vara e o teu cajado me consolam..."
"Preparas uma mesa..."
"Unges a minha cabeça..."
Podemos ser a tela, o papel, ou o bisturi, mas não somos quem merece os aplausos. E, apenas para certificar de que entendemos o ponto, bem no meio do poema, Davi declara quem os merece. O pastor guia suas ovelhas, não por amor de nossos nomes, mas "por amor do seu nome".
Por que Deus tem algo a fazer conosco? Por amor do seu nome. Nenhum outro nome em cartaz. Nenhum outro nome em destaque. Nenhum outro nome na primeira página.Tudo é feito para a glória de Deus.
Por que? Qual é a grande jogada? Deus tem um problema de ego?
Não, mas nós, sim. Somos quase tão responsáveis com os aplausos quanto eu fui com o bolo que ganhei no primeiro grau. No grande final da competição musical, advinha quem se sentou? E advinha o que o menininho ruivo de rosto sardento ganhou? Um fofo e úmido bolo de coco. E advinha o que o menino queria fazer naquela noite? Comer o bolo todo. Não apenas metade dele.
Não um pedaço dele. Todo ele! Afinal, eu o tinha ganhado.
Mas você sabe o que os meus pais fizeram? Racionaram o bolo. Deram-me apenas o que eu podia segurar. Sabendo que a forra de hoje é a dor de barriga de amanhã, eles asseguraram que eu não adoecesse em meu sucesso.
Deus faz o mesmo. Ele pega o bolo. Ele pega o crédito, não porque precise dele, mas porque sabe que não podemos lidar com ele. Não nos contentamos com um pouco de adulação; nossa tendência é engolir toda ela. A exaltação aumenta a nossa cabeça e encolhe o nosso cérebro, e logo começamos a pensar que temos algo a ver com a nossa sobrevivência. Bem rápido nos esquecemos de que fomos feitos do pó, e resgatados do pecado.
Logo começamos a orar como o companheiro na reunião do partido político religioso: "Deus, obrigado porque no mundo há pessoas como eu. O homem da esquina carece de assistência social - eu não. A prostituta da rua tem AIDS - eu não. O bêbado no bar necessita de álcool - eu não. A convenção dos gays precisa de moralidade - eu não. Te agradeço porque no mundo há pessoas como eu".
Afortunadamente, havia um homem na mesma reunião que desviara todo o aplauso. Contrito demais até para levantar os olhos ao céu, ele curvou-se e orou:
"Deus, tenha misericórdia de mim, pecador. Como o meu irmão depende da previdência social, eu dependo da tua graça.
Como a minha irmã com AIDS, estou infectado com enganos.
Como o meu irmão que bebe, preciso de algo que me alivie a dor.
E assim como Tu amas e dás direção ao gay, concede-me o mesmo.
Tenha misericórdia de mim, pecador".
Após contar uma história semelhante a esta, Jesus declarou: "Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado" (Lc 18.14).
Com a mesma intensidade com que odeia a arrogância, Deus ama a humildade. O mesmo Jesus que disse: "Sou manso e humilde de coração" (Mt 11.29), ama aqueles que são mansos e humildes de coração. "Ainda que o Senhor é excelso, atenta para o humilde" (Sl 138.6). Deus afirmou: "Habito com o contrito e abatido" (Is 57.15). Ele também disse: "Eis para quem olharei: para o pobre e abatido de espírito" (Is 66.2). E aos humildes, Deus dá grandes tesouros:
Ele dá honra: "Diante da honra vai a humildade".
Ele dá sabedoria:"Com os humildes está a sabedoria" (Pv 11.2)
Ele dá direção: "Aos mansos ensinará o seu caminho" (Sl 25.9).
E o mais importante, Ele dá graça: "Deus dá graça ao humilde" (1 Pe 5.5).
E esta segurança: "Ele adornará os mansos com a salvação" (Sl 149.4).
O apóstolo Paulo foi salvo através de uma visita pessoal de Jesus. Ele foi levado até o céu e tinha poder para ressuscitar mortos, mas quando se apresentava a si mesmo, não mencionava nada disso. Ele simplesmente dizia: "Paulo, servo de Deus" (Tt 1.1).
João batista era parente sanguíneo de Jesus e foi o primeiro evangelista da história. Contudo, ele é lembrado nas Escrituras como aquele que decidiu: "E necessário que ele cresça e que eu diminua" (Jo 3.30).
Deus ama a humildade. Seria esta a razão de Ele oferecer tantas dicas para cultivá-la? Posso... hãhã... humildemente, falar um pouco?
1. Avalie-se a si mesmo honestamente. Humildade não é o mesmo que baixa auto-estima. Ser humilde não significa você achar que não tem nada a oferecer; significa que você sabe exatamente o que tem a oferecer, e não mais. "... que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um" (Rm 12.3).
2. Não leve o sucesso tão a sério. A Escritura faz esta advertência: "E se acrescentar a prata e ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, não se eleve o teu coração e te esqueças do teu Deus" (Dt 8.13,14).
Neutralize este orgulho com a lembrança da brevidade da vida e da fragilidade da riqueza.
Considere o seu sucesso e conte o seu dinheiro num cemitério, e lembre-se que nenhum dos dois será enterrado com você. "Como saiu do ventre de sua mãe, assim nu voltará, indo-se como veio; e nada tomará do seu trabalho que possa levar na sua mão" (Ec 5.15). Vi um lembrete desses num cemitério.
Estacionado perto da entrada estava um belo barco de recreação com a placa "Vende-se". Você ficaria admirado se o pescador compreendesse que não poderia levá-lo com ele.
3. Celebre a importância dos outros."Cada um considere os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3). O colunista Rick Reilly deu aos atletas profissionais novatos o seguinte conselho: "Pare de bater no peito. Na linha bloqueada, o zagueiro lança você numa perfeita espiral enquanto a cabeça dele pára, e o bom receptor bate a dupla cobertura. Suplante a si mesmo".
A verdade é que cada aterrissagem na vida é uma conquista da equipe. Aplauda seus companheiros de equipe.
Um aluno da escola primária chegou do teste que fizera para a peça da escola, anunciando: "Mamãe, mamãe, ganhei um papel. Fui escolhido para sentar na audiência, e aplaudir e dar vivas!" Quando você tem a chance de aplaudir e ovacionar, você o faz? Se o faz, a sua cabeça está começando a se ajustar ao tamanho do seu chapéu.
4. Não demande o seu próprio lugar. Esta foi a instrução de Jesus aos discípulos: "Assenta-te no derradeiro lugar, para que quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, assenta-te mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa" (Lc 14.10).
Exigir deferência é como caçar uma borboleta. Persiga-a, e nunca a alcançará. Sente-se quieto, e ela poderá pousar em seu ombro. O filósofo francês Blaise Pascal indagou: "Você quer que as pessoas falem bem de você? Então nunca fale bem de si mesmo". Talvez seja o que a Bíblia diz: "Louve-te o estranho, e não a tua boca" (Pv 27.2).
5. Nunca anuncie o seu sucesso antes que ele aconteça.
Ou, como disse um dos reis de Israel, "Não se gabe quem se cinge como aquele que se descinge" (1 Rs 20.11).
Charles Spurgeon treinou muitos jovens ministros. Numa ocasião, um aluno subiu para pregar, cheio de confiança, mas falhou miseravelmente. Ele desceu manso e humilde. Spurgeon asseverou-lhe: "Se você tivesse subido como desceu, teria descido como subiu".' Se a humildade precede um evento, então a confiança poderá segui-lo.
6. Fale humildemente. "Não multipliqueis palavras de altíssima altivez" (1 Sm 2.3). Não seja emproado. As pessoas não estão impressionadas com as suas opiniões.
Aprenda com Benjamin Franklin.
Desenvolvi o hábito de expressar-me em termos de modesta falta de confiança, nunca usando, quando antecipo que alguma coisa pode ser disputada, as palavras certamente, indubitavelmente, ou outras que dão o ar de positividade a uma opinião; antes, digo: eu imagino, eu sinto que determinada coisa pode ser assim e assim... Acredito que este hábito me tem sido muito vantajoso.
E pode ser muito vantajoso para nós também.
Um último pensamento para promover a humildade.
Viva ao pé da cruz. Paulo afirmou: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo".
Você sente necessidade de afirmação? Sua auto-estima carece de atenção? Você não precisa apresentar nomes ou exibir-se. Você necessita apenas de uma pausa ao pé da cruz, e de ser lembrado disso: O criador das estrelas preferiu morrer por você, a sem você. E isto é fato. Então, se você precisa gabar-se, gabe-se disso.
E, de vez em quando, examine o seu queixo.
O Fardo do Túmulo
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Salmos 23.4
Verão na antiga Palestina. Um bando de carneiros, de cabeças balouçantes, segue o pastor para fora do portão.
A crista do sol mal apareceu no horizonte, e ele já conduz o seu rebanho. Como todos os outros dias, ele os guia através do portão e os leva para os campos. Porém, diferente da maioria dos outros dias, o pastor não voltará para casa à noite. Ele não descansará em sua cama, e as ovelhas não dormirão em seu piquete cercado. É o dia de o pastor levar as ovelhas para o campo alto.
Hoje, ele encaminha o seu rebanho para as montanhas.
Ele não tem outra escolha. O pastoreio da primavera deixou os seus pastos tosados, por isso ele precisa procurar novos campos. Sem outra companhia, que não as ovelhas, e sem outro anelo, que não o bem-estar delas, ele as guia para os espessos gramados das encostas. O pastor e o seu rebanho ir-se-ão por semanas, talvez meses. Ficarão lá até o outono; até que a grama se acabe e o frio se torne insuportável.
Nem todos os pastores fazem esta jornada. A caminhada é longa. A vereda é perigosa. Plantas venenosas podem intoxicar o rebanho. Animais selvagens podem atacar o rebanho. Existem trilhas estreitas e vales escuros.
Alguns pastores preferem a segurança dos pastos estéreis, embaixo.
Mas o bom pastor não. Ele conhece o caminho. Ele palmilhou esta trilha muitas vezes. Além do mais, ele está preparado. Vara na mão e cajado preso ao cinto. Com a vara, ele tangerá o rebanho. o cajado, ele o protegerá e guiará. Ele o conduzirá para as montanhas.
Davi compreendia esta peregrinação anual. Antes de comandar Israel, ele comandou ovelhas. Poderia o seu tempo como pastor a inspiração por trás deste que é um dos mais importantes versículos da Bíblia? "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam" (Sl 23.4).
Porque o que o pastor faz com o rebanho, o nosso Pastor fará conosco. Ele nos conduzirá aos campos elevados.
Quando os pastos estiverem tosados aqui embaixo, Deus nos levará lá para cima. Ele nos guiará através do portão, para fora das terras rentes, e subirá a trilha da montanha.
Como um pastor escreveu:
Toda montanha tem seus vales. Suas encostas são marcadas por profundas ravinas e sulcos. E a melhor rota para o topo é sempre através destes vales.
Qualquer pastor acostumado aos campos altos sabe disso.
Ele guia o seu rebanho de modo gentil, porém persistente, pela trilha que sobe sinuosa através dos vales sombrios.
Algum dia, nosso Pastor fará o mesmo conosco. Ele nos levará para a montanha pelo caminho do vale. Ele nos guiará para a sua casa através do vale da sombra da morte.
Muitos anos atrás, quando eu morava em Miami, recebemos no escritório da igreja um telefonema de uma casa funerária próxima. Um homem havia identificado o corpo de um indigente como sendo seu irmão, e queria um culto memorial. Ele não conhecia nenhum ministro na região.
Poderia eu dizer algumas palavras? O ministro sênior e eu concordamos. Quando chegamos, o irmão do falecido havia selecionado um texto numa Bíblia em espanhol: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam" (Sl 23.4).
Ele precisava assegurar-se de que, embora seu irmão tivesse vivido sozinho, não morrera só. E buscando esta segurança, voltou-se para este versículo. Você tem, igualmente, feito o mesmo.
Se você já assistiu a um culto fúnebre, já ouviu estas palavras.
Se você já caminhou pelo cemitério, já leu estas palavras. Elas são citadas nas sepulturas dos indigentes; entalhadas nas lápides dos reis. Gente que não conhece nada da Bíblia conhece esta parte dela. Gente que não cita as Escrituras recorda este trecho, este versículo sobre vale, sombra e pastor.
Por que? Por que estas palavras são tão estimadas? Por que este verso é tão amado? Posso pensar num par de razões. Em virtude deste salmo, Davi concede-nos dois lembretes que podem ajudar-nos a perder o medo da sepultura.
Todos já o enfrentamos. Numa vida assinalada por hora marcada com o médico, hora marcada com o dentista, hora marcada com a escola, não está marcada, para nenhum de nós, a hora em que vamos faltar; não há hora marcada com a morte. "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo" (Hb 9.27). Oh, como gostaríamos de mudar este verso. Apenas uma ou duas palavras seriam suficientes. "A quase todos está ordenado morrer..." ou "A todos, menos a mim, está ordenado morrer..." ou "A todos os que esquecerem de se alimentar direito e de tomar vitaminas está ordenado morrer...". Mas estas não são palavras de Deus. Em seu plano, todos devem morrer, mesmo aqueles que são corretos e tomam as suas vitaminas.
Eu poderia ter passado o dia todo sem lembrar você disso. Fazemos possível para evitar o tópico. Um homem sábio, porém, insiste que o enfrentemos honestamente:
"Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque ali se vê o fim de todos os homens; e os vivos o aplicam ao seu coração" (Ec 7.2). Salomão não estava promovendo uma mórbida obsessão pela morte. Ele estava nos lembrando de sermos honestos quanto ao inevitável.
Moisés fez a mesma exortação. No único salmo atribuído à sua pena, ele orou: "A duração da nossa vida é de setenta anos... Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos coração sábio" (Sl 90.10,12).
O sábio se lembra da brevidade da vida. Exercícios podem obter-nos um pouco mais de batidas do coração. A medicina pode dar-nos um pouco mais de respiração. Mas no fim, há um fim. E a melhor maneira de enfrentar a vida é ser honesto quanto à morte.
Davi era. Ele pode ter matado Golias, mas não tinha ilusões quanto a evitar o gigante da morte. E, embora o seu primeiro lembrete nos torne moderados, o segundo nos encoraja: Não temos de enfrentar a morte sozinhos.
Não perca a mudança no vocabulário de Davi. Até este ponto, e eu temos sido os ouvintes, e Deus, o assunto. "O Senhor é meu pastor". "Ele me faz deitar". "Ele guia-me mansamente às águas tranqüilas". "Ele restaura a minha alma". "Ele guia-me pelas veredas da justiça". Nos três primeiros versos, Davi nos fala, e Deus escuta.
De repente, porém, no verso quatro, Davi fala com Deus, e nós ouvimos. É como se a face de Davi, que estava sobre nós, agora se voltasse para Deus. Seu poema torna-se uma oração. Em vez de falar conosco, ele fala com o Bom Pastor. "Tu estás comigo; a tua Vara e o teu cajado me consolam".
A mensagem subentendida de Davi é sutil, porém crucial.
Não enfrente a morte sem enfrentar Deus. Nem mesmo fale da morte, sem falar com Deus. Ele, e apenas Ele, pode guiá-lo através do vale. Outros podem especular ou aspirar, contudo, apenas Deus conhece o caminho para levá-lo ao lar. E apenas Deus está comprometido em levar você para lá, em segurança.
Anos depois de Davi haver escrito estes versos, outro pastor de Belém diria: "Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também" (Jo 14.2,3).
Note a promessa de Jesus. "Virei outra vez e vos levarei para mim mesmo". Ele empenha-se em levar-nos ao lar. Ele não delega esta incumbência. Ele envia missionários para ensinar você, manda anjos para proteger você, professores para guiar você, cantores para inspirar você, mas não manda ninguém para levar você. Ele reserva esta tarefa a si próprio. "Eu voltarei e levarei você para casa". Ele é o seu Pastor pessoal. E Ele é responsável, pessoalmente, em conduzir você ao lar. E porque Ele está presente quando qualquer uma de suas ovelhas morre, você pode dizer o que Davi disse: "Não temerei mal algum".
Quando minhas filhas eram mais novas, desfrutamos de muitas tardes divertidas na piscina. Como todos nós, elas tiveram de superar seus temores a fim de nadar. Um dos últimos medos que elas tiveram de enfrentar foi o medo da profundidade. Uma coisa é nadar na superfície, outra coisa é mergulhar fundo. Quero dizer, quem sabe que espécies de dragões e serpentes habitam as profundezas de uma piscina de dois metros e meio? Você e eu sabemos que não há nada a temer, mas uma criança de seis anos não sabe. Uma criança sente a respeito da profundidade o mesmo que você e eu sentimos a respeito da morte. Não estamos certos e nos espera lá embaixo.
Eu não queria que minhas filhas tivessem medo da profundidade, então eu brincava, com cada uma delas, de Shamu, a baleia. Minha filha era a treinadora. Eu era Shamu. Ela apertava o nariz e passava o braço em volta do meu pescoço. Então afundávamos. Afundávamos, afundávamos, afundávamos até poder tocar o fundo da piscina. Então explodíamos, rompendo à tona. Após vários mergulhos, elas compreenderam que não tinham nada a temer. Nenhum mal.
Por quê? Porque eu estava com elas.
E quando Deus nos chamar para dentro do profundo vale da morte. Ele estará conosco. Ousaríamos pensar que Ele nos abandonaria no momento da morte? Iria um pai forçar seu filho a nadar sozinho nas profundezas? Iria o pastor exigir que a sua ovelha viajasse sozinha para as terras altas? Claro que não. Iria Deus permitir que um filho seu viajasse sozinho para a eternidade? Absolutamente não! Ele está com você!
O que Deus disse a Moisés, Ele diz a você: "Irá a minha presença contigo para te fazer descansar" (Êx 33.14).
O que Deus disse a Jacó, Ele diz a você: "Eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores" (Gn 28.15).
O que Deus disse a Josué, Ele diz a você: "Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem te desampararei" (Js. 1.5).
O que Deus disse à nação de Israel, Ele diz a você: "Quando passares pelas águas, estarei contigo" (Is 43.2).
O Bom Pastor está com você. E porque Ele está com você, pode fazer a mesma declaração que Davi: "Não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.”
Um capelão do exército francês usava o Salmo 23 para encorajar os soldados antes da batalha. Ele insistia com eles para repetirem a primeira frase do salmo, marcando cada palavra em um dedo. O dedo mínimo representava a palavra O; o anular representava a palavra Senhor; o médio, é; o indicador, meu; e o polegar, pastor. Então ele pedia que cada soldado escrevesse o versículo na palma da mão, e o repetisse sempre que precisasse de força.
O capelão dava ênfase especial à mensagem do dedo indicador - meu. Ele recordava aos soldados que Deus é um pastor pessoal, com uma missão pessoal - levá-los ao lar em segurança.
As palavras do capelão alcançaram o alvo? Na vida de um homem, sim. Após uma batalha, um jovem soldado foi achado morto; sua mão direita agarrada ao indicador da esquerda.
"O Senhor e o meu pastor...".
Oro para que as suas horas finais encontrem você agarrado à mesma esperança.
O Fardo da Aflição
Ainda que eu acidasse pelo vale da sombra da morte...
Salmos 23.4
Carlos Andres Baisdon-Nino deitou-se com o seu livro de histórias bíblicas favorito. Começou com o primeiro capítulo e virou cada página até o fim. Quando acabou, assoprou um beijo de boa noite à mamãe e ao papai, às suas três ninas, e então, como sempre, atirou também um beijo ao Papá Dios. Fechou os olhos, deslizou para o sono, e acordou no céu.
Carlos tinha três anos.
Quando Tini e Betsa, seus pais, e eu nos encontramos para planejar o funeral, eles quiseram que eu assistisse a um vídeo de Carlos. Você precisa vê-lo dançando, disse-me Tim. Uma olhada, e eu pude entender por que. O que o Carlinhos fazia ao ritmo da canção latina não pode ser descrito com palavras. Ele se sacudia de cima para baixo. Seus pés se moviam, suas mãos batiam, sua cabeça balançava. Dava a impressão de que o batimento de seu coração mudara para o seu nativo compasso colombiano.
Nós rimos. Nós três rimos. E no riso, por apenas um momento, Carlos estava conosco. Por apenas um momento, não havia leucemia, seringas, cobertores ou quimioterapia. Não havia lápide para gravar ou túmulo para cavar. Havia apenas Carlos. E Carlos estava exatamente dançando.
Mas então o vídeo parou, bem como o riso. E aquela mãe e aquele pai retomaram a sua caminhada através do vale da sombra da morte.
Você está atravessando a mesma sombra? Este livro está sendo segurado pelas mesmas mãos que tocaram a face fria de um amigos? E os olhos que caem sobre estas páginas já caíram também no corpo sem vida de um marido, uma esposa, um filho? Você está atravessando o vale? Se não está, este capítulo pode parecer desnecessário. Sinta-se livre para ir adiante - ele estará quando você precisar dele.
Entretanto, se está, você sabe que o negro saco da tristeza é difícil de sustentar. É difícil carregá-lo porque nem todos entendem a sua aflição. Eles entenderam no começo. Entenderam no funeral. Ao lado da sepultura.
Mas não agora. Eles não entendem. O luto prolonga-se.
Tão silenciosamente quanto uma nuvem escorrega entre você e o sol da tarde, as lembranças flutuam entre você e a alegria, deixando você numa sombra gelada. Nenhum aviso. Nenhuma notícia. Apenas o cheiro da colônia que ele usava, ou um verso da canção que ela amava, e você está dizendo adeus outra vez.
Por que o pesar não o deixa?
Porque você enterrou mais que uma pessoa. Você enterrou algo mesmo. Não foi John Dorme que disse, "A morte de qualquer homem me diminui"? E como se a raça humana residisse numa imensa cama elástica. Os movimentos de um podem ser sentidos por todos. E quanto mais íntimo o relacionamento, mais intensa a partida. Quando morre alguém que você ama, isto afeta você.
Afeta os seus sonhos.
Alguns anos atrás, minha esposa e eu servimos com outros missionários no Rio de janeiro, Brasil. Nossa equipe era composta de vários casais jovens que, por estarem longe de casa, tornaram-se muito chegados. Regozijamo-nos grandemente quando dois membros de nossa equipe, Marty e Angela, anunciaram que ela estava grávida de seu primeiro filho.
No entanto, a gravidez foi difícil, e a alegria virou inquietação. Foi dito a Angela que ficasse na cama, e a nós, que permanecêssemos em oração. Assim o fizemos. E Deus respondeu nossas orações, embora não como desejávamos. O bebê morreu no útero.
Nunca esqueci o comentário de Marty. "Mais que um bebê morreu, Max. Morreu um sonho".
Por que a dor se prolonga? Porque você está lidando com mais do que lembranças - você está lidando com amanhãs não vividos. Você não está combatendo apenas a tristeza - está combatendo o desapontamento. Está combatendo a raiva.
Ela pode estar na superfície. Pode estar oculta. Pode ser uma chama. Pode ser um maçarico. Mas a raiva mora na casa da tristeza. Raiva de si próprio. Raiva da vida. Raiva do sistema militar, hospitalar, ou rodoviário. Mas acima de tudo, raiva para com Deus. A raiva toma a forma de uma pergunta de seis letras: Por que? Por que ele? Por que ela? Por que agora? Por que nós?
Você e eu sabemos que não podemos responder esta interrogação. Apenas Deus conhece as razões por trás de seus atos. Porém aqui está urna verdade sobre a qual podemos repousar.
Nosso Deus é um Deus bom.
"... por tua bondade, Senhor. Bom e reto é o Senhor" (Sl 25.7,8).
"Provai e vede que o Senhor é bom" (Sl 34.8).
Deus é um Deus bom. Devemos começar aqui. Embora não compreendamos suas ações, podemos confiar em seu coração.
Deus faz apenas o que é bom. Mas como pode a morte ser boa? Alguns enlutados não fazem esta pergunta. Quando a quantidade dos anos ultrapassou a qualidade deles, não indagamos como a morte pode ser boa.
Porém o pai do adolescente morto o faz. A viúva de trinta anos o faz. Os pais de Carlos o fizeram. Meus amigos no Rio de janeiro também. Como pode a morte ser boa?
Parte da resposta pode ser encontrada em Isaías 57.1,2:
"Perece o Justo e não há quem considere isto em seu coração, e os homens compassivos são retirados, sem que alguém considere que o justo é levado antes do mau. Ele entrará em paz; descansarão nas suas camas os que houverem andado na sua retidão".
A morte é o modo de Deus tirar a pessoa do mal. De que espécie de mal? Uma doença prolongada? Um vício? Uma escura fase de rebelião? Não sabemos. Sabemos, contudo, que ninguém vive mais nem menos do que Deus pretende. "No teu livro todas estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia" (Sl 139.16).
Mas os dias dela aqui foram tão poucos...
A vida dele foi tão breve...
Para nós parece assim. Falamos de uma vida curta, mas comparada à eternidade, quem tem uma longa? Os dias de uma pessoa na terra podem parecer uma gota no oceano. Os seus e os meus podem parecer o que cabe num dedal. Porém comparado ao Pacífico da eternidade, nem os anos de Matusalém encheriam mais que um copo. Tiago não estava falando apenas aos jovens, quando disse, "Não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida?" (Tg 4.14).
No plano de Deus, cada vida é longa o suficiente, e cada morte é oportuna. E embora você e eu desejemos uma vida mais longa, Deus sabe o que é melhor.
E - isto é importante - embora você e eu desejemos uma vida mais longa para nossos entes queridos, eles não querem. Ironicamente, o primeiro a aceitar a decisão de Deus quanto à morte é aquele que morre.
Enquanto estamos sacudindo a cabeça em descrença, eles estão levantando as mãos em adoração. Enquanto estamos pranteando a sepultura, eles estão maravilhando-se no céu. Enquanto estamos questionando Deus, eles o estão louvando.
Mas, Max, e aqueles que morrem sem fé? Meu marido nunca orava. Meu avô nunca adorava. Minha mãe nunca abriu a Bíblia, muito menos o coração. O que será daqueles que nunca creram?
Como sabemos que não creram?
Quem dentre nós está inteirado dos últimos pensamentos de uma pessoa? Quem dentre nós sabe o que acontece naqueles momentos finais? Você está seguro de que nenhuma oração foi oferecida? A eternidade pode dobrar os mais orgulhosos joelhos. Poderia uma pessoa olhar para dentro da escancarada garganta da morte, sem sussurrar um apelo por misericórdia? E poderia o nosso Deus, que é parcial para com o humilde, resisti-lo?
Ele não pôde no Calvário. A confissão do ladrão na cruz foi a primeira e a última. Porém Cristo a ouviu. Cristo a recebeu. Talvez você nunca tenha ouvido o seu ente querido confessar a Cristo, mas quem pode dizer que Cristo não o ouviu?
Não conhecemos os pensamentos derradeiros de uma alma que se vai, mas conhecemos isto: que o nosso Deus é um Deus bom. Ele não quer "que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se" (2 Pe 3.9). Ele quer o seu ente querido no céu mais que você. E Ele geralmente consegue o que quer.
Você sabe o que mais Deus quer? Ele quer que você enfrente tristeza. Negação e recusa não são parte da terapia de Deus para a aflição.
Davi enfrentou a dele. Ao saber da morte de Saul e Jônatas, e todo o exército rasgaram as suas roupas, choraram em voz jejuaram até o pôr-do-sol. Seu lamento foi intenso e público. “Vós, montes de Gilboa", pranteou ele, "nem orvalho nem a caia sobre vós, campos de ofertas alçadas, pois aí desprezivelmente foi arrojado o escudo dos valentes, o escudo de Saul, como se não fora ungido com óleo. Saul e Jônatas, tão amados e queridos na sua vida, também na sua morte não se separaram!
Eram mais ligeiros do que as águias, mais fortes do que os leões" (2 Sm 1.21,23).
Davi não apenas entoou este canto fúnebre, mas também ordenou que fosse ensinado ao povo de Judá (v.18). A morte não foi amenizada ou passada por alto.
Enfrente-a, lute com ela, questione-a, ou condene-a, mas não a negue. Como explanou seu filho Salomão, "Há tempo de chorar” (Ec 3.4). Não atenda, mas perdoe, aqueles que insistem com você para não chorar.
Deus guiará você através, e não em volta, do vale da sombra da morte. E, a propósito, você não está contente por ser ela apenas uma sombra?
O Dr. Donald Grey Barnhouse contou por ocasião da morte de sua primeira esposa: Ele e os filhos estavam voltando no carro para casa, depois do sepultamento, dominados pela aflição. Ele procurou uma palavra de conforto para oferecer, mas não pôde pensar em nada. Exatamente naquele momento, um grande furgão passou por eles. Enquanto passava, a sua sombra derramou-se sobre o carro deles. Uma inspiração veio ao Dr. Barnhouse. Ele virou-se para a família e indagou: "Filhos, vocês preferiam ser atropelados por um caminhão, ou pela sombra dele?”
Os filhos responderam: "É claro, papai, que preferimos ser atropelados pela sombra. De qualquer modo, ela não nos pode ferir".
O Dr. Barnhouse explicou: "Vocês sabiam que dois mil anos atrás o caminhão da morte passou por cima do Senhor Jesus... a fim de que apenas a sua sombra pudesse passar por cima de nós agora?"
Nós enfrentamos a morte, mas graças a Jesus, enfrentamos apenas a sua sombra. E, graças a Jesus, cremos que os nossos amados estão felizes, e os Carlinhos do mundo estão dançando como nunca antes.
O Fardo do Medo
Não temerei mal algum
Salmos 23.4
É a expressão de Jesus que nos intriga. Nunca vimos a sua face desse jeito.
Jesus sorrindo, sim.
Jesus chorando, realmente.
Jesus severo, até isto.
Mas Jesus angustiado? Bochechas estriadas de lágrimas?
Faces inundadas de suor? Arroios de sangue escorrendo de seu queixo? Você recorda a noite.
Jesus deixou a cidade e foi para o Monte das Oliveiras, como geralmente fazia, e seus seguidores foram com Ele, "orar para não entrar em tentação".
Então Jesus afastou-se deles cerca de um tiro de pedra.
Ajoelhou-se e orou: "Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua".
Então um anjo do céu lhe apareceu e o confortava. Cheio de dor, Jesus orou ainda mais intensamente. Seu suor era como gotas de sangue caindo ao chão. (Lc 22.39-44).
A Bíblia que eu carregava quando criança continha uma figura de Jesus no jardim do Getsêrnani. Sua face era suave, suas mãos, sossegadamente dobradas, como se Ele estivesse ajoelhado junto à pedra, e orasse. Jesus parecia sereno. Uma leitura dos evangelhos rachou aquela imagem. Marcos diz: “Prostrou-se em terra” (Mc 14.35). Mateus conta que Jesus “começou a entristecer-se e a angustiar-se muito... até a morte” (Mt 26.37,38). De acordo com Lucas, Jesus estava “em agonia”(Lc 22.44).
Equipado com estas passagens, como você pintaria esta cena? Jesus estirado no chão? Rosto no pó? Mãos estendidas, agarrando a grama? Corpo sacudido pelos soluços? Face tão torcida quanto as oliveiras que o cercavam?
O que fazemos com esta imagem de Jesus?
Simples. Voltamo-nos para ela quando enfrentamos o mesmo. Nós a lemos quando experimentamos o mesmo; a lemos quando sentimos medo. Pois não foi o medo uma das emoções que Jesus experimentou? Alguém pode até argumentar que o medo foi uma emoção primária. Ele viu alguma coisa no futuro tão aterradora, tão agourenta, que implorou por uma mudança nos planos. “Pai, se queres, passa de mim este cálice” (Lc 22.42).
O que levaria você a fazer a mesma oração? Embarcar num avião? Enfrentar uma multidão? Falar em público? Assumir um emprego? Casar-se? Dirigir numa auto-estrada? A origem de seu medo pode parecer insignificante para os outros.
Mas para você, ela o faz gelar de medo, faz o seu coração pular, e o sangue subir-lhe às faces. Foi o que aconteceu a Jesus.
Ele estava tão temeroso, que sangrou. Os médicos descrevem esta condição como hematidrose. Uma ansiedade muito forte libera substâncias químicas que rompem os vasos capilares das glândulas sudoríparas. Quando isto ocorre, o suor brota tingido de sangue.
Jesus estava mais que ansioso; estava amedrontado. O medo é o grande irmão da preocupação. Se a preocupação é um saco de aniagem, o medo é um caminhão de concreto. Ele não sairá do lugar.
Quão notável é que Jesus tenha sentido tal medo. Mas que bom que Ele nos contou sobre isto. Tendemos a fazer o contrário. Encobrir nossos medos. Ocultá-los. Mantemos as palmas suadas nos bolsos, e a náusea e a boca seca em segredo. Não assim com Jesus. Não vimos uma máscara de força; ouvimos uma petição por força.
“Pai, se queres, passa de mim este cálice”. O primeiro a ouvir seus temores foi o Pai. Ele poderia ter ido à sua mãe. Poderia ter confiado em seus discípulos. Poderia ter convocado uma reunião de oração. Tudo isto teria sido apropriado, mas nada disso era prioridade sua. Ele foi primeiro ao seu Pai.
Oh, nós, ao contrário, tendemos ir a toda parte!
Primeiro ao bar, ao conselheiro, ao livro de auto-ajuda, ao amigo próximo. Jesus não. O primeiro a ouvir seus temores foi o Pai no céu.
Um milênio antes, Davi estava insistindo para que o amedrontado fizesse o mesmo. “Não temerei mal algum”.
Como pôde Davi fazer tal asserção? Porque ele sabia para onde olhar. “Tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.”
Antes de volver-se para outra ovelha, Davi voltou-se ao Pastor. Em vez de fixar o problema, ficou o cajado e a vara. Porque sabia para onde olhar, Davi foi capaz de dizer, “Não temerei mal algum”.
Conheço um camarada que tinha medo de multidão. Quando cercado de muita gente, o seu fôlego tornava-se curto, o pânico se manifestava, e ele recebeu alguma ajuda de um companheiro de golfe.
Ambos estavam em um cinema, esperando a sua vez de entrar, quando o medo atacou de novo. A multidão os cercava como uma floresta. Ele que sair, e sair rápido.
Seu amigo lhe disse para respirar fundo algumas vezes. Então ajudou-o a lidar com a crise, lembrando-o do curso de golfe.
"Quando você está batendo a bola para fora do rough, e se acha cercado de árvores, o que você faz?"
"Olho para uma clareira".
"Você não olha para as árvores?"
"Claro que não. Encontro uma passagem e me concentro em impelir a bola através dela".
"Faça o mesmo na multidão. Quando sentir o pânico, não se fixe nas pessoas; concentre-se na fresta".
Bom conselho no golfe. Bom conselho na vida. Em vez de fixar-se no medo, focalize a solução.
Foi o que Jesus fez.
E é o que o autor da Carta aos Hebreus nos instiga a fazer.
"...corramos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, o autor e consumador da fé" (Hb 12.1,2). O escritor de Hebreus não era um jogador de golfe, mas pode ter sido um corredor, porque fala de um corredor e de um precursor. O precursor é Jesus, o autor e consumador da nossa fé. Ele é o autor - isto é, Ele escreveu o livro da salvação. E Ele é o consumador - Ele não apenas fez o mapa, mas abriu o caminho. Ele é o precursor, e nós, os corredores. E como corredores, somos instados a manter os olhos em Jesus.
Eu sou um corredor. Na maioria das manhãs, arrasto-me para fora da cama e vou para a rua. Não corro rápido. E, comparado aos maratonistas, não vou longe. Não obstante, eu corro. Corro porque não gosto de cardiologistas. Nada pessoal, entenda. E só porque venho de uma família que os mantém ocupados. Um deles disse ao meu pai que ele precisava aposentar-se. Outro abriu o peito de minha mãe e de meu irmão. Quero ser o membro da família que não manténs o número do cárdio-cirurgião no automático do telefone.
Visto que as doenças cardíacas andam em nossa família, eu corro em nossa vizinhança. Quando o sol está se levantando, eu estou correndo. E enquanto estou correndo, meu corpo está gemendo. Ele não quer cooperar. Meus joelhos doem. Meus quadris enrijecem. Meus calcanhares reclamam. As vezes um transeunte ri de minhas pernas, e meu ego dói.
As coisas doem. E porque as coisas doem, aprendi que tenho três opções. Ir para casa (Denalyn riria de mim).
Meditar em minhas dores até imaginar que estou tendo dores no peito (Pensamento agradável).
Ou posso continuar correndo e ver o sol levantar. Minha trilha dirige-se ao oriente o suficiente para dar-me assento na fileira da frente para o milagre matinal de Deus. Se eu olho o mundo de Deus ir das sombras para o ouro? Adivinhe. O mesmo acontece à minha atitude. A dor passa e as juntas se soltam, e antes que eu perceba, a corrida já passou da metade e a vida não está meio ruim. Tudo melhora quando fito meus olhos no sol.
Não é este o conselho da Epístola aos Hebreus - "olhando para Jesus”? Qual era o foco de Davi? "Tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam".
Como Jesus suportou o terror da crucificação? Ele foi primeiro ao Pai com os seus temores. Ele modelou as palavras do Salmo 56.3: "No dia em que eu temer, hei de confiar em ti".
Faça o mesmo com os seus medos. Não evite os jardins do Getsêmani da vida. Entre neles. Tão-somente não entre sozinho. E uma vez lá, seja honesto. Esmurrar o chão é permitido. Lágrimas são admitidas. E se você suar sangue, não será o primeiro.
Faça o que Jesus fez: abra o seu coração.
E seja específico. Jesus foi. "Toma este cálice", orou Ele. Dê a Deus o número do vôo. Conte-lhe a duração do discurso. Parti-lhe os detalhes da transferência do emprego. Ele tem muito tempo. E também tem muita compaixão.
Ele não acha que os seus temores sejam tolos e simplórios. Ele não lhe dirá, "Anda logo!" ou "Seja duro". Ele esteve onde você está. Ele sabe como você se sente.
E Ele sabe o que você precisa. É por isto que pontuamos nossa oração conto Jesus fez: "Se tu queres...".
Deus quer? Sim e não. Ele não tirou a cruz, mas tirou o medo. Deus não acalmou a tempestade, mas acalmou o marinheiro.
Quem diz que Ele não fará o mesmo por você?
"Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças" (Fp 4.6). Não mensure o tamanho das montanhas; fale com aquEle que pode movê-las. Em vez de carregar o mundo nos ombros, fale com aquEle que sustém o universo sobre os dEle. Esperança é uma olhada adiante.
Agora, para onde você está olhando?
O Fardo da Solidão
Tu estás comigo.
Salmos 23.4
Um dos meus amigos trabalhava numa farmácia enquanto freqüentava a Universidade do Texas. A ocupação principal de Steve era entregar suprimentos nas casas de saúde, em Austin.
Uma tarefa adicional, entretanto, envolvia unia curta viagem ali perto.
A cada quatro dias, ele punha nos ombros um grande cântaro de água e o carregava por mais ou menos vinte e cinco metros, para um edifício atrás da farmácia. A cliente era uma velha senhora, talvez em seus setenta anos, que morava sozinha num escuro apartamento, desprovido e sujo. Uma única lâmpada pendia do teto. O papel de parede era manchado e descascado. As venezianas viviam cerradas, e o aposento era sombrio. Steve entregava o cântaro, recebia o pagamento, agradecia a mulher, e ia embora.
Depois de algumas semanas, ele ficara intrigado com a compra dela. Sabia que a mulher não tinha outra fonte de água. Ela contava com a sua entrega para quatro dias de lavar, banhar e beber. Singular escolha. A água municipal era mais barata. A cidade teria cobrado dela doze ou quinze dólares por mês; seus gastos na farmácia somavam cinqüenta dólares ao mês. Por que ela não escolhia a fonte menos cara?
A resposta estava no sistema de entrega. Sim, a água da cidade custava menos. Porém a cidade mandava apenas a água; não enviava uma pessoa. Ela preferia pagar mais e ver um ser humano que pagar menos e não ver ninguém.
Pode alguém ser tão só?
Parece que Davi era. Alguns de seus salmos dão a sensação de um carvalho solitário numa invernada.
Olha para mim e tem piedade de mim, porque estou solitário e aflito (Sl 25.16).
Já estou cansado do meu gemido; toda noite faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas.
Já os meus olhos estão consumidos pela mágoa e têm envelhecido por causa de todos os meus inimigos (S1 6.6,7).
Davi sabia o que era sentir-se solitário... traído.
Mas, quanto a mim, quando estavam enfermos, a minha veste era pano de saco; humilhava a minha alma com o jejum, e a minha oração voltava para o meu seio.
Portava-me com ele como se fora meu irmão ou amigo; andava lamentando e muito encurvado, como quem chora por sua mãe.
Mas eles com a minha adversidade se alegravam e se congregavam; os abjetos se congregavam contra mim, e eu não sabia; rasgavam-me e não cessavam.
Como hipócritas zombadores nas festas, rangiam os dentes conta mim.
SENHOR, até quando verás isto? (Sl 35.13-17).
Davi conhecia o sentimento de solidão.
Conhecera-o em sua família. Ele era um dos oito filhos de Jessé. Quando, porém, o profeta Samuel pediu para ver os meninos de Jessé, ele foi deixado de lado. O profeta contou e perguntou se não havia outro filho em algum lugar. Jessé estalou os dedos como se houvera esquecido as chaves: "Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas" (1 Sm 16.11).
A expressão de Jessé, "o menor", não foi elogiosa. Ele disse literalmente, "Ainda tenho o tampinha". Alguns de vocês foram o tampinha em sua família. O tampinha é aquele que os outros têm de tolerar e tomar conta. E naquele dia, o tampinha foi deixado de fora. Como você se sentiria se uma reunião de família fosse convocada, e o seu nome esquecido?
As coisas não melhoraram quando ele mudou de lar.
Sua inclusão na família real foi idéia do rei Saul. E a sua exclusão também. Não se houvesse abaixado, e Davi teria sido espetado na parede com a lança do ciumento Saul. Porém Davi realmente se abaixou, e realmente correu. Por dez anos ele correu.
No deserto, ele correu. Dormindo em cavernas, sobrevivendo aos animais selvagens. Ele foi odiado e caçado como um chacal.
Davi não era desconhecido da solidão.
Você também não. Entrementes, você aprendeu que não precisa estar sozinho para se sentir solitário. Dois mil anos atrás, duzentos e cinqüenta milhões de pessoas povoavam a terra. Agora são mais de cinco bilhões. Se a solidão pudesse ser curada com a presença de pessoas, certamente haveria menos solidão hoje. Contudo, a solidão deixa-se ficar.
Bem no início de meu ministério, fiz a seguinte oração no domingo de manhã: "Obrigado, Senhor, por todos os nossos amigos. Temos tantos, que não podemos despender tempo com todos eles". Após o culto, um bem-sucedido homem de negócios corrigiu-me: "Você pode ter mais amigos do que pode ver.
Não eu. Eu não tenho nem um". A pessoa pode estar cercada por uma igreja e ainda assim estar só.
Solidão não é ausência de faces. É ausência de intimidade. A solidão não vem de se estar sozinho; vem de se sentir sozinho. Sentir como se você estivesse enfrentando a morte sozinho, enfrentando a doença sozinho, enfrentando o futuro sozinho.
Quer você seja atingido por ela em sua cama, à noite, ou enquanto dirige para o hospital, no silêncio de uma casa vazia ou no barulho de um bar lotado, a solidão é quando você pensa, Sinto-me tão só. Ninguém se importa?
As bagagens de solidão aparecem por toda parte. Elas atravancam o assoalho das salas de reunião de diretoria e dos clubes. Nós as arrastamos para dentro das festas, e geralmente as arrastamos quando nos retiramos. Você as localizará junto à cadeira do trabalhador que faz serão, ao lado da mesa do comilão, e sobre a arquibancada de um espetáculo noturno. Tentaremos qualquer coisa para descarregar nossa solidão. Esta é urna bagagem que desejamos arriar rapidamente.
Mas devemos? Devemos ser tão rápidos em depô-la? E se em vez de virarmos as costas à solidão, nos virarmos para ela? Poderia ser que solidão seja não uma maldição, mas um presente? Um presente de Deus?
Espere um minuto, Max. Não pode ser. A solidão faz pesado o meu coração. A solidão me deixa vazio e deprimido. A solidão é qualquer coisa, menos um presente.
Você pode estar certo, mas funcionou comigo por um momento. Me pergunto se a solidão não é um modo de Deus conseguir nossa atenção.
Eis o que quero dizer: Suponha que você pegue emprestado o carro de um amigo. O rádio não funciona, mas o CD, sim. Você revira toda a coleção dele, procurando por seu estilo de música - vamos dizer, country americana. Mas você não acha nada. Ele não tem nada além do próprio estilo de música - vamos dizer, clássica.
É uma longa viagem. E você pode conversar consigo mesmo apenas por um instante. Então, eventualmente, você apanha um CD. Você preferiria uma guitarra afiada, mas está preso com tenores arrojados. Inicialmente, é tolerável.
Ao menos preenche o ar. Eventualmente, porém, torna-se agradável. Seu coração capta o arranjo dos timbales, sua cabeça se move com os violoncelos, e você se pega prestando atenção a uma pequena ária italiana."Hei, isto não é tão mau."
Agora, deixe-me perguntar-lhe. Você teria feito esta descoberta por iniciativa própria? Não. O que o levou a ela? O que o fez ouvir músicas que nunca ouvira antes?
Simples. Você não tinha outra escolha, nem outra opção.
Você não tinha para onde ir. Finalmente, quando o silêncio estava alto demais, você arriscou numa canção que nunca ouvira.
Oh, como Deus quer que você ouça a música dEle.
Ele tem um ritmo que fará disparar o seu coração, e versos que farão correr as suas lágrimas.Você quer viajar para as estrelas? Ele pode levar você lá. Você quer se deitar em paz? A música dEle pode acalmar a sua alma.
Mas primeiro, Ele tem de jogar fora aquela "coisarada" country americana (Perdoe-me, Nashville. Apenas um exemplo).
E então Ele começa a arremessar os CDs. Um amigo vai embora. Os negócios vão mal. Sua esposa não entende. A igreja é insensível. Uma a uma, Ele remove as opções, até que tudo o que lhe reste seja Deus.
Ele faria isto? Absolutamente. "O Senhor corrige o que ama" (Hb 12.6). Se Ele tiver de silenciar todas as vozes, Ele o fará. Ele quer que você ouça a música dEle. Ele quer que você descubra o que Davi descobriu, e que seja capaz de dizer o que Davi disse.
"Tu estás comigo".
Sim, Senhor, tu estás no céu. Sim, o Senhor governa o universo. Sim, o Senhor se assenta acima das estrelas e faz a sua casa nas extremidades do mar. Mas sim, sim, sim, tu estás comigo.
O Senhor está comigo. O Criador está comigo. Jeová está comigo. Moisés proclamou: "Porque, que gente há tão grande, que tenha deuses tão chegados como o Senhor, nosso Deus?" (Dt 4.7).
Paulo anunciou:" [Ele] não está longe de cada um de nós" (At 17.27).
E Davi descobriu: "Tu estás comigo".
Nalgum lugar da pastagem, do deserto, ou do palácio, Davi descobriu que Deus falou sério quando disse:
"Não te deixarei" (Gn 28.15).
"Não desampararei o meu povo" (Rs 6.13).
"O Senhor não rejeitará o seu povo" (Sl 94.14).
"Deus... não vos deixará nem vos desamparará" (Dt 31.6).
A descoberta de Davi é de fato a mensagem das Escrituras – o Senhor está comigo. E, desde que o Senhor está perto, tudo é diferente. Tudo!
Você pode estar enfrentando a morte, mas não a está enfrentando sozinho; o Senhor está com você. Você pode estar enfrentando o desemprego, mas não o está enfrentando sozinho; o Senhor está com você. Você pode estar enfrentando conflitos matrimoniais, mas não os está enfrentando sozinho; o Senhor está com você. Você pode estar enfrentando dívidas, mas não as está enfrentando sozinho; o Senhor está com você.
Sublinhe estas palavras: você não está sozinho.
A sua família pode voltar-se contra você, mas Deus não.
Seus amigos podem trair você, mas Deus não.
Você pode sentir-se sozinho no deserto, mas não está.
Ele está com você. E porque Ele está com você, tudo é diferente.Você é diferente.
Você vai de solitário a querido.
Quando você sabe que Deus o ama, não fica desesperado pelo amor dos outros.
Você não mais será um comprador faminto no mercado.Você já foi à mercearia com o estômago vazio? Você é um alvo fácil. Você compra tudo o que não precisa. Não importa se é bom para você - você quer apenas encher a barriga.
Quando você é solitário, faz o mesmo na vida: apanha coisas na prateleira, não porque precise delas, mas porque está faminto de amor.
Por que o fazemos? Porque tememos enfrentar a vida sozinhos. Por medo de que nada se encaixe, tomamos drogas. Por medo de nos salientarmos, usamos as roupas.
Por medo de parecer miseráveis, entramos em dívida e compramos a casa. Por medo de passar despercebidos, vestimo-nos para seduzir ou impressionar. Por medo de dormir sozinho, dormimos com alguém. Por medo de não ser amado, buscamos amor em todos os lugares errados.
Não obstante, tudo isto muda quando descobrimos o perfeito amor de Deus. E o perfeito amor lança fora o medo (1 Jo 4.18).
Solidão. Pode ela ser um dos mais finos presentes de Deus? Se uma temporada de isolamento é o modo dEle de ensinar você a ouvir sua canção, não acha que vale a pena?
Eu também.
O Fardo da Vergonha
Preparas urna mesa perante mim na presença dos meus inimigos.
Salmos 23.5
Vê o sujeito nas sombras? É Pedro. Pedro, o apóstolo.
Pedro, o impetuoso. Pedro, o apaixonado. Ele uma vez andou sobre as águas. Pulou do barco para o lago. Ele prontamente pregaria a milhares. Destemido diante dos amigos bem como dos inimigos.
Mas esta noite, aquele que andou sobre as águas apressou-se para o esconderijo. Aquele que irá falar com poder está chorando em aflição.
Não fungando ou choramingando, mas chorando. Berrando.
As faces barbudas enterradas nas mãos calosas. Seus uivos ecoam na noite em Jerusalém. O que dói mais? O fato de que ele o fez?
Ou o fato de que jurou nunca fazer?
"Senhor, estou pronto a ir contigo até à prisão e à morte. Mas Ele lhe disse: Digo-te, Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes negues que me conhece" (Lc 22.33,34).
Negar a Cristo na noite da traição era ruim o suficiente, mas, haver se jactanciado de que não o faria?
E uma negação era lamentável, mas três? Três negações era horrível, mas ele tinha que praguejar? "Então começou ele [Pedro] a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem" (Mt 26.74).
E agora, arrastado num redemoinho de angústia, Pedro está escondido. Pedro está chorando. E logo Pedro estará pescando.
Perguntamo-nos por que ele vai pescar. Sabemos por que ele vai para a Galiléia. Foi-lhe dito que o Cristo ressuscitado encontraria lá os seus discípulos. No entanto, o lugar combinado para a reunião não é o mar, mas uma montanha (Mt 28.16). Se os discípulos iam encontrar Jesus numa montanha, o que estão fazendo em um barco? Ninguém os mandou pescar, mas foi isto o que eles fizeram. "Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Disseram-lhe eles: Também nós vamos contigo" (Jo 21.3). Além de que, Pedro não renunciara à pesca? Dois anos antes, quando Jesus o chamara para ser pescador de homens, ele não pendurara sua rede e o seguira? Não o vimos pescar desde então. Nunca mais o vimos pescar de novo. Por que está ele pescando agora?
Especialmente agora! Jesus ressuscitou da morte. Pedro viu o túmulo vazio. Quem poderia pescar num momento desses?
Estariam eles com fome? Talvez esta seja a essência.
Pode ser que a expedição tenha nascido de estômagos roncadores.
Ou então, novamente, talvez tenha nascido de um coração partido.
Veja você, Pedro não podia negar sua negação. A tumba vazia não podia apagar o canto do galo. Cristo havia retornado, porém Pedro se indagava - ele deve ter indagado - "Depois do que eu fiz, iria ele retornar para alguém como eu?"
Já perguntamos o mesmo. Será que Pedro é a única pessoa a fazer exatamente o que jurou não fazer?
"A infidelidade ficou para trás!"
"De agora em diante, vou frear minha língua".
"Negócios duvidosos, nunca mais. Aprendi a lição".
Oh, o volume de nossas jactâncias! E, oh, o desgosto de nossa vergonha!
Em vez de resistir ao flerte, voltamos a ele.
Em vez de ignorar a fofoca, partilhamo-la.
Em vez de apegar-nos à verdade, obscurecemo-la.
E o galo canta, e a condenação traspassa, e Pedro tem um companheiro nas sombras. Choramos como Pedro chorou, e fazemos o que Pedro fez. Vamos pescar. Voltamos a nossas velhas vidas. Retornamos a nossas práticas pré Jesus.
Fazemos o que vem naturalmente, em vez do que vem espiritualmente. E indagamos se Jesus tem um lugar para gente como nós.
Jesus responde a pergunta. Ele a responde para você e para mim, e para todos aqueles com tendência a "Pedro fora" em Cristo. Sua resposta veio na praia do mar da Galiléia, em um presente para Pedro.Você sabe o que Jesus fez? Separou as águas? Transformou o barco em ouro e as redes em prata? Não, Jesus fez algo muito mais significativo. Convidou Pedro para o café da manhã. Jesus preparou uma refeição.
Claro, o desjejum foi um momento especial dentre os vários daquela manhã. Houve a grande pesca e o reconhecimento de Jesus. O mergulho de Pedro e o remar dos discípulos. E houve o momento em que eles se aproximaram da praia, e acharam Jesus junto às brasas. O peixe estava quente, e o pão, esperando; e o derrotador do inferno e soberano do céu convidou seus amigos a sentar-se e a comer.
Ninguém podia estar mais agradecido que Pedro. Aquele a quem Satanás havia peneirado estava comendo pão na mão de Deus. Pedro era bem-vindo à mesa de Cristo. Bem lá, para o Diabo e os seus tentadores verem, Jesus preparou uma mesa na presença dos seus inimigos.
Está bem, talvez Pedro não o tenha dito deste modo.
Mas Davi o disse. "Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos" (Sl 23.5). O que o pastor fez pela ovelha soa muito parecido com o que Jesus fez por Pedro.
Neste ponto do salmo, a mente de Davi parece estar se demorando no campo alto com as ovelhas. Havendo guiado o rebanho para o cimo da montanha, em busca de pastos mais verdes, ele recorda as responsabilidades adicionais do pastor.
Ele deve preparar a pastagem.
Esta é uma nova terra, então o pastor tem de ser cuidadoso. O ideal é que a área do pastoreio seja plana, uma planície ou um planalto. O pastor investiga se há plantas venenosas e correntezas fortes. Verifica se há sinais de lobos, coiotes e ursos.
De especial interesse para o pastor é a víbora pequena e marrom, que vive sob o solo. Estas cobras são conhecidas por disparar para fora de suas covas e picar a ovelha no focinho. A picada geralmente infecciona, e pode até matar. Como defesa contra elas, o pastor despeja um círculo de óleo no topo de cada buraco de cobra. Ele também aplica o óleo no focinho dos animais. O óleo na cova lubrifica a saída, impedindo que a cobra suba para fora. O cheiro do óleo nos focinhos das ovelhas espanta as víboras. O pastor, num sentido bem real, preparou a mesa.
E se o seu Pastor fizer por você o que o pastor fez por seu rebanho? Suponha que Ele tenha tratado do seu inimigo, o Diabo, e preparado para você um lugar de alimentação seguro. E se Jesus fizer por você o que Ele fez por Pedro? Imagine que Ele, na hora da sua falta, o convide a comer.
O que você diria se eu lhe contasse que Ele fez exatamente isto?
Na véspera de sua morte, Jesus preparou uma mesa para os seus discípulos.
E, no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, quando sacrificavam a Páscoa, disseram-lhe os discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comer a Páscoa?
E enviou dois dos seus discípulos e disse-lhes: Ide à cidade, e um homem que leva um cântaro de água vos encontrará; segui-o.
E, onde quer que entrar, dizei ao senhor da casa: O Mestre diz: Onde está o aposento em que hei de comer a Páscoa com os meus discípulos? E ele vos mostrará um grande cenáculo mobiliado e preparado (Mc 14.12-15).
Note quem fez o "preparo" aqui. Jesus reservou uma grande sala e arranjou o guia para conduzir os discípulos. Jesus assegurou que a sala estivesse mobiliada e a comida preparada. O que os discípulos fizeram? Eles concordaram fielmente, e foram alimentados.
O Pastor preparara a mesa.
Não apenas isto, mas Ele também tratara com as cobras.Você se lembrará que somente um dos discípulos não terminou a refeição naquela noite. "Tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse" (Jo 13.2). Judas começou a comer, porém Jesus não o deixou acabar. Sob o comando de Jesus, Judas deixou a sala. "O que fazes, faze-o depressa... E tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite" (Jo 13.27,30).
Há algo dinâmico nesta dispensa. Jesus preparou a mesa na presença do inimigo. A Judas foi permitido ver a ceia, mas não lhe foi permitido ficar lá.
Você não é bem-vindo aqui. Esta mesa é para meus filhos. Você pode tentá-los. Você pode enganá-los. Porém você nunca sentará com eles. Eis o quanto Ele nos ama.
E se resta alguma dúvida, caso haja quaisquer "Pedros" indagando se há na mesa lugar para eles, Jesus emite um terno lembrete, enquanto passa o cálice: "Bebei dele todos. Porque isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados" (Mt 26.27,28).
"Bebei dele todos".Aquele que se sente indigno, beba-o.
Aquele que se sente envergonhado, beba-o. Aquele que se sente embaraçado, beba-o.
Posso partilhar uma ocasião em que senti as três coisas?
Lá pelos meus dezoito anos, eu estava cabalmente me encaminhando para um problema de alcoolismo. Meu organismo tornara-se tão resistente ao álcool, que seis cervejas tinham pouco ou nenhum impacto sobre mim. Aos vinte anos, Deus não apenas me salvou do inferno após esta vida, como salvou-me do inferno nesta vida. Deus sabe para onde eu estava indo, e eu tenho uma idéia bastante nítida também.
Por este motivo, parte da minha decisão em seguir a Cristo incluía não mais tomar cerveja. Então a deixei.
Curiosamente, porém, a sede por cerveja nunca se ia. Ela não me perseguia ou me consumia, mas duas ou três vezes por semana, o pensamento de uma boa cerveja me tentava. Prova de que tenho de ser cuidadoso é que - cervejas não-acoólicas não são atraentes. Não é o aroma da bebida; é o zumbido. Contudo, por mais de vinte anos, bebidas nunca mais foram assunto de importância.
Alguns anos atrás, no entanto, quase se tornou um.
Abaixei um pouco a guarda. Uma cerveja com churrasco não fará mal. Depois, outra vez com comida mexicana. E então duas ou três vezes com comida nenhuma. Após um período de dois meses, passei de nenhuma cerveja a uma ou duas por semana. Para muitas pessoas, sem problemas, mas para mim, poderia se tornar um.
Você sabe quando comecei a sentir cheiro de problemas?
Numa quente tarde de sexta-feira, eu estava a caminho de nosso retiro anual para homens, onde eu falaria. Eu disse que o dia estava quente? Brutalmente quente. Eu estava sedento. Soda não adiantaria. Então comecei a maquinar.
Onde eu poderia comprar uma cerveja e não ser visto por ninguém que me conhecesse?
Com este pensamento cruzei a linha. O que é feito em segredo é melhor não ser feito absolutamente. Mas de qualquer modo, eu o fiz. Rumei para uma loja de conveniência fora da estrada, estacionei, e esperei até que todos os clientes tivessem saído. Entrei, comprei minha cerveja, segurei-a do lado, e apressei-me para o carro.
Foi quando o galo cantou.
Ele cantou por eu estar disfarçando. Cantou porque eu sabia muito bem. Cantou porque - e isto realmente doeu - na noite anterior, eu havia ralhado com uma de minhas filhas por manter segredos de mim. E agora, o que eu estava fazendo?
Atirei a cerveja no lixo e pedi a Deus que me perdoasse. Poucos dias depois, partilhei meu conflito com os anciãos e alguns membros da congregação, e senti-me feliz em anotar o assunto para experiência e tocar para frente.
Mas não pude. A vergonha incomodava-me.Vergonha das pessoas por fazer tal coisa. Muitos poderiam ser feridos por minha estupidez. E vergonha da ocasião para se fazer tal coisa. Eu estava indo ministrar em um retiro. Quanta hipocrisia!
Senti-me um imprestável. O perdão achou o seu caminho para a minha cabeça, mas o elevador designado a fazê-lo descer oito polegadas para o meu coração estava quebrado.
E para piorar a situação, o domingo chegou logo. Achei-me na fileira da frente da igreja, aguardando a minha vez de falar. Novamente, eu tinha sido honesto com Deus, honesto com os anciãos, honesto comigo mesmo. Contudo, ainda me debatia. Deus iria querer um sujeito como eu para pregar?
A resposta veio na Santa Ceia. A Ceia do Senhor. O mesmo Jesus que preparara unia refeição para Pedro tinha preparado uma para mim. O mesmo Salvador que acendera uma fogueira na praia atiçara algumas brasas em meu coração.
"Bebei dele todos". E eu o fiz. Senti-me bem por estar de volta à mesa.
O Fardo do Desapontamento
Unges a minha cabeça com óleo
Salmos 23.5
Des muda todas as coisas. Com des, "obediência" vira "desobediência"."Respeito” é mudado para "desrespeito". "Consideração" é, repentinamente, "desconsideração". O que era uma "habilidade" torna-se uma "desabilidade". "Compromisso" é agora "descompromisso", e "graça" é transformada em" desgraça". Tudo por causa do des.
Dificilmente acharíamos um trio de letras mais potentes. E dificilmente encontraríamos um melhor exemplo de seu poder que a palavra apontamento.
A maioria de nós gosta de apontamentos. Até o organizacionalmente inepto gosta de apontamentos.
Apontamentos criam um senso de previsibilidade num mundo imprevisível. Achamos que sabemos controlar o futuro, tanto quanto o maquinista controla o trem, já que os nossos cronômetros dão-nos a ilusão de que o fazemos.
Um desapontamento recorda-nos que não. Um desapontamento é um apontamento perdido. O que esperávamos aconteceria não aconteceu. Queríamos saúde; arranjamos doença. Queríamos aposentadoria; obtivemos serviço. Divórcio em vez de família. Demissão em lugar de promoção. E agora? O que fazemos com os nossos desapontamentos?
Poderíamos fazer o que fez a senhorita Haversham.
Lembra-se dela em Great Expectation (Grandes Esperanças) de Charles Dickens? Lograda pelo noivo à véspera do casamento, seu apontamento tornou-se um apontamento perdido e um desapontamento. Como ela reagiu? Não muito bem. Fechou todas as cortinas da casa, parou todos os relógios, deixou o bolo de casamento sobre a mesa para ajuntar teias de aranha, e continuou usando o vestido de noiva até que ele se tornou um trapo amarelo em volta de sua figura encolhida. Seu coração ferido consumiu-lhe a vida.
Podemos seguir o mesmo curso.
Ou podemos seguir o exemplo do apóstolo Paulo. Sua meta era ser um missionário na Espanha. No entanto, em vez de mandar Paulo à Espanha, Deus o mandou para a prisão. Num cárcere romano, Paulo poderia ter feito a mesma escolha que a senhorita Haversham, mas não o fez. Em vez disso, decidiu: "Enquanto eu estiver aqui, posso muito bem escrever algumas cartas". Por isso a sua Bíblia tem as epístolas a Filemom, aos Filipenses, Colossenses e Efésios.' Sem dúvida, Paulo teria feito uni grande trabalho na Espanha. Mas teria ele se comparado à obra dessas quatro cartas?
Você já esteve na posição de Paulo. Sei que esteve.
Você já esteve feito um rojão a caminho da Espanha, ou da faculdade, ou do casamento, ou da independência... mas então veio a dispensa, ou a gravidez, ou a doença dos pais. E você acabou numa prisão. Adeus, Espanha. Olá, Roma. Adeus apontamento. Olá, desapontamento. Olá, dor.
Como você lidou com ele? Ou melhor, como você está lidando com ele? Aceita uma ajuda? Tenho exatamente o que você precisa. Seis palavras no quinto verso do Salmo 23:
"Unges a minha cabeça com óleo".
Não vê a conexão? O que um versículo sobre óleo tem a ver com os ferimentos que vêm dos desapontamentos da vida?
Uma pequena lição rural pode ajudar. No antigo Israel, os pastores usavam o óleo para três propósitos: repelir insetos, evitar conflitos, e curar machucados.
Insetos apenas aborrecem as pessoas, mas podem matar as ovelhas. Moscas e mosquitos podem tornar o verão um período de tortura para o rebanho. Pense nas moscas no focinho, por exemplo. Se acontecer de elas depositarem seus ovos na macia membrana do nariz da ovelha, os ovos tornam-se larvas que deixam insana a ovelha. Um pastor explica: "Para livrar-se desta agonia, a ovelha deliberadamente baterá a cabeça contra árvores, rochas, mourões ou moitas... Em casos extremos de infestação intensa, uma ovelha pode até se matar num frenético esforço para obter alivio da irritação".
Quando um enxame de moscas do focinho aparece, as ovelhas entram em pânico. Elas correm. Se escondem. Arremessam a cabeça para baixo e para cima, durante horas. Esquecem-se de comer e tornam-se incapazes de dormir. As ovelhas param de dar leite e os cordeiros param de crescer. Pode haver um estouro do rebanho, e ele pode até mesmo ser destruído pela presença de algumas moscas.
Por esta razão, o pastor unge as ovelhas. Ele cobre suas cabeças com um óleo repelente. A fragrância mantém os insetos em apuros e o rebanho em paz.
Isto é, em paz até a época do acasalamento. Na maior parte do ano, as ovelhas são animais calmos, passivos.
Durante a estação de acasalamento, porém, muda tudo. Os carneiros entram em turbulência. Pavoneiam-se pelo pasto e arqueiam o pescoço, tentando atrair a atenção da nova garota do rebanho. Quando a ovelha o nota, ele atira a cabeça para trás e diz, "Quero você, baby". Neste momento o namorado dela aparece e a manda ir para um lugar seguro. "É melhor ir, docinho. A coisa aqui pode ficar feia". Os dois carneiros abaixam a cabeça e PAM! A
antiquada marrada explode.
Para evitar danos, o pastor unge os carneiros. Ele unta suas cabeças e focinhos com uma substância gordurosa e escorregadia. Este lubrificante os faz resvalar em vez de se estatelarem um contra o outro.
Contudo, eles ainda tentam se ferir. E este ferimento é a terceira razão de o pastor ungir as ovelhas.
A maioria dos machucados tratados pelo pastor é o resultado da vida no pasto. Espinhos furam, pedras cortam, ou uma ovelha esfrega a cabeça com demasiada força contra uma árvore. Ovelhas se machucam.
Conseqüentemente, o pastor inspeciona diariamente as ovelhas, à procura de cortes e escoriações. Ele não quer que o corte piore. Não quer que o ferimento de hoje se torne a infecção de amanhã.
Nem Deus quer. Assim como as ovelhas, temos machucados, mas os nossos são ferimentos do coração que vieram de um desapontamento após outro. Se não tomarmos cuidado, estes ferimentos transformam-se em amargura. E então, a exemplo das ovelhas, precisamos ser tratados. "Foi ele, e não nós, que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto" (Sl 100.3).
As ovelhas não são as únicas que precisam de cuidados preventivos, nem as únicas que carecem de um toque curador. Nós também nos irritamos uns com os outros, damos marradas e ficamos feridos. Muitos dos nossos desapontamentos na vida começam com irritações. A grande parcela de nossos problemas não são ataques de leões, mas enxames diários de frustrações, infortúnios e angústias.
Você não é convidado para o jantar. Você não faz parte da equipe. Você não consegue a bolsa de estudos. Seu patrão não reconhece o seu trabalho duro. Seu marido não nota o seu vestido novo. Seu vizinho não percebe a bagunça no próprio quintal. Você se acha mais irritável, mais melancólico, mais... Bem, mais ferido.
Assim como as ovelhas, você não dorme bem, nem come bem. Você pode até bater a cabeça contra uma árvore, algumas vezes.
Ou você pode bater a cabeça contra uma pessoa. É surpreendente o quão cabeçudo podemos ser uns contra os outros. Alguns de nossos ferimentos mais profundos vêm de batermos a cabeça uns contra os outros.
A exemplo das ovelhas, o restante de nossas feridas vem de vivermos no pasto. O pasto das ovelhas, no entanto, é muito mais atraente. As ovelhas têm de enfrentar ferimentos de espinhos e cardos. Nós temos de enfrentar envelhecimento, perdas e doenças. Alguns de nós enfrentam traições e injustiças. Vivamos o suficiente neste mundo, e a maioria de nós enfrentará feridas, profundas feridas, de uma espécie ou de outra.
Então nós, como as ovelhas, ficamos machucados. E nós, como as ovelhas, temos um pastor. Lembra-se das palavras que lemos? "[Ele] nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto" (Sl 100.3). Ele fará por você o que o pastor faz pelas ovelhas. Ele cuidará de você.
Se os Evangelhos nos ensinam alguma coisa, ensinam-nos que Jesus é o Bom Pastor. "Eu sou o bom pastor", anunciou Jesus." O bom pastor dá a vida pelas ovelhas" (Jo 10.11).
Jesus não untou com o óleo da prevenção os seus discípulos? Ele orou por eles. Ele os equipou antes de os mandar sair. Revelou-lhes os segredos das parábolas. Interrompeu seus argumentos e acalmou-lhes os temores.
Porque era um bom pastor, Ele os protegeu contra desapontamentos.
Jesus não apenas preveniu machucados, como os curou.
Ele tocou os olhos do cego. Tocou a moléstia do leproso.
Tocou o corpo da garota morta. Jesus zelava de suas ovelhas. Ele tocou o coração inquiridor de Nicodemos. Tocou o coração aberto de Zaqueu. Tocou o coração partido de Maria Madalena. Tocou o coração confuso de Cleopas. E tocou o obstinado coração de Paulo e o arrependido coração de Pedro. Jesus zelava de suas ovelhas, e Ele zelará de você.
Se você lho permitir. Como? Como você lho permite? Os passos são tão simples.
Primeiro, vá a Ele. Davi não confiaria suas feridas a outra pessoa, senão a Deus. Ele disse: "[Tu] unges a minha cabeça com óleo". Não os "seus profetas" ou os "seus professores" ou os "seus conselheiros". Outros podem guiar-nos a Deus, mas apenas Deus pode curar-nos. Deus "sara os quebrantados de coração" (Sl 147.3).
Você tem levado os seus desapontamentos a Deus? Você os tem partilhado com os vizinhos, parentes e amigos. Porém os tem levado a Deus? Tiago aconselha: "Está alguém entre vós aflito?
Ore" (Tg 5.13).
Antes de ir a qualquer um com os seus desapontamentos, vá a Deus.
Talvez você não queira importunar Deus com os seus machucados. Afinal, você pensa, Ele trata de penúrias, pestilências e guerras; não se importará com minhas pequenas lutas. Por que você não o deixa decidir isto? Ele preocupou-se o suficiente com um casamento para prover o vinho. Preocupou-se o suficiente com o pagamento de impostos de Pedro para dar-lhe uma moeda. Preocupou-se o suficiente com a mulher junto ao poço para dar-lhe respostas. "Ele tem cuidado de vós" (1 Pe 5.7).
Seu primeiro passo é ir à pessoa certa. Vá para Deus.
Seu segundo passo é assumir a postura correta. Curve-se perante Deus.
A fim de ser ungida, a ovelha deve ficar quieta, abaixar a cabeça, e deixar o pastor fazer o seu trabalho. Pedro insta conosco: "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que, a seu tempo, vos exalte" (1 Pe 5.6).
Quando nos chegamos a Deus, fazemos pedidos; não fazemos demandas. Chegamos com elevadas esperanças e um coração humilde. Exprimimos o que querermos, mas oramos pelo que é certo. E se Deus nos dá a prisão de Roma em vez da missão na Espanha, aceitamo-la porque sabemos que Deus fará justiça aos seus escolhidos que clamam a Ele de dia e de noite, e não se demorará em atendê-los (Lc 18.7).
Nós vamos até Ele. Curvamo-nos diante dEle. E confiarmos nEle.
As ovelhas não entendem por que o óleo repele as moscas. As ovelhas não entendem como o óleo cura as feridas. De fato, tudo o que as ovelhas sabem é que alguma coisa acontece na presença do pastor. E isto é tudo o que precisamos saber também. "A ti, Senhor, levanto a minha alma. Deus meu, em ti confio" (Sl 25.1,2).
Vá.
Curve-se.
Confie.
Vale uma tentativa, você não acha?
O Fardo da Inveja
O meu cálice transborda.
Salmos 23.5
Uma senhora de minha igreja deu-me, há algumas semanas, um pote de compota de pêssegos, feita em casa. Poucas iguarias na vida comparam-se aos seus pêssegos em conserva. Devesse eu algum dia enfrentar o pelotão de fuzilamento, dispensaria o cigarro, mas perguntaria se os pêssegos em conserva de Sara estavam sendo oferecidos.
Cada colherada é uma experiência celestial. O único problema com o seu presente foi que ele não durou. Sinto informar que o fundo do meu pote está à mostra. Eu logo estarei espremendo a última gota como um caubói perdido espreme o seu cantil.
Para ser totalmente honesto, estou temendo o momento.
Sua proximidade tem afetado o meu comportamento. Qualquer um que pede uma provinha de minha compota de pêssegos é recebido com um rosnado: "Nem pensar".
Se eu fosse Keith, o marido de Sara, não teria tal problema. Ele tem todos os pêssegos em conserva que deseja. O tinir da colher no fundo do pote provoca lágrimas em Keith? Improvável. Ele possui um ilimitado suprimento. Alguém pode dizer que ele tem mais do que deseja. E alguém pode perguntar por que ele tem tanto, e eu tenho tão pouco. Por que deveria ele ter uma despensa cheia, e eu, apenas um pote? Quem lhe deu a chave para o castelo das geléias-e-conservas? Quem o fez o senhor das geléias de laranja? Quem coroou Keith o rei das compotas? Não é justo. Não é direito. Na verdade, por mais que eu pense a respeito...
É exatamente o que eu não deveria fazer. Não deveria pensar a respeito. Pois repousando no final da trilha deste pensamento está a maleta mortal da inveja.
Se você ainda não viu uma na vida real, já viu uma em filmes de espionagem. O assassino a leva pela escada de serviço, para dentro de uma sala vazia, no topo do edifício. Quando se certifica de que ninguém o vê, abre a maleta. O rifle desmontado acomoda-se no interior acolchoado. O escopo, o tambor, a coronha - tudo à espera do atirador. O atirador aguardando a chegada de sua vítima.
Quem é a sua vítima? Qualquer um que tenha mais que ele. Mais quilates, mais cavalos-vapor, mais espaço no escritório, mais membros na igreja. A cobiça concentra sua atenção sobre aquele que tem mais. "Cobiçais e nada tendes; matais e invejais, e nada podeis obter" (Tg 4.2).
Honestamente, Max, eu nunca faria isto. Eu nunca mataria.
Com um rifle, talvez não. Mas com sua língua? Com seu olhar penetrante? Sua fofoca? "O ciúmes", informa Provérbios 6.34, "enfurece um homem". Você tem posto os olhos em alguém? Se o fez, cuidado; "a inveja é a podridão dos ossos" (Pv 14.30).
Precisa de um restringente para a inveja? Um antídoto para o ciúmes? O salmo que estamos estudando nos oferece um. Em vez de lamentar a compota de pêssegos que você não tem, regozije-se no cálice transbordante que você possui. "Meu cálice transborda” (Sl 23.5).
Um cálice transbordante é um cálice cheio?
Absolutamente. O vinho atinge as bordas e derrama-se pelas beiradas.A taça não é grande o suficiente para conter a quantidade. De acordo com Davi, nosso coração não e grande o suficiente para conter as bênçãos que Deus nos quer dar. Ele despeja e despeja, até que elas literalmente fluam por cima da borda e se derramam sobre a mesa. Você gostará do parágrafo escrito um século atrás por E. B. Meyer:
Qualquer que seja a bênção em seu copo, ele certamente transbordará. Com Ele, o bezerro é sempre o bezerro cevado; o manto é sempre o melhor manto; a alegria é indizível; a paz, além do entendimento... Não há relutância na benevolência de Deus; Ele não mede a sua bondade como um farmacêutico conta as suas gotas e mede as suas gramas, vagarosa e precisamente, gota a gota.
O modo de Deus é sempre caracterizado por numerosa e transbordante generosidade.
A última coisa com que devemos nos preocupar é com não ter o suficiente. Nosso copo transborda de bênçãos.
Deixe-me fazer uma pergunta - uma pergunta crucial. Se o concentrar-nos em nossos itens reduzidos leva à inveja, o que aconteceria se nos concentrássemos nos itens intermináveis? Se a consciência do que não temos cria a cobiça, seria possível a consciência de nossa abundância levar ao contentamento?
Vamos fazer uma tentativa e ver o que acontece.Vamos dedicar alguns parágrafos a um par de bênçãos que, de acordo com a Bíblia, estão transbordando em nossas vidas.
Graça abundante. "Onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Rm 5.20, ênfase minha). Abundar é uma abundância, um excesso, uma porção extravagante.
Poderia um peixe no Oceano Pacífico preocupar-se em ficar sem oceano? Não. Por quê? O oceano abunda com água. Precisa a cotovia ficar ansiosa em achar espaço no céu para voar? Não. O céu abunda com espaço.
Deve o cristão preocupar-se com a possibilidade de o cálice da graça ficar vazio? Ele pode. Pois pode não estar consciente da abundante graça de Deus. Você está? Você está consciente de que o copo que Deus lhe deu transborda de misericórdia? Ou você está temeroso de que o seu copo se seque? Sua garantia vai expirar? Você teme que os seus erros sejam grandes demais para a graça de Deus?
Não podemos evitar inquirir se o apóstolo Paulo tinha o mesmo temor. Antes de ser Paulo, o apóstolo, ele foi Saulo, o assassino. Antes de encorajar os cristãos, ele matou cristãos. Como seria viver com um passado desses?
Ele sempre encontrava crianças a quem tinha feito órfãs?
Suas faces povoavam o seu sono? Paulo sempre perguntava:
"Pode Deus perdoar um homem como eu?"
A resposta à indagação dele e à nossa encontra-se na carta que ele escreveu a Timóteo: "E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e o amor que há em Jesus Cristo" (1 Tm 1.14).
Deus não é avarento com a sua graça. Seu copo pode estar baixo de dinheiro ou influência, mas está transbordando de misericórdia. Você pode não ter o primeiro lugar no estacionamento, mas você tem perdão suficiente. "Grandioso é em perdoar" (Is 55.7). Seu cálice transborda de graça.
Esperança. E porque assim é, o seu cálice transborda de esperança."Ora, o Deus de esperança vos encha de todo o gozo, e paz em crença, para que abundeis em esperança pela virtude do Espírito Santo" (Rm 15.13).
A esperança do céu faz por seu mundo o que a luz solar fazia pelo celeiro de minha avó. Devo a ela o meu amor por conservas de pêssego. Ela envasava a própria conserva e armazenava-a em um porão subterrâneo, perto de sua casa no oeste do Texas. Era uma cova funda, com degraus de madeira, paredes de madeira compensada, e um cheiro de mofo. Quando menino, eu costumava descer lá, fechar a porta, e ver quanto tempo conseguia ficar no escuro. Nem mesmo uma única réstia de luz penetrava aquela toca subterrânea. Eu me sentava silenciosamente, ouvindo o meu próprio respirar e as batidas do meu coração, ate que, não podendo mais agüentar, subia correndo a escada e escancarava a porta.
A luz entrava em avalanche no porão. Que mudança!
Momentos antes, eu não podia ver nada; de repente, podia ver tudo.
Como a luz inundando o porão, a esperança de Deus inunda o seu mundo. Por cima da doença, Ele faz brilhar o raio da cura. Para o enlutado, Ele dá a promessa do reencontro. Para a morte, Ele acende a chama da ressurreição. Para o confuso, Ele oferece a luz das Escrituras.
Deus dá esperança. E se alguém nasceu mais magro ou mais forte, mais claro ou mais escuro que você? Por que contar diplomas ou comparar currículos? O que importa se eles têm um lugar à cabeceira da mesa? Você possui um lugar à mesa de Deus. E Ele está enchendo o seu copo até transbordar.
O copo transbordante era um forte símbolo nos dias de Davi. No antigo Oriente, os hospedeiros usavam-no para enviar unia mensagem ao hóspede. Enquanto o copo permanecesse cheio, o hóspede sabia que era bem-vindo. Mas quando o copo ficava vazio, sugeria ao hóspede que a hora era tardia. Naquelas ocasiões em que o hospedeiro realmente apreciava a companhia da pessoa, ele enchia o copo até transbordar. Ele não parava quando o vinho atingia a borda; ele continuava despejando até que o líquido escorresse pelas beiradas do copo e se derramasse na mesa.
Você já notou como a sua mesa está molhada? Deus quer que você fique. Seu cálice transborda de alegria.
Transborda de graça. Não deve o seu coração transbordar de gratidão?
O coração do menino transbordou. Não no começo, objeta você. Inicialmente ele estava cheio de inveja. Mas, a tempo, ele foi cheio de gratidão.
De acordo com a lenda, ele vivia com seu pai num vale, junto a uma grande represa. Todos os dias, o pai ia trabalhar na montanha atrás de sua casa, e retornava com um carrinho de mão cheio de terra."Põe a terra em sacos, filho", mandava o pai. "E empilhe-os em frente à casa". E embora obedecesse, o menino reclamava. Ele estava cheio daquela terra. Quando ele via o que os outros tinham, ficava furioso com eles. "Não é justo", resmungava a si mesmo.
E quando avistava o pai, objetava:
"Eles têm diversão.
Eu tenho lama".
O pai sorria, punha o braço nos ombros do garoto e dizia: "Confie em mim, filho. Estou fazendo o que é melhor".
Porém era muito difícil para o menino confiar. Todos os dias o pai trazia o carregamento. Todos os dias o menino enchia os sacos. "Empilhe-os o mais alto que puder", instruía o pai, enquanto saía para buscar mais. E assim o menino enchia os sacos e os empilhava bem alto. Tão alto, que não podia ver além deles.
"Trabalhe duro, filho", disse o pai um dia. "Estamos ficando sem tempo". Enquanto falava, o pai olhava para o céu escuro. O menino fitou as nuvens e voltou-se para indagar sobre elas. Mas então o trovão ecoou e o céu se abriu. A chuva precipitou-se tão forte, que ele mal podia ver o pai através da água.
"Continue empilhando, filho!" E enquanto o fazia, o menino ouviu um forte estrondo.
A água do rio inundou a represa e invadiu a pequena aldeia. Num instante, a maré varreu todas as coisas em seu caminho, mas o dique de lama deu ao menino e ao seu pai o tempo que eles precisavam. "Rápido, filho. Siga-me".
Eles correram para o lado da montanha atrás de sua casa, e entraram num túnel. Em questão de momentos eles saíram do outro lado, correram para o alto da montanha, e fizeram uma nova cabana.
"Estaremos seguros aqui", garantiu o pai ao menino.
Somente então o filho compreendeu o que o pai fizera. Ele havia cavado uma saída. Em vez de dar ao filho o que este queria, o pai lhe deu o que ele precisava. Deu-lhe uma passagem segura e um lugar a salvo.
Não tem o nosso Pai nos dado o mesmo? Uma forte parede de graça para proteger-nos? Uma saída segura para livrar-nos? A quem podemos invejar? Quem tem mais que nós? Em vez de querer o que os outros têm, não deveríamos nos perguntar se eles possuem o que nós possuímos? Em vez de invejosos deles, que tal sermos zelosos por eles? Pelo amor de Deus, deponham os rifles e segurem os cálices. Há suficiente para todos.
Uma coisa é certa. Quando a última tempestade chegar, e você estiver seguro na casa do Pai, você não lastimará o que Ele não deu.Você estará estupefato com o que Ele fez.
O Fardo da Dúvida
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida.
Salmos 23.6
Eric Hill tinha tudo o que é preciso para um futuro brilhante. Ele tinha vinte e oito anos, era recém-formado na universidade, possuía um corpo atlético e um sorriso agradável. Sua família o amava, as garotas o notavam, e as companhias o tinham contatado para trabalhar para elas. Embora Eric parecesse sereno por fora, era atormentado por dentro.
Atormentado por vozes que ele não podia calar. Incomodado por imagens que não podia evitar. Então, esperando escapar delas, ele fugiu de tudo. Num cinzento dia chuvoso de fevereiro, de 1982, Eric Hill saiu pela porta dos fundos de sua casa na Flórida, e nunca mais voltou.
Sua irmã Debbie recorda tê-lo visto descendo vagarosamente a interestadual. Ela supôs que ele voltaria. Ele não voltou. Ela esperou que ele telefonasse. Ele não telefonou. Ela pensou que pudesse achá-lo. Não pôde. Para onde Eric viajou apenas ele e Deus sabem, e nem um dos dois decidiu-se a contar.
Só o que sabemos é que Eric ouviu uma voz. E naquela voz havia uma "designação". E aquela designação era catar lixo ao longo da rodovia em San Antonio, Texas.
Para os usuários da Interestadual 10, a sua forma magricela e a sua face barbuda tornaram-se uma visão familiar. De um buraco num terreno baldio, ele fez uma moradia. De umas calças rasgadas e um casaco furado, fez um guarda-roupa. Um chapéu velho protelava o sol de verão. Um saco plástico em seus ombros amenizava o frio do inverno. Sua pele gasta pelas intempéries e os seus ombros encurvados faziam-no parecer ter duas vezes os seus quarenta e quatro anos. Dezesseis anos ao longo da rodovia fariam o mesmo com você.
Era quanto tempo se passara desde que Debbie vira seu irmão. Ela poderia nunca tê-lo visto outra vez, se não fosse por dois eventos. O primeiro foi a construção de uma revendedora de automóveis no terreno baldio de Eric. O segundo foi a violenta dor em seu abdome. A revendedora levou-lhe a casa. A dor quase levou-lhe a vida.
Ele foi encontrado ao lado da rodovia, contorcendo-se e apertando o estômago. O hospital fez alguns exames e descobriu-se que Eric estava com câncer. Câncer terminal.
Mais alguns meses e ele teria morrido. E sem família ou parentes conhecidos, teria morrido sozinho.
O advogado designado para ele pela justiça não podia controlar este pensamento: "Certamente, alguém está procurando por Eric". Então o advogado varreu a internet buscando por alguém que estivesse a procura de um homem adulto, de cabelos castanhos e sobrenome Hill. Foi assim que ele achou Debbie.
A descrição pareceu igualar-se à sua lembrança, mas ela precisava ter certeza.
Então Debbie veio para o Texas. Ela, o marido e dois filhos alugaram um quarto de hotel e partiram para encontrar Eric. Entrementes, ele havia recebido alta do hospital, mas o capelão sabia onde ele estava. Eles o acharam sentado, encostado num prédio, não muito longe da interestadual. Quando se aproximaram, ele se levantou. Eles ofereceram frutas; ele recusou. Eles ofereceram suco; ele declinou. Ele era polido, mas indiferente para com a família que reivindicava ser a dele.
Seu interesse recobrou-se, no entanto, quando Debbie ofereceu-lhe um broche. Um broche de anjo. Ele disse sim. A primeira vez que ela tocou o irmão em dezesseis anos foi no momento em que ele permitiu-lhe prender o anjo em sua camisa.
Debbie pretendia ficar uma semana. Porém uma semana se passou, e ela permaneceu. Seu marido voltou para casa, e ela ficou. A primavera tornou-se verão, e Eric melhorou, e ela ainda lá.
Debbie alugou um apartamento, e começou a ensinar os filhos em casa e a aproximar-se do irmão.
Não foi fácil. Ele não a reconheceu. Ele não a conhecia. Um dia, ele a xingou. Ele não queria dormir em seu apartamento. Ele não queria a sua comida. Ele não queria conversar. Ele queria o seu terreno baldio. Ele queria o seu "trabalho". Quem era aquela mulher, afinal?
Contudo, Debbie não desistiu de Eric. Ela percebeu que ele não compreendia. E então ela ficou. Eu a conheci num domingo, quando visitou a nossa congregação. Quando ela partilhou sua história, indaguei o que você gostaria de indagar: "Como você se impede de desistir?"
"Simples", respondeu ela. "Ele é meu irmão".
Eu lhe disse, então, que a sua busca me recordava outra busca - que o seu coração me recordava outro coração.
Outro bondoso coração que deixara o lar para ir à procura do perdido. Outra alma compassiva que não podia admitir a idéia de um irmão ou irmã em sofrimento. Então, como Debbie, Ele deixou o lar. Como Debbie, Ele achou seu irmão.
E quando Jesus nos achou, agimos como Eric. Nossas limitações impediam-nos de reconhecer aquEle que viera salvar-nos. Até duvidamos de sua presença - e às vezes ainda o fazemos.
Como Ele lida com as nossas dúvidas? Ele nos persegue.
Como Debbie perseguiu Eric, Deus nos persegue. Ele vai atrás de nós até que finalmente o vemos como nosso Pai, mesmo que isto leve todos os dias de nossa vida.
"Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre" (Sl 23.6).
Esta deve ser uma das frases mais doces já escritas.
Podemos lê-la em algumas outras versões?
"Certamente a tua bondade e o teu amor ficarão comigo enquanto eu viver. E na tua casa, ó Senhor, morarei todos os dias da minha vida" (NTLH).
"Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida, e voltarei à casa do senhor enquanto eu viver" (NVI).
"Eu tenho absoluta certeza de que a tua bondade e o teu amor cuidadoso me acompanharão todos os dias da minha vida. Sim, eu viverei na presença do Senhor para sempre!" (Bíblia Viva).
Ler o versículo é abrir uma caixa de jóias. Cada palavra cintila e implora para ser examinada diante de nossas dúvidas: bondade, misericórdia, todos os dias, habitar na casa do Senhor, para sempre. Elas devastam nossas incertezas como uma equipe da SWAT faz com um terrorista.
Olhe para a primeira palavra: certamente. Davi não disse, "Talvez a bondade e a misericórdia me seguirão". Ou "Possivelmente a bondade e a misericórdia me seguirão". Ou "Tenho um pressentimento de que a bondade e a misericórdia me seguirão". Davi poderia ter empregado uma dessas frases. Mas não o fez. Ele acreditava em um Deus seguro, que faz promessas seguras e oferece uma base segura. Davi teria amado as palavras de um de seus descendentes, o apóstolo Tiago. Ele descreveu Deus como aquEle "em quem não há mudança, nem sombra de variação" (Tg 1.17).
Nosso humor pode se alterar, mas o de Deus não. Nossa mente pode mudar, mas a de Deus não. Nossa devoção pode vacilar, mas a de Deus nunca. Ainda que sejamos infiéis, Ele é fiel, pois não pode trair a si mesmo (2 Tm 2.13).
Ele é um Deus seguro. E porque Ele é uni Deus seguro, podemos declarar confiantemente: "Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida".
E o que vem depois da palavra certamente? "Bondade e misericórdia". Se o Senhor é o pastor que guia o rebanho, bondade e misericórdia são os dois cães pastores que guardam a retaguarda do rebanho. Bondade e misericórdia. Não apenas bondade, porque somos pecadores necessitados de misericórdia. Não apenas misericórdia, porque somos frágeis, necessitados de bondade. Precisamos de ambas. Como escreveu certo homem, "Bondade para suprir toda carência. Misericórdia para perdoar todo pecado. Bondade para prover. Misericórdia para perdoar".
Bondade e misericórdia - a escolta celestial do rebanho de Deus. Se esta dupla não reforça a sua fé, tente esta frase: "todos os dias da minha vida".
Que imensa declaração. Olhe a magnitude dela! Bondade e misericórdia seguem os filhos de Deus a cada dia, e todos os dias! Pense nos dias que ainda virão. O que você vê?
Dias em casa, com crianças apenas? Deus estará ao seu lado. Dias em um beco sem saída? Ele o conduzirá através dele. Dias de solidão? Ele segurará a sua mão. Certamente bondade e misericórdia me seguirão - não alguns, não a maioria, não quase todos - mas todos os dias da minha vida.
E o que Ele fará durante esses dias? (Aqui está a minha palavra favorita). Ele ira "seguir" você.
Que modo surpreendente de descrever Deus! Estamos acostumados a um Deus que permanece num lugar. Um Deus que está entronizado nos céus, e governa e ordena. Davi, no entanto, visiona um Deus móvel e ativo. Atrevemo-nos a fazer o mesmo? Ousamos visionar um Deus que nos segue?
Que nos persegue? Que nos caça? Que vem em nosso rastro e nos conquista? Que nos segue com "bondade e misericórdia" todos os dias de nossa vida?
Não é este o tipo de Deus descrito na Bíblia? Um Deus que nos segue? Há muitas passagens nas Escrituras que nos diriam sim. Você não precisa ir além do terceiro capítulo do primeiro livro para encontrar Deus no papel de um investigador. Adão e Eva estão escondidos nos arbustos, em parte para cobrir seus corpos, em parte para cobrir seu pecado. Mas Deus esperou que viessem a Ele? Não. As palavras soaram no jardim: "Onde está você?" (Gn 3.9).
Com esta indagação, Deus iniciou uma busca do coração da humanidade que continua até o momento em que você lê estas palavras.
Moisés pode contar-lhe a respeito. Ele estava no deserto havia quarenta anos, quando olhou por cima do ombro e viu um arbusto em chamas. Deus o havia seguido no deserto.
Jonas pode contar-lhe também. Ele era um fugitivo num barco, quando olhou por cima do ombro e viu nuvens se formando. Deus o havia seguido no oceano.
Os discípulos de Jesus conheciam o sentimento de ser seguido por Deus. Eles estavam encharcados de chuva e tremendo, quando olharam por cima do ombro e avistaram Jesus andando em sua direção. Deus os havia seguido dentro da tempestade.
Uma samaritana sem nome sentiu o mesmo. Ela estava sozinha na vida, e sozinha no poço, quando olhou por cima do ombro e ouviu o Messias falar. Deus a havia seguido através de sua dor.
João, o apóstolo, achava-se exilado na ilha de Patmos, quando olhou por cima do ombro e viu o céu começar a se abrir. Deus o havia seguido para o exílio.
Lázaro estava morto havia três dias, num túmulo fechado, quando ouviu uma voz, levantou a cabeça, olhou por cima do ombro e contemplou Jesus de pé. Deus o havia seguido na morte.
Pedro havia negado o seu Senhor e voltado a pescar, quando ouviu o seu nome, olhou por cima do ombro e enxergou Jesus preparando o café da manhã. Deus o havia seguido apesar de seu fracasso.
Deus é o Deus que segue. Me pergunto... você já o sentiu seguindo você? Freqüentemente não o notamos. Como Eric, não reconhecemos nosso Ajudador quando Ele está perto.
Mas Ele vem.
Através da bondade de um desconhecido. A majestade de um pôr-do-sol. O mistério de um romance. Através da pergunta de uma criança ou da confiança de um cônjuge.
Através de uma palavra beta dita ou de um toque na hora certa.Você já sentiu a sua presença?
Se assim é, livre-se de suas dúvidas. Deponha-as no chão. Não mais se sobrecarregue com elas. Você não é candidato a insegurança. Você não é mais cliente da timidez. Você pode confiar em Deus. Ele lhe tem dado o seu amor. Por que você não lhe dá as suas dúvidas?
Não é fácil confiar, você diz? Talvez não, mas também não é tão difícil quanto você pensa. Tente estas idéias:
Confie em sua fé e não em seus sentimentos. Você não se sente espiritual todos os dias? Claro que não. Mas os seus sentimentos não têm impacto sobre a presença de Deus. Nos dias em que não se sentir perto de Deus, fie-se na sua fé, não nos seus sentimentos. A bondade e a misericórdia seguirão você todos os dias de sua vida.
Meça o seu valor através dos olhos de Deus, não dos seus. Para os demais, Eric Hill era um vagabundo sem lar. Mas para Debbie, ele era um irmão. Há ocasiões em nossa vida em que somos andarilhos - sem lar, desorientados, difíceis de se ajudar e difíceis de se amar. Em épocas como estas, recorde este simples fato: Deus ama você.
Ele segue você. Por quê? Porque você é da família, e Ele seguirá você todos os dias da sua vida.
Veja o quadro grande, não o pequeno. O lar de Eric foi tirado. A sua saúde foi tirada. Devido à tragédia, porém, a sua família havia retornado para ele. Talvez o seu lar e a sua saúde estejam ameaçados também. O resultado imediato pode ser o sofrimento. Contudo, o resultado a longo prazo pode ser achar um Pai que você nunca conheceu. Um Pai que seguirá você por todos os dias da sua vida.
A propósito, o último capítulo da vida de Eric Hill é o melhor. Dias antes de morrer, ele reconheceu Debbie como sua irmã. E, ao fazê-lo, descobriu o seu lar.
Nós também o faremos. Igual a Eric, temos duvidado de nosso Ajudador. Mas igual a Debbie, Deus é tardio em irar-se e determinado a ficar. Como Eric, não aceitamos as dádivas de Deus.
Mas como Debbie, Deus assim mesmo as oferece. Ele nos dá seus anjos, não apenas espetados numa lapela, mas postados em nosso caminho.
E acima de tudo, Deus nos dá a si próprio. Mesmo quando preferimos nossa choupana à sua casa, ou lixo à sua graça, Ele ainda nos segue. Nunca nos força. Nunca nos deixa. Pacientemente persistente. Fielmente presente. Usando todo o seu poder para convencer-nos de que Ele é quem é, e que podemos confiar nEle para nos guiar ao lar.
A sua bondade e misericórdia seguir-nos-ão todos os dias de nossas vidas.
O Fardo da Saudade
E habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.
Salmos 23.6
Pelos últimos vinte anos, tenho desejado um cão. Um grande cão. Porém sempre houve problemas. O apartamento era pequeno demais. O orçamento era apertado demais. As meninas eram novas demais. Porém acima de tudo, Denalyn não se entusiasmava. Sua lógica? Ela já se casara com um bicho desajeitado e babão. Por que aturar mais um? Então, transigi, e arranjei um cãozinho.
Eu gosto de Salty, mas cães pequenos não são realmente cães. Eles não latem; ganem. Eles não comem; beliscam. Eles não lambem você; fungam apenas. Eu gosto de Salty; contudo, eu queria um cão de verdade. Um tipo de cachorro melhor-amigo-do-homem. Um gordo-patudo, grande-comilão, lambe-face. Um tipo de cachorro que você pode selar ou lutar, ou ambas as coisas.
Eu estava sozinho em minha paixão até Sara nascer. Ela adora cães. E dois de nós éramos capazes de fazer oscilar a votação doméstica. Denalyn cedeu, e Sara e eu começamos a busca. Descobrimos uma mulher na Carolina do Sul que criava excelentes cães de caça, num ambiente cristão.
Desde o nascimento, os cães eram cercados por músicas inspiradoras e orações (Não, não sei se eles davam o dízimo dos biscoitos). Quando o treinador disse que ela tinha lido meus livros, embarquei. Uma mulher com tal bom gosto é, seguramente, uma boa criadora, certo?
Então, encomendei um filhote. Enviamos o cheque, selecionamos o nome Molly, e arranjamos um canto para a sua almofada. A cadelinha nem ainda nascera, e já tinha nome, direitos e um lugar na casa.
Não pode o mesmo ser dito sobre você? Muito antes do seu primeiro choro, o seu Dono reivindicou você, deu-lhe um nome, e pendurou uma tabuleta de reservado em seu aposento. Você e Molly possuem mais em comum que cheiro e hábitos alimentares (Brincadeirinha).
Vocês estão ambos sendo preparados para uma viagem.
Preferimos os termos maturidade e santificação a desmama e treino, porém dá tudo no mesmo. Você está sendo preparado para a casa do seu Dono. Você não sabe a data da partida ou o número do vôo, mas pode apostar a sua ração de filhote como verá o seu Proprietário algum dia. Não é esta a promessa concludente de Davi?
"E habitarei na casa do Senhor para todo o sempre" (Sl 23.6).
Onde você habitará para sempre? Na casa do Senhor. Se a casa dEle é a sua "casa eterna", o que faz esta casa terrena? Acertou! Moradia a curto-prazo. Esta não é a nossa casa. "Nossa pátria está no céu" (Fp 3.20).
Isto explica a saudade que sentimos.
Você já ansiou estar em casa? Posso partilhar uma ocasião em que senti isto? Eu estava passando o verão de meus dezenove anos no norte da Georgia. O povo daquela região é bastante agradável, mas ninguém é muito amável com um vendedor ambulante. Houve ocasiões naquele verão em que me senti tão desolado, que me parecia os meus ossos se desfariam.
Uma dessas vezes foi à beira de uma estrada. Era tarde e eu estava perdido. Eu havia parado a fim de pegar uma lanterna e um mapa. A minha direita havia uma casa de fazenda. Nela morava uma família. Eu sabia que era uma família porque pude vê-los. Através da grande janela de vidro, pude ver a mãe, o pai, o menino e a menina. Normam Rockwell os teria posto numa tenda. A mãe estava servindo o jantar, o pai, contando uma história, e as crianças, rindo. E eu fiz o que pude para impedir-me de tocar a campainha e pedir um lugar à mesa. Sentia-me tão longe do lar.
O que eu senti naquela noite, alguns de vocês têm sentido desde que...
seu marido morreu.
seu filho foi sepultado.
você ouviu sobre o nódulo em sua mama ou a mancha em
seu pulmão.
Alguns de vocês têm se sentido longe do Lar desde que o
seu lar se desfez.
As guinadas e viradas da vida têm um modo de nos fazer lembrar: não estamos em casa, aqui. Esta não é a nossa pátria. Não somos fluentes na linguagem de doenças e morte. A cultura confunde o coração, o barulho interrompe o nosso sono, e nos sentimos distantes do lar.
E, sabe de uma coisa? É assim que tem de ser.
A saudade é uma das cargas que Deus não quer que você carregue.
Nós, assim como Molly, estamos sendo preparados para outro lar. E nós, como o periquito de Green Bay, sabemos que ainda não estamos lá.
O nome dela era Pootsie. Ela escapou de seu dono e ficou sob a custódia da associação humanitária. Quando ninguém mais a reivindicou, Sue Gleason o fez. Elas se acertaram. Conversaram e tomaram banho juntas, tornando-se amigas rapidamente. Um dia, contudo, a avezinha fez algo inacreditável. Ela sobrevoou a senhora Gleason, pôs o bico em sua orelha e cochichou: "Rua South Oneida, 1500, Green Bay".
Gleason estava assombrada. Ela pesquisou e descobriu que o endereço existia. Ela foi até lá e encontrou um homem de setenta e nove anos, chamado John Stroobants.
"Você tem um periquito?", indagou ela.
"Eu tinha. Sinto terrivelmente a sua falta".
Quando ele viu a sua Pootsie, vibrou de emoção. "Você sabe, ela sempre soube o número do telefone".
A história não é tão maluca quanto você pode pensar.
Você tem um endereço eternal fixado em sua mente, também.
Deus "pôs a eternidade no coração do homem" (Ec 3.11). No íntimo você sabe que não está em casa ainda.
Então, cuidado para não agir como se estivesse. Não arrie a carga rápido demais. Você penduraria quadros na parede de um ônibus? Você prepararia um quarto numa parada de beira de estrada? Você carregaria a sua cama tamanho extra num vôo comercial?
Você trataria este mundo como um lar? Ele não é. A maior calamidade não é sentir-se longe do lar quando se está, mas sentir-se em casa quando não se está. Não extinga, antes, atice este anelo pelo céu.
A casa de Deus é uma casa para sempre. "E habitarei na casa do Senhor para todo o sempre" (Sl 23.6).
Meus amigos Jeffe Carol acabaram de adotar duas criancinhas. Christopher, o mais velho, tem apenas três anos, mas ele sabe a diferença entre a casa de Jeff e o orfanato de onde veio. Ele conta a todos os visitantes:
"Esta é minha casa para sempre".
Não será maravilhoso quando dissermos o mesmo? Não poderíamos usar uma casa eternamente? Esta casa em que estamos não dura para sempre. Aniversários recordam-nos este fato.
Enquanto escrevia este livro, fiz quarenta e seis anos.
Estou mais perto dos noventa do que da infância. Tudo o que dizem sobre envelhecimento tem-se mostrado verdadeiro. Estou me dando menos tapinhas nas costas e mais sob o queixo. Tenho tudo o que tinha há vinte anos, só que agora está tudo mais gasto. Outro dia, eu tentei esticar as rugas de minhas meias, e descobri que não estava usando meia alguma. Posso relatar a descrição que Dave Barry faz sobre envelhecimento:
... problemas dentários, mau-funcionamento intestinal, deterioração muscular, instabilidade emocional, lapsos de memória, perda de visão e audição, impotência, doenças repentinas, tumores, problemas na próstata, função dos membros grandemente reduzida, deficiência coronária grave, morte, e claro, doloroso inchaço hemorroidal.
Envelhecimento. Não é divertido. Pelo modo como tentamos evitá-lo, você pensaria ser possível. Maquiamos o corpo, preservamos o corpo, protegemos o corpo. E fazemos bem. Nossos corpos são dádivas de Deus. Devemos ser responsáveis. Mas também devemos ser realistas. Este corpo deve morrer para que o novo corpo possa viver.
"Carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem a corrupção herda a incorrupção" (1 Co 15.50).
Envelhecimento é idéia de Deus. É um dos meios de Ele nos manter em direção à Pátria. Não podemos mudar o processo, mas podemos mudar nossa atitude. Eis aqui um pensamento: E se olhássemos para o envelhecimento do corpo do modo como olhamos para o crescimento de uma tulipa?
Você já viu alguém lamentando a morte do bulbo da tulipa? O jardineiro chora quando o bulbo começa a enfraquecer? Claro que não. Não compramos cinta para a tulipa, nem creme antirugas-para-pétalas, nem consultamos o cirurgião-plástico-para-folhas. Não lamentamos a morte do bulbo; celebramo-la. Amantes de tulipas exultam no momento em que o bulbo cede. "Veja aquele", diz ele. "Está para florir".
Poderia ser que o céu fizesse o mesmo? Os anjos apontam para o nosso corpo. Quanto mais frágeis nos tornamos, mais animados eles se tornam. "Veja aquela senhora no hospital", dizem eles. "Está para florir". "Vigie aquele companheiro com o coração fraco. Logo ele estará vindo para o lar".
"Também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23).
Nossos corpos estão livres agora? Não. Paulo os descreve como nosso "corpo terreno" (Fp 3.21). Ou como exprimem outras versões:
"nosso corpo humilhado" (NVI)
"nosso corpo de humilhação" (RA)
"nosso corpo abatido" (RC)
"nosso corpo fraco e mortal" (NTLH)
Você poderia acrescentar seus próprios adjetivos, não poderia?
Que palavra descreve o seu corpo? Meu corpo canceroso.
Meu corpo artrítico? Meu corpo deformado? Meu corpo aleijado? Meu corpo sempre-expansível? A palavra pode ser diferente, mas a mensagem é a mesma: Estes corpos são fracos. Eles começaram a decair no minuto em que começamos a respirar.
E de acordo com Deus, isto é parte do plano. Cada ruga e cada agulha levam-nos um passo mais perto do último passo, quando Jesus mudará nossos corpos simples em corpos eternos. Não mais dor. Não mais depressão. Não mais enfermidade. Não mais fim.
Esta não é a nossa casa eterna. Ela serve para o tempo presente.
Não há nada, porém, como o momento em que entramos por sua porta.
A Molly pode lhe contar. Após um mês em nossa casa, ela fugiu. Cheguei em casa uma noite e encontrei o lugar inusitadamente quieto. Molly se fora.
Ela escapulira sem ser vista. A busca começou imediatamente. Dentro de uma hora, soubemos que ela estava longe, longe de casa. Agora, se você não gosta de bicho de estimação, o que estou para dizer soar-lhe-á estranho. Se você os aprecia, entenderá.
Você entenderá porquê andamos de um lado para outro na rua, chamando o seu nome. Você entenderá porquê dirigi pela vizinhança às dez e meia da noite. Entenderá porquê coloquei um pôster na loja de conveniência e convoquei a família para uma oração (Honestamente, eu o fiz). Entenderá porquê enviei e-mails ao pessoal, pedindo oração, e à sua criadora, pedindo conselho. E você entenderá porquê estávamos prontos para lançar confetes e festejar quando Molly apareceu.
Eis o que sucedeu. Na manhã seguinte, Denalyn estava voltando para casa depois de levar as meninas à escola, quando viu o caminhão do lixo. Ela pediu aos homens para ficarem alertas quanto a Molly, e apressou-se para casa a fim de receber um grupo de mães para orar. Logo após a chegada das senhoras, o caminhão do lixo parou em nossa entrada, um dos homens abriu a porta, e fez saltar a nossa cadela.
Ela tinha sido encontrada.
Quando Denalyn telefonou-me para contar, eu mal pude ouvir-lhe a voz. Era festa em nossa cozinha. As senhoras estavam festejando o retorno de Molly.
Esta história pipoca de simbolismo. O dono deixa a casa, procurando pelo perdido. Vitórias em meio a oração.
Grandes coisas surgindo do lixo. Porém, acima de tudo: celebração na chegada ao lar. Há mais uma coisa que você tem em comum com Molly - uma festa em seu retorno ao lar.
Naquele momento, apenas uma bagagem restará. Nada de culpa. Ela foi deposta no Calvário. Nenhum temor da morte. Ele foi deixado no túmulo.A única bagagem que ainda perdurará será esta saudade do lar, dada por Deus.
E quando você o vir, você a deporá. Exatamente como um soldado de regresso depõe ao chão os seus apetrechos, quando vê a esposa, você deporá o seu anelo quando vir o seu Pai. Aqueles que você ama gritarão. Aqueles que você conhece aplaudirão. Mas
todo o alarido cessará quando Ele tomar-lhe o queixo e disser: "Bem-vindo ao lar". E com a mão cicatrizada, Ele enxugará cada lágrima de seus olhos.
E você habitará na casa do seu Senhor - para sempre.
Adormeci no Louvre.
O museu mais famoso do mundo. O edifício mais conhecido de Paris. Turistas exclamando "Oh!" e "Ah!" e lá estava eu, cochilando e roncando. Sentado num banco. Encostado à parede. Queixo no peito. Quebrado.
As jóias da coroa no saguão. Rembrandt na parede.Van Gogh, um andar acima. A Vênus de Milo, um andar abaixo. Eu deveria estar de olhos arregalados e estrelados.
Denalyn estava. Você pensaria que ela estivesse na liquidação da Foley's Red Apple. Se havia uma excursão, ela ia. Se havia um botão para apertar, ela apertava. Se havia uni panfleto para ler, ela o lia. Ela não queria parar nem para comer.
Mas eu? Concedi à Mona Lisa cinco minutos.
Vergonhoso, eu sei.
Eu deveria ter sido mais como o companheiro perto de mim. Quando dormitei involuntariamente, ele estava trespassado sobre a versão de uma flor do artista Dutch, do século dezessete. Quando acordei, o sujeito ainda estava pasmado. Fechei os olhos novamente. Quando os abri, ele ainda não se movera.
Inclinei-me para ele e tentei parecer reflexivo.
"Impressionante, não!" Nenhuma resposta. "As sombras são obra de mestre".
Nenhuma réplica. "Você acha que é uma pintura em série?"
Ele suspirou e não disse nada. Contudo, eu sei que ele estava pensando, "Inculto desajeitado".
Ele estava certo. Eu era. Todavia, não era falha minha.
Eu aprecio arte do século dezessete tanto quanto o sujeito ali perto...
Bem, talvez nem tanto. Mas ao menos eu posso ficar acordado.
Porém não naquele dia. Por que caí no sono no Louvre?
Culpa das malas, baby; culpa das malas. Eu estava exausto de arrastar a bagagem da família. Carregávamos mais malas que o grupo teatral volante de O fantasma da ópera.
Não posso culpar minha esposa e minhas filhas. Elas aprenderam comigo. Lembra? Eu sou aquele que viaja preparado para um casamento subaquático e um torneio de boliche. Já é mau o suficiente para uma pessoa viajar assim, mas, cinco? Esgotará você.
Você acha que nunca vou aprender a viajar sem bagagem?
Sabe de uma coisa? Vamos fazer um pacto. Eu reduzo as sacolas de couro, e nós dois reduzimos as emocionais.
Afinal, uma coisa é cochilar no Louvre, outra, cochilar na vida.
Podemos, você sabe. Não habitamos na galeria de nosso Deus? Não é o céu a sua tenda e a humanidade a sua obra-prima? Não vivemos cercados de obras de arte? Pores-do-sol incandescentes. Ondas encapeladas.
E não é a alma o seu estúdio? O nascimento do amor, o legado da graça. Por toda parte à nossa volta, milagres espocam como pirilampos - almas são tocadas, corações são mudados, e...
Uaaah. Deixamos passar. Dormimos enquanto acontecia.
Não podemos evitar. É duro viver, arrastando atrás as culpas de ontem. Este saco de estopa cheio de preocupação deixa meu pescoço em um laço.
O temor da morte é suficiente para quebrar as costas.
É também suficiente para fazer você perder a magia da vida.
Muitos a perdem a cada domingo. Pessoas boas, bem intencionadas, sentadas na igreja, lutando para manter os olhos - se não os da face, ao menos os do coração - abertos.
E o que perdemos? Perdemos Deus fendendo os céus para ouvir-nos cantar. Não devíamos estar esticados para o céu, na ponta dos pés em nossos bancos?
O que perdemos? Deus está reunindo-nos em comunhão! Não deveríamos estar distribuindo, juntamente com o pão e o vinho, sais voláteis para despertarmos uns aos outros de nossos desmaios de pavor?
O que perdemos? A Palavra de Deus. Não deveríamos segurá-la como nitroglicerina? Não deveríamos estar de olhos abertos? Deveríamos, mas na última semana arrastamos pela cidade aquele baú de descontentamento. E além disso, não pudemos dormir na noite anterior; ficamos rolando nossa sacola de lona de desapontamentos.
Então, desembaracemo-nos de nossas bagagens! De uma vez por todas, entreguemos a Ele as nossas cargas.Vamos pegá-lo em sua Palavra! "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28).
Descansar da carga de um deus pequeno. Por quê? Porque achei o Senhor.
Descansar de fazer as coisas do meu modo. Por quê? Porque o Senhor é o meu Pastor.
Descansar das necessidades infindáveis. Por quê? Porque nada me faltará.
Descansar das fadigas. Por quê? Porque Ele me faz descansar.
Descansar da preocupação. Por quê? Porque Ele me conduz.
Descansar do desespero. Por quê? Porque Ele refrigera a minha alma.
Descansar da culpa. Por quê? Porque Ele me guia pela vereda da justiça.
Descansar da arrogância. Por quê? Por amor do seu nome.
Descansar do vale da morte. Por quê? Porque Ele me leva através dele.
Descansar da sombra da aflição. Por quê? Porque Ele me guia.
Descansar do medo. Por quê? Porque a sua presença me conforta.
Descansar da solidão. Por quê? Porque Ele está comigo.
Descansar da vergonha. Por quê? Porque Ele preparou para mim uma mesa na presença dos meus inimigos.
Descansar dos meus desapontamentos. Por quê? Porque Ele me unge.
Descansar da inveja. Por quê? Porque meu cálice transborda.
Descansar da dúvida. Por quê? Porque Ele me segue.
Descansar da saudade. Por quê? Porque habitarei na casa do meu Senhor para sempre.
E amanhã, quando, pela força do hábito, você pegar de volta a sua bagagem, largue-a de novo. Deponha-a outra vez e novamente, até aquele doce dia em que você descobrirá que não a está pegando de volta.
E naquele dia, quando você sentir a carga suspensa, quando houver dado um passo no sentido de viajar sem bagagem, quando tiver energia para ponderar sobre os mistérios da vida, faça-me um favor. Caminhe pelo saguão e vire à esquerda. Espere a sua vez atrás das cordas vermelhas. Dê unia boa e longa olhada na Mona Lisa, e diga-me: o que há de especial nela, afinal?
***
Max, Denalyn e suas duas filhas vivem em San Antonio, Texas, onde ele serve na Oak Hills Church of Christ.
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